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e-Rebinboca da parafuseta de 10 megabits

Posted in Uncategorized by Raul Marinho on 1 junho, 2009

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Não sei quanto a você, sabido leitor (ou sabida leitora), mas eu me atrapalho com as característicvas técnicas dos produtos eletrônicos atualmente à venda. Por que uma câmera com 10 megapixels seria melhor que outra, com 8? “Porque tem mais megapixels, né? Dãaaa…” Ok, mas que diferença prática isso me traz? Leia a matéria abaixo, do David Pogue para o The New York Times e entenda mais sobre as manhas & truques do marketing eletrônico:

Desvendando o marketing dos eletrônicos

Existem muitas coisas que tornam incomum a indústria da tecnologia para consumidores. Há, por exemplo, o fator da obsessão, que alcançou novos patamares quando o iPhone chegou ao mercado.

Mas o aspecto da tecnologia para consumidores que talvez seja o mais fascinante é a maneira como ela é promovida. Obviamente, nenhuma empresa quer anunciar as deficiências de seus produtos. Mas às vezes as qualidades que as empresas proclamam estão tão longe do que realmente importa.

Veja um resumo dos argumentos usuais de marketing, contrastados com elementos muito mais importantes que os anunciantes convenientemente evitam mencionar.

Filmadoras

O QUE DIZEM QUE IMPORTA: a potência do zoom

Por que o zoom é tão importante? É claro que é simpático aproximar-se visualmente de seu filho no teatro da escola. Mas quanto zoom é suficiente -20x? 50x? Quanto maior é o zoom, mais irregular se tornam suas imagens; cada ampliação também amplia a instabilidade de sua mão, tornando o vídeo mais difícil de ser visto.

O QUE REALMENTE IMPORTA: ângulo grande

Recentemente testei filmadoras de três grandes empresas, para averiguar a que distância teria que me posicionar para enquadrar uma pessoa de 1,82 metro de altura. Com a melhor das filmadoras -a que proporciona o ângulo maior- tive que me afastar quatro metros. O problema é que fiquei longe demais do objeto para que o microfone pudesse captar suas palavras.

Pense em todos os momentos em que você anseia por um ângulo maior. Aquela partida de futebol, aqueles casamentos. Com uma filmadora camcorder, você não consegue captar nada que se assemelhe àquela vista deslumbrante de montanha, a não ser que aumente e diminua o zoom. O resultado não chega nem perto do impacto que a vista exerce sobre você em pessoa.

Câmeras fotográficas

O QUE DIZEM QUE IMPORTA: Megapixels

A indústria conseguiu convencer os consumidores de que ter mais pontinhos significa fotos de qualidade melhor. Isso pode ter sido verdade na época das máquinas fotográficas de dois megapixels. Mas essa diferença visual evaporou quando as câmeras chegaram a cinco ou seis megapixels. Hoje, seis megapixels bastam perfeitamente, mesmo para impressões enormes, do tamanho de pôsteres.

O QUE REALMENTE IMPORTA: Tamanho do sensor

Um sensor de luz maior implica em sensibilidade melhor à luz, o que significa que o obturador não precisa ficar aberto por tanto tempo, o que significa menos fotos fora de foco. Mas as fabricantes de máquinas fotográficas não querem que você tenha conhecimento dessa estatística -que não consta da embalagem da máquina-, porque é mais fácil e barato divulgar megapixels que o tamanho do sensor.

Celulares

O QUE DIZEM QUE IMPORTA: Cobertura.

O QUE REALMENTE IMPORTA: Cobertura.

Sim, estão anunciando a coisa certa. Não queremos ver zero sinais de recepção e não conseguirmos fazer uma ligação; não queremos que nossos telefonemas sejam interrompidos. Queremos apenas que o aparelho funcione. O problema é que as empresas estão mentindo. Uma pista é que todas elas dizem a mesma coisa: “Maior cobertura”, “menos ligações perdidas”. Não podem todas estar dizendo a verdade. A verdade é que elas estão medindo coisas diferentes: por exemplo, quantas pessoas vivem na área de cobertura, versus quantos quilômetros quadrados tem a área.

Computadores

O QUE DIZEM QUE IMPORTA: Preço

O preço de um computador com certeza é um fator importante -para algumas pessoas, o mais importante de todos.

O QUE REALMENTE IMPORTA: Valor

Quando alguma coisa é produzida exclusivamente para custar pouco, há alguma compensação em outro lugar. Você pode adorar o preço baixo de seu PC, mas pode não gostar do atendimento ao consumidor terceirizado, de baixa qualidade, oferecido pelo fabricante. Ou do motor grande e desajeitado. Ou do software desagradável pré-instalado que faz o computador se arrastar a passo de tartaruga desde a primeira vez em que você o liga.

Organização social é isso

Posted in Evolução & comportamento, teoria da evolução by Raul Marinho on 25 maio, 2009

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O artigo abaixo, da Adele Conover, publicado hoje no The New York Times, mostra como é dura a vida de um etologista/entomologista. E também como é complexa a organização social de seres tão minúsculos.

Cientista estuda insetos sociais, um a um

Anna Dornhaus espia em um pequeno ninho de papelão uma “família” de cerca de cem formigas das rochas europeias. Conhecidas como temnos, as formigas -pintadas com cores distintas- realizam suas tarefas de carregar, abastecer e alimentar a prole de larvas.

Ao lado de uma temnos colorida, um grão de arroz pareceria um tronco velho. Quando se levanta a tampa de uma colônia de formigas, nota-se uma barata morta -a ração das formigas. Uma rainha maior e tranquila, pintada de marrom, é objeto de estudo. “Ela não é exatamente uma chefe de Estado”, disse Dornhaus. “Parece mais um ovário.”

Ali perto há colmeias de abelhas sob vidro, onde cada abelha exibe um número de 1 a 100 em minúsculas etiquetas coladas a suas costas.

Para compreender o que realmente acontece em uma colônia de formigas ou abelhas, Dornhaus, professora-assistente de ecologia e biologia evolutiva na Universidade do Arizona, EUA, acompanha as pequenas criaturas individualmente -por isso a tinta e os números. As formigas, ela disse, têm “seus próprios cérebros e pernas, assim como reações complexas e flexíveis”. Ela continua: “O comportamento de cada formiga e as regras segundo as quais ela age geram um padrão para a colônia, por isso é crucial descobrir sua técnica cognitiva individual”.

Dornhaus, 34, uma cientista alemã alta e loura, tem muita paciência, requisito básico em seu ramo, e uma ligação com as criaturas que estuda. Quando as pessoas descobrem que “eu estudo formigas, abelhas e outras coisas que se arrastam, a primeira coisa que perguntam é como matá-las”. Ela acrescentou: “Eu não diria mesmo que soubesse”. Os insetos sociais, ela opinou, são “as criaturas mais interessantes que a evolução produziu”.

Dornhaus fez contato com o Departamento de Sociobiologia e Fisiologia Comportamental da Universidade de Wurzburg, na Alemanha, chefiado por Bert Hölldobler, coautor do livro “The Ants” [As formigas] e do recém-publicado “The Superorganism”.

Seu orientador de tese foi Lars Chittka, especialista na ecologia das capacidades sensoriais e cognitivas dos insetos, que estudava abelhas. Chittka -que disse que o grupo das abelhas do gênero Bombu, embora altamente social, era considerado primitivo em hábitos sociais- se perguntou por que uma única abelha, depois de voltar ao ninho, batia as asas e corria como louca em círculos. Logo as outras abelhas se excitavam e saíam do ninho.

Ele pediu que Dornhaus descobrisse o que acontecia. O experimento dela revelou que a abelha maluca estava fabricando e dispersando na colmeia um feromônio que alertava outras abelhas: “Ei, tem comida lá fora!”

Mas, como disse Dornhaus, “as abelhas não precisam se encontrar pessoalmente para se comunicar; elas deixam recados para as outras abelhas, dizendo que podem encontrar comida”. Dornhaus está abrindo terreno com seus estudos sobre se a eficiência da sociedade de formigas, baseada em uma divisão do trabalho entre formigas especialistas, é importante para seu sucesso. Para isso, ela disse, “anestesiei brevemente 1.200 formigas, uma a uma, e as pintei usando tinta e um pincel de um único pêlo”.

Ela analisou 300 horas de vídeo das formigas em ação. Descobriu que as formigas rápidas levavam de 1 a 5 minutos para realizar uma tarefa como coletar um pedaço de comida, enquanto as formigas lentas levavam entre 1 e 2 horas. E ela descobriu que cerca de 50% das outras formigas não faziam qualquer trabalho. Talvez a divisão de trabalho não seja a chave do sucesso das formigas. Possivelmente, disse Dornhaus, “as formigas preguiçosas estejam descansando ou esperando em reserva caso algo dê errado”. Ou, conjecturou, “é possível que não estejam fazendo absolutamente nada”.

Pela volta dos chatos aos bancos

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 14 abril, 2009

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(Este post é dedicado aos meus ex-chefes no Citibank)

No artigo abaixo do Paul Krugman, publicado hoje no The New York Times, faz-se uma correlação inversa entre “chatice bancária” e crise financeira: quanto mais chato está o setor bancário, menos provável ocorrer uma nova crise. De fato, percebi isso na formação da atual crise: o ambiente de negócios dos últimos anos estava significativamente mais jovem, agitado, criativo e vibrante que na época que eu ingressei no mercado, em fins dos anos 1980. No início do ano passado, por exemplo, tive uma série de reuniões na sede de um dos maiores bancos americanos no Brasil (envolvido até os ossos na crise, por sinal), e não vi ninguém mais velho que eu trabalhando lá (tinha 40 anos na época). Meu interlocutor, reponsável por negócios bilionários, tinha 25 anos, e o ambiente mais parecia uma alegre agência de propaganda, com bichinhos fofos enfeitando monitores e ninguém usando gravata.

Tornar os bancos chatos

Há mais de 30 anos, quando eu era aluno de pós-graduação em economia, somente os meus colegas menos ambiciosos buscavam carreiras no mundo financeiro. Mesmo na época, os bancos de investimento pagavam mais do que o ensino ou o serviço público -mas não tanto assim e, de qualquer forma, todo mundo sabia que trabalhar em banco era, bem, chato.

Nos anos que se seguiram, os bancos se tornaram tudo, menos chatos. As negociações e estratégias prosperaram, e os salários saltaram, atraindo muitos dos melhores e mais brilhantes de nossos jovens (está bem, não tenho certeza quanto aos “melhores”). Assim, estávamos certos de que nosso setor financeiro de tamanho exagerado era a chave para a prosperidade.

Em vez disso, contudo, as finanças viraram o monstro que comeu a economia mundial.

Recentemente, os economistas Thomas Philippon e Ariell Reshev distribuíram um artigo que poderia ter o título de “Ascensão e queda dos bancos chatos” (de fato, o título é “Salários e capital humano na indústria financeira dos EUA, 1909-2006”). Eles mostram que os bancos nos EUA passaram por três eras no último século.

Antes de 1930, a indústria bancária era excitante, com uma série de figuras de peso, que construíram impérios financeiros gigantescos (mais tarde soube-se que alguns destes eram baseados em fraudes). Esse setor de finanças próspero liderou um rápido aumento no endividamento: a dívida domiciliar quase dobrou em relação ao PIB entre a Primeira Guerra Mundial e 1929.

Durante essa primeira era nas finanças, os banqueiros ganhavam em média muito mais do que seus colegas das outras indústrias. Contudo, o setor financeiro perdeu seu glamour quando o sistema bancário desmoronou durante a Grande Depressão.

A indústria bancária que emergiu daquele colapso era fortemente regulada, muito menos colorida do que tinha sido antes da Depressão e muito menos lucrativa para os que a dirigiam. O setor ficou sem graça, em parte porque os banqueiros eram tão conservadores em seus empréstimos: a dívida domiciliar, que tinha caído fortemente em relação ao PIB durante a Depressão e a Segunda Guerra Mundial, ficou bem abaixo dos níveis anteriores a 1930.

É estranho dizer, mas essa era de bancos chatos também foi uma era de progresso econômico espetacular para a maior parte dos norte-americanos.

Depois de 1980, contudo, com a mudança nos ventos políticos, muitas das regulamentações dos bancos foram suspensas -e o setor tornou-se empolgante novamente. A dívida começou a subir rapidamente, eventualmente chegando a quase o mesmo nível em relação ao PIB que em 1929. E a indústria financeira explodiu de tamanho. Em meados desta década, respondia por um terço dos lucros corporativos.

Com essas mudanças, as finanças novamente se tornaram uma carreira que recompensava bem -espetacularmente bem, para os que construíram novos impérios financeiros. De fato, o aumento dos salários nas finanças teve um grande papel em criar a segunda Era Dourada dos EUA.

Nem é preciso dizer que os novos super-astros acreditavam que mereciam sua riqueza. “Acho que os resultados de nossa empresa, de onde veio a maior parte de minha riqueza, justificaram o que eu recebi’, disse Sanford Weill, em 2007, um ano após se aposentar do Citigroup. Muitos economistas concordaram.

Somente poucas pessoas advertiram que este sistema financeiro sobrecarregado poderia ter um final ruim. Talvez a Cassandra mais notável tenha sido Raghuram Rajan, da Universidade de Chicago, ex-economista do Fundo Monetário Internacional que argumentou em uma conferência em 2005 que o rápido crescimento das finanças tinha aumentado o risco de um “derretimento catastrófico”.

Entretanto, outros participantes da conferência, inclusive Lawrence Summers, hoje diretor do Conselho Econômico Nacional, ridicularizaram as preocupações de Rajan.

E o derretimento chegou.

Grande parte do aparente sucesso da indústria financeira agora é visto como ilusão. (As ações do Citigroup perderam mais de 90% de seu valor desde que Weill se congratulou.) Pior ainda, o colapso do castelo de cartas financeiro criou caos no resto da economia, com o comércio mundial e a produção industrial de fato caindo mais rápido do que fizeram na Grande Depressão. E a catástrofe levou a pedidos de mais regulamentação da indústria financeira.

Entretanto, minha sensação é que as autoridades ainda estão pensando mais em reorganizar os caixas no organograma da supervisão bancária. Não estão de forma alguma prontos para fazer o que precisa ser feito -que é tornar o setor bancário chato novamente.

Parte do problema é que uma atividade bancária sem graça significaria banqueiros mais pobres, e a indústria financeira ainda tem muitos amigos em altas posições. Entretanto, é também uma questão de ideologia: apesar de tudo que aconteceu, a maior parte das pessoas em posição de poder ainda associa finanças sofisticadas com progresso econômico.

Será que podem ser convencidas do contrário? Teremos a disposição de fazer uma reforma financeira séria? Se não, a atual crise não será um evento único; formatará o que está por vir.

Para que serve o Twitter, afinal?

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 14 abril, 2009

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Eu me inscrevi no Twitter há algumas semanas e, confesso, até agora não vi muita graça na coisa. Mas lendo essa reportagem do The New York Times (repórter Claire Cain Miller), comecei a entender para que serve essa geringonça. Se você tiver alguma idéia de como usar o negócio de maneira inteligente, conte prá gente.

Encontrando uma utilidade no emaranhado de pensamentos do Twitter

A primeira reação que muita gente tem diante do Twitter é de perplexidade. Por que é que alguém desejaria ler mensagens curtas sobre aquilo que uma pessoa comeu no café-da-manhã.

A pergunta faz sentido. O Twitter libera o redator de diários que há em cada um dos seus 14 milhões de usuários, que visitaram o site 99 milhões de vezes no mês passado para ler mensagens digitadas em telefones celulares ou computadores. Analisadas individualmente, muitos dessas mensagens, ou “tweets”, de 140 caracteres parecem vazias.

Mas, quando visto coletivamente, o fluxo de mensagens pode transformar o Twitter em uma ferramenta surpreendentemente útil para resolver problemas e proporcionar insights a respeito do clima do mundo digital. Ao avaliar o cérebro coletivo do mundo, pesquisadores de todos os naipes descobriram que, se procurarem analisar os comentários mundanos, as conversas ao vivo permitem que tenham uma imagem antecipada do sentimento popular – e essas conversas até ajudam a moldar esse sentimento.

Companhias como a Starbucks, a Whole Foods e a Dell são capazes de ver o que os seus fregueses estão pensando quando usam os seus produtos, e as empresas podem, assim, adaptar as suas campanhas de marketing à realidade de forma condizente.

Na semana passada, na Moldávia, manifestantes usaram o Twitter como um instrumento para promover a reunião enquanto pessoas de fora observavam os tweets dos ativistas para tentar entender o que estava acontecendo naquele país pouco conhecido.

E, no último fim de semana, a Amazon.com aprendeu como é importante responder à plateia do Twitter. Depois que um autor percebeu que a Amazon tinha reclassificado os seus livros com temas envolvendo gays e lésbicas, colocando-os na categoria “para adultos”, removendo-os do seu principal sistema de busca e da classificação de vendas, irromperam protestos em blogues e no Twitter. A companhia foi compelida a responder, apesar do feriado da Páscoa, afirmando inicialmente que o problema fora provocado por uma “falha no sistema”, mas mais tarde culpando “um erro de catalogação” que afetou mais de 57 livros sobre saúde e sexo.

Logo as máquinas poderão “fazer twitter” tanto quanto os seres humanos. Corey Menscher, um aluno de pós-graduação da Universidade de Nova York, desenvolveu o Kickbee, uma tira elástica com sensores de vibração que a sua mulher usava para alertar o Twitter todas as vezes que o bebê dava chutes dentro da sua barriga: “Eu chutei a mamãe as 20h52, na sexta, 2 de janeiro!”. Agora, Menscher está pensando em vender o produto.

A conjugação de sensores com o Twitter faz com que algumas pessoas acreditem que o sistema poderá ser utilizado para mandar alertas de segurança para casa ou para informar ao médico quando o nível de açúcar no sangue de um paciente ou os seus batimentos cardíacos ficarem muito elevados. Esse tipo de fluxo de dados em tempo real poderia ajudar os pesquisadores da área médica.

Os médicos já usam o Twitter para pedir ajuda e compartilhar informações sobre os seus procedimentos. No Hospital Henry Ford, em Detroit, cirurgiões e médicos residentes trocaram “tweets” durante uma operação recente para a remoção de um tumor cerebral de um homem de 47 anos de idade que sofria de convulsões.

“Um pedaço do crânio está sendo removido para possibilitar o acesso à dura, o invólucro do cérebro”, dizia um tweet enviado no início. Médicos residentes e leigos curiosos que acompanhavam o procedimento no ciberespaço perguntaram aos médicos que músicas eles estavam ouvindo (Loreena McKennitt, uma cantora celta), se o paciente sentia dor no cérebro (não, apenas pressão) e qual o tamanho do tumor (do tamanho de uma bola de golfe). Conforme se faz tradicionalmente no Twitter, eles marcaram todos os seus tweets com uma palavra-chave de forma que qualquer um pudesse procurar a palavra e ler o fluxo de mensagens.

“O Twitter permite que as pessoas saibam instantaneamente o que está acontecendo em relação às coisas com as quais elas se importam”, diz Evan William, diretor-executivo e co-fundador do Twitter. “No melhor dos cenários, o Twitter torna as pessoas mais espertas, rápidas e eficientes”.

William, juntamente com os outros fundadores, Biz Stone e Jack Dorsey, imaginaram pela primeira vez o Twitter com uma forma fácil de manter contato com aquelas pessoas que já são conhecidas.

Em 2006, quando o Twitter estava apenas começando, os três homens sentiram um pequeno terremoto em São Francisco. Cada um pegou o seu telefone para fazer um tweet sobre o fato e descobriu tweets de outras pessoas na cidade. Naquele momento, ocorreu a eles que o Twitter poderia ser mais útil para uma outra coisa – uma reportagem de primeira página, não apenas para amigos, mas para todos que a lessem.

De fato, as promessas do Twitter na área de coleta de notícias ficou mais evidente durante os ataques terroristas em Bombaim em novembro passado, e quando um avião fez uma pouso de emergência no Rio Hudson em janeiro. As pessoas estavam mandando tweets a partir do local antes que os repórteres chegassem.

A atenção recebida pelo serviço ajudou-o a quase dobrar o número de usuários no mês passado, tornando o Twitter a terceira maior rede social online, atrás do Facebook e do MySpace, segundo a Compete, uma empresa de análise da Web.

“O Twitter reverte a noção de grupo”, explica Paul Saffo, o futurista do Vale do Silício. “Em vez de criar o grupo que deseja, o indivíduo envia uma mensagem e o grupo monta a si próprio”.

Martin Stoll descobriu esse fenômeno pela primeira vez durante uma visita à cidade de Nova York, quando procurava um show de comédia. Minutos após ter mandado uma indagação pelo Twitter, cinco pessoas que ele não conhecia haviam recomendado shows. Pessoas que inscreveram-se para acompanhar os tweets de Stoll tiveram a pergunta dele enviada para às suas páginas de Twitter ou telefone celular, e outras que liam a comunicação Twitter ao vivo também puderam vê-la.

Stoll, fundador da GoSeeTell Network, uma companhia online de viagens, percebeu que o Twitter poderia ser um guia ao vivo para turistas em plena viagem. Ele criou o Portland Twisitor Center, ao qual milhares de pessoas perguntam onde encontrar o melhor local para um café da manhã ou um casa de café, e recebem respostas instantâneas dos funcionários do centro e de qualquer pessoa que deseje respondê-las.

As corporações muitas vezes usam o Twitter para promover vendas. A Intuit, a fabricante do QuickBooks e do TurboTax, monitora o Twitter para descobrir pessoas que estejam escrevendo sobre o Mint, um site de finanças pessoais que compete com o Quicken Online da empresa. A Intuit escreve a seguir para elas e oferece os seus serviços.

Até mesmo as pequenas empresas consideram o Twitter útil. Por exemplo, Mary F. Jenn, da True Massage and Wellness, de São Francisco, envia tweets quando os seus massagistas têm vagas abertas nas suas agendas e oferece descontos. As reservas para o spa esgotam-se frequentemente em uma questão de horas.

Mas a utilidade mais produtiva do Twitter tem sido para aquelas empresas que desejam escrutinar as mentes dos seus clientes, lendo as suas reações imediatas a um determinado produto. A Dell percebeu que os clientes estavam reclamando no Twitter de que o apóstrofo e as teclas de retorno estavam próximas demais no laptop Dell Mini 9. Assim, a Dell consertou o problema no Dell Mini 10.

Na Starbucks, os clientes costumavam reclamar deixando notas em uma caixa de sugestões. Agora eles podem também enviar as suas reclamações ou sugestões via Twitter, onde Brad Nelson, que redige as atualizações da companhia para o Twitter, acompanha o que as pessoas estão dizendo sobre o Starbucks online.

No mês passado, emergiram boatos de que a Starbucks não mandaria mais café às tropas no Iraque como protesto contra a guerra. Nelson acabou com a boataria, enviando o seguinte texto via Twitter: “Isso não é verdade. Obtenha os fatos concretos aqui”, com um link para a resposta da Starbucks ao boato.

Alguns programadores estão criando instrumentos para ajudar as companhias a acompanhar o que a população diz. Akshay Java, cientista da Microsoft, está tentando descobrir uma forma de identificar que especialistas são mais influentes em determinados tópicos, analisando automaticamente o conteúdo dos seus tweets e o que está nas redes Twitter deles. Companhias como a Microsoft poderiam usar essas informações para descobrir que usuários do Twitter deveriam contactar para criar uma agitação em torno de um novo produto.

Porém, para que o Twitter seja realmente útil como instrumento de pesquisa, mais gente terá que começar a usá-lo. Se coletar uma fatia mais representativa daquilo que o mundo está pensando, o Twitter poderá possibilitar, por exemplo, que cientistas e acadêmicos rastreiem epidemias.

Para tornar essa tarefa mais fácil, o Twitter acrescentará em breve uma caixa de buscas a sua home page de forma que os usuários sejam capazes de procurar termos como “terremoto” ou “gripe” e receber todos os tweets sobre esses tópicos nos seus resultados.

Para continuar crescendo, o Twitter precisará obter verbas mais significativas, algo que a companhia de dois anos de idade ainda não conseguiu. Os fundadores da empresa dizem que o Twitter espera cobrar de companhias como a Starbucks por recursos que ajudam tais companhias a comunicar-se com os seus fregueses e obter mais informações a respeito dele.

À medida que a companhia utiliza os US$ 35 milhões que obteve recentemente junto a duas firmas de capital de risco no Vale do Silício – além dos US$ 20 milhões que já havia obtido – Williams enxerga sinais de que o seu serviço começou a encontrar um universo de usuários mais voltado para os aspectos pragmáticos e que representam uma parcela maior da população.

Ele dá o exemplo das pessoas que usaram o Twitter para encontrar gasolina em Atlanta durante um período de falta de combustível no outono passado. “É algo bem diferente de contar aos outros o que você comeu no café-da-manhã – e, no entanto, só funciona porque fica no mesmo local em que as pessoa falam sobre o café-da-manhã'”, afirma Williams.

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Confiança, confiança, confiança…

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 13 abril, 2009

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A atual crise econômica é, como já cansamos dizer aqui, uma crise de confiança. (Re)veja esses posts sobre o assunto: Confiança com ou sem fiança?, É a confiança, estúpido!*, e Fé x Confiança, e entenda o que eu quero dizer por “crise de confiança”. Depois, leia o artigo abaixo do Peter Baker, publicado hoje pelo The New York Times e reproduzido na Folha (comento brevemente no final). É muita leitura, eu concordo, mas com ela você será capaz de formar um quadro consistente sobre a crise atual e seus possíveis rumos. Logo, vale a pena.

Uma questão de confiança

Obama conseguirá restaurar a sensação de empreendedorismo e coragem nos EUA?

Washington
Confança é o nome do jogo para Barack Obama, presidente que tenta calibrar sua mensagem para se adequar ao momento, buscando uma maneira de inspirar um país temeroso da recessão e transmitir a esperança de que tempos melhores virão. É um equilíbrio delicado de se alcançar. Se ele parecer pessimista demais, poderá deprimir ainda mais um povo desesperado por qualquer sinal de progresso. Se soar otimista demais, correrá o risco de parecer que está tentando enganar a nação.
“Você não quer ignorar os problemas e parecer que não está em contato com os desafios que eles estão enfrentando”, disse Rahm Emanuel, chefe de gabinete da Casa Branca. “Por outro lado, você tem de passar a sensação de que há uma luz no horizonte, visível, para a qual você está apontando.”
E os americanos ficaram mais otimistas sobre a economia e a condução dos EUA desde a posse de Obama, o que sugere que ele goza de certo sucesso em sua tarefa crítica de reconstruir a confiança americana, segundo uma pesquisa New York Times/CBS News divulgada no dia 7.
A tarefa de Obama é igualmente crítica para muitos outros países cujas economias dependem de um consumidor americano confiante. Por isso, quando ele voou para Londres e se reuniu com outros líderes para tentar reverter a economia mundial, prometeu mais uma vez restaurar “a confiança nos mercados financeiros”.
Na França, disse em um encontro na prefeitura que estava “confiante de que podemos enfrentar qualquer desafio desde que estejamos unidos”. Para confirmar, repetiu a frase duas vezes em seus comentários iniciais. E caso os americanos a tivessem perdido, Obama gravou uma mensagem declarando que está “confiante de que vamos superar esse desafio”.
Mas Obama é o líder de uma nação com a confiança desgastada em todo tipo de instituição, dos bancos e da indústria de automóveis ao governo e à mídia noticiosa. O próprio lugar dos EUA no mundo parece em dúvida para alguns, enquanto China e Rússia tentam criar uma nova moeda internacional para substituir o dólar e outros contestam a dominação econômica, militar e cultural do país.
Na verdade, esta não é a primeira vez que um presidente enfrenta tal desafio. Franklin D. Roosevelt possivelmente reverteu o clima de um país que apreciava seu estilo entusiasmado, as conversas tranquilizadoras ao pé da lareira e a certeza de que a única coisa a temer era “o próprio medo”, apesar de a Grande Depressão ter causado estragos por anos. Ronald Reagan assumiu um país, depois do Vietnã e de Watergate, que sofria o que Jimmy Carter chamou de “crise de confiança” e imitou Roosevelt com uma série de pronunciamentos pelo rádio e discursos expressando a fé inabalável no espírito americano.
Não importa quanto crédito eles mereçam, Roosevelt e Reagan, ou suas lendas, levaram sucessivos presidentes a cuidar do tom, sabendo que serão julgados por ele. George W. Bush projetou uma segurança constante na sequência dos atentados de 11 de Setembro.
Mas suas avaliações sempre entusiásticas da guerra no Iraque, mais tarde, o fizeram parecer desconectado. “As pessoas pararam de acreditar nele depois de algum tempo”, disse Alan Brinkley, reitor da Universidade Columbia, em Nova York, e historiador presidencial. “Já Obama é descontraído e calmo, e no entanto pode ser muito carismático. Acho que a sensação de calma e razão é o que faz as pessoas confiarem nele. Não tem o entusiasmo efervescente que Roosevelt e Reagan tinham, mas é um tipo de confiança diferente.”
O equilíbrio escapou a Obama algumas vezes desde sua eleição. Por semanas ele pareceu um arauto da catástrofe, advertendo sobre uma recessão que poderia durar uma década. Em certa altura o ex-presidente Bill Clinton, o homem de Hope [Esperança], Arkansas, pediu que Obama fosse franco com a população sobre a crise, mas enfatizasse sua fé no futuro. “Eu gostaria que ele dissesse que está esperançoso e convencido de que vamos superar isto”, disse Clinton na época.
Bush resistiu ao usar a palavra “recessão” durante vários meses, preferindo “declínio” e “desaceleração”, raciocinando que um presidente que usasse a palavra prematuramente poderia transformá-la em uma conclusão antecipada.
No entanto, alguns especialistas negam a importância da confiança em uma época em que tantos pilares do sistema estão partidos. “Isso não vai consertar a situação”, disse Peter Morici, economista da Universidade de Maryland. “A economia está ruim e as pessoas perderam a confiança, e não o contrário. O fato de as pessoas recuperarem a confiança não vai restaurar a solvência dos bancos ou a demanda do consumidor.”

Comento:

Nos trechos em negrito, destaco a diferença entre o presidente Marolinha e o Obama. O primeiro, mentindo deslavadamente e depois dizendo que a outra opção seria falar sifu; o outro, sendo franco e, ao mesmo tempo, passando uma mensagem otimista sobre o futuro.

Crise = risco + oportunidade

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 23 março, 2009

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Sabe aquela história do ideograma chinês para “crise” ser a junção dos ideogramas que significam “risco” e “oportunidade”? (Se você não conhece o ideograma, clique aqui). Pois então, de acordo com essa reportagem que saiu hoje no The New York Times, esse papo é sério mesmo:

Na crise, uma oportunidade

A China está aproveitando sua vantagem competitiva enquanto outros países vacilam na recessão.

Por KEITH BRADSHER
Cantão, China

A recessão econômica global e os esforços para revertê-la provavelmente farão da China um concorrente econômico ainda mais forte do que antes da crise.
Terceira maior economia do mundo, atrás de EUA e Japão, a China já havia se tornado mais assertiva; hoje explora sua posição incomum de dona de montanhas de dinheiro e de um sistema bancário forte, em um momento em que muitos países não têm nada disso, para adquirir recursos naturais e fazer novos amigos.
Seu primeiro-ministro, Wen Jiabao, chegou a lembrar este mês que, como um dos maiores credores dos Estados Unidos, Pequim espera que Washington garanta seu investimento.
Analistas dizem que os líderes chineses estão transformando a crise econômica em vantagem competitiva. O país usa seus quase US$ 600 bilhões do pacote de estímulo econômico para tornar as companhias mais capazes de competir nos mercados internos e externos, para retreinar trabalhadores migrantes em uma escala gigantesca e rapidamente expandir os subsídios para pesquisa e desenvolvimento. Já começou a construção de novas estradas e ferrovias, que provavelmente reduzirão permanentemente os custos do transporte.
Enquanto os líderes americanos lutam para reanimar os empréstimos -a última iniciativa foi um programa de US$ 15 bilhões para pequenas empresas-, os bancos chineses emprestaram mais nos últimos três meses do que nos 12 anteriores.
“Os recentes ajustes do pacote de estímulo indicam um enfoque mais voltado à competitividade da indústria chinesa em longo prazo”, disse Eswar Prasad, ex-chefe da divisão chinesa do Fundo Monetário Internacional. “Gastos maiores em educação, pesquisa e desenvolvimento, juntamente com os valores já aprovados para investimentos em infraestrutura, vão reforçar a produtividade econômica.”
A desaceleração econômica internacional também está fazendo algumas coisas que as autoridades chinesas tentavam sem sucesso há quatro anos: diminuir a inflação, reverter a crescente dependência das exportações e estourar a bolha imobiliária antes que ela pudesse crescer demais.
A recessão na maioria das grandes economias do mundo está infligindo grandes dificuldades à China -causando uma queda recorde das exportações, tirando o emprego de 20 milhões de trabalhadores migrantes e aumentando o crescente e constante potencial de inquietação social. Mas, como disse o presidente Hu Jintao ao Congresso Nacional do Povo, “o desafio e a oportunidade sempre andam juntos- em certas condições, um pode se transformar no outro”.
Com esse objetivo, as empresas chinesas procuram firmas estrangeiras para comprar. O Ministério do Comércio está facilitando o processo de aprovação para que as companhias locais obtenham permissão para fazer aquisições no exterior.
O ministério está liderando sua primeira delegação de executivos de fusões e aquisições à Europa; os executivos buscam empresas nos setores automotivo, têxtil, alimentar, energético, de maquinário, eletrônica e proteção ambiental.
As iniciativas do governo coincidem com alguns benefícios imediatos da desaceleração para a China. Por exemplo, os custos de frete aéreo e cargas oceânicas despencaram até 66% desde meados do ano passado, com a queda da demanda. Os salários dos trabalhadores pouco qualificados, que tinham duplicado em quatro anos em algumas cidades litorâneas, caíram, causando problemas pessoais mas reanimando a vantagem da China em custos trabalhistas. O desemprego fez cair os valores que as fábricas pagam por roupa costurada ou brinquedo montado.
Lao Shu-jen, trabalhador migrante da Província de Jiangxi que trabalha em uma fábrica de jeans em Cantão, disse que ganhava US$ 350 por mês no final do ano passado, mas ficaria contente em receber US$ 220 por mês nos próximos meses. Há muitos jeans empilhados no fundo da fábrica, sem sinal de compradores, disse.
Os trabalhadores não qualificados enfrentam a maior dificuldade para encontrar emprego. Mas, com os subsídios de Pequim, os governos provinciais montaram programas de treinamento vocacional em grande escala, do tipo que os Estados Unidos vêm discutindo mas não chegaram a pôr em prática.
Somente a Província de Cantão, no sudeste da China, está quadruplicando seu programa de treinamento vocacional este ano, para ensinar 4 milhões de trabalhadores inscritos em programas de três ou seis meses.
Esses vastos programas educacionais também poderão ajudar a preservar a estabilidade social, mantendo os desempregados fora das ruas, embora as autoridades chinesas neguem que seja essa sua intenção.
As multinacionais estão encolhendo menos na China do que em outros lugares, e algumas estão até se expandindo. A Intel fechará as linhas de produção de semicondutores antes do que havia planejado em operações mais antigas e menores na Malásia e nas Filipinas, enquanto abre uma grande nova fábrica no oeste da China.
A IMI P.L.C., fabricante britânica de artigos tão diferentes quanto válvulas para usinas de energia e equipamento para cervejarias, anunciou uma mudança de operações acelerada na China, na Índia e na República Tcheca, depois de cortar sua força de trabalho global em 10% desde dezembro.
E a empresa Hon Hai, de Taiwan, uma das maiores fabricantes terceirizadas do mundo de produtos como o iPhone da Apple e os consoles de jogos Wii da Nintendo, acaba de aumentar a folha de pagamentos em quase 5% na China, enquanto corta sua força de trabalho global em 3% a 5%.
Mas a economia chinesa ainda tem fragilidades. Pouco está sendo feito para afastá-la da forte dependência de gastos de capital, em direção ao maior consumo. A rede de segurança social das aposentadorias, da assistência à saúde e da educação é quase inexistente, e por isso as famílias poupam muito.
As rígidas políticas oficiais sobre trabalho e meio ambiente, impostas um ano atrás, quando a China sentiu maior confiança em sua força econômica, estão levando indústrias de baixa tecnologia como a fabricação de brinquedos a mudar-se para outros países. As autoridades do trabalho afirmam que vão resistir às sugestões de executivos chineses para que os novos padrões sejam relaxados.

O sexo frágil (à recessão)

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 16 março, 2009

mulhernotrabalho

Deu no The New York Times (vide matéria abaixo de Floyd Norris) que o desemprego entre os homens está pior que entre as mulheres na atual crise econômica. Quero ver se o governo adotar alguma política discricionária, a gritaria que elas não vão fazer…

Recessão faz mais homens perderem emprego que as mulheres

Quando a economia norte-americana começou a desacelerar-se dois anos atrás, eram as mulheres que corriam maior risco de perder os empregos. Os homens, especialmente aqueles com alto nível educacional e no apogeu das suas carreiras, tinham maior probabilidade de permanecerem empregados.

Isso mudou de forma drástica. De fevereiro do ano passado a fevereiro deste ano, o período para o qual existem os mais recentes dados disponíveis, os índices de desemprego entre os homens aumentaram em um ritmo mais rápido do que o das mulheres, independentemente do nível educacional e da idade.

Simplesmente ficou mais difícil para os homens preservar os seus empregos.

Um ano atrás, em fevereiro de 2008, os homens que tinham frequentado a faculdade mas que não possuíam diploma registravam um índice de desemprego de 4,1%, abaixo do índice nacional, que era de 4,5%.

Mas, em fevereiro deste ano, o índice de desemprego para esse grupo mais do que dobrou, chegando a 8,9%, bem acima do índice nacional, que foi de 8,1%.

Para as mulheres com o mesmo nível educacional, o índice de um ano atrás foi de idênticos 4,1%. Esse índice também subiu, mas apenas para 6,3%.

O Departamento de Estatísticas Trabalhistas, que calcula os números com base em uma pesquisa de domicílios, não fornece ajustes sazonais para os índices de desemprego referentes a esses grupos. Como resultado, a comparação das mudanças ocorridas em períodos de menos de um ano está sujeita a distorções sazonais.

Os índices de desemprego para homens e mulheres com nível de educação superior ainda estão relativamente baixos, mas ambos estão subindo. No decorrer de 12 meses, o índice de desemprego dos homens com educação superior subiu de 2% para 4,1%. No caso das mulheres com a mesma qualificação educacional o aumento no período foi de 2,1% para 3,9%.

O exame da idade dos trabalhadores também revela um quadro perturbador para os homens que se encontram naquela fase que vinha sendo o ápice de suas carreiras. Há um ano, os homens de 35 a 44 anos, e aqueles de 45 a 54, acusavam índices de desemprego inferiores à média nacional. Agora os índices desses grupos, respectivamente de 8,5% e 8,7%, são superiores à média nacional. Os índices correspondentes para as mulheres são de 6,4% e 5,7%.

Em fevereiro de 2007, o índice nacional de desemprego era de 4,5%, apenas um pouco acima do patamar mínimo do ciclo, que foi de 4,4%, e que foi atingido pela última vez em março de 2007. O aumento no ano seguinte foi pequeno, para 4,8%, sendo que as mulheres apresentaram uma tendência um pouco pior do que os homens em termos de aumento dos índices de desemprego.

A média do índice de desemprego para as mulheres com 25 anos ou mais foi de 6,2% em fevereiro de 2009, enquanto o índice dos homens desta mesma faixa etária foi de 9%. Essa diferença, de 2,8 pontos percentuais, foi a maior desde que o Departamento de Estatísticas Trabalhistas começou a compilar os números em 1948.

Antes deste ano, a maior diferença mensal já registrada foi de 1,9 ponto percentual, referente a fevereiro de 1983, durante uma outra recessão severa. Em janeiro deste ano, a diferença foi de 2,3 pontos percentuais.

Antes da década de 1980, as recessões não pareciam atingir mais os trabalhadores do sexo masculino do que as mulheres trabalhadoras. Mas, desde então, as crises de desemprego foram geralmente piores para os homens, pelo menos nos últimos meses.

O índice de desemprego para os homens, que apresentam uma tendência maior de terem empregos externos, tende a subir durante os meses mais frios. Assim, o fato de os números de fevereiro serem especialmente ruins para os homens deve-se em parte a fatores sazonais.

Mas, não obstante, a tendência recente é clara. Segundo uma base anual, o desempenho relativo dos homens tornou-se significativamente pior em setembro do ano passado, quando a economia começou a sofrer uma queda drástica, e essa tendência se manteve desde então em todos os meses sucessivos.

Truques low-tech

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 9 março, 2009

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Do The New York Times (Paul Boutin), com tradução da Folha:

Soluções caseiras para problemas “high-tech”

Atrás da caixa registradora de uma tabacaria em San Francisco, Sam Azar passa o cartão de crédito de um cliente para concluir uma venda. O aparelho da loja se recusa a ler a tarja magnética. O comerciante tenta de novo e de novo. Nada.
Quando uma fila de clientes começa a se formar, Azar envolve o cartão em um saco plástico e passa novamente. Sucesso. “Não sei como isso funciona, mas funciona”, diz Azar, que aprendeu o truque com outro vendedor há alguns anos.
A Verifone, empresa que produz os leitores de cartões, não confirma nem nega que o truque funcione. Mas sem dúvida trata-se de um dos muitos jeitinhos “low-tech” para defeitos “high-tech”, descobertos e passados adiante por pessoas sem diplomas de engenharia, muitas vezes na hora do desespero.
A turbulenta economia atual deve produzir muitos outros jeitinhos desse tipo. Pode-se discutir como -e se- vários deles funcionam, a exemplo do truque do saco plástico. Em muitos outros casos, porém, basta um pouco de ciência para explicar o funcionamento dessas soluções tecnológicas domésticas.

Celular perdendo a carga
Se a bateria do celular acaba muito rápido quando ele fica no bolso, parte do problema pode ser o calor no seu bolso.
“As baterias de celular de fato duram um pouco mais se mantidas frescas”, disse Isidor Buchanan, editor do site “Battery University”. O calor de um ser humano, transferido pelo tecido até o interior do celular, basta para acelerar processos químicos dentro da bateria, o que a faz se esgotar mais rápido. Para manter o telefone mais fresco, leve-o na bolsa ou na cintura.
O mesmo método pode ser usado para preservar a bateria caso você esteja longe de casa sem o carregador. Desligue o telefone e coloque-o dentro do frigobar do hotel durante a noite, de forma a reduzir a tendência natural da bateria a se descarregar.

Chave com controle remoto
Suponha que o controle remoto da sua chave não tenha alcance suficiente para abrir o carro no outro lado do estacionamento. Segure a parte metálica do chaveiro-controle contra o seu queixo e aperte o botão de destravar. O truque transforma a sua cabeça em antena, segundo o engenheiro especializado em rádios Tim Pozar, do vale do Silício (Califórnia, EUA).
“Você está juntando o chaveiro à sua cabeça”, explica ele. “Com todos os fluidos na sua cabeça, ela acaba sendo um bom condutor. Não ótimo, mas funciona.”

Cartucho de impressora vazio
Se a tinta do seu cartucho termina quase no final da impressão de um documento importante, retire o cartucho e passe um secador de cabelos sobre ele por dois ou três minutos. Recoloque o cartucho na impressora e tente de novo, enquanto ainda está quente.
“O calor do secador aquece a tinta espessa e a ajuda a fluir através dos minúsculos bocais do cartucho”, diz Alex Cox, engenheiro de computação em Seattle.

Celular na privada
Pode acontecer com qualquer um: você deixou seu celular cair no vaso sanitário. Retire a bateria imediatamente, para evitar curtos-circuitos que fritem os frágeis componentes do telefone. Em seguida, seque o aparelho delicadamente com uma toalha e mergulhe-o numa jarra cheia de arroz cru.
Funciona pela mesma razão que você mantém alguns grãos de arroz no saleiro, deixando o sal seco. O arroz tem uma grande afinidade química pela água -o que significa que no arroz há moléculas com uma atração quase magnética por moléculas de água, que irão encharcar o arroz em vez de formarem gotículas dentro do telefone.

Discos sujos
Um DVD ou CD está pulando, e você não tem nenhum produto de limpeza apropriado em casa? Molhe um pano com vodka ou desinfetante bucal.
O álcool é um solvente poderoso, perfeitamente capaz de dissolver impressões digitais ou sujeira na superfície de um disco. Um frasco de desinfetante bucal de US$ 5 no seu armário de remédios pode fazer o trabalho tão bem quanto um frasco de fluido para limpeza de DVDs, que custa US$ 75.
Além disso, no caso dos homens, esfregar seu exemplar em DVD do filme de “Farrapo Humano” com vodka Stolichnaya é bem mais viril do que com produtos de limpeza.

O “Paradoxo da Parcimônia”

Posted in Atualidades, crise financeira, Evolução & comportamento by Raul Marinho on 25 fevereiro, 2009

paradoxo

Outra matéria excelente do NYTimes publicada na Folha, dessa vez do David Leonhardt:

“Paradoxo da parcimônia” atrapalha recuperação

Nos últimos anos, o consumidor americano gastou demais. Comprou casas demais, assumiu dívidas demais e em geral viveu além de seus meios. A liberalidade dos gastos contribuiu para a pior crise financeira desde a Grande Depressão.
E agora ele tem de fazer sua parte para acabar com a crise. Como? Gastando. Chega dessa poupança que tantos americanos de repente começaram a fazer. Neste exato instante, o Congresso e o presidente Barack Obama se preparam para oferecer uma restituição tributária para inspirar a população a gastar.
John Maynard Keynes, grande economista do século 20, teria apreciado o aparente absurdo dessas mensagens ambíguas. Ele cunhou um termo, “paradoxo da parcimônia”, para explicar que aquilo que é racional para um indivíduo durante tempos difíceis -poupar- pode ser devastador para a economia como um todo. Afinal, muitos poupadores podem acabar sem emprego porque outras pessoas também estão poupando. Em recente entrevista coletiva, Obama evitou responder a uma pergunta sobre se as pessoas deveriam gastar ou poupar a restituição.
Felizmente, porém, há uma resposta. A primeira parte envolve descobrir como gastar agora para poupar depois -o que pode erguer a economia hoje e ajudar as famílias a lidarem em longo prazo com suas combalidas finanças. A segunda parte consiste em perceber que o paradoxo de Keynes não é tão férreo. Numa crise, quando os bancos podem precisar tanto de capital quanto o varejo precisa de vendas, muita gente pode poupar sem culpa.
Além de ter desenvolvido a receita mais famosa para curar crises, Keynes também pode ser considerado o padrinho da economia comportamental, conforme escreveu recentemente o colunista David Ignatius. Enquanto outros economistas ficavam obcecados com modelos estatísticos que tratavam as pessoas como autômatos hiper-racionais, Keynes escreveu sobre “espíritos animais”. Ele ajudou a explicar como a psicologia moldava a economia.
A economia comportamental decolou nas últimas duas décadas, e uma das suas descobertas centrais é que a maioria das pessoas não se planeja bem para o futuro. Não são nem de perto tão legais com o seu “futuro ser”, como dizem os economistas, quanto são com o seu “presente ser”.
Elas comem um doce a mais e adiam a ginástica para amanhã. Deixam de guardar o suficiente para a aposentadoria.
Esses hábitos provocam problemas. Mas também representam uma oportunidade num momento destes. A maioria das pessoas poderia poupar um bom dinheiro mais tarde se gastasse um pouco agora para cuidar do seu futuro ser.
Com a ajuda de economistas comportamentais, montei uma listinha de exemplos. Pais de bebês podem pagar para aderir a um programa de descontos numa grande loja, e a taxa de adesão seria compensada em poucos meses de compras de fraldas.
Quem não se importa de ler em telas pode comprar o novo leitor de livros eletrônicos Kindle, da Amazon. Custa US$ 359, mas a maioria dos livros a partir daí sai por menos de US$ 10. Famílias que fazem compras financiadas deveriam se segurar temporariamente e então comprar móveis e eletrônicos à vista. Quem tira muitas cópias a laser poderia comprar uma impressora que usa só 1 ou 2 cents de tinta por página (muitas usam bem mais).
Nesses casos -e sem dúvida em muitos outros- o investimento inicial tende a se pagar rapidamente. Por isso tais gastos são perfeitamente adequados ao momento. Eles mantêm pessoas empregadas e criam novos empregos quando a economia precisa de ajuda. Mas também irão reforçar as finanças domésticas.
O grande senão é que algumas pessoas sentem que não podem abrir mão de US$ 50 ou US$ 100 extras atualmente. Milhões de trabalhadores já perderam seus empregos, e muitos outros simplesmente querem reduzir despesas. Em dezembro, as famílias pouparam uma média de 3,6% da sua renda disponível, bem acima do 1% nos últimos anos.
Numa recessão normal, essa poupança adicional teria um lado negativo muito maior que o positivo, conforme Keynes explicou. Mas esta recessão é diferente. Foi causada por uma crise financeira. Se os americanos não melhorarem suas finanças, os bancos continuarão com medo de emprestar, e a recessão vai se prolongar. Ainda mais imediatamente, os bancos precisam colocar suas próprias finanças em ordem.
Quando esta recessão finalmente chegar ao fim, nossos seres futuros terão algumas contas enormes a pagar. Precisarão de toda a ajuda que lhes pudermos dar.

$0,99

Posted in Atualidades, Evolução & comportamento by Raul Marinho on 25 fevereiro, 2009

99

A história e a ciência por trás dos preços “quebrados” (matéria de Tim Arango do The New York Times, traduzida e publicada pela Folha de S.Paulo em 23/02):

O preço está bom quando é US$ 0,99

Em muitas das cenas de “Mad Men”, seriado americano sobre o mundo da publicidade nos anos 1960, um dos fundadores da fictícia agência publicitária Rogers & Sterling descreve a glória em matéria de marketing. “Vou lhe dizer o que é brilho em publicidade”, dizia o ator John Slattery, que intepretava Roger Sterling. “É US$ 0,99.”
Quem sabe não é justamente esse o insight que os varejistas precisam para estimular os consumidores a gastar nestes tempos bicudos: se você não puder vender algo por US$ 0,99, então pelo menos acrescente US$ 0,99 a seu preço.
Steve Jobs, ex-executivo-chefe da Apple, experimentou a abordagem do US$ 0,99 e, pode-se afirmar, salvou a indústria musical do esquecimento.
Ao escolher esse preço único padronizado para cada canção vendida no iTunes, Jobs construiu uma via de distribuição digital de música que era comercialmente viável. Antes do lançamento do iTunes, em 2003, era duvidoso que as pessoas algum dia pudessem se dispor a pagar por música on-line, já que podiam roubá-la de várias redes “peer-to-peer”.
Dave Gold também apostou no US$ 0,99. Nos anos 1960, ele e sua mulher eram donos de uma loja de bebidas no sul da Califórnia em que vendiam vinhos a vários preços: US$ 0,79, US$ 0,89, US$ 0,99 e US$ 1,49.
“Sempre notávamos que os vinhos de US$ 0,99 vendiam muito mais”, ele recordou. Passou a cobrar US$ 0,99 por todos seus vinhos, e as vendas melhoraram.
“Os de US$ 0,79 vendiam melhor a US$ 0,99, os de US$ 0,89 vendiam melhor a US$ 0,99, e, é claro, os de US$ 1,49 vendiam melhor a US$ 0,99.”
Gold e sua mulher acabaram radicalizando o conceito e, em 1982, abriram a rede de lojas 99 Cents Only. Em 1996 eles abriram o capital da rede, e hoje a empresa tem 282 lojas e vale mais de meio bilhão de dólares. Suas vendas subiram 8% no último trimestre, e os lucros, 31%.
Dave Gold não foi o primeiro a usar o conceito dos US$ 0,99 como ferramenta de marketing rentável, mas fez um bom uso dela. Ninguém sabe ao certo quem criou o conceito. Seja como for, o poder do 0,99 parece inegável. Mas por quê?
Acadêmicos já ofereceram diversas explicações psicológicas. Um estudo, feito pelo professor de marketing Robert Schindler, da Escola Rutgers de Administração de Empresas, em Nova Jersey, constatou que os consumidores “veem o preço que termina em 9 como um preço que é um número redondo, mas com um pequeno abatimento”. Pesquisadores também descobriram que preços terminados em 99 comunicam aos consumidores a ideia de “preço baixo”.
Na Universidade de Chicago, por exemplo, pesquisadores descobriram que, quando o preço da margarina caiu de US$ 0,89 para US$ 0,71 numa rede local de mercearias, as vendas tiveram aumento de 65%, mas, quando o preço caiu para US$ 0,69, o aumento das vendas foi de 222%, segundo um dos autores do estudo, Kenneth Wisniewski.
Schindler, num estudo sobre uma rede de moda feminina no varejo, constatou que a diferença de um centavo de dólar entre preços terminados em 99, em vez de 00, “exerce efeito considerável sobre as vendas”. Os produtos com preços terminando em 99 superavam em vendas os cujos preços terminavam em 00.
Assim, quando os comerciantes definem os preços de seus produtos com um número terminando em 9, a razão é simples, disse Schindler: “É para dar a impressão de que o preço é menor”.

De novo, os US$500mil do Obama

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 16 fevereiro, 2009

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Já escrevi dois posts aqui antes (veja O limite dos ganhos dos executivos nos EUA e US$500mil??? Tá de sacanagem, né?) criticando a limitação dos US$500mil anuais de salários, imposta pelo Obama para os executivos das empresas ajudadas pelo governo na atual crise financeira. Hoje, a Folha de S.Paulo publicou um ensaio do Allen Salkin, oriundo do The New York Times, que mostra que um alto executivo de N.York gasta US$1,6milhão/ano para manter um padrão de vida minimamente decente. Por isso, volto ao assunto.

Pode parecer absurdo dizer que “não dá para viver com menos de US$1,6milhão”, mas é a mais pura verdade. Lógico que um executivo novaiorquino, assim como um metalúrgico de São Bernardo do Campo, pode cortar despesas num momento de aperto. A diferença é que, para o metalúrgico, vender seu Gol 1998 e andar de ônibus não vai prejudicá-lo profissionalmente, mas um alto executivo que venda seu BMW para comprar um Honda usado vai se dar mal. Vender a casa de campo em South Hampton ou parar de pagar a anuidade do clube de golfe, então, será o fim. Um alto executivo precisa manter um padrão de vida alto para conseguir ser um alto executivo, diferente de um funcionário público ou um blue collar, não é frescura. Sabendo disso, o sujeito que teve seu teto salarial limitado a US$500mil/ano migrará, assim que possível, para outro que não tenha o teto, e o resultado será catastrófico para as empresas que já estavam mal das pernas: elas simplesmente não conseguirão ter comendo, serão empresas acéfalas.

Prá vc que achava que sabia tudo de internet…

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 12 novembro, 2008

gripe

Vc sabia que a Google está utilizando seus mecanismos de busca para rastrear epidemias de gripe? Se você não costuma ler o The New York Times (onde a matéria abaixo foi publicada originalmente), regizije-se de ser um leitor deste afamado veículo midiático (e não se esqueça de incluir o Toca Raul!!! nos seus favoritos).

Google usa buscas na Internet para rastrear disseminação de gripe
Miguel Helft
Em San Francisco

Há um novo sintoma comum de gripe, além das habituais dores, tosses, febres e gargantas irritadas. Agora muitos americanos doentes realizam busca por frases como “sintomas de gripe” no Google e outras ferramentas de busca antes de procurarem seus médicos.

Este ato simples, multiplicado por milhões de teclados em lares por todo o país, deu origem a um novo sistema de alerta para surtos de gripe de rápida disseminação, chamado Google Flu Trends.

Os testes da nova ferramenta de Internet do Google.org, a unidade filantrópica da empresa, sugerem que ela pode ser capaz de detectar surtos regionais de gripe uma semana a 10 dias antes de serem informados pelos Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC).

No início de fevereiro, por exemplo, os CDC informaram que os casos de gripe tinham atingido um pico nos Estados centrais da Costa Leste. Mas o Google diz que seus dados de pesquisa mostram um pico nas buscas por sintomas de gripe duas semanas antes da divulgação do relatório. Seu novo serviço no endereço google.org/flutrends analisa essas buscas assim que são feitas, criando gráficos e mapas do país que, de forma ideal, mostrarão para onde a gripe está se disseminando.

Os relatórios dos CDC são mais lentos porque dependem de dados coletados e compilados por milhares de provedores de atendimento de saúde, laboratórios e outras fontes. Alguns especialistas em saúde pública dizem que os dados do Google podem ajudar a acelerar a resposta de médicos, hospitais e autoridades de saúde pública a uma temporada mais grave de gripe, reduzindo a disseminação da doença e, potencialmente, salvando vidas.

“Quanto mais cedo o alerta, mais cedo medidas de prevenção e controle podem ser implantadas, e isso pode impedir casos de gripe”, disse a dra. Lyn Finelli, chefe de vigilância da divisão de gripe dos CDC. Entre 5% e 20% da população do país contrai gripe a cada ano, ela disse, levando a cerca de 36 mil mortes em média.

Por ora, o serviço cobre apenas os Estados Unidos, mas o Google espera futuramente usar a mesma técnica para ajudar a rastrear a gripe e outras doenças em todo o mundo.

“Do ponto de vista tecnológico, é o início”, disse Eric E. Schmidt, presidente-executivo do Google.

A premissa por trás do Google Flu Trends – que parece ser um casamento frutífero de comportamento de massa e medicina- é validada por um estudo não relacionado que aponta que os dados coletados pelo Yahoo, o principal rival do Google em busca na Internet, também pode ajudar em detectar mais cedo a gripe.

“Em teoria, nós também poderíamos usar esta corrente de informação para aprender sobre outras tendências de doenças”, disse o dr. Philip M. Polgreen, professor assistente de medicina e epidemiologia da Universidade de Iowa e um autor do estudo baseado nos dados do Yahoo.

Ainda assim, algumas autoridades de saúde pública notam que muitos departamentos de saúde já usam outras abordagens, como coleta de dados de visitas aos pronto-socorros, para manter um controle diário das tendências de doenças em suas comunidades.

“Nós não temos nenhuma evidência de que isso é mais oportuno do que nossos dados de pronto-socorros”, disse o dr. Farzad Mostashari, comissário assistente do Departamento de Saúde e Higiene Mental de Nova York.

Se o Google fornecer detalhes para as autoridades de saúde sobre o funcionamento do sistema, para que possa ser validado cientificamente, os dados poderiam servir como uma forma adicional, gratuita, de detectar a gripe, disse Mostashari, que também é presidente da Sociedade Internacional para Vigilância de Doenças.

Um estudo sobre a metodologia do Flu Trends deverá ser publicado na revista “Nature”.

Os pesquisadores há muito dizem que o material publicado na Internet representa uma forma de “inteligência coletiva” que pode ser usada para detectar tendências e fazer previsões.

Mas os dados coletados pelas ferramentas de busca são particularmente poderosos, porque as frases e palavras-chave que as pessoas digitam nelas representam suas intenções mais imediatas. As pessoas podem procurar por “hotel em Kauai” quando estão planejando férias e “execução hipotecária” quando estão tendo problemas com o pagamento de sua hipoteca. Essas consultas expressam as necessidades e desejos coletivos do mundo, seus gostos e anseios.

Pesquisa interna no Yahoo sugere que aumentos nas buscas por certos termos podem ajudar a prever que produtos de tecnologia farão sucesso, por exemplo. O Yahoo começou a usar o tráfego de busca para ajudá-lo a decidir que material exibir em seu site.

Há dois anos, o Google começou a abrir seus dados de busca no Google Trends, uma ferramenta que permite a qualquer um rastrear a popularidade relativa de termos de busca. O Google também oferece ferramentas de busca de tráfego mais sofisticadas que profissionais de marketing podem usar para ajustar suas campanhas. E internamente, a empresa tem testado o uso dos dados de busca para chegar a conclusões sobre tendências econômicas, marketing e entretenimento.

“Grande parte das previsões é basicamente uma extrapolação de tendências”, disse Hal Varian, o economista chefe do Google. “Isso funciona notavelmente bem, mas tende a não captar momentos de virada, os momentos em que os dados mudam de direção. Nossa esperança é de que os dados do Google possam nos ajudar com este problema.”

Prabhakar Raghavan, que está encarregado do Yahoo Labs e da estratégia de busca da empresa, também disse que os dados de busca podem ser valiosos para previsores e cientistas, mas preocupações com privacidade geralmente impedem que sejam compartilhados fora do meio acadêmico.

O Google Flu Trends evita problemas de privacidade ao fazer uso apenas de dados agregados que não podem ser rastreados aos autores individuais das buscas. Para desenvolver o serviço, os engenheiros do Google elaboraram uma cesta de frases e palavras-chave relacionados a gripe, incluindo termômetro, sintomas de gripe, dores musculares, peito congestionado e muitos outros.

O Google também então seu banco de dados, extraiu cinco anos de dados dessas consultas e comparou o mapeamento aos relatórios de gripe dos CDC. O Google encontrou uma forte correlação entre seus dados e os relatórios da agência, que o aconselhou no desenvolvimento do novo serviço.

“Nós sabemos que casa muito bem com a forma como a gripe se desenvolveu no ano passado”, disse o dr. Larry Brilliant, diretor executivo do Google.org. Tanto Finelli dos CDC quanto Brilliant alertaram que os dados precisam ser monitorados para assegurar que a correlação com a atividade da gripe continue válida.