Crise econômica e seleção natural
Nova Granada, no interior de São Paulo, é uma cidade interessante. Conheço cerca de uma dúzia de granadenses, nenhum deles pessoas “normais”. Fábio Gandour é um desses “pontos fora da curva”: para se ter uma idéia do quão incomum é o sujeito, o Fábio é, ao mesmo tempo, médico (pediatra, se não me engano) e cientista-chefe da IBM(!!!). Conheci o Fábio no lançamento do meu livro “Prática na teoria”, e infelizmente nunca mais falei com ele.
Ao ler a última edição da revista Galileu, deparei com um artigo do Fábio, sobre crise econômica e seleção natural. Googlei “fabio gandour” de todo jeito, e não consegui encontrar nem o e-mail do Fábio, nem uma versão eletrônica do artigo (no site da revista, não está disponível). Por isso, escaneei o texto (vide abaixo) para poder comentá-lo, e fica aqui o convite para o Fábio responder aos meus comentários, se ele chegar a trombar com esse post. (Se algum conhecido do Fábio estiver lendo, peço a gentileza de encaminhar o link do post para ele).
A solução para a crise econômica? Seleção natural
No ano em que comemoramos os 200 anos do nascimento de Charles Daarwin e 150 da publicação do livro A Origem das Espécies, talvez também seja a hora de discutirmos uma questão bastante incômoda a ponto de ser constantemente evitada. Se em sua obra-prima Darwin construiu a teoria da evolução dos seres vivos, por que não analisar os obstáculos causados pelo progresso da ciência ao pleno exercício da seleção natural?
Antes de embarcarmos nessa direção, é recomendável que o leitor se desfaça, temporariamente, de qualquer influência de princípios éticos, morais e, principalmente, religiosos, para poder se concentrar apenas em aspectos técnicos e científicos. Sob o ponto de vista essencialmente científico, o homem, quando se empenha em tratar doenças e evitar a morte, impede a ação da seleção natural. Sim, visto pelo ângulo técnico da dinâmica populacional, o progresso da medicina atrapalha a seleção natural.
Ao impedir ou mesmo adiar a morte de indivíduos que apresentam alguma inaptidão para sobreviver e que morreriam naturalmente, evitamos ou prorrogamos a ação da seleção natural. O prolongamento da vida de um ser vivo frágil também aumenta suas chances de se reproduzir e transmitir essa fragilidade a seus descendentes.
A seleção natural sepultaria essa fragilidade e, por isso, tem o notório efeito de melhorar a competitividade, eliminando falhas e abrindo espaço para a sobrevivência dos indivíduos mais resistentes e bem adaptados.
Ao tolher a sua ação, evitamos que aquela população evolua para um novo patamar, mais competitivo. Essa verdade, um tanto inconveniente, vale tanto para a medicina quanto para qualquer outra ciência destinada a prolongar a vida de um ser vivo que se encontre enfermo por uma determinada razão. Trata-se de uma verdade cruel, mas incontestável.
E já que viemos até aqui, podemos ir mais longe na mesma direção. No caso do homem, a atitude de proteger a vida e impedir a seleção natural dos inaptos ao ecossistema do momento já se transformou em um valor social incorporado ao comportamento das populações. Um valor às vezes questionável, mas que, mesmo assim, se manifesta com frequência.
Um exemplo disso pode ser visto na atual crise econômica. O cenário globalizado em que ela acontece pode, com alguma poesia, ser chamado de ecossistema financeiro mundial. De repente, alguns “indivíduos” dessa população começaram a apresentar sintomas de grave enfermidade, que logo se alastrou por quase todo o ecossistema. Se deixássemos a seleção natural atuar, esses bancos adoecidos por dívidas impagáveis, créditos de origem duvidosa, pagamentos de bônus de mérito discutível e outras fragilidades estruturais, deveriam ser naturalmente selecionados para morrer.
Assim, levariam para o túmulo seus atributos genéticos representados por uma administração ineficiente e que bordeja a ilegalidade. Seria a seleção natural atuando com liberdade, eliminando uma espécie frágil e deficiente para abrir espaço no ecossistema para o surgimento de outra espécie mais bem adaptada e, portanto, mais forte.
Mas não é isso que vem acontecendo – e que seria extremamente saudável nesses casos. Como já incorporamos um valor social que combate a seleção natural, internamos os bancos enfermos em UTls de hospitais com nomes incomuns, como Federal Reserve Bank, sistematicamente mantidos por governos. Nessas UTIs, bilhões de dólares são injetados nas veias dos “pacientes”, e eles não morrerão. Ao sobreviver, terão novas chances para reproduzir e transmitir a seus descendentes todas as falhas atuais de seus organismos. Mais uma vez, a seleção natural não ocorreu. Na verdade, o ecossistema involuiu.
Charles Darwin nunca foi banqueiro – nem bancário -, mas até no ecossistema financeiro globalizado sua teoria da evolução teria sido útil se acontecesse com liberdade e naturalidade.
Comento:
Tudo o que comentar a seguir não terá, como recomenda o autor, qualquer viés moral (aliás, é a mesma recomendação que faço no meu livro). O problema é que, focando no aspecto exclusivamente material, deixar a seleção natural agir livremente não leva, necessariamente, aos melhores resultados. “Evolução”, no sentido darwinista, nada tem a ver com “melhoria” ou “progresso”, mas sim com “sobrevivência diferencial de populações”. Vejamos, como exemplo, o que está ocorrendo em relação à resistência à malária – uma das poucas frentes de evolução humana atualmente em curso.
Em determinadas regiões do planeta, existem populações portadoras de uma mutação que produz hemácias ligeiramente deformadas, o que gera uma doença hereditária chamada anemia falciforme. Essa doença gera diversos problemas mais ou menos similares à anemia comum: hemorragias, descolamento de retina, acidente vascular cerebral, enfarte, calcificações em ossos, e insuficiência renal e pulmonar. Mas, por outro lado, imuniza a pessoa contra a malária (ou atenua as crises). Em regiões muito afetadas pela malária, a seleção natural favorece a sobrevivência de populações portadoras da mutação porque a malária mata mais que as conseqüências da anemia falciforme. Essas populações, mais evoluídas no sentido darwinista, serão, de fato, melhores que as populações sem anemia falciforme? De jeito nenhum, tanto é que em regiões em que a malária está sob controle, a anemia falciforme acaba selecionada para desaparecer.
Por isso, é sempre muito temerário fazer qualquer afirmação como a da primeira parte do artigo, de que a seleção natural “tem o notório efeito de melhorar a competitividade, eliminando falhas e abrindo espaço para a sobrevivência dos indivíduos mais resistentes e bem adaptados”. Mas este não é o problema mais grave do artigo. Quando o autor sugere que se deixe as empresas afetadas pelos erros que levaram à crise econômica mundial à sorte da “seleção natural”, está cometendo um erro já testado em várias crises anteriores, em especial a crise de 1929. Trata-se da aplicação do liberalismo clássico, que Keynes mostrou não resolver em situações de grave crise.
Internar empresas como o Citibank e a GM em UTIs financeiras, por outro lado, não significa “involução” – pelo contrário: o Citi e a GM do futuro deverão ser empresas muito melhoradas. Empresas não são organismos, embora se pareçam com eles em alguns aspectos. O Citibank de 2012 não deverá carregar os “genes ruins” que o levaram à insolvência em 2008/09 justamente porque passou por uma situação que quase o matou. Empresas, ao contrário de organismos, podem alterar seus genes.
Pela volta dos chatos aos bancos
(Este post é dedicado aos meus ex-chefes no Citibank)
No artigo abaixo do Paul Krugman, publicado hoje no The New York Times, faz-se uma correlação inversa entre “chatice bancária” e crise financeira: quanto mais chato está o setor bancário, menos provável ocorrer uma nova crise. De fato, percebi isso na formação da atual crise: o ambiente de negócios dos últimos anos estava significativamente mais jovem, agitado, criativo e vibrante que na época que eu ingressei no mercado, em fins dos anos 1980. No início do ano passado, por exemplo, tive uma série de reuniões na sede de um dos maiores bancos americanos no Brasil (envolvido até os ossos na crise, por sinal), e não vi ninguém mais velho que eu trabalhando lá (tinha 40 anos na época). Meu interlocutor, reponsável por negócios bilionários, tinha 25 anos, e o ambiente mais parecia uma alegre agência de propaganda, com bichinhos fofos enfeitando monitores e ninguém usando gravata.
Tornar os bancos chatos
Há mais de 30 anos, quando eu era aluno de pós-graduação em economia, somente os meus colegas menos ambiciosos buscavam carreiras no mundo financeiro. Mesmo na época, os bancos de investimento pagavam mais do que o ensino ou o serviço público -mas não tanto assim e, de qualquer forma, todo mundo sabia que trabalhar em banco era, bem, chato.
Nos anos que se seguiram, os bancos se tornaram tudo, menos chatos. As negociações e estratégias prosperaram, e os salários saltaram, atraindo muitos dos melhores e mais brilhantes de nossos jovens (está bem, não tenho certeza quanto aos “melhores”). Assim, estávamos certos de que nosso setor financeiro de tamanho exagerado era a chave para a prosperidade.
Em vez disso, contudo, as finanças viraram o monstro que comeu a economia mundial.
Recentemente, os economistas Thomas Philippon e Ariell Reshev distribuíram um artigo que poderia ter o título de “Ascensão e queda dos bancos chatos” (de fato, o título é “Salários e capital humano na indústria financeira dos EUA, 1909-2006”). Eles mostram que os bancos nos EUA passaram por três eras no último século.
Antes de 1930, a indústria bancária era excitante, com uma série de figuras de peso, que construíram impérios financeiros gigantescos (mais tarde soube-se que alguns destes eram baseados em fraudes). Esse setor de finanças próspero liderou um rápido aumento no endividamento: a dívida domiciliar quase dobrou em relação ao PIB entre a Primeira Guerra Mundial e 1929.
Durante essa primeira era nas finanças, os banqueiros ganhavam em média muito mais do que seus colegas das outras indústrias. Contudo, o setor financeiro perdeu seu glamour quando o sistema bancário desmoronou durante a Grande Depressão.
A indústria bancária que emergiu daquele colapso era fortemente regulada, muito menos colorida do que tinha sido antes da Depressão e muito menos lucrativa para os que a dirigiam. O setor ficou sem graça, em parte porque os banqueiros eram tão conservadores em seus empréstimos: a dívida domiciliar, que tinha caído fortemente em relação ao PIB durante a Depressão e a Segunda Guerra Mundial, ficou bem abaixo dos níveis anteriores a 1930.
É estranho dizer, mas essa era de bancos chatos também foi uma era de progresso econômico espetacular para a maior parte dos norte-americanos.
Depois de 1980, contudo, com a mudança nos ventos políticos, muitas das regulamentações dos bancos foram suspensas -e o setor tornou-se empolgante novamente. A dívida começou a subir rapidamente, eventualmente chegando a quase o mesmo nível em relação ao PIB que em 1929. E a indústria financeira explodiu de tamanho. Em meados desta década, respondia por um terço dos lucros corporativos.
Com essas mudanças, as finanças novamente se tornaram uma carreira que recompensava bem -espetacularmente bem, para os que construíram novos impérios financeiros. De fato, o aumento dos salários nas finanças teve um grande papel em criar a segunda Era Dourada dos EUA.
Nem é preciso dizer que os novos super-astros acreditavam que mereciam sua riqueza. “Acho que os resultados de nossa empresa, de onde veio a maior parte de minha riqueza, justificaram o que eu recebi’, disse Sanford Weill, em 2007, um ano após se aposentar do Citigroup. Muitos economistas concordaram.
Somente poucas pessoas advertiram que este sistema financeiro sobrecarregado poderia ter um final ruim. Talvez a Cassandra mais notável tenha sido Raghuram Rajan, da Universidade de Chicago, ex-economista do Fundo Monetário Internacional que argumentou em uma conferência em 2005 que o rápido crescimento das finanças tinha aumentado o risco de um “derretimento catastrófico”.
Entretanto, outros participantes da conferência, inclusive Lawrence Summers, hoje diretor do Conselho Econômico Nacional, ridicularizaram as preocupações de Rajan.
E o derretimento chegou.
Grande parte do aparente sucesso da indústria financeira agora é visto como ilusão. (As ações do Citigroup perderam mais de 90% de seu valor desde que Weill se congratulou.) Pior ainda, o colapso do castelo de cartas financeiro criou caos no resto da economia, com o comércio mundial e a produção industrial de fato caindo mais rápido do que fizeram na Grande Depressão. E a catástrofe levou a pedidos de mais regulamentação da indústria financeira.
Entretanto, minha sensação é que as autoridades ainda estão pensando mais em reorganizar os caixas no organograma da supervisão bancária. Não estão de forma alguma prontos para fazer o que precisa ser feito -que é tornar o setor bancário chato novamente.
Parte do problema é que uma atividade bancária sem graça significaria banqueiros mais pobres, e a indústria financeira ainda tem muitos amigos em altas posições. Entretanto, é também uma questão de ideologia: apesar de tudo que aconteceu, a maior parte das pessoas em posição de poder ainda associa finanças sofisticadas com progresso econômico.
Será que podem ser convencidas do contrário? Teremos a disposição de fazer uma reforma financeira séria? Se não, a atual crise não será um evento único; formatará o que está por vir.
Assassinaram a lógica
A atividade bancária clássica – tomar dinheiro dos investidores e repassá-lo aos tomadores via empréstimos – tem uma longa história de conservadorismo e bom senso. Mas na euforia financeira ocorrida logo antes da eclosão da atual crise econômica global, o mercado simplesmente enlouqueceu, concedendo empréstimos sem nenhum critério, que agora vêm à tona. Uma dessas excentricidades foram os “art loans” (“empréstimos de arte”), para aquisição de obras de arte, que chegaram a cerca de US$3bilhões em 2007. Agora, com a crise, esses empréstimos estão virando pó, uma vez que o valor das obras de arte derreteu quase completamente. Leia mais sobre isso aqui, no The Wealth Report (para variar).
Música de banqueiro
A música “Argumento” do Paulinho da Viola tem duas estrofes básicas. Os banqueiros, na atual crise econômica, só cantam a segunda, que diz “Faça como um velho marinheiro / Que durante o nevoeiro / Leva o barco devagar”. Mas já está mais do que na hora de voltar a cantar a primeira estrofe:
Tá legal
Tá legal, eu aceito o argumento
Mas não me altere o samba tanto assim
Olha que a rapaziada está sentindo a falta
De um cavaco, de um pandeiro ou de um tamborim
Mão-de-obra anti-crise
A crise econômica mundial é, hoje, uma crise de confiança e de crédito. O capital não flui porque os bancos temem emprestar, mesmo após os trilhões de ajuda do governo, e isso acaba travando toda a economia. A única maneira de reverter esse quadro é convencendo os bancos a retomar o ritmo de negócios de antes da crise, financiando o comércio, viabilizando investimentos, concedendo linhas de crédito para o consumidor, etc. Por isso, o papel dos gerentes de contas dos bancos é fundamental para que o mundo saia o mais cedo possível do atual impasse.
Banqueiro não é burro, muito menos sentimental. Se houver uma oportunidade de negócios interessante à frente, ele vai se sensibilizar. E quem mostra as oportunidades que o mercado oferece são os gerentes de contas, daí a importância desses profissionais. O drama é que os gerentes de contas estão entre os mais afetados pela crise econômica, e a moral da tropa comercial dos bancos está no pé. A dificuldade para aprovar uma operação aumentou muito, e mesmo manter um limite de crédito aberto transformou-se em calvário – isso sem contar com o medo da demissão e as perspectivas sombrias quanto a bônus para esse ano. Mas, com o perdão do excesso de hífens, eles são a mão-de-obra anti-crise.
RL=C+ΔP
Nesse post sobre a pós-crise, começamos a falar sobre o problema do consumismo epidêmico (que chamo de boletite), sua relação com a gênese da crise atual, e como fazer para evitar que crises como a que o mundo passa atualmente ocorram novamente. Neste, veremos que tudo se reduz a uma equação bem simplezinha, mais ou menos como a famosa E=m.c² do Einstein, que explicava a relatividade com somente 3 variáveis:
RL=C+ΔP, onde:
*RL: renda líquida auferida em um determinado período;
*C: consumo neste mesmo período; e
*ΔP: aumento ou diminuição da poupança líquida no período (P1-P0)
Ou seja:
Tudo o que uma pessoa obtém de rendimentos em um determinado ano é equivalente ao que essa pessoa consumiu neste mesmo ano mais a variação verificada em seus investimentos (diferença entre os saldos em 01/01 e 31/12 daquele ano). Se eu ganhei $100mil em 2008 e aumentei minha poupança em R$20mil, concluo que meu consumo foi de R$80mil. Simples assim.
Quando o Malloch Brown (vide artigo do Clóvis Rossi no post sobre a pós-crise) fala sobre “uma nova visão de futuro de um mundo menos conduzido pelo consumismo”, isso significa que teremos de encontrar maneiras de diminuir a boletite, a tendência das pessoas a consumir exageradamente. Já se tentou isso antes várias vezes, e nunca se conseguiu muito sucesso, como no malfadado exemplo do comunismo soviético, e no cristianismo. No fim, as pessoas sempre encontram formas de burlar as regras para ostentar um padrão de consumo superior ao dos seus pares, isso é um comportamento esperado para indivíduos da espécie H.sapiens.
Entretanto, se mudarmos a tributação, da renda para o consumo, haverá um forte estímulo para que as pessoas destinem parcelas cada vez maiores de sua renda para a poupança, evitando uma epidemia consumista. Basta manipular a fórmula: se RL=C+ΔP, então C=RL–ΔP; assim, se a tributação incidir sobre a diferença entre entre a renda e o aumento da poupança, quanto mais se poupar menos imposto se pagará. Esta seria, então, a fórmula mágica do mundo pós-crise.
(Essa não é uma proposta minha, e também não se trata de nenhuma novidade. Ela aparece no capítulo final de “Luxury Fever – Money and happiness in an era of excess” – foto acima, um livro de 1999 do Robert H. Frank).
O pós-crise
Há um ano, publiquei um artigo no portal administradores.com sobre a boletite, que é o consumismo epidêmico por que passávamos na época, logo antes da crise econômica atual chegar para ficar. Na verdade, o primeiro estágio da crise, o problema dos subprimes, já estava acontecendo, e eu dizia naquele artigo que a sua causa era justamente a boletite que impelia as pessoas a consumir casas cada vez maiores e mais caras.
Alguns meses depois, dei uma palestra sobre o assunto, e propus uma estratégia de combate à boletite baseada numa mudança radical na política tributária das pessoas físicas, hoje focada na renda das pessoas. A idéia é desonerar a parte da renda direcionada à poupança e sobre-onerar a parcela destinada ao consumo, o que faria com que a sociedade ficasse mais saudável em termos econômicos e evitaria a ocorrência de uma corrida consumista insana, a causa original da atual crise econômica. Logo depois, a crise econômica se agravou, o Lula saiu falando para todo mundo comprar TV de plasma a prestação, e ficou impossível continuar com esse debate.
Agora, às vésperas da reunião do G-20, o combate à boletite está voltando ao centro da cena. Veja a coluna do Clóvis Rossi de hoje (logo abaixo). Volto a esse assunto depois.
Além da bruma da crise
Por fim, na vertigem da crise, algumas vozes do establishment começam a olhar além e a tentar adivinhar -ou desejar- como seria o mundo pós-crise.
Uma das vozes atende pelo nome de Luiz Inácio Lula da Silva e diz, em artigo ontem publicado pelo “Le Monde”, que, “mais grave que uma crise econômica, estamos diante de uma crise de civilização. Ela exige novos paradigmas, novos modelos de consumo e novas formas de organização da produção”.
Concorda com ele relatório da Comissão de Desenvolvimento Sustentável, instituto independente de assessoria do governo britânico, que procura separar “prosperidade” de “crescimento”. O texto pede aos governos para “desenvolver um sistema econômico sustentável que não se apoie em um consumo sempre crescente”.
Reforça Malloch Brown, o principal negociador britânico para a cúpula do G20: “Veremos [após a crise] uma recalibrada no estilo de vida, toda uma nova visão de futuro de um mundo menos conduzido pelo consumismo, talvez com o acréscimo de um mundo no qual o poder tenha sido algo mais bem distribuído”.
Fecha o circuito Pascal Lamy, diretor-geral da Organização Mundial do Comércio e um funcionário internacional ao qual se é obrigado a prestar atenção pela qualidade de suas análises: “O modelo de capitalismo que conhecemos nos últimos 50 anos não se sustenta. A questão fundamental é saber se há que readaptar, arrumar ou reformar o capitalismo ou se é preciso ir além, ser mais profundo nas mudanças e ir mais fundo nos retoques”. Completa: “Creio que não temos que nos satisfazer intelectualmente com o horizonte atual do capitalismo”.
Bem-vindos todos ao clube do “outro mundo é possível”. Mas palavras só não bastam. Vocês que são todos “insiders”, que tal reconstruir a civilização?
Crise = risco + oportunidade
Sabe aquela história do ideograma chinês para “crise” ser a junção dos ideogramas que significam “risco” e “oportunidade”? (Se você não conhece o ideograma, clique aqui). Pois então, de acordo com essa reportagem que saiu hoje no The New York Times, esse papo é sério mesmo:
Na crise, uma oportunidade
A China está aproveitando sua vantagem competitiva enquanto outros países vacilam na recessão.
Por KEITH BRADSHER
Cantão, ChinaA recessão econômica global e os esforços para revertê-la provavelmente farão da China um concorrente econômico ainda mais forte do que antes da crise.
Terceira maior economia do mundo, atrás de EUA e Japão, a China já havia se tornado mais assertiva; hoje explora sua posição incomum de dona de montanhas de dinheiro e de um sistema bancário forte, em um momento em que muitos países não têm nada disso, para adquirir recursos naturais e fazer novos amigos.
Seu primeiro-ministro, Wen Jiabao, chegou a lembrar este mês que, como um dos maiores credores dos Estados Unidos, Pequim espera que Washington garanta seu investimento.
Analistas dizem que os líderes chineses estão transformando a crise econômica em vantagem competitiva. O país usa seus quase US$ 600 bilhões do pacote de estímulo econômico para tornar as companhias mais capazes de competir nos mercados internos e externos, para retreinar trabalhadores migrantes em uma escala gigantesca e rapidamente expandir os subsídios para pesquisa e desenvolvimento. Já começou a construção de novas estradas e ferrovias, que provavelmente reduzirão permanentemente os custos do transporte.
Enquanto os líderes americanos lutam para reanimar os empréstimos -a última iniciativa foi um programa de US$ 15 bilhões para pequenas empresas-, os bancos chineses emprestaram mais nos últimos três meses do que nos 12 anteriores.
“Os recentes ajustes do pacote de estímulo indicam um enfoque mais voltado à competitividade da indústria chinesa em longo prazo”, disse Eswar Prasad, ex-chefe da divisão chinesa do Fundo Monetário Internacional. “Gastos maiores em educação, pesquisa e desenvolvimento, juntamente com os valores já aprovados para investimentos em infraestrutura, vão reforçar a produtividade econômica.”
A desaceleração econômica internacional também está fazendo algumas coisas que as autoridades chinesas tentavam sem sucesso há quatro anos: diminuir a inflação, reverter a crescente dependência das exportações e estourar a bolha imobiliária antes que ela pudesse crescer demais.
A recessão na maioria das grandes economias do mundo está infligindo grandes dificuldades à China -causando uma queda recorde das exportações, tirando o emprego de 20 milhões de trabalhadores migrantes e aumentando o crescente e constante potencial de inquietação social. Mas, como disse o presidente Hu Jintao ao Congresso Nacional do Povo, “o desafio e a oportunidade sempre andam juntos- em certas condições, um pode se transformar no outro”.
Com esse objetivo, as empresas chinesas procuram firmas estrangeiras para comprar. O Ministério do Comércio está facilitando o processo de aprovação para que as companhias locais obtenham permissão para fazer aquisições no exterior.
O ministério está liderando sua primeira delegação de executivos de fusões e aquisições à Europa; os executivos buscam empresas nos setores automotivo, têxtil, alimentar, energético, de maquinário, eletrônica e proteção ambiental.
As iniciativas do governo coincidem com alguns benefícios imediatos da desaceleração para a China. Por exemplo, os custos de frete aéreo e cargas oceânicas despencaram até 66% desde meados do ano passado, com a queda da demanda. Os salários dos trabalhadores pouco qualificados, que tinham duplicado em quatro anos em algumas cidades litorâneas, caíram, causando problemas pessoais mas reanimando a vantagem da China em custos trabalhistas. O desemprego fez cair os valores que as fábricas pagam por roupa costurada ou brinquedo montado.
Lao Shu-jen, trabalhador migrante da Província de Jiangxi que trabalha em uma fábrica de jeans em Cantão, disse que ganhava US$ 350 por mês no final do ano passado, mas ficaria contente em receber US$ 220 por mês nos próximos meses. Há muitos jeans empilhados no fundo da fábrica, sem sinal de compradores, disse.
Os trabalhadores não qualificados enfrentam a maior dificuldade para encontrar emprego. Mas, com os subsídios de Pequim, os governos provinciais montaram programas de treinamento vocacional em grande escala, do tipo que os Estados Unidos vêm discutindo mas não chegaram a pôr em prática.
Somente a Província de Cantão, no sudeste da China, está quadruplicando seu programa de treinamento vocacional este ano, para ensinar 4 milhões de trabalhadores inscritos em programas de três ou seis meses.
Esses vastos programas educacionais também poderão ajudar a preservar a estabilidade social, mantendo os desempregados fora das ruas, embora as autoridades chinesas neguem que seja essa sua intenção.
As multinacionais estão encolhendo menos na China do que em outros lugares, e algumas estão até se expandindo. A Intel fechará as linhas de produção de semicondutores antes do que havia planejado em operações mais antigas e menores na Malásia e nas Filipinas, enquanto abre uma grande nova fábrica no oeste da China.
A IMI P.L.C., fabricante britânica de artigos tão diferentes quanto válvulas para usinas de energia e equipamento para cervejarias, anunciou uma mudança de operações acelerada na China, na Índia e na República Tcheca, depois de cortar sua força de trabalho global em 10% desde dezembro.
E a empresa Hon Hai, de Taiwan, uma das maiores fabricantes terceirizadas do mundo de produtos como o iPhone da Apple e os consoles de jogos Wii da Nintendo, acaba de aumentar a folha de pagamentos em quase 5% na China, enquanto corta sua força de trabalho global em 3% a 5%.
Mas a economia chinesa ainda tem fragilidades. Pouco está sendo feito para afastá-la da forte dependência de gastos de capital, em direção ao maior consumo. A rede de segurança social das aposentadorias, da assistência à saúde e da educação é quase inexistente, e por isso as famílias poupam muito.
As rígidas políticas oficiais sobre trabalho e meio ambiente, impostas um ano atrás, quando a China sentiu maior confiança em sua força econômica, estão levando indústrias de baixa tecnologia como a fabricação de brinquedos a mudar-se para outros países. As autoridades do trabalho afirmam que vão resistir às sugestões de executivos chineses para que os novos padrões sejam relaxados.
A prova do crime
Que o mercado financeiro dos EUA quebrou, todo mundo sabe; e que houve um descaso absurdo com a fiscalização, também. Mas nada como ver as provas concretas do crime. No blog do Crédito, o leitor Camilo Telles colocou o link para a denúncia feita contra o fundo do Madoff à SEC (a CVM deles) em 2005. É impressionante. A denúncia se chama “O maior fundo do mundo é uma fraude”, de Harry Markopolos, um analista financeiro de Wall Street altamente qualificado, que aplicou a Mosaic Theory para levantar 29 red flags que apontavam para o fato de que o fundo do Madoff era uma pirâmide (esquema Ponzi).
O que a SEC fez com o relatório do Markopolos? Engavetou. Até que o fundo explodiu no final de 2008, deixando um rombo de mais de US$50bilhões para trás.
Santo companheiro PROER, rogai por nós
Se eu fosse o Lula, iria para o Vaticano pedir para o Papa canonizar o Pedro Malan e o FHC em vida por eles terem feito o PROER. Foi por causa deles que o circo não está pegando fogo agora e, pelo contrário, o setor bancário é nosso maior trunfo contra a crise. Veja a nota abaixo, da BBC/UOL:
Bancos brasileiros são ‘exceção lucrativa’ no setor, diz Economist
Os bancos brasileiros estão seguros e seriam uma “exceção” no setor em meio à crise, segundo reportagem publicada pela revista britânica Economist que chega às bancas nesta sexta-feira.Comentando o corte de 1,5 ponto percentual da taxa de juros Selic na semana passada, a revista afirma que o Banco Central conseguiu cortar as taxas “dura e rapidamente”, e que mais cortes são esperados.
“Esta é uma novidade bem vinda: no passado, a frágil moeda e a alta inflação impediam que o país adotasse medidas anti-cíclicas como esta”, afirma a reportagem.
Mas a revista destaca que os cortes nas taxas não estão sendo repassados para os clientes, alimentado a discussão sobre os altos lucros dos bancos com seus spreads (a diferença entre as taxas cobradas sobre o dinheiro que o banco toma emprestado e que ele empresta aos seus clientes).
“Os bancos brasileiros podem ser caros, mas pelo menos eles estão seguros”, diz a Economist, “Até agora, nenhum deles teve problemas com a crise financeira mundial. Isso pode ser porque seus lucros com as atividades diárias são tão altos que eles não precisaram assumir riscos tolos.” A Economist afirma que, segundo um cálculo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), o Brasil tem os spreads bancários mais altos do mundo. O cálculo, no entanto, é disputado pela Federação de Bancos, que alegam que os spreads são inflados pelos impostos sobre as transações bancárias.
De acordo com a revista, a segurança também se deve ao fato de os regulamentos serem mais duros desde que vários bancos quebraram quando a inflação foi domada, em meados dos anos 90.
A Economist comenta ainda que os bancos HSBC e Citibank, que enfrentam problemas no resto do mundo, vão bem no Brasil. “De uma maneira ou de outra, o sistema bancário do Brasil parece que vai continuar a ser a lucrativa exceção aos desastres em outros lugares”, conclui a reportagem.
Deportados do Riquistão
Crises econômicas levam a enormes ondas migratórias, isso não é de hoje. Foi assim que italianos e japoneses acabaram vindo parar em São Paulo, e muitos europeus foram tentar a vida em Nova York no início do século XX. Agora, a atual crise está gerando um enorme movimento migratório no Riquistão, de acordo com esse post do The Wealth Report, só que em sentido inverso: as pessoas estão deixando o país (não por vontade própria, na verdade, estão sendo deportadas).
É bem verdade que muitos riquistaneses eram “imigrantes clandestinos” – em outras palavras: estavam no Riquistão com dinheiro emprestado -, mas a maioria simplesmente “perdeu o visto de permanência” na crise. A imagem mais dramática dessa deportação é a dos carros de luxo abandonados no aeroporto de Dubai por pessoas que não têm mais condições de mantê-los e de se manter por lá:
O sexo frágil (à recessão)
Deu no The New York Times (vide matéria abaixo de Floyd Norris) que o desemprego entre os homens está pior que entre as mulheres na atual crise econômica. Quero ver se o governo adotar alguma política discricionária, a gritaria que elas não vão fazer…
Recessão faz mais homens perderem emprego que as mulheres
Quando a economia norte-americana começou a desacelerar-se dois anos atrás, eram as mulheres que corriam maior risco de perder os empregos. Os homens, especialmente aqueles com alto nível educacional e no apogeu das suas carreiras, tinham maior probabilidade de permanecerem empregados.
Isso mudou de forma drástica. De fevereiro do ano passado a fevereiro deste ano, o período para o qual existem os mais recentes dados disponíveis, os índices de desemprego entre os homens aumentaram em um ritmo mais rápido do que o das mulheres, independentemente do nível educacional e da idade.
Simplesmente ficou mais difícil para os homens preservar os seus empregos.
Um ano atrás, em fevereiro de 2008, os homens que tinham frequentado a faculdade mas que não possuíam diploma registravam um índice de desemprego de 4,1%, abaixo do índice nacional, que era de 4,5%.
Mas, em fevereiro deste ano, o índice de desemprego para esse grupo mais do que dobrou, chegando a 8,9%, bem acima do índice nacional, que foi de 8,1%.
Para as mulheres com o mesmo nível educacional, o índice de um ano atrás foi de idênticos 4,1%. Esse índice também subiu, mas apenas para 6,3%.
O Departamento de Estatísticas Trabalhistas, que calcula os números com base em uma pesquisa de domicílios, não fornece ajustes sazonais para os índices de desemprego referentes a esses grupos. Como resultado, a comparação das mudanças ocorridas em períodos de menos de um ano está sujeita a distorções sazonais.
Os índices de desemprego para homens e mulheres com nível de educação superior ainda estão relativamente baixos, mas ambos estão subindo. No decorrer de 12 meses, o índice de desemprego dos homens com educação superior subiu de 2% para 4,1%. No caso das mulheres com a mesma qualificação educacional o aumento no período foi de 2,1% para 3,9%.
O exame da idade dos trabalhadores também revela um quadro perturbador para os homens que se encontram naquela fase que vinha sendo o ápice de suas carreiras. Há um ano, os homens de 35 a 44 anos, e aqueles de 45 a 54, acusavam índices de desemprego inferiores à média nacional. Agora os índices desses grupos, respectivamente de 8,5% e 8,7%, são superiores à média nacional. Os índices correspondentes para as mulheres são de 6,4% e 5,7%.
Em fevereiro de 2007, o índice nacional de desemprego era de 4,5%, apenas um pouco acima do patamar mínimo do ciclo, que foi de 4,4%, e que foi atingido pela última vez em março de 2007. O aumento no ano seguinte foi pequeno, para 4,8%, sendo que as mulheres apresentaram uma tendência um pouco pior do que os homens em termos de aumento dos índices de desemprego.
A média do índice de desemprego para as mulheres com 25 anos ou mais foi de 6,2% em fevereiro de 2009, enquanto o índice dos homens desta mesma faixa etária foi de 9%. Essa diferença, de 2,8 pontos percentuais, foi a maior desde que o Departamento de Estatísticas Trabalhistas começou a compilar os números em 1948.
Antes deste ano, a maior diferença mensal já registrada foi de 1,9 ponto percentual, referente a fevereiro de 1983, durante uma outra recessão severa. Em janeiro deste ano, a diferença foi de 2,3 pontos percentuais.
Antes da década de 1980, as recessões não pareciam atingir mais os trabalhadores do sexo masculino do que as mulheres trabalhadoras. Mas, desde então, as crises de desemprego foram geralmente piores para os homens, pelo menos nos últimos meses.
O índice de desemprego para os homens, que apresentam uma tendência maior de terem empregos externos, tende a subir durante os meses mais frios. Assim, o fato de os números de fevereiro serem especialmente ruins para os homens deve-se em parte a fatores sazonais.
Mas, não obstante, a tendência recente é clara. Segundo uma base anual, o desempenho relativo dos homens tornou-se significativamente pior em setembro do ano passado, quando a economia começou a sofrer uma queda drástica, e essa tendência se manteve desde então em todos os meses sucessivos.
Ô dó!!!
Será que a ONU não mandar alguma ajuda humanitária para esses pobres coitados? Olha só o que está acontecendo no Riquistão*, de acordo com reportagem da Folha Online (quem me chamou a atenção para a triste tragédia foi o meu amigo Antonio Maia):
Bilionários perdem US$ 2 tri em um ano
Gates tem queda de US$ 18 bi na fortuna, mas volta a ser o mais rico do mundo; no Brasil, liderança é de Eike, com US$ 7,5 biO indiano Anil Ambani foi o que mais perdeu na lista da “Forbes”, US$ 31,9 bilhões; 55 russos deixaram de ter o status de bilionário
Se 1 bilhão a mais ou a menos faz diferença na vida de uma pessoa, talvez esse seja o momento ideal para fazer essa pergunta. Os homens mais ricos do mundo perderam 45% da sua fortuna em um ano, ou US$ 2 trilhões (o equivalente ao PIB italiano, a sétima maior economia global), segundo o ranking da revista “Forbes”.
A crise atual, que derrubou Bolsas pelo mundo, levou grandes economias para a recessão e derrubou milhões de pessoas para abaixo da linha de pobreza, também varreu a fortuna dos bilionários. No ano passado, eram 1.125 pessoas com uma fortuna de ao menos US$ 1 bilhão, que juntos tinham US$ 4,4 trilhões (o PIB japonês). Agora são 793 bilionários, com patrimônio total de US$ 2,4 trilhões. Na média, cada um tem US$ 3 bilhões -US$ 900 milhões menos que em 2008.
O impacto já pode ser medido no topo do ranking, que voltou a ter a liderança de Bill Gates, mesmo tendo perdido US$ 18 bilhões. A fortuna atual de Gates, US$ 40 bilhões, o colocaria no sétimo lugar em 2008. O líder do ano passado, Warren Buffett, perdeu ainda mais, US$ 25 bilhões, e agora é o segundo. Já o mexicano Carlos Slim, terceiro colocado, teve a mesmo prejuízo de Buffett e conta com US$ 35 bilhões.
Juntas, as dez pessoas mais ricas do mundo têm US$ 253,9 bilhões (aproximadamente todos os bens e serviços produzidos pela Argentina), ante US$ 426 bilhões no ano passado. Ou seja, em um ano eles perderam pouco mais de 10% do PIB brasileiro. Uma das consequências é que o décimo homem mais rico, o espanhol Amancio Ortega (da rede de lojas Zara), com um patrimônio de US$ 18,3 bilhões, não ficaria nem entre os 25 primeiros no ano passado.
No Brasil, o único que viu sua fortuna crescer foi Eike Batista, para US$ 7,5 bilhões, e é agora o homem mais rico do país e o 61º do mundo. O antigo líder, Antônio Ermírio de Moraes, perdeu quase o patrimônio de Eike, US$ 7,2 bilhões, e é o sexto mais rico do país. Ao todo são 14 bilionários brasileiros -quatro a menos que em 2007-, com uma fortuna total de 40,3 bilhões, ante US$ 65,1 bilhões de 2008. Elie Horn (Cyrela), Liu Ming Chung (da chinesa Nine Dragons), Jayme Garfinkel (Porto Seguro) e Rubens Ometto (Cosan) deixaram a lista.
Mas outros emergentes perderam ainda mais que o Brasil. A Rússia, por exemplo, viu 55 deixarem a lista (agora conta com 32), e aquele que era o mais rico do país e o nono do mundo, Oleg Deripaska, da Rusal, perdeu US$ 24,5 bilhões e, com US$ 3,5 bilhões, é agora o décimo bilionário russo. Na Índia, 29 não têm mais o status de bilionário e ninguém na lista da “Forbes” teve perda maior que Anil Ambani (que atua em áreas como telecomunicações e finanças): US$ 31,9 bilhões.
*Riquistão é o nome do livro do Robert Frank sobre os bilionários. O autor também publicou um post recentemente muito bom sobre a derrocada dos riquistaneses.
Depressão garantida ou seu derivativo de volta
Hoje, de acordo com o blog da Bárbara Gancia, houve palestra do Nouriel Roubini em São Paulo. E olha que a 6a. feira 13 é só depois de amanhã…
Mentiras sobre crédito
O leitor Dinho (que, por sinal, foi um dos ganhadores de áudio-livro da promoção feita por este blog), me enviou um comentário pedindo para divulgar um post-desabafo no blog dele. Divulguei para o Fernando Blanco, do Blog do Crédito, que acho que é o lugar mais indicado para ele neste momento. E, abaixo, respondo ao post-desabafo, que deverá servir para outros leitores. Utilizando a tecnologia do Reinaldo Azevedo: em azul, o post original do Dinho; em vermelho, os meus comentários:
Mais que um simples desabafo, gostaria que este post fosse divulgado por todos que o lerem, e principalmente fosse comentado pela maior quantidade possível de pessoas, para que, caso tenhamos um grande número de opiniões, isso possa repercutir da forma esperada, e que (pelo menos no imaginário) algo seja feito de concreto.
E, por incrível que pareça, há algo a se fazer de concreto, sim, em relação ao crédito para pequenas e médias empresas. O truque é: estabeleça uma estratégia de relacionamentos bancários. Não sei se você sabe, mas os bancos não saem abrindo contas por aí, a esmo, eles têm uma estratégia comercial definida, um mercado-alvo específico, um mix de produtos e preços para cada perfil de cliente, etc, etc, etc. Por que não ter, você também, uma estratégia de relacionamentos para lidar com os bancos? Leia esse artigo aqui.
Pois bem, tem duas coisas que vem me incomodando profundamente nestes dias, e a cada notícia que escuto, me proponho a gritar o mais alto possível dizendo: “Não é verdade, não adianta ficar mentindo para o povo!!!! A Crise está aqui sim, e muito forte!!! Pelo menos para a grande maioria da população e das empresas!!!”
Pois é… Esse blog cansa de se esgoelar toda vez que o Marolinha fala suas asneiras sobre a crise, pode consultar o blogroll. Ao mesmo tempo, a popularidade marolista chegou a 84%, a maior que um presidente já teve no Brasil. A conclusão: o povo quer ouvir o que acha bacana, não a verdade.
A primeira coisa é o desespero tremendo para auxiliar apenas algumas empresas que se dizem “em crise” e que sem auxílio fecharão ou demitirão quase todos os funcionários!!! Pois bem, não adianta nada manter a produção de veículos, dentre outras coisas, se não existe ninguém com a menor capacidade de comprar o que for produzido. Desta forma só estarão empurrando o problema mais para a frente, e o tornando cada vez maior!!!
Aí é uma questão de poder de barganha… Se a empresa X ameaça com mil demissões, pode conseguir concessões que a empresa Y, que tem 10 empregados, jamais conseguiria. É justo? Não, mas é assim que funciona.
E se o problema maior estourar depois das eleições, está resolvido o problema (para o Marolinha). Genial, né?
Meu caro Dinho, nunca antes na história dessepaiz, surgiu um político tão genial como o Marolinha. E sortudo, além de tudo.
As pequenas e médias empresas são responsáveis pela grande maioria dos empregos no Brasil. Seria muito melhor que medidas fossem tomadas para diminuir os custos e facilitar o crédito destas empresas. Com isso, ao invés de garantir emprego de 1000 pessoas em uma única empresa, garantiríamos a sobrevivência de 1000 empresas pequenas, a um custo infinitamente menor!!!! Além claro, de aumentar o poder de compra da população e a manutenção de muito mais empregos diretos e indiretos!!!
Se eu for presidente da república um dia, te chamo para ministro do desenvolvimento.
A segunda coisa é a insistência em afirmarem que o crédito já está normalizado e inclusive maior do que antes da crise!!!! ISSO É A MAIOR MENTIRA QUE EU ESCUTO TODOS OS DIAS!!!! Não sei quem está conseguindo qualquer tipo de limite de crédito, mas eu vi (e continuo vendo ) de perto o que está acontecendo com as pequenas e médias empresas!!!
Leia esse post recém-publicado no Blog do Crédito.
Um caso, por exemplo, é de uma empresa que está com mais de R$ 400.000,00 (isso mesmo) de títulos a receber, depositados em um banco (neste caso o banco é o Itaú), e não consegue sequer negociar adiantamento de recebíveis!!! Esta ladainha já corre há mais de dois meses, e o banco não libera nem 10% do total disponível!!!!!
Então… Voltando ao tema inicial, de estratégia de relacionamentos bancários: se este empresário tivesse feito a lição de casa, não estaria passando por este apuro agora. Não adianta ficar com raiva do Itaú, pois o Bradesco, o Banco do Brasil, o Santander fariam a mesma coisa. A única maneira de resolver esse assunto é administrando o crédito estrategicamente. Dá trabalho (menos do que se imagina, na verdade), mas é fundamental.
Onde está o crédito que existia antes e que todos falam aos 4 ventos nas reportagens!!!!!
Pô, você não viu a Petrobras, que toma bilhões à hora que quer? É lá que está o crédito…
Não podemos ficar olhando simplesmente para esta situação!!!! Temos que gritar para todos ouvirem!!!! Temos que mostrar a todos que o governo só está protegendo os grandes e levando o país para o fundo do poço por não ter capacidade de enfrentar a real situação!!!! Comentem, protestem, discordem mas vamos fazer este tipo de informação circular para todos que queiram (ou não) ouvir!!!!
Bem vindo ao grupo!!!
O enigma do crédito
Ontem, a mídia soltou três informações sobre o crédito para pessoas físicas e pequenas empresas no Brasil:
1)A inadimplência subiu;
2)O volume de crédito caiu; e
3)O spread médio baixou.
O problema é que o item 1 está coerente com o 2, mas não se alinha com o 3. Ouvi rádio, assisti TV, li jornal, e até agora não encontrei ninguém para explicar esse enigma. Alguém se habilita? Fernando Blanco, vc está por aqui?
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