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O artigo

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 8 junho, 2010

Luiz Felipe Pondé, colunista da Folha, publicou um artigo ontem que exprime exatamente o que penso sobre os idealistas que querem mudar o mundo. Vale a pena ler:

Sem esperança

Pergunto-me por que não proíbem professores de pregar o marxismo e toda a bobagem de luta de classes

RESPONDO ASSIM, de bate-pronto, a um aluno: “Não, não tenho nenhum ideal”. Silêncio. Talvez um pouco de mal-estar. Todos ali esperavam uma resposta diferente porque todo mundo legal tem um ideal.

Eu não tenho. É assim? Confesso, não sou legal, nem quero ser. Duvido de quem é legal e que tem um ideal. Esperança? Tampouco. E suspeito de quem queira me dar uma.

De novo respondo assim, de bate-pronto, a outro aluno: “Não, não quero mudar o mundo, nem mudar o homem, muito menos a mulher, a mulher, então, está perfeita como é, se mudar, atrapalha, gosto dela assim, carente, instável, infernal, de batom vermelho e de saia justa”.

Mentira, esta última parte eu acrescentei agora, mas devia ter dito isso também. Outro silêncio. Talvez, de novo, um pouco de mal-estar. Espero que falhem todas as tentativas de mudar o homem.

Não saio para jantar com gente que quer mudar o mundo e que tem ideais. Prefiro as que perdem a hora no dia que decidiram salvar o mundo ou as que trocam seus ideais por um carro novo. Ou as que choram todo dia à noite na cama.

Tenho amigos que padecem desse vício de ter ideais e quererem salvar o mundo, mas você sabe como são essas coisas, amigo é amigo, e a gente deve aceitar como ele (ou ela) é, ou não é amizade.

Perguntam-me, estupefatos: “Mas você é professor, filósofo, escritor, intelectual, colunista da Folha, como pode não ter ideal algum ou não querer mudar o mundo?”.

Penso um minuto e respondo: “Acordo de manhã e fico feliz porque sou isso tudo, gosto do que faço, espero poder fazer o que faço até o dia da minha morte”.

Perguntam-me, de novo, mais estupefatos: “Mas você está envolvido no debate público! Pra quê, se você não quer mudar o mundo?”.

Sou obrigado a pensar de novo, outro minuto (afinal, são perguntas difíceis), e respondo: “Participo do debate público pra atrapalhar a vida de quem quer mudar o mundo ou de quem tem ideais”.

Os intelectuais e os professores pegaram uma mania de ser pregadores, e isso é uma lástima. Inclusive porque são pessoas que leem pouco e que são muito vaidosas, e da vaidade nunca sai coisa que preste (com exceção da mulher, para quem a vaidade é como uma segunda pele, que lhe cai bem).

O que você faria se algum professor pregasse o evangelho ao seu filho na faculdade? Provavelmente você lançaria mão de argumentos do tipo que os intelectuais lançam contra o ensino religioso: “O Estado é laico e blá-blá-blá… porque a liberdade de pensamento blá-blá-blá…”. Se for para proibir Jesus, por que não proibir qualquer pregação?

Pergunto-me por que não proíbem professores de pregar o marxismo em sala de aula e toda aquela bobagem de luta de classes e sociedade sem lógica do capital? Isso não passa de uma crendice, assim como velhas senhoras creem em olho gordo.

Nas faculdades (e me refiro a grandes faculdades, não a bibocas que existem aos montes por aí), torturam-se alunos todos os dias com pregações vazias como essas, que apenas atrapalham a formação deles, fazendo-os crer que, de fato, “haverá outro mundo quando o McDonald”s fechar e o mundo inteiro ficar igual a Cuba”.

Esses “pastores da fé socialista” aproveitam a invenção dessa bobagem de que jovem tem que mudar o mundo para pregarem suas taras. Normalmente, a vontade de mudar o mundo no jovem é causada apenas pela raiva que ele tem de ter que arrumar o quarto.

E suspeito que, assim como fanáticos religiosos leem só um livro, esses pregadores também só leem um livro e o deles começa assim: “No princípio era Marx, e Marx se fez carne e habitou entre nós…”.

Reconhece-se uma pregação evangélica quando se ouve frases como: “Aleluia, irmão!”. Reconhece-se uma pregação marxista quando se ouve frases como: “É necessário destruir o mundo do capital e criar uma sociedade mais justa onde o verdadeiro homem surgirá”.”

Pergunto, confesso, com sono: “E quem vai criar essa sociedade mais justa?”. Provavelmente o pregador em questão pensa que ele próprio e os seus amigos devem criar essa nova sociedade.

Mentirosos, deveriam ser tratados como pastores que vendem Jesus e aceitam cartão Visa.

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O artigo que eu queria ter escrito

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 15 março, 2010

Um dia eu chego lá. Ou, se não, pelo menos vou morrer tentando. Abaixo, o artigo que eu queria ter escrito, do Luiz Felipe Pondé para a Folha de hoje. Sensacioonal!

Finesse

Algumas questões são tratadas de forma grosseira porque temos pressa em resolvê-las

O FILÓSOFO francês Blaise Pascal (século 17) dividia a inteligência em dois tipos de “espíritos”. “Espírito”, aqui, significa “atividade intelectual” e não alma penada ou um princípio pessoal e imaterial como no kardecismo. Os dois tipos são: o espírito geométrico e o espírito de “finesse”.

O primeiro teria como vocação lidar com um grande número de questões ao mesmo tempo, arranjando-as de modo linear e encadeado, a fim de gerar deduções lógicas generalistas e de grande alcance. O segundo teria uma vocação para o detalhe e a sutileza, lidando melhor com um pequeno número de variáveis a cada vez, e fugindo das generalidades apressadas.

O geométrico ama a pressa e os resultados eficazes, o de “finesse” cultua a paciência e o cuidado, mas pode ser de eficácia duvidosa.

Normalmente eu tendo para o espírito de “finesse”. O problema é que numa sociedade gigantesca como a nossa, com problemas de dimensões estatísticas, o espírito geométrico tende a devorar a alma. E, por definição, a alma vive mal na geometria. Seu habitat natural é a “finesse” porque a geometria tende ao grosseiro quando envolve seres humanos.

Em nossa complexa sociedade, algumas questões são tratadas de forma grosseira porque nós temos pressa em resolvê-las ou porque queremos fazer mentiras passarem por verdades. E aí, nós caímos num frenesi geométrico.

Leitores perguntam qual é minha posição quanto ao tema das cotas nas universidades. Outros, perguntam-me: “Você é a favor ou contra os direitos gays?”.

O frenesi geométrico tende a dar respostas afeitas ao gosto de políticas públicas e movimentos sociais. Respostas geométricas são assim: “sou a favor” ou “sou contra” cotas ou direitos gays. E pronto.

Confesso: tenho alergia a esse negócio de “movimentos sociais” e suspeito muito do caráter de quem vive sempre metido neles. Não existe algo chamado “multidão do bem”, toda multidão é do mal.

Recentemente ouvi um comercial no rádio que falava “todos juntos com uma só vontade e um só objetivo” (algo assim). Sinto um frio na espinha quando vejo “vontades unidas”, pouco importa para quê.

Perdoe-me se isso parece uma falha de caráter, ou, quem sabe, se não sofri o suficiente na vida até hoje para confiar em multidões do bem, ou se conheço muitas mulheres bonitas e que gostam de tomar vinho antes do sexo. Na vida de um homem, o que decide sua realização é sempre sucesso profissional e sucesso com as mulheres, quem disser o contrário mente. Minha suspeita básica é de que desde os irmãos Caim e Abel (Caim matou Abel por inveja do amor de Deus pelo irmão), detestamos a felicidade no outro.

Mas e as cotas e os direitos gays? Tentemos uma resposta sem pressa.

Sou contra cotas raciais. Não acredito nessa coisa de dívidas históricas. Acho que isso serve para intelectuais fazerem carreiras ideologicamente orientadas (porque as universidades vivem sob repressão ideológica) e para pessoas politicamente articuladas garantirem seu futuro burocrático.

Sim, reinos africanos participavam do mercado de escravos e praticavam escravidão entre eles. Dizer que a escravidão dos africanos no Brasil foi uma mera questão de “europeus contra negros” é mentira. E mais: essa prática de cotas raciais (racismo “do bem”) é tão racista quanto qualquer outra.

Dizer que reinos africanos e africanos libertos da escravidão no Brasil participaram do comércio de escravos não é “preconceito contra negros”. Aqueles que afirmam isso o fazem por má fé.

Sou a favor de cotas em universidades públicas para estudantes de escolas públicas que se destacam em sua vida estudantil porque eu acredito em recompensar o mérito.

E os direitos gays? Não acho que gays devam ter direitos especiais. Leis que criminalizam gestos e palavras “contra os gays” para mim são mero fascismo.

Cirurgia para troca de sexo pago pelo Estado é um abuso para o contribuinte. Acho uma bobagem essa coisa de “homoafetividade”.

É um abuso quando professores de educação sexual dão bananas para meninos colocarem camisinha com a boca, como se ser gay fosse “normalzinho”. Deve-se respeitar o mal-estar das pessoas diante disso, e querer “formar” mentes nesse nível não é função da escola.

Entretanto, sendo gays pessoas comuns, acho que, sim, eles devem ter o mesmo direito que os outros: o direito de casar, criar filhos e ser (in)feliz no amor e na vida como todo mundo.

Pondé, o darwinista

Posted in Atualidades, Evolução & comportamento, teoria da evolução by Raul Marinho on 8 dezembro, 2009

Luiz Felipe Pondé, colunista da Folha, publicou um corajoso artigo ontem, que segue abaixo. Raras vezes vi alguém se lixar tanto para o politicamente correto… Vamos ver qual será a repercussão.

As feias e os covardes

AS PESSOAS não são todas iguais, umas são melhores do que outras, mais inteligentes, mais bonitas, mais generosas. Sinto muito se isso é duro de ouvir. O hábito de matar o mensageiro é antigo como a roda. Normalmente as menos dotadas odeiam as mais dotadas.

Nenhuma sociedade pode mudar isso, e as que tentaram apenas multiplicaram o número das pessoas mais feias e menos inteligentes e mais pobres e menos generosas e mais miseráveis e menos capazes.

Mulheres feias detestam mulheres bonitas (lembremos do maravilhoso filme “Malena” de Tornatore: as mulheres a odiavam porque todos os homens a queriam), homens com menos sucesso invejam homens de grande sucesso (inclusive porque as mulheres não resistem a homens de sucesso, e fracassados não pegam ninguém ou só pegam as feias).

E mais: a acusação de que toda mulher bonita seja burra é a esperança das feias, sua pequena vingança contra a beleza que não têm. Não é apenas o homem inseguro que teme a inteligência numa mulher bonita, as feias também temem. Elas, as feias, ficam, à noite ou pelos cantos do escritório, tramando como jogar sobre a bela e inteligente colega a suspeita de que a inteligência reconhecida no trabalho se deve à cama.

Vale notar que, ao contrário do que as mulheres supõem, nem todo homem suporta muito tempo uma mulher burra, mesmo que bonita. Se for por uns 30 minutos, aí tudo bem.

Ela é feia e sozinha e invejosa e raivosa? Ela desejará destruir sua colega bonita e inteligente e doce e cheia de namorados. Ele é pobre e sozinho e azedo e medroso? Ele desejará destruir seu colega bem sucedido e charmoso e bem humorado e cheio de namoradas. Se o fantasma da mulher é a falta de beleza, o do homem é a falta de coragem. Banal assim.

Existe uma série de códigos para homens e mulheres, e esses códigos sempre determinam o sucesso da relação entre sexos. Existem exceções? Claro que sim. São os famosos milagres, e eu acredito neles, mas nunca serão produzidos em massa através de políticas públicas. Uma das causas da raiva dos ateus contra Deus é porque Ele não é mais democrático na distribuição de milagres.

Esse ódio não é causado pela miséria social (que apenas cria condições para que ele se desenvolva mais ainda). Ele é causado pela insegurança estrutural do ser humano e pelo fato de que a beleza (como signo do que desperta a inveja) é sempre minoria no mundo, e todo mundo quer destruí-la por que não a tem. O ódio pela beleza é um fato científico. Isso não é ideologia, é ciência.

Uma mentira comum cresceu nos últimos anos. Qual? A de que dizer esse tipo de coisa que estou dizendo significa que “não respeito as pessoas feias e bobas”. É claro que as pessoas podem ser o que quiserem ser, inclusive bobas. Ninguém tem obrigação de entender que o mundo não é o que ele gostaria que fosse em sua cabecinha. O problema é o risco que elas dominem o mundo…

A afirmação dos mentirosos é que quando se dizem coisas assim, se peca contra a humildade. É claro que estou levantando o nível do debate e o afastando dessa tagarelice sobre “direitos de sermos bobos e iguais”. Mas a mentira está no fato de que a preocupação dos mentirosos não é com a humildade, mas sim com a repressão da diferença que faz diferença, ou seja, a diferença que cria hierarquias entre as pessoas.

Pensemos no caso da beleza das mulheres ou do sucesso profissional entre os homens, ambos objetos claros de inveja: um dia desses, os mentirosos inventarão uma lei que proibirá as mulheres de serem bonitas em nome da autoestima das feias e proibirão os homens bem-sucedidos de terem carros caros em defesa da dignidade do metrô.

Duvida? Basta algum mentiroso inventar que isso é “necessário para um justo convívio democrático”.

A ditadura “dos ofendidos” é um dos maiores instrumentos contra a inteligência pública e livre em nossos dias.

Humildade é como coragem, só se mede coragem diante da morte ou de algo parecido. A mesma coisa com a humildade: só se mede humildade quando você tem razões objetivas para não ter humildade. Assim como a coragem não brota entre covardes, a humildade é uma agonia apenas para quem tem razões de ser orgulhoso.

Fazendo um giro teológico no argumento (em nome do espírito natalino): Cristo não é grandioso em sua humildade porque era um pobre miserável filho de carpinteiro (isso seria fácil, logo não seria virtude nenhuma), mas porque era Deus, o “Cara”.

Relativismo cultural

Posted in Atualidades, Evolução & comportamento, Livros (resenhas & comentários) by Raul Marinho on 2 março, 2009

relativismo-cultural

No meu livro de 2005, “Prática na teoria“, comento essa praga orginária das “””ciências””” sociais chamada “relativismo cultural” que, hoje, o Luiz Felipe Pondé aborda com brilho na sua coluna na Folha de São Paulo.

Blablablá

O QUE você faria se estivesse a ponto de assistir a um ritual de antropofagia? Interromperia (sem risco para você)? Ou deixaria acontecer em nome do relativismo cultural (essa ideia que afirma que cada um é cada um, que as culturas devem ser respeitadas em sua individualidade e que não podemos compará-las)?
No primeiro caso, você seria um horroroso descendente dos “jesuítas”; no segundo você seria um relativista chique. Sempre suspeitei que esse papo relativista fosse blablablá. Funciona bem em aula de antropologia, em bares, em parques temáticos e lojas de curiosidades. É evidente que “jesuítas” de todos os tipos fizeram horrores nas Américas. Todo adulto bem educado sabe que é feio condenar cultos à lua ou à chuva. Mas há algo no relativismo cultural que me soa conversa fiada: o relativismo cultural morre na praia quando você é obrigado a conviver com o Outro. E o “Outro” nem sempre é legal.
Se você aceita a antropofagia em nome do respeito à “cultura”, aceita implicitamente a ideia de que o valor da vida humana seja subordinado à “cultura”. A vida humana não tem valor em si. Todo estudante de antropologia sabe recitar esse credo. Quando confrontado com dilemas como esse, o relativista diz que se trata de uma situação meramente hipotética (hoje não existe mais antropofagia). Mas a verdade é que quando o relativista diz que a antropofagia é hoje quase nula, e, portanto, esse dilema não tem “validade científica”, está literalmente correndo do pau porque “alguém” acabou com a antropofagia, não? Por que a antropofagia “acabou”?
Algumas hipóteses: 1) os antropófagos foram mortos por gripes ou em batalhas; 2) foram convertidos pelos horrorosos “jesuítas” e seus descendentes; 3) descobriram formas mais fáceis de comer e rituais que deixam as pessoas (isto é, os Outros) menos irritadas e com menos nojo. É importante conhecer o “lugar” da antropofagia nas religiões dos canibais, mas isso é apenas um “dado” antropológico. Uma descrição de hábitos (ruins). Mas o relativista tem que correr do pau mesmo, porque seu credo funciona bem apenas nas conversas de salão. A vida é sempre pior do que as festas. Relativistas culturais são, no fundo, puritanos disfarçados, gostam de “aquários humanos”.
Os seres humanos são culturalmente promíscuos, e “a cultura” sem promiscuidade (trocas, misturas, confusões) só existe nos livros. Use internet, televisão, celulares, aviões e estradas, faça sexo ou guerra, e o papo do relativismo cultural vira piada. Na realidade, as pessoas lançam mão do argumento relativista somente quando lhes interessa defender a “tribo” com a qual ganha dinheiro e fama. O problema com o debate sobre os índios (ou qualquer outra cultura considerada “coitada”) é a mitologia que ela provoca. Se, de um lado, alguns falaram dos índios (erradamente) como inferiores, bárbaros ou inúteis, por outro lado, os que “defendem” os índios normalmente caem no mito oposto: eles são legais e só querem viver “sua cultura”, e eles não são “capitalistas” como nós, e blablablá. Índios gostam de poder como todo mundo, vide os índios “conscientes de seus direitos” devorando computadores, celulares e internet no Fórum Social, em Belém -ou ficam na idade da pedra mesmo e precisam que o Estado os defenda do mundo.
As culturas mais bem-sucedidas são predadoras e seduzem as mais fracas (ser mais bem-sucedida não implica ser legal). Por que levar medicina científica (invenção dos “opressores”) para as aldeias? Não seria contaminação “cultural”? Vamos ou não brincar de “curandeiros”? Que tal abraçar árvores? Se você é católico e quer ser fiel aos seus princípios, você é um retrógrado; se você quer viver no meio da selva (com direitos adquiridos porque você é de uma cultura “coitada”), você é apenas uma tribo com direito a integridade cultural. O conceito de cultura é quase um fetiche do mercado das ciências humanas. Não que não existam culturas, mas o conceito na sua inércia preguiçosa só funciona no laboratório morto da sala de aula ou do museu. A vida se dá de forma muito mais violenta, se misturando, se devorando.
Nada disso é “contra” os índios, mas sim contra o relativismo como ética festiva. O oposto dele não é o obscurantismo, mas a dinâmica da vida real. O relativismo é um (velho) problema filosófico e um “dado” antropológico. Um drama, e não uma solução.

Educação sexual

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 26 janeiro, 2009

No final do ano passado, fiquei chocado com a notícia de que, nas escolas públicas paulistas, as aulas de educação sexual para crianças de 12 anos incluiriam o manuseio de dildos, com todas elas experimentando colocar camisinhas nas réplicas de pênis feitas de borracha. Não sou velho nem reacionário, mas confesso que me incomodou imaginar minha filha (que, até o momento, não existe) tendo esse tipo de aula na escolinha…

Hoje, entretanto, o Luiz Felipe Pondé escreveu um artigo impecável sobre o tema, na Folha (que segue abaixo), que só não é melhor que o escracho do Monty Python no vídeo acima.

Terrorismo sexual

QUEM É a favor do ensino religioso? Mesmo quem concorda com o ensino religioso discorda do conteúdo: ensinar o quê? Deus, orixás, gnomos, homens-bomba? Outros são contra: religião não é assunto do Estado e da escola, é assunto da vida privada e familiar -guardem esse argumento na memória porque voltarei a ele.
Não vou discutir o ensino religioso, mas sim outra questão que me chama a atenção: a educação sexual nas escolas. Digo logo: sou contra. E mais: acho que sexo é assunto da vida privada e familiar (usei o mesmo argumento dos “contra o ensino religioso”, como havia prometido, lembram?) e nenhuma escola ou pedagoga maníaca por sexo deveria entrar nas cabeças das crianças com suas fantasias travestidas de teorias.
Aliás, quem são os teóricos de confiança? Quem descobriu o sexo correto? Normalmente, o sexo correto é aquele que a pedagoga maníaca por sexo acha que seja correto, e nada mais. Tapinha pode?
Claro, no futuro, talvez revoguem a lei contra pedofilia em nome dos “avanços contra os preconceitos”, e a pedofilia também venha a ser correta. Uma “última lei qualquer” decidirá que as crianças serão obrigadas a fazer prova sobre como é bonita a pedofilia?
Como ninguém faz uma daquelas campanhas diárias de repúdio à educação sexual nas escolas? Claro que hoje é mais normal num jantar inteligente você contar sua vida sexual com seu pastor alemão do que confessar em lágrimas que acredita em Deus, mas, mesmo assim, como não ver que a educação sexual nas escolas é ridícula? Ensina-se o quê? Posições? Gemidos? Aparelhos engraçadinhos? Que tal se meninos e meninas aprendessem a colocar camisinha com a boca?
Neste caso (nos EUA), a intenção da professora seria não fazer distinção de “gênero”? Daríamos Barbies aos meninos para desenvolver neles o “gênero feminino”? Espadas para as meninas? E, se você “gosta” de plantas, tudo bem, porque tudo é natural? Qual teste se faria para checar o conhecimento da professora? Que tal um “prático”?
Quem atesta a sanidade mental dessa professora? Gente “infeliz” na vida sexual pode dar aula sobre sexo? Quem seria a “consultora” desta “infelicidade”?
Aulas de biologia são bem-vindas, é claro. Mas e daí? O que ensinar para uma menina de dez anos sobre sexo? Usaremos fotos? Espero que as fotos sejam legais… Melhor deixá-las falar de “quem beijou quem e quem botou a mão em quem, como e no quê” entre suas amigas nas férias de verão ou no intervalo das aulas. E os meninos? Vendo revista “Playboy” (ou similares) escondido. E deixemos a vida correr, como corre há milênios. Digamos a verdade: quem dá aula de matemática é bom em matemática, quem dá aula de educação sexual é bom no quê? De novo: posições, gemidos, aparelhos engraçadinhos, colocar camisinha com carinho, sexo com plantas?
Todo mundo é mal resolvido em sexo (quem diz o contrário mente). Há algo no sexo que mistura a obviedade do animal com o inefável do ser humano (romantismo, taras e traumas) que não pode ser reduzido a lição de casa. Sexo saudável é sexo pelo sexo, sem preconceitos? Conversa fiada, sexo é sempre “difícil” porque seu “contexto” passa por fantasias, mentiras, inseguranças e infidelidades. Muito sexo sem afeto é coisa de gente fracassada no amor. E não existe aula sobre o “amor certo”.
Educação sexual é uma armadilha a serviço de todo tipo de lobby. Vou dar dois exemplos “opostos” para ficar claro. Primeiro: se os pedagogos maníacos por sexo fossem tomados de assalto por católicos? Seria matéria de aula a virgindade até o casamento? E você pai e mãe, que acham esse negócio de casar virgem muito repressor, concordariam?
Segundo: se o bando da educação sexual fosse de “homoafetivos” e obrigassem as crianças lerem histórias em quadrinhos onde meninos beijam meninos? Você, pai e mãe, “heteroafetivos”, aceitariam somente porque o bando em questão acusaria vocês de maioria esmagadora preconceituosa?
Sexo nos seres humanos é erotismo. Uma muçulmana toda coberta pode ser mais sensual com apenas seu olho à vista do que uma brasileira pelada na praia. Como “ensinar” essa diferença? Não há educação para tal sutileza. O bando da educação sexual, que insiste em assaltar as crianças com sua pedagogia grosseira, define sexo como algo tão “natural quanto ter sede”. Mas, se assim for, sua pedagogia é como obrigar crianças a beber litros de água sem que tenham sede.