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O Monge-II, a revanche

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 27 abril, 2009

monge

O texto abaixo é uma  matéria publicada na Folha de ontem, e o entrevistado é a quem eu me refiro neste post aqui. Depois comento, mas quem ler o post citado não vai ter dificuldades em adivinhar minha opinião sobre o Mr. Hunter.

Para autor de best-seller, administrador ético é mais importante do que nunca

O livro “O Monge e o Executivo: Uma História sobre a Essência da Liderança”, do americano James Hunter, é uma espécie de Bíblia da gestão de pessoas que virou moda há cerca de quatro anos.

Narra a história de um executivo que, enfrentando problemas na vida profissional e pessoal, se refugia em um mosteiro em busca de respostas.
Lá, ele participa de um grupo com outras pessoas também à procura de novas inspirações para atividades em vários campos. Todos são orientados por um monge que antes havia atuado por décadas na vida empresarial.
O executivo descobre que o grande segredo de um bom líder é se colocar a serviço dos seus funcionários, colegas, clientes e acionistas para tentar contemplar, nos negócios, os interesses de todos. O livro enaltece virtudes consideradas simples, mas nem sempre fáceis de colocar em prática, como saber ouvir. Embora essa abordagem esteja sendo encarada com ceticismo atualmente, Hunter reafirma que nunca o líder servidor se fez tão necessário.
Leia a seguir trechos da entrevista que o autor, consultor em recursos humanos, concedeu à Folha, por telefone, do seu escritório nos EUA. (DG)

FOLHA – Apesar do recente aprimoramento das práticas de administração de empresas, o mundo está mergulhado em uma crise econômica gigantesca -e companhias de muitos segmentos são protagonistas do desastre. O que deu errado?
JAMES HUNTER – Nos EUA, houve muita falta de liderança, e não estou falando apenas das companhias, mas do ambiente político igualmente. Houve decisões ruins e a ganância. Essas pessoas gananciosas decidiram servir a si mesmas e não à sociedade, eis aí o problema.

FOLHA – Entretanto, o conceito de líder servidor também está sendo questionado. Vários executivos tidos como super-heróis falharam. O senhor não vê a necessidade de mudar a imagem que temos dos dirigentes das empresas?
HUNTER – Vejo exatamente o oposto. Vejo a ideia do líder servidor ainda mais importante. No meu país, por exemplo, existe uma maior demanda por moral e ética na liderança devido aos abusos cometidos.

FOLHA – Mas somos todos humanos e queremos ganhar bem. Como conciliar os nossos objetivos pessoais com os da sociedade quando estamos gerindo uma empresa?
HUNTER – Adotando uma estratégia holística. Pensar apenas em nós mesmos, tirando vantagens da economia, do ambiente ou dos empregados, pode até funcionar no curto prazo, mas não é sustentável. A longo prazo, algo vai desandar. Se não cuidarmos bem dos funcionários, eles não estarão comprometidos com a companhia, não vão entregar bons produtos e não vão atender bem os clientes. Quando se satisfaz a necessidade da equipe, ela satisfaz a necessidade da empresa. Liderança significa refletir sobre o longo prazo: o que é bom para meus empregados, clientes, acionistas, executivos?

FOLHA – É animador ouvir tudo isso, só que na realidade as coisas funcionam de modo bem diferente. Algumas empresas estão no mercado há 20, 30 anos e são um péssimo exemplo de administração de pessoas. Como convencer os seus líderes de que estão usando a tática errada, mesmo quando ela parece correta, já que dá resultado?
HUNTER – O mundo está mudando muito rápido, estamos no início de um novo século. As empresas que não cuidam dos seus funcionários e dos seus clientes não serão sustentáveis no longo prazo. As organizações ótimas vão tirá-las do jogo. Por exemplo, entre as montadoras, a Toyota, que emprega o conceito de liderança servidora, é a única que vai bem nos EUA. As demais estão quebrando. Demora um pouco, claro. O que podemos fazer é divulgar o que as empresas excelentes estão tentando fazer.

FOLHA – Como as lideranças empresariais devem agir agora para motivar as suas equipes e tirar as companhias das dificuldades que enfrentam?
HUNTER – Nos EUA, as empresas ótimas reconhecem que, para sair da crise melhores do que entraram, devem focar nas pessoas. É um momento que pode ser usado para o fortalecimento da corporação. Enquanto isso, as companhias ruins estão pensando em cortar treinamento, benefícios. Cada um faz a sua escolha, mas é de pessoas que as grandes empresas são construídas. Os melhores e mais brilhantes não vão trabalhar para empresas ruins -simplesmente vão embora.

Pré visões

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 26 abril, 2009

walter

Desde que esse blog foi lançado, critico as previsões e os previsionistas econômicos. Aliás, critico as previsões meteorológicas e os prognósticos médicos pelo mesmo motivo: nós não desenvolvemos tecnologia adequada para tal até o presente momento, e as ferramentas estatísticas de que dispomos, baseadas na curva normal, são inadequadas para fazer previsões. O mais inteligente que se pode fazer quanto às previsões é assumir humildemente que não há como saber o futuro com um mínimo de confiabilidade. Se você acreditar em astrologia, runas, tarô etc., jogue seus búzios, faça seu mapa astral, leia as borras de café. O resultado será tão bom quanto o do melhor economista ou estatístico.

Na Folha de hoje, o Clóvis Rossi, num raro lampejo de lucidez, questiona o previsionismo do FMI. Vale a pena ler o artigo do CR:

Seis chutes, todos errados

Esta Folha publicou quinta-feira uma tabelinha com as previsões do Fundo Monetário Internacional sobre o desempenho da economia brasileira entre 2003 e 2008. Adivinha quantas vezes o Fundo acertou nesses seis anos? Adivinhou: zero vez. Zero. Nenhumazinha.
Há erros pequenos, como o de 2008: o FMI previu crescimento de 4,8% e deu 5,1%. Há erros colossais, como o de 2003, ano em que o Fundo chutou 2,8% e o crescimento foi de magérrimo 1,1%, bem menos da metade, portanto.
Há erros para menos (a previsão foi inferior ao crescimento efetivamente registrado) e há erros para mais (o chute era mais otimista que a realidade se mostrou).
Esse histórico só reforça uma tese em que venho insistindo inutilmente faz tempo: previsões sobre economia pouco ou nada têm de ciência. Estão bem mais perto de chute pura e simplesmente.
Acho até que vale parafrasear Groucho Marx quando ele diz que “política é a arte de procurar problemas, encontrá-los, diagnosticá-los equivocadamente e, então, aplicar os remédios errados”.
Previsões econômicas também são um pouco assim.
Vamos então a 2008: o Fundo mudou, em abril, a previsão sobre o crescimento do Brasil feita em janeiro. Antes, o Brasil cresceria 1,8%; agora, vai retroceder 1,3%.
Uma mudança de 3,1 pontos percentuais. Em dinheiro, significa que o Brasil “perdeu”, em meros três meses, algo em torno de R$ 102 bilhões, se seu PIB for mesmo de US$ 1,5 trilhão e se se usar a cotação do dólar a R$ 2,2.
Dá para acreditar em tamanha virada? Talvez desse, se tivesse havido um acerto nos anos anteriores, um só que fosse. Mas, ante o retrospecto, se você fosse gerente de banco, emprestaria dinheiro para o Fundo? E você, mortal comum, não acha mais sábio errar por sua própria conta?

O cara

Posted in Uncategorized by Raul Marinho on 22 abril, 2009

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Vide

Bolsa-iate

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 16 abril, 2009

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Informa o The Wealth Report que, na Flórida (EUA), o governo tabelou em US$25mil (taxa fixa, independente da base de cálculo) o imposto aplicável à compra de iates e jatos particulares , o que significa uma redução tributária em cerca de 99% na maioria dos casos. A idéia é evitar que os milionários da Flórida utilizem marinas e hangares do Caribe, mantendo os empregos associados à manutenção desses bens no território do Estado. É um subsídio ao luxo, por outro lado, o que é esquisito até num país como os EUA. Imagine uma medida dessas no Brasil, o que ia ter de CUTísta, MSTista e demais esquerdistas alucinados pelas ruas…

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Citi-Fênix

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 15 abril, 2009

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Como ex-citibanquense, fico feliz em saber que o Citibank não só não sucumbiu como muitos previam, como parece que vai, mais uma vez, ressuscitar. Veja essa nota do blog do Kanitz, “O Brasil que dá certo“, que diz que as ações do Citi subiram 25% em um único dia.

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Viva a crise!

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 15 abril, 2009

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Quem vive nos grandes centros urbanos já deve ter passado por isso. Você está andando tranquilamente pela calçada quando um(a) jovem lhe aborda vestido(a) em tons berrantes de alaranjado e azul, praticamente lhe obrigando a entrar numa loja e tomar um financiamento. Agora, graças à crise econômica mundial, esse transtorno vai acabar: o banco Itaú resolveu fechar as lojas de sua financeira Taií.

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Manifesto paleoliberal

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 15 abril, 2009

paleoliberal

Conheci o termo “paleoliberal” pelo blog do Alexandre Schwartsman, o Mão Visível, e logo me identifiquei. No Brasil, as correntes políticas se dividem entre os “esquerdistas” (ex-comunistas & assemelhados) e os neoliberais, e um paleoliberal é, por definição, contrário a ambos – ou seja: um paleoliberal é uma espécie de ornitorrinco político. Quer saber se você também é um paleoliberal? Leia esse artigo do Leonardo Boff, e se ao final da leitura você estriver com náuseas, bem vindo ao clube. Nesse caso, leia o artigo abaixo, do blog do Reinaldo Azevedo (o mais famoso ornitorrinco do Brasil):

O LIVRE MERCADO INVENTOU O CARÁTER

O mercado não poderia responder pela corrosão do caráter porque o caráter, como o entendemos, é uma construção do próprio mercado.

Todas as línguas de cultura devem a origem dessa palavra, primeiro, ao grego e, depois, ao latim. “Caráter”, no idioma de Cícero, significava, originalmente, o ferro em brasa com que se marcavam os animais. Por metonímia, passou a indicar a marca que esse instrumento deixava. O tempo e a metáfora se encarregaram de fazer com que a palavra designasse o conjunto de valores cultivados por um indivíduo. Esse conjunto se torna a sua marca particular, aquilo que o distingue, uma moral privada estampada a fogo na consciência. Só pode haver “caráter” se há indivíduo.

Por que sustento que a sociedade de mercado inventou o caráter? Porque ela é uma condição necessária, embora não suficiente, da liberdade. E não pode haver individuação onde não há escolha. Não é por acaso que as mais eloquentes fábulas antiutópicas – como Nós (Ievguêni Zamiátin), Admirável mundo novo (Aldous Huxley), 1984 (George Orwell), O Processo (Kafka) e O zero e O Infinito (de Arthur Koestler, a melhor de todas elas) – flagrem justamente o indivíduo contra o “ser coletivo”, que é uma invenção do Estado. Trata-se do contraste entre o homem de caráter e aqueles que se fazem meros funcionários de uma ordem cuja única preocupação é garantir a própria sobrevivência.

Os dias que correm, depois da crise financeira que varreu o mundo, são especialmente propícios à hostilização do mercado, que propiciaria a ganância. Ambições desmedidas, típicas das sociedades capitalistas, teriam conduzido o mundo à beira do abismo. Não fosse a vontade de lucrar, não fosse a vã cobiça, dizem os sacerdotes das catacumbas do estatismo, tudo seria diferente.

Bem, nem vou me ocupar – quer porque óbvio, quer porque outros já o fizeram – de demonstrar que o ciclo de prosperidade econômica que antecedeu a crise tirou milhões de pessoas da miséria e forneceu o capital necessário para a revolução tecnológica, que não ficou restrita ao setor financeiro. Os inimigos do capitalismo detestam constatar que o dinheiro de um “maldito especulador” financia o desenvolvimento de vacinas e de máquinas agrícolas, que salvam a vida de milhões. Na sua fantasia, isso tudo é obra da benemerência e do humanismo abstrato. Seria igualmente ocioso lembrar aqui como andou o caráter nas sociedades que decidiram abolir o mercado ou que houveram por bem submetê-lo a um rígido controle do Estado. Os vários fascismos e as várias faces do socialismo real – e só houve o real, não é? – deixaram um rastro de mortes, de desolação, de desastres.

O que corrói o caráter – na verdade, o destrói – é a tirania. Chamo de “tirania” a impossibilidade de se organizar qualquer forma de resistência à vontade oficial, quando os próprios indivíduos já não podem mais exibir seus traços distintivos, suas marcas particulares, porque perderam a vontade da autonomia. Quem chegou mais perto da plena caracterização dessa sociedade foi o teórico comunista Italiano Antonio Gramsci. Para ele, o lugar que Maquiavel reservara ao “Príncipe” seria ocupado por um partido político – no caso, o Partido Comunista -, que ele chamava “Moderno Príncipe”.

Nenhum daqueles antiutopistas que citei acima chegou aos pés de Gramsci quando ele relata o papel que o “o partido” deveria ocupar na sociedade: “O Moderno Príncipe, desenvolvendo-se, subverte todo o sistema de relações intelectuais e morais, uma vez que seu desenvolvimento significa, de fato, que todo ato é concebido como útil ou prejudicial, como virtuoso ou criminoso, somente na medida em que tem como ponto de referência o próprio Moderno Príncipe e serve ou para aumentar seu poder ou para opor-se a ele. O Príncipe toma o lugar, nas consciências, da divindade ou do imperativo categórico, torna-se a base de um laicismo moderno e de uma completa laicização de toda a vida e de todas as relações de costume.”

Nos países campeões da corrupção, o que se tem é mercado de menos, não mercado demais. Em alguns casos, e o Brasil tem larga experiência no assunto, gangues se apropriam de estruturas estatais para impor a sua vontade e cuidar dos seus interesses particulares. O regime é só uma derivação pervertida da economia de mercado. A fraude numa licitação ou o sobrepreço numa obra pública, por exemplo, têm origem na corrupção do caráter do agente público, que pode fraudar as regras sob o abrigo da lei.

Rotineiramente, o Estado, sob o pretexto de moralizar a sociedade de mercado, inventa o pecado para, depois, definir a penitência dos agentes privados que ele se encarregou de perverter. E o faz oferecendo ainda mais controle estatal e, pois, mais chances e instâncias de mediação para o exercício da corrupção. Entendo que a tarefa dos homens livres é lutar para conter os apetites deste ente pantagruélico. É fato que pagamos um preço por viver em sociedade. Mas tem de ser um preço justo. O melhor instrumento para manter a détente entre indivíduo e estado é a sociedade da regulação: agências independentes do governo e do mercado – e vigiadas por ambos – devem se encarregar de fazer valer a lei… de mercado!

A idéia de que o mercado corrompe o caráter nasce da suposição de que possa haver um sistema perfeito, capaz de livrar os homens de suas paixões, levando-os, então, à plena liberdade. A história demonstra ser essa uma fantasia liberticida. “Liberdade! Quantos crimes se cometem em teu nome”, exclamou certa mocinha a caminho da guilhotina, para satisfazer a sede de sangue do justiceiro Robespierre. Ademais, lembremo-nos de uma frase de Goethe, que parece sintetizar à perfeição o totalitarismo: “Ninguém é tão desesperadamente escravizado como os que acreditam que são livres”. Os regimes totalitários, como aquele imaginado por Gramsci, querem dar essa impressão de liberdade.

Livre mesmo é só o homem que sabe que tem de lutar para conter todos os apetites que querem escravizá-lo. E essa é uma tarefa da consciência individual, não do Estado.
E encerro com uma constatação e um enigma. A primeira medida de um regime de força é suspender o habeas corpus; a segunda é tabelar preços. Tenho a certeza de que isso quer nos dizer alguma coisa. O que será?

Origens do estresse

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 14 abril, 2009

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Imagine a vida de nossos antepassados há 100mil anos, nas savanas africanas. Era predador para todo lado, outros grupos humanos agressivos armando emboscadas, dificuldades dentro do próprio grupo social, escassez de alimentos, nada em termos de medicina… Enfim, um ambiente ultra-estressante. Comparando o dia-a-dia do pleistoceno com o atual, não deveríamos ter estresse algum, especialmente entre os que vivem nas camadas mais abastadas do primeiro mundo. Mas, de acordo com este artigo publicado no blog do Noblat, da co-musa deste blog, Sandra Paulsen, as pessoas na Suécia estão ultra-estressadas. Uma boa pista para entender o estresse sueco é a do “descompasso entre ambição e capacidade”, que é a aposta do Aleksander Perski, pesquisador da Universidade de Estocolmo – que, sinceramente, não me convenceu por completo. Na verdade, acho que o “não poder errar” que a Sandra sugere no final do artigo é que gera a maior parte do estresse. Em sociedades modernas, como a sueca, isso se traduz no descompasso ambição-capacidade; e nas sociedades mais simples, como a de nossos antepassados das savanas, significa o risco de não sobreviver ao próximo leão das redondezas, ou à próxima estiagem. Mas, em qualquer uma das situações, o comprometimento absoluto com o sucesso é que realmente nos estressa.

Uma sobre o estresse

Outro dia, falei da palestra na igreja, sobre o ser humano e o estresse. Aleksander Perski é um pesquisador da Universidade de Estocolmo, que além de pesquisar, também atende pacientes na conhecida Clínica do Estresse. Achei muito interessante o que ouvi e decidi contar um pouco, aqui.

Perski explicou o que acontece com a gente que vive sob constante estresse e como nosso corpo reage à pressão permanente. Para ele, o estresse nada mais é do que o resultado de um desequilíbrio entre a ambição e a capacidade. Se entendi bem, nós queremos muito e tanto, que desrespeitamos nossa capacidade de alcançar o que queremos. Em suma, queremos acima das nossas possibilidades. Ao não conseguir o que queremos, nos estressamos e lutamos, mais e mais, para atingir o inalcançável.

Como era de se esperar, 70% daqueles que procuram ajuda na Clínica do Estresse são mulheres. Há algum tempo, eram mulheres na meia idade. Hoje em dia, mais e mais jovens adolescentes procuram ajuda médica, para os distúrbios provocados pela tensão diária.

Você perguntará: qual a razão de tanto estresse, numa sociedade afluente, onde as pessoas se sentem protegidas, pelo Estado de Bem Estar Social?

É, eu também não sei explicar não. Mas eu nunca havia visto tanta gente tão estressada como a gente vê por aqui.

Segundo Perski, o estresse das mulheres se deve à dupla jornada: trabalho e casa. Mesmo nesta sociedade moderna e igualitária, ainda são as mulheres que arcam com a maior parte do trabalho doméstico. E, ao contrário do Brasil, onde as que trabalham fora de casa contam com as que trabalham dentro de casa, para que as tarefas sejam cumpridas, aqui não tem disso. A faxina, a cozinha, a lavagem de roupas, a limpeza das janelas, a retirada do lixo e o cuidado das plantas, tudo tem que ser administrado e executado pela dona ou pelo dono de casa, ou pelos dois. Isso sem contar com o cuidado dos filhos pequenos. Aliás, uma das recomendações do especialista para reduzir o estresse das mulheres é, exatamente, exigir igualdade de deveres na esfera doméstica.

Outra fonte de estresse é o que Perski chama de “armadilha da capacidade”. Quanto mais capaz você é, mais você dá importância ao seu desempenho e à sua performance, e mais você exige de si mesmo. As chamadas “princesas do alto rendimento”, aqueles homens e mulheres que são exigentes consigo mesmos e compensam sua baixa autoestima com os bons resultados na carreira, são as maiores vítimas do estresse moderno.

Enfim, segundo Aleksander Perski, a explicação para tudo está na autoestima e em como a gente compensa sua falta: via drogas, distúrbios da alimentação, através das relações que a gente estabelece, ou através do trabalho.

O palestrante contou que o primeiro sinal de estresse costuma ser a dificuldade para dormir. A partir daí, a pessoa fica cansada durante o dia, tem dificuldade para se concentrar no trabalho, está sempre apressada, fica ansiosa. No final das contas, a pessoa acaba afetada em sua psique, sofre de irritação, agressividade, angústia e pânico.

Os conselhos para quem já está estressado são simples, mas nem sempre fáceis de seguir: cuidar de si mesmo; não pensar, ao deitar-se, nos problemas de amanhã; dormir um bom número de horas; aprender a dizer não; exigir menos de si mesmo; fazer coisas que dão prazer e compartilhar o trabalho doméstico.

Saí da palestra pensativa. E achando que aqui, em uma sociedade onde todo mundo tem de fazer tudo certinho, tudo direito, tudo perfeito, o estresse deve ser o preço a pagar… Há algo mais estressante do que nunca poder errar?

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Pós-moderno

Posted in Just for fun by Raul Marinho on 14 abril, 2009

pos-modernismo

Post em homenagem ao leitor que assina Ricardo, o único pós-modernista que frequenta esse espaço materialista-darwinista e paleoliberal.

Pela volta dos chatos aos bancos

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 14 abril, 2009

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(Este post é dedicado aos meus ex-chefes no Citibank)

No artigo abaixo do Paul Krugman, publicado hoje no The New York Times, faz-se uma correlação inversa entre “chatice bancária” e crise financeira: quanto mais chato está o setor bancário, menos provável ocorrer uma nova crise. De fato, percebi isso na formação da atual crise: o ambiente de negócios dos últimos anos estava significativamente mais jovem, agitado, criativo e vibrante que na época que eu ingressei no mercado, em fins dos anos 1980. No início do ano passado, por exemplo, tive uma série de reuniões na sede de um dos maiores bancos americanos no Brasil (envolvido até os ossos na crise, por sinal), e não vi ninguém mais velho que eu trabalhando lá (tinha 40 anos na época). Meu interlocutor, reponsável por negócios bilionários, tinha 25 anos, e o ambiente mais parecia uma alegre agência de propaganda, com bichinhos fofos enfeitando monitores e ninguém usando gravata.

Tornar os bancos chatos

Há mais de 30 anos, quando eu era aluno de pós-graduação em economia, somente os meus colegas menos ambiciosos buscavam carreiras no mundo financeiro. Mesmo na época, os bancos de investimento pagavam mais do que o ensino ou o serviço público -mas não tanto assim e, de qualquer forma, todo mundo sabia que trabalhar em banco era, bem, chato.

Nos anos que se seguiram, os bancos se tornaram tudo, menos chatos. As negociações e estratégias prosperaram, e os salários saltaram, atraindo muitos dos melhores e mais brilhantes de nossos jovens (está bem, não tenho certeza quanto aos “melhores”). Assim, estávamos certos de que nosso setor financeiro de tamanho exagerado era a chave para a prosperidade.

Em vez disso, contudo, as finanças viraram o monstro que comeu a economia mundial.

Recentemente, os economistas Thomas Philippon e Ariell Reshev distribuíram um artigo que poderia ter o título de “Ascensão e queda dos bancos chatos” (de fato, o título é “Salários e capital humano na indústria financeira dos EUA, 1909-2006”). Eles mostram que os bancos nos EUA passaram por três eras no último século.

Antes de 1930, a indústria bancária era excitante, com uma série de figuras de peso, que construíram impérios financeiros gigantescos (mais tarde soube-se que alguns destes eram baseados em fraudes). Esse setor de finanças próspero liderou um rápido aumento no endividamento: a dívida domiciliar quase dobrou em relação ao PIB entre a Primeira Guerra Mundial e 1929.

Durante essa primeira era nas finanças, os banqueiros ganhavam em média muito mais do que seus colegas das outras indústrias. Contudo, o setor financeiro perdeu seu glamour quando o sistema bancário desmoronou durante a Grande Depressão.

A indústria bancária que emergiu daquele colapso era fortemente regulada, muito menos colorida do que tinha sido antes da Depressão e muito menos lucrativa para os que a dirigiam. O setor ficou sem graça, em parte porque os banqueiros eram tão conservadores em seus empréstimos: a dívida domiciliar, que tinha caído fortemente em relação ao PIB durante a Depressão e a Segunda Guerra Mundial, ficou bem abaixo dos níveis anteriores a 1930.

É estranho dizer, mas essa era de bancos chatos também foi uma era de progresso econômico espetacular para a maior parte dos norte-americanos.

Depois de 1980, contudo, com a mudança nos ventos políticos, muitas das regulamentações dos bancos foram suspensas -e o setor tornou-se empolgante novamente. A dívida começou a subir rapidamente, eventualmente chegando a quase o mesmo nível em relação ao PIB que em 1929. E a indústria financeira explodiu de tamanho. Em meados desta década, respondia por um terço dos lucros corporativos.

Com essas mudanças, as finanças novamente se tornaram uma carreira que recompensava bem -espetacularmente bem, para os que construíram novos impérios financeiros. De fato, o aumento dos salários nas finanças teve um grande papel em criar a segunda Era Dourada dos EUA.

Nem é preciso dizer que os novos super-astros acreditavam que mereciam sua riqueza. “Acho que os resultados de nossa empresa, de onde veio a maior parte de minha riqueza, justificaram o que eu recebi’, disse Sanford Weill, em 2007, um ano após se aposentar do Citigroup. Muitos economistas concordaram.

Somente poucas pessoas advertiram que este sistema financeiro sobrecarregado poderia ter um final ruim. Talvez a Cassandra mais notável tenha sido Raghuram Rajan, da Universidade de Chicago, ex-economista do Fundo Monetário Internacional que argumentou em uma conferência em 2005 que o rápido crescimento das finanças tinha aumentado o risco de um “derretimento catastrófico”.

Entretanto, outros participantes da conferência, inclusive Lawrence Summers, hoje diretor do Conselho Econômico Nacional, ridicularizaram as preocupações de Rajan.

E o derretimento chegou.

Grande parte do aparente sucesso da indústria financeira agora é visto como ilusão. (As ações do Citigroup perderam mais de 90% de seu valor desde que Weill se congratulou.) Pior ainda, o colapso do castelo de cartas financeiro criou caos no resto da economia, com o comércio mundial e a produção industrial de fato caindo mais rápido do que fizeram na Grande Depressão. E a catástrofe levou a pedidos de mais regulamentação da indústria financeira.

Entretanto, minha sensação é que as autoridades ainda estão pensando mais em reorganizar os caixas no organograma da supervisão bancária. Não estão de forma alguma prontos para fazer o que precisa ser feito -que é tornar o setor bancário chato novamente.

Parte do problema é que uma atividade bancária sem graça significaria banqueiros mais pobres, e a indústria financeira ainda tem muitos amigos em altas posições. Entretanto, é também uma questão de ideologia: apesar de tudo que aconteceu, a maior parte das pessoas em posição de poder ainda associa finanças sofisticadas com progresso econômico.

Será que podem ser convencidas do contrário? Teremos a disposição de fazer uma reforma financeira séria? Se não, a atual crise não será um evento único; formatará o que está por vir.

Para que serve o Twitter, afinal?

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 14 abril, 2009

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Eu me inscrevi no Twitter há algumas semanas e, confesso, até agora não vi muita graça na coisa. Mas lendo essa reportagem do The New York Times (repórter Claire Cain Miller), comecei a entender para que serve essa geringonça. Se você tiver alguma idéia de como usar o negócio de maneira inteligente, conte prá gente.

Encontrando uma utilidade no emaranhado de pensamentos do Twitter

A primeira reação que muita gente tem diante do Twitter é de perplexidade. Por que é que alguém desejaria ler mensagens curtas sobre aquilo que uma pessoa comeu no café-da-manhã.

A pergunta faz sentido. O Twitter libera o redator de diários que há em cada um dos seus 14 milhões de usuários, que visitaram o site 99 milhões de vezes no mês passado para ler mensagens digitadas em telefones celulares ou computadores. Analisadas individualmente, muitos dessas mensagens, ou “tweets”, de 140 caracteres parecem vazias.

Mas, quando visto coletivamente, o fluxo de mensagens pode transformar o Twitter em uma ferramenta surpreendentemente útil para resolver problemas e proporcionar insights a respeito do clima do mundo digital. Ao avaliar o cérebro coletivo do mundo, pesquisadores de todos os naipes descobriram que, se procurarem analisar os comentários mundanos, as conversas ao vivo permitem que tenham uma imagem antecipada do sentimento popular – e essas conversas até ajudam a moldar esse sentimento.

Companhias como a Starbucks, a Whole Foods e a Dell são capazes de ver o que os seus fregueses estão pensando quando usam os seus produtos, e as empresas podem, assim, adaptar as suas campanhas de marketing à realidade de forma condizente.

Na semana passada, na Moldávia, manifestantes usaram o Twitter como um instrumento para promover a reunião enquanto pessoas de fora observavam os tweets dos ativistas para tentar entender o que estava acontecendo naquele país pouco conhecido.

E, no último fim de semana, a Amazon.com aprendeu como é importante responder à plateia do Twitter. Depois que um autor percebeu que a Amazon tinha reclassificado os seus livros com temas envolvendo gays e lésbicas, colocando-os na categoria “para adultos”, removendo-os do seu principal sistema de busca e da classificação de vendas, irromperam protestos em blogues e no Twitter. A companhia foi compelida a responder, apesar do feriado da Páscoa, afirmando inicialmente que o problema fora provocado por uma “falha no sistema”, mas mais tarde culpando “um erro de catalogação” que afetou mais de 57 livros sobre saúde e sexo.

Logo as máquinas poderão “fazer twitter” tanto quanto os seres humanos. Corey Menscher, um aluno de pós-graduação da Universidade de Nova York, desenvolveu o Kickbee, uma tira elástica com sensores de vibração que a sua mulher usava para alertar o Twitter todas as vezes que o bebê dava chutes dentro da sua barriga: “Eu chutei a mamãe as 20h52, na sexta, 2 de janeiro!”. Agora, Menscher está pensando em vender o produto.

A conjugação de sensores com o Twitter faz com que algumas pessoas acreditem que o sistema poderá ser utilizado para mandar alertas de segurança para casa ou para informar ao médico quando o nível de açúcar no sangue de um paciente ou os seus batimentos cardíacos ficarem muito elevados. Esse tipo de fluxo de dados em tempo real poderia ajudar os pesquisadores da área médica.

Os médicos já usam o Twitter para pedir ajuda e compartilhar informações sobre os seus procedimentos. No Hospital Henry Ford, em Detroit, cirurgiões e médicos residentes trocaram “tweets” durante uma operação recente para a remoção de um tumor cerebral de um homem de 47 anos de idade que sofria de convulsões.

“Um pedaço do crânio está sendo removido para possibilitar o acesso à dura, o invólucro do cérebro”, dizia um tweet enviado no início. Médicos residentes e leigos curiosos que acompanhavam o procedimento no ciberespaço perguntaram aos médicos que músicas eles estavam ouvindo (Loreena McKennitt, uma cantora celta), se o paciente sentia dor no cérebro (não, apenas pressão) e qual o tamanho do tumor (do tamanho de uma bola de golfe). Conforme se faz tradicionalmente no Twitter, eles marcaram todos os seus tweets com uma palavra-chave de forma que qualquer um pudesse procurar a palavra e ler o fluxo de mensagens.

“O Twitter permite que as pessoas saibam instantaneamente o que está acontecendo em relação às coisas com as quais elas se importam”, diz Evan William, diretor-executivo e co-fundador do Twitter. “No melhor dos cenários, o Twitter torna as pessoas mais espertas, rápidas e eficientes”.

William, juntamente com os outros fundadores, Biz Stone e Jack Dorsey, imaginaram pela primeira vez o Twitter com uma forma fácil de manter contato com aquelas pessoas que já são conhecidas.

Em 2006, quando o Twitter estava apenas começando, os três homens sentiram um pequeno terremoto em São Francisco. Cada um pegou o seu telefone para fazer um tweet sobre o fato e descobriu tweets de outras pessoas na cidade. Naquele momento, ocorreu a eles que o Twitter poderia ser mais útil para uma outra coisa – uma reportagem de primeira página, não apenas para amigos, mas para todos que a lessem.

De fato, as promessas do Twitter na área de coleta de notícias ficou mais evidente durante os ataques terroristas em Bombaim em novembro passado, e quando um avião fez uma pouso de emergência no Rio Hudson em janeiro. As pessoas estavam mandando tweets a partir do local antes que os repórteres chegassem.

A atenção recebida pelo serviço ajudou-o a quase dobrar o número de usuários no mês passado, tornando o Twitter a terceira maior rede social online, atrás do Facebook e do MySpace, segundo a Compete, uma empresa de análise da Web.

“O Twitter reverte a noção de grupo”, explica Paul Saffo, o futurista do Vale do Silício. “Em vez de criar o grupo que deseja, o indivíduo envia uma mensagem e o grupo monta a si próprio”.

Martin Stoll descobriu esse fenômeno pela primeira vez durante uma visita à cidade de Nova York, quando procurava um show de comédia. Minutos após ter mandado uma indagação pelo Twitter, cinco pessoas que ele não conhecia haviam recomendado shows. Pessoas que inscreveram-se para acompanhar os tweets de Stoll tiveram a pergunta dele enviada para às suas páginas de Twitter ou telefone celular, e outras que liam a comunicação Twitter ao vivo também puderam vê-la.

Stoll, fundador da GoSeeTell Network, uma companhia online de viagens, percebeu que o Twitter poderia ser um guia ao vivo para turistas em plena viagem. Ele criou o Portland Twisitor Center, ao qual milhares de pessoas perguntam onde encontrar o melhor local para um café da manhã ou um casa de café, e recebem respostas instantâneas dos funcionários do centro e de qualquer pessoa que deseje respondê-las.

As corporações muitas vezes usam o Twitter para promover vendas. A Intuit, a fabricante do QuickBooks e do TurboTax, monitora o Twitter para descobrir pessoas que estejam escrevendo sobre o Mint, um site de finanças pessoais que compete com o Quicken Online da empresa. A Intuit escreve a seguir para elas e oferece os seus serviços.

Até mesmo as pequenas empresas consideram o Twitter útil. Por exemplo, Mary F. Jenn, da True Massage and Wellness, de São Francisco, envia tweets quando os seus massagistas têm vagas abertas nas suas agendas e oferece descontos. As reservas para o spa esgotam-se frequentemente em uma questão de horas.

Mas a utilidade mais produtiva do Twitter tem sido para aquelas empresas que desejam escrutinar as mentes dos seus clientes, lendo as suas reações imediatas a um determinado produto. A Dell percebeu que os clientes estavam reclamando no Twitter de que o apóstrofo e as teclas de retorno estavam próximas demais no laptop Dell Mini 9. Assim, a Dell consertou o problema no Dell Mini 10.

Na Starbucks, os clientes costumavam reclamar deixando notas em uma caixa de sugestões. Agora eles podem também enviar as suas reclamações ou sugestões via Twitter, onde Brad Nelson, que redige as atualizações da companhia para o Twitter, acompanha o que as pessoas estão dizendo sobre o Starbucks online.

No mês passado, emergiram boatos de que a Starbucks não mandaria mais café às tropas no Iraque como protesto contra a guerra. Nelson acabou com a boataria, enviando o seguinte texto via Twitter: “Isso não é verdade. Obtenha os fatos concretos aqui”, com um link para a resposta da Starbucks ao boato.

Alguns programadores estão criando instrumentos para ajudar as companhias a acompanhar o que a população diz. Akshay Java, cientista da Microsoft, está tentando descobrir uma forma de identificar que especialistas são mais influentes em determinados tópicos, analisando automaticamente o conteúdo dos seus tweets e o que está nas redes Twitter deles. Companhias como a Microsoft poderiam usar essas informações para descobrir que usuários do Twitter deveriam contactar para criar uma agitação em torno de um novo produto.

Porém, para que o Twitter seja realmente útil como instrumento de pesquisa, mais gente terá que começar a usá-lo. Se coletar uma fatia mais representativa daquilo que o mundo está pensando, o Twitter poderá possibilitar, por exemplo, que cientistas e acadêmicos rastreiem epidemias.

Para tornar essa tarefa mais fácil, o Twitter acrescentará em breve uma caixa de buscas a sua home page de forma que os usuários sejam capazes de procurar termos como “terremoto” ou “gripe” e receber todos os tweets sobre esses tópicos nos seus resultados.

Para continuar crescendo, o Twitter precisará obter verbas mais significativas, algo que a companhia de dois anos de idade ainda não conseguiu. Os fundadores da empresa dizem que o Twitter espera cobrar de companhias como a Starbucks por recursos que ajudam tais companhias a comunicar-se com os seus fregueses e obter mais informações a respeito dele.

À medida que a companhia utiliza os US$ 35 milhões que obteve recentemente junto a duas firmas de capital de risco no Vale do Silício – além dos US$ 20 milhões que já havia obtido – Williams enxerga sinais de que o seu serviço começou a encontrar um universo de usuários mais voltado para os aspectos pragmáticos e que representam uma parcela maior da população.

Ele dá o exemplo das pessoas que usaram o Twitter para encontrar gasolina em Atlanta durante um período de falta de combustível no outono passado. “É algo bem diferente de contar aos outros o que você comeu no café-da-manhã – e, no entanto, só funciona porque fica no mesmo local em que as pessoa falam sobre o café-da-manhã'”, afirma Williams.

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S.I.S.T.E.M.A.

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 14 abril, 2009

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Para os saudosistas do Agente 86 (lembram da K.A.O.S. e o do C.O.N.T.R.O.L.E.?), um artigo sobre o S.I.S.T.E.M.A. do Leonardo Boff, diretamente da década de 1960 (via blog do Noblat):

Nova cartada do sistema?

O encontro dos G-20 em Londres levou a uma tensa convergência entre as propostas norteamericana e a européia. Esta prevê controles e regulações mais rígidas dos mercados e a nortemaericana procura salvar o sistema bancário privado com a injeção estatal de bilhões e bilhões de dólares, tirados dos contribuintes, com o propósito de alavancar os créditos e garantir a continuação do consumo. Há indicações de que Barack Obama se comprometeu a assimilar algo da proposta européia e desta forma criar um consenso mínimo para enfrentar coletivamente a crise.

Cumpre, entretanto, reconhecer que ambas as soluções são intrasistêmicas e nada inspiradoras. pois de modo algum colocam em xeque o modo de produção capitalista e sua expressão política, o neoliberalismo. Curiosamente, Sarkosy, num artigo do dia 1 de abril, propunha um capitalismo cooperativo e solidário como forma de sair do caos. Parece entender pouco da lógica do capital, pois este se rege pela competitividade e não pela cooperação. A solidariedade na é categoria do capital, senão não teríamos tantos milhões de excluídos. Se alguém achar que o capitalismo é bom para os trabalhadores é um iludido. O capital é bom para os capitalistas que detém o ter, o saber e o poder.

Os encamnhamentos dos G-20 mantém a acumulação do capital como o principal motor do funcionamento da economia e o mercado livre como o lugar de sua reprodução. Isso simplesmente é mais do mesmo. Não ataca as causas que levaram à crise. A crise econômico-financeira é vista fora do contexto global de crise: social, alimentaria, energética, climática e ecológica. Todas estas crises são consideradas como externalidades, quer dizer, fatores que não entram na contabilidade do capital, como o deslocamento de milhões de pessoas do campo para as cidades, o desflorestamento, a contaminação do solo, do mar e do ar. Estes fatores só são tomados em consideração quando se revelam empecilho para os ganhos do capital.

Mas não há como evitar a questão ética: trata-se de uma solução que contempla a humanidade como um todo e que garante a vitalidade ao planeta Terra? Ou simplesmente se trata de salvar o sistema do capital para beneficiar os que acumulam? Será mais uma cartada do sistema? Trata-se de uma crise no sistema ou uma crise do sistema?

Tudo indica que se trata de uma crise do sistema. As duas externalidades maiores – a social e a ambiental – não ganham centralidade. Mas elas são de tal gravidade que põem em xeque as soluções propostas, possuindo somente sustentabilidade a curto e a médio prazo. Depois voltará a crise, possivelmente, sob a forma de tragédia ou de farsa (Marx).

A crise social mundial é terrificante. Os dados do PNUD 2007-2008 atestam que os 20% mais ricos absorvem 82,4% das riquezas mundiais enquanto os 20% mais pobres têm que se contentar com apenas 1,6%. Quer dizer, é uma pequeníssima minoria que, em escala mundial, monopoliza o consumo enquanto os zeros econômicos são lançados na miséria. Há mais de 900 milhões de famintos e a cada quatro segundos morre um ser humano de fome conforme refere J. Ziegler em seu relatório para a ONU sobre a pobreza no mundo. Que cabeça e que coração têm analistas notáveis do Brasil (vide M. Leitão e Sardenberg) que sabem disso tudo e mesmo assim defendem um sistema de tanta perversidade?

A crise ecológica não é menor. Estamos já dentro do aquecimento global que vai ser devastador para milhões de pessoas e para a biodiversidade. E. Wilson, renomado biólogo, denunciou que a cada ano a voracidade capitalista elimina definitivamente 3.500 espécies de seres vivos. Diante deste quadro dramático, só nos resta repetir o que deixou escrito em latim o gênio da critica ao capital: “dixi et salvavi animam meam”: “disse e salvei a minha alma”.

Procurando emprego? Leia isso.

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 13 abril, 2009

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A Folha de hoje reproduziu uma matéria muito interessante publicada no The New York Times, de autoria do Phyllis Korkki, sobre a procura de empregos. Principalmente porque deixa claro uma coisa: não há porque ficar chateado se você estiver sendo rejeitado muitas vezes – “Se você não anda sendo rejeitado muitas vezes, é porque não está se esforçando o suficiente.” Agora, leia a matéria, enxugue as lágrimas, e bola prá frente! – e, lembre-se: procurar emprego é uma atividade fortemente influenciada pela assimetria de informações.

Conseguir entrevistas de trabalho é só o começo

Dúvida: Você já fez várias entrevistas de emprego em empresas diferentes, mas ainda não recebeu nenhuma oferta de trabalho. Será que está fazendo algo de errado?
É possível que não esteja fazendo nada de errado. O mercado de trabalho é altamente competitivo, e, mesmo que você possua 9 em 10 qualificações solicitadas para um cargo, o empregador pode encontrar quem tenha todas as dez, disse Paul Powers, psicólogo de administração em Wellesley, Massachusetts, e autor de “Winning Job Interviews” (Vencendo em entrevistas de emprego). Lembre-se de que “a natureza essencial de uma busca ativa por emprego, enquanto você está desempregado, é a rejeição”, disse Powers. “Se você não anda sendo rejeitado muitas vezes, é porque não está se esforçando o suficiente.” Na realidade, sua capacidade de ser chamado para entrevistas é sinal de que você está fazendo algo certo -ou seja, mandando currículos que despertam o interesse dos empregadores. A maioria das empresas entrevista o mesmo candidato mais de uma vez -em alguns casos, muitas vezes. Mas se já houve várias ocasiões em que você não passou da primeira entrevista, é provável que esteja cometendo algum erro estratégico.

Dúvida: O que pode estar errado em sua estratégia de entrevistas?
Para começar, você pode estar enviando cartas brilhantes de candidatura a empregos que não são adequadas a você, o que causa perda de tempo de ambas as partes. Mesmo que você seja um candidato maravilhoso, é possível que responda às perguntas que lhe são feitas de maneira inadequada. Algumas pessoas, segundo Barbara Safani, proprietária da empresa de gerenciamento de carreiras Career Solvers, “acham que o mais acertado é falar em generalidades”, mas os gerentes de contratação geralmente preferem dados específicos -especialmente exemplos de como você executou um projeto ou resolveu um problema. Se não for assim, disse ela, você não se diferencia dos outros candidatos. Além de “histórias de sucessos passados”, segundo Safani, os candidatos precisam ser capazes “de comunicar em 30 segundos o que querem, o que pretendem e como podem acrescentar valor à empresa” em questão. Se o entrevistador lhe perguntar sobre seus pontos fracos, disse Safani, “seja autêntico, sem se prejudicar”. Dê um exemplo de um ponto fraco seu que não seja ligado às competências-chaves relativas ao cargo que você procura.

Dúvida: O que fazer ao final da entrevista?
Use o fim da entrevista para reafirmar que está interessado no emprego e altamente qualificado para exercê-lo, disse Powers.

Confiança, confiança, confiança…

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 13 abril, 2009

confidence

A atual crise econômica é, como já cansamos dizer aqui, uma crise de confiança. (Re)veja esses posts sobre o assunto: Confiança com ou sem fiança?, É a confiança, estúpido!*, e Fé x Confiança, e entenda o que eu quero dizer por “crise de confiança”. Depois, leia o artigo abaixo do Peter Baker, publicado hoje pelo The New York Times e reproduzido na Folha (comento brevemente no final). É muita leitura, eu concordo, mas com ela você será capaz de formar um quadro consistente sobre a crise atual e seus possíveis rumos. Logo, vale a pena.

Uma questão de confiança

Obama conseguirá restaurar a sensação de empreendedorismo e coragem nos EUA?

Washington
Confança é o nome do jogo para Barack Obama, presidente que tenta calibrar sua mensagem para se adequar ao momento, buscando uma maneira de inspirar um país temeroso da recessão e transmitir a esperança de que tempos melhores virão. É um equilíbrio delicado de se alcançar. Se ele parecer pessimista demais, poderá deprimir ainda mais um povo desesperado por qualquer sinal de progresso. Se soar otimista demais, correrá o risco de parecer que está tentando enganar a nação.
“Você não quer ignorar os problemas e parecer que não está em contato com os desafios que eles estão enfrentando”, disse Rahm Emanuel, chefe de gabinete da Casa Branca. “Por outro lado, você tem de passar a sensação de que há uma luz no horizonte, visível, para a qual você está apontando.”
E os americanos ficaram mais otimistas sobre a economia e a condução dos EUA desde a posse de Obama, o que sugere que ele goza de certo sucesso em sua tarefa crítica de reconstruir a confiança americana, segundo uma pesquisa New York Times/CBS News divulgada no dia 7.
A tarefa de Obama é igualmente crítica para muitos outros países cujas economias dependem de um consumidor americano confiante. Por isso, quando ele voou para Londres e se reuniu com outros líderes para tentar reverter a economia mundial, prometeu mais uma vez restaurar “a confiança nos mercados financeiros”.
Na França, disse em um encontro na prefeitura que estava “confiante de que podemos enfrentar qualquer desafio desde que estejamos unidos”. Para confirmar, repetiu a frase duas vezes em seus comentários iniciais. E caso os americanos a tivessem perdido, Obama gravou uma mensagem declarando que está “confiante de que vamos superar esse desafio”.
Mas Obama é o líder de uma nação com a confiança desgastada em todo tipo de instituição, dos bancos e da indústria de automóveis ao governo e à mídia noticiosa. O próprio lugar dos EUA no mundo parece em dúvida para alguns, enquanto China e Rússia tentam criar uma nova moeda internacional para substituir o dólar e outros contestam a dominação econômica, militar e cultural do país.
Na verdade, esta não é a primeira vez que um presidente enfrenta tal desafio. Franklin D. Roosevelt possivelmente reverteu o clima de um país que apreciava seu estilo entusiasmado, as conversas tranquilizadoras ao pé da lareira e a certeza de que a única coisa a temer era “o próprio medo”, apesar de a Grande Depressão ter causado estragos por anos. Ronald Reagan assumiu um país, depois do Vietnã e de Watergate, que sofria o que Jimmy Carter chamou de “crise de confiança” e imitou Roosevelt com uma série de pronunciamentos pelo rádio e discursos expressando a fé inabalável no espírito americano.
Não importa quanto crédito eles mereçam, Roosevelt e Reagan, ou suas lendas, levaram sucessivos presidentes a cuidar do tom, sabendo que serão julgados por ele. George W. Bush projetou uma segurança constante na sequência dos atentados de 11 de Setembro.
Mas suas avaliações sempre entusiásticas da guerra no Iraque, mais tarde, o fizeram parecer desconectado. “As pessoas pararam de acreditar nele depois de algum tempo”, disse Alan Brinkley, reitor da Universidade Columbia, em Nova York, e historiador presidencial. “Já Obama é descontraído e calmo, e no entanto pode ser muito carismático. Acho que a sensação de calma e razão é o que faz as pessoas confiarem nele. Não tem o entusiasmo efervescente que Roosevelt e Reagan tinham, mas é um tipo de confiança diferente.”
O equilíbrio escapou a Obama algumas vezes desde sua eleição. Por semanas ele pareceu um arauto da catástrofe, advertendo sobre uma recessão que poderia durar uma década. Em certa altura o ex-presidente Bill Clinton, o homem de Hope [Esperança], Arkansas, pediu que Obama fosse franco com a população sobre a crise, mas enfatizasse sua fé no futuro. “Eu gostaria que ele dissesse que está esperançoso e convencido de que vamos superar isto”, disse Clinton na época.
Bush resistiu ao usar a palavra “recessão” durante vários meses, preferindo “declínio” e “desaceleração”, raciocinando que um presidente que usasse a palavra prematuramente poderia transformá-la em uma conclusão antecipada.
No entanto, alguns especialistas negam a importância da confiança em uma época em que tantos pilares do sistema estão partidos. “Isso não vai consertar a situação”, disse Peter Morici, economista da Universidade de Maryland. “A economia está ruim e as pessoas perderam a confiança, e não o contrário. O fato de as pessoas recuperarem a confiança não vai restaurar a solvência dos bancos ou a demanda do consumidor.”

Comento:

Nos trechos em negrito, destaco a diferença entre o presidente Marolinha e o Obama. O primeiro, mentindo deslavadamente e depois dizendo que a outra opção seria falar sifu; o outro, sendo franco e, ao mesmo tempo, passando uma mensagem otimista sobre o futuro.

E as gordinhas, dona Déborah?

Posted in Uncategorized by Raul Marinho on 12 abril, 2009

gordas

Leio na Folha de hoje que a promotora Déborah Kelly Afonso, do Grupo de Atuação Especial de Inclusão (*)  do Ministério Público paulista está querendo criar cotas para negros no São Paulo Fashion Week. De acordo com a autoridade, a ação legal se justificaria porque somente 3% das modelos do evento são negras, contra quase 50% da população.

Legal! Quer dizer que o SPFW deve representar fielmente a população, então? Já que é assim, acho que as gordinhas, que representam 0% das modelos do evento, não poderiam ficar de fora. Nem as tiazinhas, já que só tem menor de 30 desfilando. E o fato dos modelos homens ganharem menos que as modelos mulheres, não caberia uma ação também?

Depois do SPFW, espero que a promotora se volte aos outros excluídos. Como é que fica a falta de brancos e amarelos nos times de basquete, nos conjuntos de pagode, e como puxadores de escola de samba? E a notória falta de nipônicos atuando como atores de filmes pornôs? Tá vendo, dona Déborah, como tem trabalho pela frente?

(*)Interessante notar que o acrônimo para o Grupo de Atuação Especial de Inclusão seria GAEI, muito parecido com GAY, o que é uma curiosa coincidência, em se tratando de uma ação referente ao mundo fashion, tradicionalmente afeito ao público homossexual.

Lei anti-fumo

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 11 abril, 2009

cigarro

Está dando o que falar a nova lei aprovada pela Assembléia Legislativa de São Paulo, restringindo o fumo à rua, às residências particulares, às tabacarias, e a locais de cultos religiosos específicos (ex. consumo de charutos em certos rituais afro-brasileiros) – vide essa matéria do G1. Na qualidade de ex-fumante em recuperação (fumei 25 anos seguidos, e estou sem fumar há menos de um ano), digo que esta lei é ótima. A maior dificuldade de quem está parando de fumar é a convivência com o cigarro alheio. Por exemplo: vc está num bar, tomando sua 3a dose de whisky, e um cidadão da mesa do lado acende aquele Marlborão delicioso. Você sente o cérebro borbulhar numa hora dessas, dá vontade de pular em cima do maço do cara em cima da mesa e roubar inclusive o cigarro aceso apoiado no cinzeiro. Agora, a vida vai ficar mais fácil para o viciado ex-consumidor.

Cotas para travestis?

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 11 abril, 2009

travesti

Dráuzio Varella escreve um artigo impressionante na Folha de hoje, sobre a situação dos travestis. É este, de fato, o grupo social mais discriminado, sem termos de comparação com “negros, índios, pobres, homossexuais, garotas de programa, mendigos, gordos, anões, judeus, muçulmanos, orientais e outras minorias que a imaginação mais tacanha fosse capaz de repudiar”, nas letras do autor de Estação Carandiru. Toda a sociedade os discrimina, inclusive (e, talvez, principalmente) o público que deles é cliente de favores sexuais. Não há voz a favor dos travestis, salvo raríssimas exceções. Todavia, ninguém fala em cotas para travestis nas universidades ou no mercado de trabalho, embora este grupo mereça, mais do que qualquer outro, ação reparadora do Estado.

Políticas compensatórias para travestis fazem sentido por que, em primeiro lugar, é possível identificar com exatidão quem são as vítimas. Embora qualquer homem possa se vestir de mulher, é muito difícil que aconteça de algum não-travesti se fazer passar por travesti só para usufruir de algum benefício. E, mais importante: a injustiça com que se trata e sempre se tratou esse grupo social é evidente, e os beneficiados seriam as mesmas pessoas que foram prejudicadas, não seus herdeiros. Ao contrário das cotas raciais, que seria uma forma de compensar os negros contemporâneos pelos grilhões impostos a antepassados mortos há séculos, as cotas para travestis compensam a própria vítima. Travestis são cidadãos, apesar da maquiagem e do silicone. Por que não tratá-los como tal?

A seguir, o texto do Dr. Dráuzio:

Homens que são mulheres

A saúde pública não pode continuar dando as costas para essa minoria de homens

DE TODAS as discriminações sociais, a mais pérfida é a dirigida contra os travestis.
Se fosse possível juntar os preconceitos manifestados contra negros, índios, pobres, homossexuais, garotas de programa, mendigos, gordos, anões, judeus, muçulmanos, orientais e outras minorias que a imaginação mais tacanha fosse capaz de repudiar, a somatória não resvalaria os pés do desprezo virulento que a sociedade manifesta pelos travestis.
Quem são esses jovens travestidos de mulheres fatais, que expõem o corpo com ousadia nas esquinas da noite e na beira das estradas?
Apesar da diversidade que os distingue, todos têm em comum a origem: são filhos das camadas mais pobres da população.
A homossexualidade é tão velha quanto a humanidade, sempre existiu uma minoria de homens e mulheres homossexuais em qualquer classe social; caracteristicamente, no entanto, travestis só aparecem nas famílias humildes.
Na infância, foram meninos com jeito afeminado que, se tivessem nascido entre gente culta e com posses, poderiam ser profissionais liberais, artistas plásticos, empresários, costureiros, atores de sucesso. Mas, como tiveram o infortúnio de vir ao mundo no meio da pobreza e da ignorância, experimentaram toda a sorte de abusos: foram xingados nas ruas, ridicularizados na escola, violentados pelos mais velhos, ouviram cochichos e zombarias por onde passaram, apanharam de pais e irmãos envergonhados.
Em ambiente tão hostil poucos conseguem concluir os estudos elementares. Na adolescência, com a autoestima rebaixada, despreparados intelectualmente, saem atrás de trabalho. Quem dá emprego para homossexual pobre?
Se para os mais ricos com diploma universitário não é fácil, imagine para eles. O máximo que conseguem é lugar de cozinheiro em botequim, varredor de salão de beleza na periferia ou atividade semelhante sem carteira assinada.
Vivendo nessa condição, o menino aprende com os parceiros de sina que bastará hormônio feminino, maquiagem para esconder a barba, uma saia mínima com bustiê, sapato alto e um bom ponto na avenida para ganhar numa noite mais do que o salário do mês.
Uma vez na rua, todo travesti é considerado marginal perigoso, sem nenhuma chance de provar o contrário. Pode ser preso a qualquer momento, agredido ou assassinado por algum psicopata, que nenhum transeunte moverá um dedo em sua defesa. “Alguma ele deve ter feito para merecer”, pensam todos.
Levado para a delegacia irá parar numa cadeia masculina. Como conseguem sobreviver de sainha e bustiê em celas com 20 ou 30 homens, numa situação em que o mais empedernido machão corre perigo, é para mim um dos mistérios da vida no cárcere, talvez o maior deles.
A condição de saúde dos travestis é precária. Não existe um serviço de saúde com endocrinologistas para orientá-los a respeito dos hormônios femininos que tomam por conta própria.
Muitos injetam silicone na face, nas nádegas, nas coxas, mas sem dinheiro para adquirir o de uso médico, fazem-no com silicone industrial comprado em casa de materiais de construção, injetado por pessoas despreparadas, sem qualquer cuidado de higiene. Com o tempo, esse silicone impróprio escorre entre as fibras musculares dando origem a inflamações dolorosas, desfigurantes, difíceis de debelar.
Ainda os portadores do vírus da Aids encontram algum apoio e assistência médica nos centros especializados, locais em que os funcionários estão mais preparados para aceitar a diversidade sexual. Nos hospitais gerais, entretanto, poucos conseguem passar da portaria, barrados pelo preconceito generalizado, praga que não poupa médicos, enfermeiras e pessoal administrativo.
Os hospitais públicos deveriam ser obrigados a criar pelo menos um posto de atendimento especializado nos problemas médicos mais comuns entre os travestis. Um local em que pudessem ser acolhidos com respeito, para receber orientações sobre uso e complicações de hormônios femininos e silicone industrial, prevenção e tratamento de doenças sexualmente transmissíveis e práticas de sexo seguro.
A saúde pública não pode continuar dando as costas para essa minoria de homens, só porque eles decidiram adotar a identidade feminina, direito de qualquer um. Quem somos nós para condená-los?
Que autoritarismo preconceituoso é esse que lhes nega acesso à assistência médica, direito mínimo garantido pela Constituição até para o criminoso mais sanguinário?

Até o Dossiê-Bufunfa está otimista?

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 10 abril, 2009

rich-people

O blog The Wealth Report – que, numa tradução livre, poderia ser chamado de dossiê-bufunfa – tem por especialidade tripudiar sobre os loiros de olhos azuis ultra-endinheirados na atual crise econômica, mostrando como o bicho está pegando para o lado dos ricos. Nos últimos seis meses, seu autor, Robert Frank (que escreveu um livro excelente sobre o comportamento dos bilionários, o “Riquistão”), tem sido especialmente sarcástico com as notícias do dia-a-dia da crise. Por isso, as notícias desse blog nunca são otimistas, pelo contrário: a mensagem sempre é algo na linha do “não vai ficar assim não, vai piorar muito ainda”. Pelo menos assim era há até pouquíssimo tempo. Ontem, o Frank publicou um post otimista sobre o tema, que merece destaque pela sua raridade. O destaque é para o aumento dos indicadores de confiança dos investidores endinheirados, que esperam recuperação em seis meses. É lógico que os ricos nem sempre estão certo – tanto é que foram eles quem mais perderam na crise atual -, mas somente o fato deles estarem mais propensos a consumir e investir mais já é um bom sinal, já que isso pode deflagrar um círculo virtuoso na economia.

Quanto custa ser estatal?

Posted in Atualidades, banco, mercado financeiro by Raul Marinho on 9 abril, 2009

bb

Estou participando de uma interessante discussão no Blog do Crédito sobre a demissão do presidente do Banco do Brasil. Alguns leitores (eu incluído) e o próprio editor estão debatendo se é correto utilizar o BB para baixar os spreads, mesmo que isso signifique perda de rentabilidade para o banco. E os minoritários, como é que ficam? O conflito entre o lucro da empresa e os interesses políticos do principal acionista, o governo, é o principal assunto do debate, que vale a pena ser acessado.

Continuando com a discussão, mas mudando ligeiramente de foco, gostaria de acrescentar o que acabei de ouvir na rádio CBN, num comentário da Mara Luquet. De acordo com a comentarista, há um relatório do Merril Lynch que precifica o fato do BB ser estatal em 20% – ou seja: o BB vale 80% do que valeria se fosse privado. E, atualmente, em especial depois do evento de ontem, o desconto que o mercado está impondo às ações do BB é de 33%. Em outras palavras, a atitude tomada pelo Lula ao demitir o Lima Neto custou 13% do patrimônio líquido do BB.

Assassinaram a lógica

Posted in Atualidades, banco, credito, crise de credito, crise financeira, risco by Raul Marinho on 8 abril, 2009

banker
A atividade bancária clássica – tomar dinheiro dos investidores e repassá-lo aos tomadores via empréstimos – tem uma longa história de conservadorismo e bom senso. Mas na euforia financeira ocorrida logo antes da eclosão da atual crise econômica global, o mercado simplesmente enlouqueceu, concedendo empréstimos sem nenhum critério, que agora vêm à tona. Uma dessas excentricidades foram os “art loans”  (“empréstimos de arte”), para aquisição de obras de arte, que chegaram a cerca de US$3bilhões em 2007. Agora, com a crise, esses empréstimos estão virando pó, uma vez que o valor das obras de arte derreteu quase completamente. Leia mais sobre isso aqui, no The Wealth Report (para variar).