Toca Raul!!! Blog do Raul Marinho

Uma coisa fácil e outras difíceis

Posted in Just for fun by Raul Marinho on 31 outubro, 2008

Uma coisa fácil:

Montar um A-380

Outras difíceis:

-Você conseguir ser atendido pelo 0800 da cia. aérea que vai te vender a passagem para usufruir do A-380

-O avião sair no horário

-A comida de bordo estar comível…

Post quântico

Posted in Atualidades, Ensaios de minha lavra, Just for fun by Raul Marinho on 31 outubro, 2008

Mente quântica, empresa quântica, espiritualidade quântica… Coloque a palavra “quântico” no Google e veja você mesmo os resultados: hoje são 2.430mil (e contando). A Física Quântica virou moda, e como ninguém sabe exatamente do que se trata (mas todo mundo intui que é algo muito sofisticado), qualquer coisa a ela associada vende bem. Inclusive esse que é um dos piores livros de todos os tempos, “O Segredo”, um lixo de auto-ajuda que nada mais é do que o “pensamento positivo” revisitado.

A tese central desse livro é a tal da “Lei da Atração”, ou seja: se você quer muito uma coisa, o “universo irá conspirar a seu favor”. Isso quer dizer que, se você quiser levar a Giselle Bündchen para a cama, é só ficar mentalizando ela cair no seu papinho e pronto – o que é uma total estupidez, já que milhares de pessoas deverão estar mentalizando a mesma coisa, e ela só poderá ir para a cama com uma destas. Mas o legal mesmo é como é que se “prova” a tal Lei: pela Física Quântica, é óbvio!

Existe um negócio em Física Quântica chamado “Princípio da Incerteza de Heisenberg”, que diz que o ato de observar interfere na coisa observada. Daí, a moçada da auto-ajuda deduziu que você, observador, interfere no que você observa somente por observar, e então… Pronto! É só observar com eficiência (!?) que você atrai a coisa observada para você. Legal, né? Só que não tem nada a ver com Física Quântica.

Na verdade, o que a Física Quântica diz é que não se pode medir posição e velocidade de uma partícula ao mesmo tempo, pois o ato do observador interfere na medição, mas de uma maneira bem menos sutil do que parece à primeira vista. O problema é que, para se medir posição e velocidade, o observador tem que “agarrar” a coisa observada, ele interfere MESMO, não é só ficar olhando de longe. Não tem nada de mágico, esotérico nessa história, mas vai falar isso para quem quer acreditar no sobrenatural…

Seguro saúde & informações assimétricas

Posted in Ensaios de minha lavra, Evolução & comportamento by Raul Marinho on 31 outubro, 2008

Há cerca de 2 anos, publiquei um artigo sobre o mercado de seguro saúde e as informações assimétricas num site da área de seguros, mas não há Google que me faça achá-lo para republicar aqui. De qualquer maneira, o texto orginal ainda está no HD do meu notebook, e segue anexo:

Vende mais porque é mais fresquinho ou é mais fresquinho porque vende mais?

Porque determinados tipos de seguros se tornaram cronicamente inviáveis

Há alguns anos, uma famosa marca de biscoitos lançou uma genial campanha publicitária em que alegava que seus produtos eram mais fresquinhos porque vendiam tanto que não dava tempo de envelhecer na prateleira – e que eles só vendiam tanto porque eram os mais fresquinhos da praça, num raciocínio circular incrível. Se há racionalidade neste argumento eu não sei, mas o fato é que a campanha foi um sucesso na época, tanto é que eu utilizarei este bordão para explicar neste artigo porque algumas modalidades de seguros simplesmente não conseguem se sustentar, numa lógica exatamente inversa à da campanha.

Algumas modalidades do mercado securitário, como os seguros-saúde individuais, estão deixando de ser comercializados por muitas empresas atualmente. Especialistas na área alegam que estes são produtos sujeitos a muitas fraudes que inviabilizam sua operação. Não que isto seja uma inverdade, mas a lógica econômica por trás do problema é um pouco mais elaborada: trata-se de uma aplicação direta de uma teoria tão genial quanto o bordão publicitário do título – só que, neste caso, absolutamente racional. Na verdade, esta teoria é tão genial que foi contemplada com um Prêmio Nobel de Economia: em 2001, três economistas dividiram os louros da academia sobre o tema “Informações Assimétricas”, que explica porque eventos dessa natureza acontecem.

O mercado de seguros é caracterizado por uma elevada assimetria de informações entre segurado e seguradora, ou seja: a companhia de seguros jamais tem como saber todas as informações que gostaria (ou deveria) sobre seu cliente. Assim, a seguradora tem que levar em conta informações indiretas para avaliar se vale a pena ou não assumir determinados riscos. Sabendo disso, a melhor estratégia para a seguradora é pensar como o segurado pensa e, desta forma, avaliar sua decisão sobre a conveniência em tomar o risco envolvido no negócio. Vejamos como essa teoria explica o problema dos contratos de seguro-saúde individuais.

Por uma série de razões – baixa escala, altos custos operacionais, excessivo número de fraudes etc -, este tipo de seguro acaba tendo um preço excessivamente alto já em um primeiro momento. Por ser muito caro, uma grande parte dos segurados que se dispõem a pagar esse preço deverá ser consciente de que sua saúde seja especialmente frágil, já que seriam estes os clientes que aceitariam pagar valores maiores. Em um segundo momento, o fato dos primeiros clientes serem de uma amostra de pessoas com saúde pior que a média faz com que os preços fiquem ainda maiores, o que, por sua vez, teria o efeito de atrair segurados ainda mais conscientes de sua má condição de saúde. O que acaba acontecendo no longo prazo é que isso gera uma espiral de altos preços e baixa qualidade dos segurados até um ponto em que somente os piores clientes se disporiam a pagar os elevados preços de um seguro-saúde individual. No fim das contas, não é interessante para a seguradora assumir este risco mesmo que por prêmios elevadíssimos, e o negócio se inviabiliza.

Para reverter a situação, a única forma é oferecer um produto a preços razoáveis, o que atrairia um conjunto de segurados mais próximo da média da população, ou seja: pessoas que, em sua maioria, estariam de boa fé e com uma saúde dentro da normalidade. Mas o brasileiro médio tem uma renda muito baixa, os mecanismos legais para o combate à fraude são ineficientes, os custos operacionais (principalmente os tributários) são elevadíssimos e, por isso, o negócio fica inviabilizado. Pelo menos, até quando as autoridades do setor continuarem ignorando a lógica do mercado de livre concorrência.

Truques de marketing que você não conhece

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 31 outubro, 2008

Você sabe como é o dia-a-dia na Suécia? Se você fosse um dos leitores dos posts da Sandra Paulsen, regularmente publicados no blog do Noblat, saberia. O de hoje fala dos truques que algumas lojas e supermercados de lá utilizam que ninguém conhece em Pindorama. Vale a pena ser lido:

Ética da sociedade de consumo

Além da publicidade e da propaganda, normalmente utilizadas, são conhecidas outras táticas menos explícitas das quais o comércio, algumas vezes, lança mão para atrair clientes: a famosa «boa aparência» exigida na contratação de vendedores, por exemplo, é um clássico. Meninas e meninos bonitos atrás do balcão ajudariam a aumentar as vendas.

Só que algumas recentes chamadas em jornais locais, sobre as estratégias de certas empresas para atrair consumidores, vêm-me deixando de cabelos em pé. Parece que a baixa conjuntura e as ameaças de recessão econômica estão fazendo o comércio varejista de Estocolmo se desesperar.

Primeiro, uma notícia de que os portadores do cartão da rede de supermercados Ica recebem ofertas especialmente para eles, preparadas de acordo com as compras feitas com o cartão. Ou seja, aqueles que compram batatas fritas, sabão em pó e comida para gatos recebem ofertas pessoais específicas relacionadas a esses produtos. As compras feitas pelos consumidores são registradas e estudadas, para dar origem a ofertas sob medida. A repercussão da notícia ainda não é clara. Enquanto uns sentem que, por fim, receberão ofertas interessantes que poderão ser aproveitadas, outros acham que esse tipo de propaganda constitui invasão de privacidade.

Depois, uma nota a respeito de lojas que empregam pessoas especialmente para fingir que compram e para circular com suas sacolas cheias de produtos, como forma de propaganda. São clientes de mentirinha, que se comportam como consumidores vorazes, para provocar o interesse de outros compradores e aumentar as vendas. Estabelecimentos do comércio de Estocolmo recrutam atores para esse papel de falsos clientes, os quais, entre outras atribuições, também distribuem elogios a clientes de verdade que experimentam peças nos provadores das lojas.

Agora, a última das novidades vem também dos supermercados Ica. A cadeia ficou com uma fama negativa no ano passado, por vários casos de adulteração das datas de validade da carne moída à venda. Houve punições, mudanças nos procedimentos, e a história está praticamente esquecida. Só que agora o Ica estaria testando um novo método para aumentar seus ganhos: «perfumar» artificialmente as áreas onde se vendem frutas e verduras. Com o cheirinho artificial de manga, banana ou pêssego fresco, «fabricado» sinteticamente e devidamente espalhado por um ventilador que fica embaixo da prateleira de frutas de uma das suas lojas em Malmö, o Ica espera atiçar os fregueses a comprar mais.

Eu me pergunto se sou só eu a ficar de queixo caído. Até que ponto o comércio pode chegar para aumentar suas vendas? Não bastam as táticas para estimular a compra por impulso, os chocolates no caixa, os produtos mais necessários estrategicamente colocados para que as pessoas tenham que passear a loja inteira até encontrá-los, e outras coisas assim?

Quando me assusto muito com o consumismo e as técnicas para estimulá-lo, tento pensar no argumento freqüentemente utilizado pelos admiradores incondicionais do Estado de Bem Estar sueco: aqui as coisas ruins se sabem; em outros lugares, se escondem.

Tomara que seja assim mesmo.

¡Viva el bolivarianismo, viva el Socialismo!

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 31 outubro, 2008

Fim do capitalismo??? OK, e o que entra no lugar? Imbecis como esse tal de Hugo Chavez estão espumando com a crise financeira atual, mas proposta que é bom mesmo, nenhuma. Veja a nota abaixo, da EFE, e ganhe uma viagem a Caracas se você encontrar alguma proposta efetiva de solução para o problema atual:

Hugo Chávez aproveita crise financeira para pregar fim do capitalismo

Caracas, 30 out (EFE).- O presidente venezuelano, Hugo Chávez, voltou hoje a pregar o fim do capitalismo, aproveitando a crise financeira mundial para criar “uma nova institucionalidade internacional”.

A reiteração foi feita durante um ato especial dedicado à integração social dos incapacitados, transmitido em cadeia nacional de rádio e televisão.

Na terça-feira, Chávez dissera que “é preciso enterrar” o capitalismo, durante reunião com o presidente do Equador, Rafael Correa, na cidade equatoriana de Puyo.

“Ao mundo impuseram a ditadura do dólar e do sistema do Fundo Monetário Internacional (FMI), ou seja, dos Estados Unidos. Esse sistema colapsou. É preciso criar um novo sistema”, manifestou hoje o presidente da Venezuela -que, no entanto, tem nos EUA o comprador de 80% de seu principal produtor de exportação, o petróleo.

Chávez insistiu que “os países do Sul devem pressionar para alcançar esse objetivo (criar um novo sistema)”, após rejeitar que a solução à crise seja reorganizar e revitalizar o sistema capitalista.

“A crise é de tal magnitude que dificilmente não será afetado todo o planeta. A crise segue se expandindo, mas a Venezuela seguirá marchando”, concluiu.

Altruísmo recíproco (Você S/A)

Posted in Ensaios de minha lavra, Evolução & comportamento by Raul Marinho on 30 outubro, 2008

Em 2005, na ápoca do lançamento do meu livro “Prática na teoria”, publiquei uma série de três artigos na revista Você S/A sobre altruísmo recíproco, que podem ser baixados aqui, aqui e aqui. Nós já falamos desse assunto várias vezes neste blog, e volatremos a falar muitas outras ainda – por isso, não vou entrar em maiores detalhes agora. Gostaria, entretanto, de reproduzir um gráfico que encontrei na web mostrando os custos e benefícios do altruísmo recíproco entre morcegos hematófagos, que é muiíssimo interessante (embora não muito fácil de entender para os não-iniciados):

Lula & preconceito

Posted in Ensaios de minha lavra, Evolução & comportamento by Raul Marinho on 30 outubro, 2008

Raramente escrevo artigos históricos, mas este aqui é uma exceção, publicado na Você S/A logo antes do Lula tomar posse em seu primeiro mandato:

O preconceito do preconceito

Pela primeira vez na história, temos um presidente de origem popular. Lula é nordestino, sem formação acadêmica e portador de uma mutilação física. Se FHC diz ter um “pé na cozinha”, Lula tem os dois na senzala. Com todos estes atributos, Lula é igual à maioria dos presidiários, bóias-frias, porteiros de prédio e pedreiros do país. Em outras palavras: temos um Presidente da República que teria problemas para entrar em um restaurante fino de São Paulo – não fosse ele, obviamente, o morador do Palácio da Alvorada. Acredito que chegou a hora de encararmos de frente o preconceito e a discriminação que fingimos não ter. Temos, sim. Todos nós. Segundo a Biologia Evolutiva, o ser humano é um animal preconceituoso e discriminatório por natureza. Essas características foram essenciais para nossa evolução e são impossíveis de serem extirpadas, a não ser que se desenvolva uma técnica de cirurgia genética.

Existe uma antiga anedota sobre o namoro da Xuxa com o Pelé. A então jovem modelo chegou em casa e falou que estava namorando um negro. O pai, escandalizado, arrancou os cabelos por isto; sua mãe quase desmaiou. Mas quando a Xuxa disse que o negro era o Pelé, seu pai disse: “Ah, filha! Mas o Pelé não é tão negro assim!”. Da mesma forma, a maioria dos eleitores brancos e educados do sudeste que votaram no Lula provavelmente não o consideram tão nordestino, retirante e iletrado assim. Daí a grande idéia do seu marketeiro de vendê-lo como “Lula Light” ou “Lulinha Paz e Amor”. A mensagem subliminar para a classe média é a de que o Lula é ex-nordestino, ex-operário, ex-iletrado. Ou, visto por outro ângulo, o Lula agora é “um dos nossos”.

Vamos entender o preconceito pelo começo. Nossos antepassados não tinham uma vida tranqüila. No início da nossa existência como espécie, os Homo sapiens, agrupados em pequenas comunidades de caçadores-coletores, viviam em guerras tribais. A escassez de alimentos nas estiagens era devastadora e a equação básica da sobrevivência – representada pela quantidade de alimento dividida pela população – só fecharia se o denominador fosse reduzido. Visto de outra forma: se não houvesse guerra e morticínio, todos morreriam de subnutrição. Por outro lado, era preciso identificar claramente os componentes de sua própria tribo. Para que fosse possível saber a que tribo um indivíduo pertencia, era essencial discriminar. E nós desenvolvemos habilidades específicas de reconhecimento através das características físicas, como a cor da pele, por exemplo.

Como o traço comportamental de cooperar com quem é da mesma tribo e desertar com quem for da tribo vizinha trouxe vantagens evolutivas para nossos ancestrais, este comportamento se perpetuou na nossa espécie. Todos nós sempre discriminamos toda pessoa que vemos pela frente. Isto é tão natural quanto nossa boca salivar ao sentir cheiro de churrasco. Sempre que somos apresentados a alguém, nosso cérebro trabalha freneticamente para enquadrar esta pessoa em algum estereótipo que nos faça sentido. Uma grande gama de informações é checada em poucos segundos: da cor da pele ao formato do nariz; do sotaque à construção gramatical; dos gestos à vestimenta, nada escapa ao cérebro humano, construído e treinado para discriminar.

Devido a isto, nossa espécie tende a achar que todos que são diferentes de seu grupo étnico são, a princípio, inimigos. Este comportamento fazia sentido há 50.000 anos – na verdade, era determinante para a sobrevivência. Mas na sociedade moderna, este mesmo comportamento leva a distorções gravíssimas. Sobram exemplos do lado perverso do comportamento discriminatório. Os alemães da década de 30 achavam que os culpados de tudo eram os judeus. Muitos sulistas do Brasil acham que os culpados pelo desemprego e pela violência são os nordestinos. A maioria dos judeus israelita acha que os palestinos são uma praga a ser dizimada. Os brancos sul-africanos achavam que os negros nativos eram uma sub-raça, e assim por diante. Por ironia, a espécie humana é uma das que apresenta menor variação genética entre as espécies animais. Em essência, é um erro pensar que nós nos dividimos entre negros, pardos, brancos ou amarelos. O ser humano é uma raça única.

Na sociedade atual, organizada em supertribos multi-étnicas, o traço comportamental discriminatório ainda faz sentido em determinadas situações. Se, por uma mutação genética, alguém nascesse sem este traço comportamental, provavelmente esta pessoa teria problemas sérios. Um bom exemplo seria se esta pessoa estivesse andando pela rua de madrugada e encontrasse com uma gang de trombadinhas. Uma pessoa desprovida do sentimento discriminatório não saberia que seria assaltada ou agredida, ao passo que uma pessoa normal fugiria ou se esconderia do perigo. Mas o lado perverso da discriminação também existe e, apesar de “natural”, deve ser combatido. Com a eleição do Lula, acho que demos um passo importante para diminuir o preconceito, pois agora temos uma referência clara de que quem é pobre, nordestino e fala errado também pode chegar lá!

Estratégia de negócios

Posted in Ensaios de minha lavra, Evolução & comportamento by Raul Marinho on 30 outubro, 2008

Mais um artigo publicado na Você S/A, sobre Economia Comportamental:

Carros usados, sexo e negócios

Três coisas bem diferentes, mas com alguma coisa em comum. Descubra o que é e aplique no seu dia-a-dia

Segundo a psicologia evolutiva, a prioridade do ser humano é a preservação da nossa carga genética. Em outras palavras: sexo. Assim como a maioria dos mamíferos, o homem também compete pelo direito de acasalar. Mas graças à nossa estrutura social e capacidade intelectual, nós não saímos por aí às cabeçadas como os bisões ou às mordidas como os leões. Nós utilizamos estratégias mais sutis, dentre elas as informações assimétricas.

Ou seja, para encontrar parceiros sexuais, tentamos convencer o parceiro do sexo oposto que somos “um bom negócio”. É o mesmo problema encontrado em uma entrevista de emprego ou na venda de um produto ou serviço: os “vendedores” sabem muito mais a respeito da qualidade do “produto” que os “compradores”. Trata-se de uma questão clássica de assimetria de informações que pode ser solucionada de acordo com o trabalho de George Akerlof, ganhador do prêmio Nobel de Economia de 2001.

Ele publicou um excelente trabalho denominado “The Market for Lemons” (algo como “O Mercado das ‘Latas Velhas’”), onde desenvolve um estudo sobre o mercado de carros usados nos EUA (os “lemons”) para descrever os mercados com forte assimetria de informações, como o mercado de trabalho. Raciocínio análogo é utilizado pela psicologia evolutiva para explicar estratégias utilizadas na competição por sexo entre os humanos. A idéia central do trabalho de Akerlof é que, como o vendedor do “lemon” sabe mais sobre a verdadeira qualidade de produto que o comprador, a tendência é que os preços se nivelem por baixo. A explicação é simples. Os compradores admitem que todos os carros usados são “lemons” – mesmo aqueles que estão em ótimo estado. O argumento mais convincente para acabar com essa assimetria é dizer que o carro não está à venda. Admite-se por hipótese que carros expostos em lojas de usados são “lemons”. Ao contrário, um carro utilizado normalmente tem mais chances de ser reconhecido como de boa qualidade simplesmente porque seu proprietário não deseja vendê-lo – pelo menos, não ostensivamente.

Esta estratégia é utilizada por homens e mulheres do mundo inteiro há milênios na escolha de um parceiro sexual. O homo sapiens tem um comportamento básico em relação ao sexo: escolher um parceiro “comprovadamente” satisfatório. Este comportamento é observado em ambos os sexos, mas as mulheres seriam mais orientadas a escolher parceiros “comprovados” – provavelmente porque a escolha feminina é associada a um maior nível de riscos durante a gravidez até os primeiros anos de vida dos filhos. Segundo este raciocínio, o melhor parceiro sexual é aquele já comprometido com outra parceira. Pelo mesmo motivo é mais fácil conseguir um bom emprego empregado do que desempregado. Admite-se que uma pessoa desempregada seria um “lemon” da mesma forma que um “solteirão” pode ser visto com desconfiança por mulheres casadoiras em potencial.

Esta teoria foi comprovada na prática pelo Pedro Mello, o leitor entusiasta desta coluna que aplicou o “Leilão de Dólar” às suas estratégias profissionais (veja o artigo “A Verdadeira Prática na Teoria”). Pedro estava negociando a venda de um projeto de e-business para uma grande marca de artigos eletro-eletrônicos quando tomou conhecimento do artigo sobre informações assimétricas. Em mais uma reunião de trabalho sobre o projeto, Pedro informou ao cliente que não poderia continuar com o trabalho porque uma outra empresa se interessou em adquirir o projeto. Esta informação caiu como uma bomba na diretoria da empresa. O interesse pelo projeto aumentou significativamente e o cliente fechou o negócio rapidamente. O projeto era o mesmo, a única mudança foi o fato de outra empresa estar interessada no mesmo serviço – e tratava-se de um trabalho que só poderia ser desenvolvido uma única vez.

Nós utilizamos esta estratégia em nossa vida pessoal de forma instintiva. Todo mundo sabe que a melhor arma de sedução em uma conquista amorosa é se mostrar relativamente indisponível. Mas ninguém nos diz para utilizar a mesma estratégia profissionalmente. Nos últimos anos, porém, vários prêmios Nobel de Economia foram concedidos a trabalhos relacionados a aspectos comportamentais, inclusive o de 2002, concedido a dois psicólogos comportamentais.

A frase, a imagem

Posted in Atualidades, Just for fun by Raul Marinho on 30 outubro, 2008

Toda crise tem solução. A única que eu cheguei a pensar que não tinha, a do Corinthians, acaba de se resolver. – Luís Inácio Marolinha da Silva, hoje


A União Faz a Força?

Posted in Ensaios de minha lavra, Evolução & comportamento by Raul Marinho on 30 outubro, 2008

O artigo abaixo, publicado originalmente no administradores.com, foi escrito para o projeto da Diretoria de Redes colaborativas do Banco ABN-Amro/Real (atual Santander). Voltaremos ao assunto em breve.

A UNIÃO FAZ A FORÇA OU É A FORÇA QUE FAZ A UNIÃO?
Como ocorre o sucesso evolutivo das empresas por meio de estruturas associativas
Se existem muitas maneiras de estar vivo, existem muito mais possibilidades de morrer. Essa é a cruel lógica da evolução: as chances de uma nova espécie prosperar são infinitamente menores das dela ser extinta, tanto é que 99% das espécies que surgiram na Terra já sucumbiram. Entretanto, a luta pela sobrevivência tem um efeito positivo: aqueles que sobrevivem são absurdamente adaptados à vida; todas as espécies que restaram são exemplos de experiências de sucesso evolutivo. Todos os ancestrais dos cães, gafanhotos ou andorinhas atuais são indivíduos que, no mínimo, conseguiram sobreviver até a idade reprodutiva. Nenhum ancestral nosso morreu jovem, ou foi fracassado sexualmente. Nós – e todas as espécies modernas – somo herdeiros de linhagens de sucesso. Essa é a lógica do darwinismo: os mais adaptados ao ambiente prosseguem no jogo; a maioria cai fora antes mesmo de conseguir jogar suas fichas no pano verde.

A grande questão é: quais são as regras do jogo? Como a evolução acontece? A evolução morfológica é razoavelmente simples de entender. Os ancestrais dos animais modernos deixaram pistas claras nos registros fósseis que, confrontados com os indícios sobre as transformações geológicas e climáticas que ocorreram no planeta, indicam que as adaptações foram sensatas para a sobrevivência. Todavia, a coisa se complica um pouco quando se pretende entender como o comportamento evoluiu. Explicar porque descemos das árvores é fácil: mudanças no clima devastaram as florestas, transformando-as em campos abertos – ou seja: não fomos nós que descemos das árvores, foram as árvores que desapareceram debaixo de nossos pés. Resquícios dessa transformação na paisagem são inequívocos, e eles se casam perfeitamente com os esqueletos de primatas que nos antecederam.

Mas entender como o nosso comportamento se modificou até o ponto em que nos tornamos Homo economicus eficientes – ou melhor: empreendedores – é bem mais complicado. Comportamentos, ao contrário de ossos, não fossilizam, e as pistas são bem mais sutis que um crânio de Australopithecus afarensis. As chaves desse entendimento são duas: Economia e Ecologia. Não é por acaso que essas duas palavras comecem por um mesmo prefixo: “eco-”, em grego “oikos”, que significa a casa, a moradia, o lar. Como o sufixo “-nomia” (em grego, “nomos”) significa administração, organização, a “Economia” é sobre como está organizada uma família, ou seja: como os integrantes de um lugar se relacionam em relação aos recursos presentes naquele lugar. Já o sufixo para “Ecologia”, “logia” (em grego, “logos”), é o mesmo onipresente no final das palavras psicologia e arqueologia, e significa “estudo”; ou, nesse contexto, o “estudo da casa”. De acordo com a definição precisa, Ecologia é “o estudo das interações dos seres vivos entre si e com o meio ambiente”.

No fundo, no fundo, Economia e Ecologia são a mesma coisa: elas tratam de como indivíduos jogam o jogo dos recursos escassos, basicamente alimento e sexo. Todo o resto gira em volta disso, mesmo que de maneira indireta. Se a Ecologia se preocupa com os efeitos que os predadores da Amazônia têm sobre a vegetação, uma vez que eles regulam a população dos herbívoros que as come; a Economia está interessada em entender o efeito do aumento de impostos sobre a saúde ou a fome dos brasileiros, uma vez que estas são correlacionadas à renda da população. Mas, na essência, os mecanismos são os mesmos, a lógica é a mesma. O panda está na corda bamba da extinção porque ele não é eficiente economicamente. Ele ocupa um mercado (nicho) restrito, o que significa concentração de riscos. Ele tem somente um fornecedor de alimento, os bambus: se um bambuzal for devastado, adeus pandas. Como o bambu é um produto excessivamente “light”, mesmo comendo o dia todo, os pandas mal conseguem a energia para manter funcionando os órgãos vitais. Isso sem contar com o fato de ser um bicho invocado para se reproduzir; em resumo: sem a ajuda do “BNDES conservacionista”, a Pandas S.A. vai à falência.

Da mesma forma, a “selva dos mundos dos negócios” não é uma mera analogia despretensiosa. “O sapo não pula por boniteza, mas por precisão”, e o rouxinol não canta para nosso deleite: o sapo pula para fugir dos inimigos, e o rouxinol canta para conseguir acasalar. Nossa vida de contas bancárias, notebooks e celulares tem o mesmo sentido da vida de um lobo-guará ou de um gavião: sobreviver e reproduzir. Considerações metafísicas à parte, o fato é que nossos pais tiveram sucesso nas duas coisas, e os pais deles também, assim como os pais dos pais deles, e assim por diante. Com o perdão da filosofia de botequim: o sentido da vida é dar sentido à vida, ou seja: jogar o jogo da evolução – e o jogo é econômico (em todos os sentidos).

A lógica evolutiva é muito semelhante à que se aplica na luta pela sobrevivência empresarial, particularmente num contexto hostil e competitivo como o cenário econômico brasileiro. Nossa batalha é dura, cruel, diária, tão complicada quanto a dos peixes ou dos morcegos – e, no fim das contas, nós buscamos os mesmos prêmios: sobreviver e passar os genes para a frente. E, para isso, precisamos agir. Mas, como? No caso dos humanos, a sobrevivência e a reprodução estão ligadas às habilidades e competências sociais, como as formigas. A diferença é que as formigas se comportam de maneira inequivocamente cooperativa, enquanto que nós cooperamos de maneira seletiva. Entretanto, ambos estão maximizando as mesmas variáveis: o velho binômio sobrevivência e reprodução. Mesmíssima coisa ocorre entre as empresas, abstrações humanas que nada mais são que indivíduos lutando para sobreviver e se reproduzir.

As formigas nunca trapaceiam com suas irmãs porque, para elas, a coletividade – o formigueiro – é muito mais negócio que as comunidades humanas são para nós. Sendo estéreis, a única chance dos genes de uma operária continuarem a existir será se o formigueiro e sua respectiva rainha sobreviverem. Uma formiga não pode pedir demissão de seu formigueiro e procurar emprego nos classificados. Mas nós podemos mudar de emprego, de turma, de parceiros de negócios – eventualmente, até de família. Mesmo que nós tendamos a cooperar mais com quem for mais próximo em termos de parentesco, a cooperação humana também ocorre com quem não é nosso parente sangüineo; nós cooperamos por formas diferentes, mas pelos mesmos motivos: aumentar a eficiência econômica.

Sendo animais ultrassociais, nossa eficiência reside na competência em extrair benefícios do meio ambiente formado, principalmente, por outros humanos. Ou seja: nosso principal fator de sucesso evolutivo são os relacionamentos econômicos. Nós temos uma principal decisão a tomar nas nossas vidas: cooperar ou não cooperar – decisão essa que é tomada de maneira racional e emocional simultaneamente. O principal mecanismo que orienta essa decisão é o da reciprocidade de benefícios ao longo do tempo. Nós, instintivamente, fazemos os cálculos de maior ganho econômico em termos de valor presente o tempo todo, e tomamos nossas decisões baseadas nas planilhas mentais que criamos sem perceber nos nossos cérebros. Da mesma maneira que achamos o gosto do chocolate, um alimento altamente energético, muito melhor que o do capim (sem valor energético algum para nós), nós não damos esmolas a mendigos bem vestidos e não gostamos de receber um calote financeiro. Nossas ações acontecem numa espécie de “piloto automático comportamental”, num mecanismo vulgarmente conhecido por “instinto”.

Ocorre que, além de cooperarmos de acordo com a proximidade parental, e mais do que meras relações de reciprocidade, nós também nos comportamos de uma maneira peculiar quando nos organizamos em grupos: tribos, etnias, times de futebol, paróquias, exércitos, sindicatos, Rotary Clubs, e por aí afora. Uma pessoa – seja um tongolês, um chileno ou um sueco – sempre vai gostar de quem coopera com ela, e dificilmente fará amizades com quem age de maneira diferente. Ou, pelo menos, vai tentar agir assim a maior parte do tempo, o que não significa que ela não possa ser traída vez ou outra. E, evidentemente, quanto maior a sua eficiência em formar relacionamentos mutuamente cooperativos, maior a chance de sobreviver e se reproduzir.

Isso não é muito diferente da organização cooperativas de muitos outros animais, mas os humanos cooperam de maneira peculiar quando em grupos: nestes casos, nós cooperamos sem esperar, necessariamente, a retribuição específica de todos os atos praticados que beneficiam terceiros. Da mesma forma, ocorre idêntico efeito em sentido contrário e, quando integramos um grupo, também recebemos benefícios que não precisamos retribuir. Se você se associa a um clube esportivo, por exemplo, você tenderá a cooperar com os outros associados das mais variadas formas, mesmo quando estes nem tenham como saber que estão sendo beneficiados por você. Isso acontece porque você utilizou a sua planilha mental automática e chegou à conclusão que os benefícios que você obtém por ser sócio do clube também são originários de atitudes benéficas praticadas por pessoas que você nem conhece.

Quando um sócio do clube se empenha em comprar uma bola de basquete nova (mesmo que com os recursos da coletividade), ele vai proporcionar um benefício para todos aqueles que jogam naquela quadra, indistintamente. Isso é um bom negócio para ele próprio, que joga todo final de semana naquele clube, mas também para vários outros e, por essa razão, todos os outros terão interesse que você continue desfrutando dos jogos que ocorrem ali. Isso faz com que a melhor decisão econômica para qualquer sócio do clube seja cooperar indistintamente, independente do benefício ser estendido a quem nem se conheça.

É devido a essa lógica econômica que temos uma forte tendência em sermos amigos dos amigos dos nossos amigos, um fenômeno psicossocial denominado “transitividade”. Comportando-nos dessa forma, nós aumentamos as chances de estabelecer novas conexões sociais, e o segredo do negócio é a densidade do grupo que compomos. Quanto maior a densidade dos relacionamentos em um agrupamento humano – ou seja: quanto mais os sócios de um clube se relacionarem entre si – maior a sua efetividade econômica. Isso é particularmente forte nos agrupamentos cujos benefícios estejam relacionados ao trânsito de informações complexas, como as associações empresariais. Além de favorecer a prática de benefícios de maneira indiscriminada pelo efeito cascata previamente comentado, nesses casos, o custo de transmissão de informações se reduz de maneira dramática.

Se um grupo de empresas enfoca o desenvolvimento de novas tecnologias, por exemplo, não só ocorre um óbvio ganho de escala na obtenção do conhecimento, como também existe um segundo efeito, agora na eficiência da transmissão dessa nova tecnologia. Como os membros de um grupo já estão conectados, as informações fluirão com muito mais facilidade, rapidez e economia. Esta é a lógica que está por trás da tendência que temos em nos associar a grupos de todos os tipos: agir assim é um ótimo negócio, e nossos antepassados evoluíram dessa forma.

Entretanto, existem riscos associados à excessiva densidade do grupo: pode ocorrer seu isolamento, impedindo a entrada de novas idéias. Quando todas as relações dos membros de um grupo se resumem àquelas ocorridas entre eles mesmos, há uma diminuição sensível na obtenção de informações únicas: novas idéias, tecnologias ou conhecimentos que não sejam dominados pelos membros daquele grupo. Talvez, pior do que isso, grupos muito coesos podem levar à perda de competitividade, principalmente quando aquela associação é artificialmente protegida – subsidiada, em outras palavras. Isso, a propósito, foi um fenômeno muito estudado no passado recente do nosso país, que experimentou uma complicada abertura econômica no final do século passado.

Em termos evolutivos (ou empresariais, dá no mesmo), a configuração ótima das estruturas associativas humanas é a seguinte: dentro da associação, uma alta densidade, com todos os membros conectados o máximo possível uns aos outros; e entre as associações, conexões mais esparsas, com algum trânsito de informações que mantenha o fluxo de novas idéias. Esta é a maneira que permite obter os maiores resultados na extração de benefícios do meio-ambiente, qualquer que seja o propósito do agrupamento em questão. Exemplos disso não faltam.

Na Ásia, temos a maior concentração humana do planeta. Muita gente significa muitas oportunidades de agrupamento e, de fato, existe uma profusão de grupos humanos naquele continente como em nenhum outro lugar, desde há muitos séculos. Ocorre que estes grupos humanos, fortemente densos, eram isolados do resto do mundo, por diversos motivos. A China maoísta, por exemplo, era um planeta à parte há até poucas décadas, e não havia trânsito de informações com o resto do mundo. Mas isso começou a mudar: primeiro foi o Japão, que conseguiu sair rapidamente da ruína do pós-guerra para se tornar mega-potência econômica; depois, os tigres asiáticos, como Taiwan e Coréia do Sul. E, a partir de meados da década de 1970, após a morte de Mao, o gigante chinês. O que construiu o sucesso desses países foi a conjugação de associações densamente estabelecidas (condição pré-existente) com novos laços associativos, menos densos, com o resto do mundo.

Na natureza, uma onça pintada do pantanal matogrossense não compete pelos mesmos recursos com um guepardo das savanas africanas. A onça talvez se preocupe com os lobos-guará, mas os guepardos não representam nenhuma ameaça. Estes, por sua vez, competem com hienas e leões, mas sua sobrevivência não tem nada a ver com os ursos canadenses; cada um ocupa um nicho ecológico completamente diferente. O mesmo acontecia com a competição humana há até alguns segundos na escala evolutiva: os Incas, Maias e Astecas não tinham que se preocupar com os egípcios, e esses nem sonhavam com a existência dos aborígenes australianos. Hoje, tudo mudou, o mundo encolheu, e todos disputamos os mesmos recursos – competimos pelos mesmos mercados. Estamos numa mesma selva que os chineses e coreanos, e a competição é de vida ou morte. Como faremos para sobreviver e nos reproduzir nesse novo contexto? A resposta: sendo mais eficientes em termos evolutivos.

Nós somos um país com um passado colonial e escravagista recente. Tanto uma como outra característica são contrárias à formação de estruturas associativas, mas não vai adiantar nada lamentar nossa história. Se os asiáticos venceram as barreiras culturais milenares, e estabeleceram conexões em nível global, por que nós não podemos modificar nossas práticas sociais? O Brasil tem uma infinidade de empreendedores criativos, trabalhadores – enfim, aptos a vencer a competição. Nosso povo é aberto a estabelecer conexões com outros povos, outras culturas, mesmo porque nós somos essencialmente estrangeiros aqui. Só que nos falta habilidade para construir mecanismos associativos entre nossas empresas, nós somos carentes de grupos com conexões fortes e sólidas. E, para piorar, nós temos pouco tempo para mudar isso.

Foi somente no século XX – principalmente após Getúlio Vargas – que nós começamos a montar estruturas associativas formais. Existem hoje uma infinidade de sindicatos, associações comerciais, arranjos produtivos locais (APLs) espalhados pelo país; grande parte, infelizmente, com pouca efetividade. Os empresários ainda são reticentes quanto à cooperação associativa, ou seja: em priorizar seus negócios por meio das estruturas de grupos existentes. Isso precisa mudar urgentemente, sob pena de sermos extintos do ecossistema global e nos tornarmos uma imensa plantação. Do mesmo jeito que o panda, nós corremos o risco de sermos engolidos pelos competidores se não tomarmos medidas conservacionistas urgentes quanto à espécie do Homo economicus brasiliensis.

A lógica evolutiva para que isso aconteça já foi decifrada: nós precisamos nos organizar de maneira mais eficiente, priorizando os relacionamentos econômicos dentro das associações, e construindo pontes entre estas, além de conexões destas com o mundo exterior. Não há outra alternativa, os recursos são (e sempre serão) escassos, e os competidores sempre irão trabalhar pelo seu próprio sucesso, não podemos esperar nada diferente disso. Mas nós temos a vantagem de, hoje, saber como os mecanismos evolutivos acontecem, e por que determinados grupos têm mais sucesso que outros. Agora é mãos à obra, utilizando a nossa força para nos unirmos, pois é dessa união que virá a nossa força.

Dinheiro não traz felicidade (manda buscar)

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 29 outubro, 2008

Incrível como o jornalismo no Brasil é ruim e está piorando a cada dia. Olha só a manchete que o site Terra coloca hoje no ar: “Especialistas relacionam alto PIB com felicidade baixa”. Clicando na notícia (que está na imagem acima, já que o link não é estável), chega-se a uma entrevista com a tal “especialista” (a auto-entitulada “biopsicóloga” Susan Andrews, que não disse essa barbaridade), tratando do índice queridinho dos descolados, o tal do FIB (Felicidade Interna Bruta).

Fui numa palestra dessa tal Susan no ano passado, em que ela falou desse índice criado no Butão (sim, não é sacanagem). Nem vale a pena aprofundar, mas o ponto é que dinheiro traz, sim, felicidade. Sem dinheiro não há saúde, educação, segurança, transporte, nem nada que propporcione uma qualidade de vida minimamente aceitável. Dinheiro também compra anti-depressivos e paga sessões de psicanálise. Agora… Se você trabalha 18 horas por dia e vê seus filhos a cada 15 dias para ganhar mais dinheiro, isso é outro problema: chama-se BURRICE (no seu conceito mais amplo).

Malandragem sutil

Posted in Ensaios de minha lavra, Evolução & comportamento by Raul Marinho on 29 outubro, 2008

Do site do ICED:

Não é novidade para ninguém que passamos por uma seriíssima crise ética na política brasileira, cujo epicentro localiza-se no Congresso Nacional. Desencadeada pela denúncia de um esquema de corrupção nos Correios envolvendo o então deputado Roberto Jefferson, todos os dias, há mais de seis meses, lemos e assistimos a novas denúncias sobre atitudes questionáveis envolvendo parlamentares. Um dos últimos lances deste jogo foi o constrangimento relacionado ao fato de que os cofres públicos foram obrigados a desembolsar mais de cem milhões de reais – a maior parte em salários extras para parlamentares – para que o Congresso funcione durante o recesso. Incrivelmente, os parlamentares conseguiram complicar ainda mais a questão com uma série de atitudes em relação ao destino dos recursos extraordinários que receberam. Agora que a questão parece estar encerrada em função das mudanças na legislação sobre os pagamentos de salários extras aos parlamentares, é o momento oportuno para analisarmos a questão retrospectivamente.

Diz-se que, em mandarim, o ideograma utilizado para escrever “crise” é a junção dos símbolos de “risco” (ou “perigo”) e “oportunidade”. Desconheço algum parlamentar que seja fluente no idioma chinês, mas a grande maioria é mestre em fazer de limões, limonada. Percebendo uma janela para a autopromoção, vários deputados e senadores resolveram abrir mão dos salários extras e, numa atitude supostamente ética, decidiram devolver seus salários. Alguns demoram semanas para decidir se são ou não éticos – como se essa pudesse não ser uma decisão imediata. Isso fez com que estes parlamentares fossem furtivamente surpreendidos por vis procedimentos burocráticos que os impediram de abrir mão de seus salários em prol do bem comum. Porém, firmemente imbuídos de espírito cívico, não se renderam aos pormenores administrativos da Casa a que pertencem, e entregaram seus rendimentos líquidos a entidades supostamente filantrópicas. Alguns, ainda, preferiram doar seus salários mesmo dentro do prazo hábil para a recusa formal sob o argumento de que, se eles abrissem mão de receber salários, isso implicaria em contribuir com a nefasta política neoliberal do governo.

O resultado disso é que se chegou a um largo espectro de comportamento entre os parlamentares: os que nada fizeram, os que se recusaram a receber salários, os que doaram seus rendimentos por perda de prazo, e os que doaram por inclinação ideológica. Dentre os que doaram seus salários, percebeu-se depois que havia alguns problemas. Alguns foram acusados de comprar recibos de valor superior ao efetivamente doado, e outros chegaram até a doar recursos a entidades administradas por eles mesmos – o que podemos chamar de “limonada suíça” (nada a ver com o fato da Suíça ser um notório paraíso fiscal). No fim da história, todos atacaram todos: quem nada fez, acusou de hipocrisia quem devolveu; quem devolveu disse que quem doou pecou; quem doou para o Instituto A alegou que quem fez o mesmo para o B foi desonesto; e assim por diante.

Muita gente acha que ética é preto ou branco, e da mesma maneira que não existiria meia gravidez, também inexistiria uma zona moralmente cinzenta. Pelo que se apreende das declarações dos parlamentares, entretanto, tem-se a impressão oposta: existiria, sim, uma gradação ética, mas o ponto de corte que separa os honestos dos desonestos varia e acordo com o gosto do freguês. Não é intenção desse artigo “fulanizar” a questão, muito menos estabelecer critérios de conduta ética para parlamentares. O que este artigo se propõe é somente analisar alguns aspectos dos diferentes jogos que ocorrem entre os parlamentares e a opinião pública (ou entre eles mesmos) com as ferramentas combinadas do darwinismo e da teoria dos jogos.

Os jogos principais são os que se desenrolam entre os parlamentares e seus eleitores. Sendo este um ano eleitoral, esses jogos são particularmente importantes, o que se comprova com um simples raciocínio hipotético. Imagine que um deputado tenha um mandato de 20 anos, e que este ano seja um dos primeiros anos de sua legislatura. Neste caso, seria de se esperar que houvesse uma taxa de adesão à recusa em receber salário muitíssimo menor que num caso em que os mandatos são de quatro anos e eles estejam a menos de doze meses das eleições. Essa obviedade nos indica que, dependendo dos custos e benefícios envolvidos no jogo, a decisão de um jogador pode ser uma ou outra – em “teoriadojoguês”, poderíamos dizer que o equilíbrio do jogo varia de acordo com os pay-offs envolvidos. No caso real (mandatos de 4 ou 8 anos e eleições próximas), o equilíbrio tende a ser cooperativo: o parlamentar coopera com o eleitor, “agindo de forma ética” (recusando-se a receber os salários ou doando seus proventos) na esperança que o eleitor coopere com ele em outubro próximo (digitando seu respectivo número na máquina de votar). Isso é o oposto do que se espera que aconteça na hipótese acima proposta (a dos 10 anos de mandato), pois como o parlamentar sabe que sua “ação ética” de hoje será ignorada daqui a 19 ou 18 anos, ele não tem motivos racionais para cooperar com o eleitor. Alguns parlamentares poderiam cooperar mesmo assim, e devolveriam o dinheiro ainda que tivessem mandatos vitalícios, mas isso seria uma exceção tão rara quanto esperarmos que um banqueiro empreste dinheiro para uma entidade sem capacidade de pagamento e sem garantias – como, aliás, parece ter sido a forma que ocorreram os “empréstimos” ao PT.

Da mesma forma, os jogos coadjuvantes também terão seus resultados dependentes dos respectivos pay-offs. Nas relações entre os parlamentares – jogos muito parecidos com o onipresente “Dilema dos Prisoneiros” –, o equilíbrio tende a ser não cooperativo, mesmo entre deputados do mesmo partido. Um parlamentar, ao se recusar a receber seu salário, está agindo contra os interesses de seu colega, independente do que este faça. A “ação ética” de um parlamentar (recusar-se a receber o salário) implica em perda para seu colega que também é “ético” uma vez que haverá um “empate ético” frente ao eleitorado. Como o eleitor só vota em um nome, e ambos “agiram eticamente” nessa questão, a não-cooperação mútua não privilegia ninguém. Porém, também é possível que deputados que dividam o mesmo eleitorado entrem em um acordo do tipo “eu não devolvo e você também não”, tornando o jogo entre eles cooperativo. Isso equivaleria a permitir que os criminosos do “Dilema dos Prisioneiros” conversassem entre si antes de tomarem suas decisões. Essa estratégia é tão mais factível quanto menor for o número de deputados dividindo um mesmo eleitorado (deputados de Roraima teriam muito mais chances de sucesso que deputados paulistas, por exemplo), e seria bem menos aplicável aos senadores, que nessa eleição irão disputar uma única cadeira.

Esse tipo de acordo (“eu não devolvo, você também não”), assim como o jogo principal entre parlamentares e eleitores, podem ser entendidos como jogos de “altruísmo recíproco”. Estudiosos da evolução do comportamento utilizam freqüentemente esse mecanismo para explicar porque determinadas espécies agem de forma mutuamente cooperativa mesmo sem vínculos de parentesco, como os morcegos hematófagos. Esses animais vivem do sangue coletado em caçadas noturnas freqüentemente infrutíferas, mas os que têm sucesso usualmente dividem o sangue obtido com seus colegas menos afortunados, uma vez que, no futuro, a situação pode ser inversa. Entre primatas, esse tipo de comportamento também é muito comum, e um bom exemplo são os chimpanzés. Nossos primos são organizados em bandos com clara liderança dos chamados machos-alfa, que conquistam o posto de primazia em acordos políticos também baseados em mecanismos de altruísmo recíproco, seja na coalizão com líderes subalternos (os machos beta e gama), seja na conquista de simpatia da maioria dos componentes do grupo. Quando o bando está em “época de eleição” – ou seja, quando o posto de macho-alfa está em disputa –, pesquisadores notaram que os candidatos a líder distribuem frutas e são amistosos, comportamento que cessa quando a liderança se consolida. Não por acaso, compartilhamos cerca de 99% dos genes com essa espécie.

Ocorre que o mecanismo do “altruísmo recíproco” não elimina conflitos, pelo contrário. Se compararmos a eficiência de dois indivíduos agindo isoladamente, percebe-se nitidamente que a cooperação mútua traz um resultado melhor para ambos, e é por isso que várias espécies, inclusive a humana, praticam atos mutuamente vantajosos, como a caça cooperativa. Entretanto, também é fato que aquele que recebe um favor e não retribui leva vantagem sobre aquele que retribui um favor recebido. Por isso, é muito comum entre as espécies que agem de forma mutuamente cooperativa haver severa retaliação contra indivíduos que rompem o ciclo de trocas altruístas. Um morcego que recebe sua cota de sangue de um outro componente do bando em uma noite de má sorte e não retribui quando a coleta lhe seja favorável dificilmente vai ser alimentado de novo, pelo menos por aquele que lhe ajudou inicialmente. Casos de reiterada recusa em retribuição podem ser punidos com agressão física ou o ostracismo, que é a exclusão permanente ou temporária do convívio no bando, o que não raramente significa a morte do animal excluído.

Animais sofisticados em termos de comportamento, porém, praticam uma outra forma de trapaça, muito mais sutil: eles “fingem” que são cooperativos quando, na verdade, não pretendem retribuir o favo recebido. Entre certas espécies de pássaros, por exemplo, esse comportamento está fartamente documentado, como os casos de fêmeas que “traem” seus parceiros. Nesses casos, o macho se esforça para prover a fêmea de alimento enquanto esta deveria estar chocando os ovos do casal, mas exames de DNA da prole comprovaram que grande parte da ninhada não pertence ao macho, que fora “enganado” durante uma de suas intermináveis buscas por alimento. Entre humanos, esse tipo de estratégia também é muito comum, não só nas relações reprodutivas. É precisamente isto o que está ocorrendo neste momento no Congresso brasileiro.

Do modo com que a imprensa abordou a questão, ficou claro que abrir mão do salário seria uma atitude bem vinda junto à opinião pública. Como o salário extra recebido seria da ordem de R$25mil, a pergunta que um deputado racional se faria é “parecer ético frente ao meu eleitorado neste momento vale mais que R$25mil?”. Analisados os custos e benefícios, o deputado que concluir que a resposta é “sim, vale a pena abrir mão de R$25mil para parecer ‘ético’ frente ao um eleitorado” agirá contra seu próprio interesse econômico para maximizar seu ganho no longo prazo. Mas, em um segundo momento, esse deputado racional percebe que pode fazer um negócio ainda melhor: parecer “ético” junto à opinião pública sem gastar R$25mil! Eureka!!! Para isto, basta comportar-se como se fosse ético, sem sê-lo de fato. Por exemplo: obtendo um recibo de doação “fria”, ou – o melhor dos mundos – doando para si próprio. Esse é um comportamento análogo ao do pássaro do parágrafo anterior.

Robert Trivers, o zoólogo estadunidense que descreveu o mecanismo do “altruísmo recíproco” e a evolução da imitação, porém, também notou que, em espécies organizadas dessa forma, verifica-se uma “corrida armamentista” entre imitadores de comportamento reciprocamente cooperativo e detectores desse tipo de comportamento. Em um formigueiro, por exemplo, não existe falsa cooperação: formigas são cooperadoras incondicionais que jamais traem suas companheiras. Já entre mamíferos, aves e peixes – dentre outros animais –, a retribuição da cooperação é incerta, e mecanismos de “malandragem” são freqüentes. Isso é particularmente verdadeiro na nossa espécie, uma das mais pródigas nesse tipo de comportamento embusteiro (mas não a única).

Na atual crise da convocação extraordinária do Congresso, esse fato pôde ser verificado por quem acompanhou os noticiários na imprensa. Quem teve a pachorra de ler jornais ou acompanhar o noticiário na internet ou na TV durante as férias certamente presenciou inúmeras declarações de políticos, jornalistas e analistas apontando quem tentou se fazer passar por “ético” sem abrir mão efetivamente do salário. Iniciou-se um movimento de caça às bruxas parecido com o do meio do ano passado, quando vários parlamentares foram apontados como “mensaleiros”. Sob a ótica da evolução do comportamento, isso é uma típica “corrida armamentista” entre imitadores de comportamento mutuamente cooperativo e detectores do comportamento embusteiro.

O problema é que essa “corrida armamentista” é ruidosa e maléfica para os parlamentares, sejam eles “éticos legítimos” ou imitadores. No jogo principal entre a classe política e a opinião pública, não interessa a nenhum parlamentar esse novo desgaste, principalmente às vésperas de uma nova eleição. Numa Câmara recentemente presidida por um personagem do calibre de um Severino Cavalcante, novos escândalos são um prato cheio para o crescimento de pára-quedistas, do “voto Cacareco”, e de outras conseqüências danosas a todos os 513 deputados e 81 senadores. O resultado disso foi a aprovação em tempo recorde da eliminação do pagamento dos salários extras, num efêmero acordo entre praticamente 100% do Congresso.

(escrito em 2005)

Luís Inácio Marolinha da Silva

Posted in Atualidades, Just for fun by Raul Marinho on 29 outubro, 2008

Vamos ter um forte impacto na atividade econômica, na economia real, e no mundo todo vai desacelerar e isso está ficando nítido agora (Guido Mantega, hoje)

Melhores frases de Lula sobre a crise:

30 de março de 2008:”Bush, meu filho, resolve a sua crise”

17 setembro 2008: “Que crise? Pergunta para o Bush”

29 de setembro de 2008: “O Brasil, se tiver que passar por aperto,será muito pequeno”

30 de setembro de 2008:”A crise é muito séria e tão profunda que nós ainda não sabemos o tamanho”

22 de setembro de 2008:”Até agora, graças a Deus, a crise não atravessou o Atlântico”

4 de outubro de 2008:”Lá, a crise é um tsunami. Aqui, se chegar, vai ser uma marolinha, que não dá nem para esquiar”

O jogo da delação premiada

Posted in Ensaios de minha lavra, Evolução & comportamento by Raul Marinho on 29 outubro, 2008

Do site do ICED:

De acordo com a Teoria dos Jogos, um ramo da Matemática utilizado para modelar decisões interativas (quando a decisão de um interfere e é interferida pela decisão do outro), podemos entender porque o mecanismo da “delação premiada”, tão em moda nos noticiários ultimamente, pode ser um mecanismo eficiente na elucidação de crimes – particularmente as ações do chamado “crime organizado”. Vamos construir o raciocínio por meio do “Dilema dos Prisioneiros”, uma das formas mais populares utilizadas para se explicar o funcionamento de um “jogo” (aqui entendido como um modelo de decisão construído de acordo com a teoria dos jogos).

Imagine duas pessoas que, ao serem pegas cometendo um crime, são colocadas em salas separadas e sem possibilidade de comunicação entre si ou com qualquer outra pessoa, ocasião em que lhes são feitas propostas que devem ser decididas simultaneamente. O acordo proposto é o seguinte: se ambas ficarem caladas, a pena imposta será branda; se um confessa enquanto o outro se cala, aquele que confessa sozinho sai livre, enquanto que o que se mantém calado tem a pior pena de todas; e se ambos confessam, suas penas serão medianas. Se entendermos que a confissão significa trair o companheiro, e o silêncio é a cooperação, temos que este jogo – o “Dilema dos Prisioneiros” – tem um equilíbrio não-cooperativo, pois a melhor alternativa para cada um dos prisioneiros é confessar, mesmo que, à primeira vista, a cooperação mútua (quando ambos se calam) pareça ser a alternativa mais inteligente. Se o prisioneiro A pensar na sua decisão sob o ponto de vista das alternativas do prisioneiro B, ele perceberá que, se B trair (confessar), ele deverá confessar também, para evitar a pena mais severa; mas se ele achar que B irá cooperar (ficar quieto), ele também deverá confessar, pois assim sairá livre. O mesmo raciocínio se aplica no sentido contrário (do prisioneiro B para o prisioneiro A), e sob qualquer aspecto, o melhor que ambos podem fazer é confessar. Em teoria dos jogos, isto é chamado de “equilíbrio de Nash”: a melhor decisão possível tendo em vista a decisão do outro.

O equilíbrio não-cooperativo do “Dilema dos Prisioneiros” conforme apresentado, porém, torna-se cooperativo no caso de crimes cometidos por componentes de máfias. Isso porque, nestes casos, os participantes do jogo têm incentivos adicionais para ficarem calados (cooperarem). Primeiro: a delação tende a ser severamente retaliada, geralmente com a morte do delator. Segundo: máfias, muito freqüentemente, têm um mecanismo previdenciário para ajudar a família do quadrilheiro preso. Ou seja: se o prisioneiro mafioso confessar, ele pode ser morto e, mesmo que consiga se esconder, sua família perderá a ajudar que teria direito se ele se mantivesse fiel à quadrilha. Estes fatores, inexistentes no “Dilema do Prisioneiro” clássico, alteram o resultado do jogo, transformando-o em cooperativo, razão pela qual a taxa de traição entre mafiosos é muito menor do que entre criminosos comuns.

Neste contexto, o “prêmio” da “delação premiada” – redução de pena, proteção especial ao criminoso e seus familiares etc – funciona como um agente para redefinir o equilíbrio do jogo, de cooperativo para não-cooperativo. Trata-se de um mecanismo muito inteligente para desmontar o acordo tácito que existe em grupos mafiosos que protegem seus componentes da delação. Não sei se os teóricos do direito criminal que conceberam este mecanismo se utilizaram da teoria dos jogos em seus estudos, mas que é uma belíssima aplicação do “equilíbrio de Nash”, lá isso é.

Aborto, estupro & outras polêmicas

Posted in Ensaios de minha lavra, Evolução & comportamento by Raul Marinho on 29 outubro, 2008

Do site do ICED:

Recentemente, na Argentina, ocorreu um fato dramático: uma jovem de 21 anos matou seu próprio filho, gerado em decorrência de um estupro, e foi condenada a 14 anos de prisão. Trata-se, inegavelmente, de uma gigantesca tragédia: infanticídios são sempre trágicos, e se o autor for o próprio pai ou a mãe, tanto pior. Mas, independente da comoção que o fato gera, também podemos refletir sobre este evento sob outros aspectos. Se os mecanismos evolucionários favorecem o investimento de recursos nos filhos, como se explica o assassinato de um filho pela mãe? No artigo anterior, abordamos o mecanismo da Seleção pelos Consangüíneos, segundo o qual deveria haver cooperação entre pais e filhos, não o assassinato. Sendo assim, como a Evolução poderia explicar esta tragédia?

Para entendermos por que este fato ocorreu, temos que ter em mente que o mecanismo da Seleção pelos Consangüíneos está baseado no pressuposto do “gene egoísta”, ou seja: ele existe porque favorece a disseminação do patrimônio genético do próprio indivíduo na população. Se eu coopero mais com meu filho que com meu sobrinho, e meu filho tem 50% de meus genes – contra 25%, no caso do meu sobrinho –, cooperar mais com meu filho do que com meu sobrinho terá um efeito positivo na perpetuação de meus próprios genes. Mas, em determinadas situações, a cooperação com o filho pode diminuir a probabilidade de disseminação dos genes do indivíduo na população, e parece-me que a tragédia ocorrida na Argentina seria um desses casos.

Naquele evento, temos que atentar para dois aspectos: 1)A mãe é muito jovem e pobre; e 2)A gravidez foi gerada por estupro. Sendo vítima de um estupro, a mãe teria que arcar sozinha com os custos da criação de seu filho e, sendo pobre, não teria condições de investir em outros filhos além do primeiro. Desta forma, o que teríamos é um agudo conflito de interesses entre mãe e filho, agravado pela juventude desta, que teria sua capacidade reprodutiva seriamente afetada pelo fato de ter que investir em um filho sem ajuda do pai. Em termos reprodutivos, a atratividade desta mulher estaria seriamente diminuída na medida em que seus eventuais parceiros seriam desestimulados em escolhê-la, haja vista a sobrecarga representada pelo investimento em seu primeiro filho.

Isto nos leva a uma segunda reflexão sobre o tema. Como se sabe, o aborto é proibido no Brasil, salvo raras exceções. Mesmo no caso do feto não possuir cérebro – o que impede a vida extra-uterina –, o aborto ainda não é legalmente permitido, o que dá uma idéia do quão difícil é aprovar dispositivos legais pró-aborto no nosso país. Uma destas exceções se aplica aos casos em que existe grave risco de vida para a gestante, o que me parece bastante razoável, uma vez que, se a mãe morrer, também morrerá o feto. A outra é em caso da gravidez ter sido gerada por um estupro. À primeira vista, fica difícil entender porque não se permite o aborto de um feto sem chances de sobrevivência (o anencéfalo), mas é legalmente autorizado abortar um feto perfeitamente saudável, se gerado por estupro.

Ocorre que, analisando o desfecho trágico do fato ocorrido na Argentina, percebe-se que a permissão do aborto em caso de estupro no Brasil faz todo sentido simplesmente porque está coerente com nossas necessidades evolucionárias. A despeito de toda a discussão ética, moral e religiosa que cerca o tema, a interrupção de uma gravidez gerada por estupro deve realmente ser permitida para que não ocorra situação ainda pior, como a tragédia da Argentina.

Nepotismo

Posted in Ensaios de minha lavra, Evolução & comportamento by Raul Marinho on 29 outubro, 2008

Originalmente, o nepotismo se referia aos privilégios concedidos aos parentes do papa, mas esse é um assunto bem mais antigo que os papas ou mesmo que a religião católica. Quer saber mais? Leia o artigo abaixo, originalmente publicado no site do ICED:

Poucos assuntos são tão inflamáveis quanto os relacionados às relações de parentesco, e não é para menos: nos milhões de anos de nossa história evolutiva, a habilidade em influenciar o sucesso dos nossos aparentados foi decisiva para o sucesso da nossa própria espécie. A inclinação pelo favorecimento de parentes é um traço comportamental presente na maioria dos animais sociais, de acordo com a “Kin Selection” (“Seleção pelo Parentesco”, ou, mais corretamente, “Seleção de Consangüíneos”, já que se trata especificamente do parentesco genético), uma teoria desenvolvida no departamento de zoologia de Harvard. Segundo William Hamilton, o autor desta teoria, cooperar mais com indivíduos mais proximamente aparentados influencia diretamente as chances de perpetuação dos genes do próprio indivíduo. Considerando que eu compartilho 50% de meus genes com meu filho, se eu aumento as chances de sucesso dele, eu estou ajudando metade do meu patrimônio genético a se perpetuar na população. Mais do que o sucesso específico do meu filho, isoladamente, é ainda mais interessante que ele produza uma legião de filhos (meus netos), que herdarão 25% dos meus próprios genes. Milhares de gerações de indivíduos que apresentavam ou não apresentavam este comportamento acabaram por selecionar aqueles mais hábeis em influenciar positivamente no sucesso dos mais proximamente relacionados. Ou seja: este foi um comportamento que maximizou da taxa de sucesso em termos de “inclusive fitness”.

Apesar de grande parte dos cientistas sociais achar que comportamentos cooperativos entre pais e filhos devem ter sido elaborados por algum sábio da antiguidade – que, em um retiro espiritual nas montanhas do Tibet, teve o genial insight de instituir normas sociais sobre as relações cooperativas entre aparentados –, entendo que a explicação evolucionista é bem mais sensata. Como se não bastasse este ser um comportamento encontrado em qualquer cultura de qualquer época, ele também é amplamente difundido entre animais não-humanos. Apesar disso, ainda persiste uma certa dificuldade em enxergar questões relacionadas à seleção pelo parentesco (lato sensu) pela ótica evolucionista, por mais evidentes que sejam. Consideremos um dos exemplos mais evidentes e atuais sobre discussões relacionadas ao tema: o debate sobre o nepotismo, que vem consumindo oceanos de tinta dos jornais ultimamente.

Políticos de diferentes partidos e convicções ideológicas têm sido flagrados contratando parentes na administração pública. Entrevistados, normalmente não se lembram dos fatos, mas quando confrontados com documentos que comprovam o nepotismo, costumam justifica-se argumentando em três grandes linhas de raciocínio:

-“Meu filho é um dos mais competentes profissionais da área, por que não aproveitar sua capacidade na construção de um Brasil melhor?”;

-“Seria um preconceito e uma violação ao principio constitucional de que todos são iguais perante a Lei não contratá-lo”;

-“É dever do pai – se este for um bom pai – agir para que seu filho tenha as melhores oportunidades de crescimento profissional e financeiro”.

O discurso do tipo 1 é dos mais frágeis. Seria algo extraordinário o fato de que um político, recém alçado, digamos, ao Ministério da Saúde, ter, coincidentemente, um filho pós-doutorado em saúde pública. Coincidências acontecem – e, justamente por isso, trata-se de uma coincidência, caso contrário seria rotina –, mas são raras, raríssimas (e improváveis). A segunda linha de argumentação tem uma lógica positivista impecável. Tão impecável que eu sugiro que se faça um bingo para escolher os ocupantes de cargos públicos, evento em que todos poderiam se inscrever, inclusive os filhos de políticos. Será que os políticos topariam? A terceira – aliás, a mais in no momento – está baseada no princípio da seleção pelo parentesco (strictu sensu), mesmo que seus principais defensores não sejam versados em Evolução ou Etologia. Paradoxalmente, os maiores defensores da seleção pelo parentesco de hamilton aplicada à gestão pública são criacionistas, mas esta é uma outra história…

Quando um político diz ser dever de pai contratar seu filho, ele está usando um discurso sensato para a opinião pública: o homem comum também faria o mesmo se pudesse. E a sensatez deste argumento reside na lógica evolucionista, mesmo que também seja uma verdade o fato de que o nepotismo é uma prática eticamente condenável e perniciosa à sociedade. Ao meu ver, o grande problema no combate ao nepotismo não é a edição de leis que o impeçam, mas como forçar alguém a agir de forma contrária a comportamentos evolucionariamente eficientes.

Já se tentou apelar para práticas anti-nepotismo exóticas, como na China imperial, que restringia cargos públicos para eunucos, mas isso também não funcionou, já que eunucos podem não ter filhos, mas têm sobrinhos, tios, primos… Na minha opinião, o mais sensato a fazer é dar ampla publicidade aos atos nepotistas, divulgando ostensivamente quem assim age, quantas pessoas contrata, quanto ganha cada um dos contratados etc. Na realidade, a grande arma para combater o nepotismo é a própria teoria evolucionista. Se a cooperação entre parentes é um comportamento evolucionariamente eficiente, também pode ser adaptativo agir de maneira contrária em determinados casos. Se o comportamento nepotista de um indivíduo for amplamente divulgado e combatido, pode ser adaptativo não ser nepotista, pois isso minaria a coesão do grupo, e prejudicaria o próprio beneficiário do nepotismo. Ou seja: a publicidade do comportamento nepotista pode funcionar como uma punição para quem assim age, tornando o comportamento anti-nepotista mais vantajoso em termos de estratégia evolutiva. A Evolução, ao contrário da reputação de teoria “fatalista” alardeada pelo senso comum, na verdade nos traz novas estratégias para resolver velhos problemas.

Cassinos X Bolsas de Valores

Posted in Atualidades, Ensaios de minha lavra by Raul Marinho on 29 outubro, 2008

Interessante como o jornalismo econômico adora comprar as bolsas de valores aos cassinos, especialmente em momentos como o atual, de crise e altas oscilações. Na verdade, a comparação é totalmente sem sentido, a não ser pelo fato de que, tanto na bolsa, como nos cassino, existem jogos sendo jogados. A seguir, cinco diferenças (depois publicarei outras):

1) As bolsas de valores em si são somente os lugares onde ocorrem as transações de compra e venda de ativos financeiros. Ninguém investe na bolsa propriamente dita (a não ser nas ações da “empresa bolsa de valores”, mas aí é outra história), somente nas ações, commodities e demais ativos ali negociados.

2) Os cassinos, por sua vez, são entidades participantes do jogo: quando alguém joga na roleta, ele está jogando contra o cassino. Existem casos em que o cassino somente intermedeia jogos, como nos casos dos campeonatos de pôquer, gamão etc., aí sim numa postura parecida com a das bolsas de valores. De qualquer maneira, não é isso o que os jornalistas pensam quando se referem às bolsas como cassinos.

3) Supondo um cassino 100% honesto e um jogo totalmente aleatório (ex. roleta), ganha quem tiver mais sorte. Se você apostar no ‘vermelho 21’ e der ‘vermelho 21’, você ganha; se der qualquer outro resultado, você perde, independente da taxa de juros do Banco Central, da cotação do petróleo em Londres, ou do lucro do Bradesco no trimestre. Já as ações negociadas na bolsa dependem de uma combinação imensa de fatores externos a ela própria (e alguns internos) para determinar quem ganha e quem perde.

4) Os jogos nos cassinos são sempre de soma negativa: se você somar todos os ganhos e todas as perdas de todos os jogadores, vai perceber que o total das perdas é superior ao total dos ganhos (a diferença é o lucro do próprio cassino). Já as bolsas, embora fiquem com uma parcela do valor transacionado (a corretagem), podem ter dias de soma negativa, outros de soma positiva, mas a tendência é que sejam de soma zero: o ganho de um é equivalente á perda de outro.

5) Alguns jogos de cassino, como o blackjack (vinte-e-um), têm estratégias com semelhança restrita a operações realizadas em bolsas de valores, como as apostas em opções de compra ou venda. Se você tiver 20 pontos e arriscar a pegar mais uma carta, você terá grandes chances de “estourar”, mas se pegar exatamente um ponto, seu jogo será quase imbatível; na bolsa, você pode segurar uma opção prestes a “virar pó” e ganhar muito dinheiro, mas a chance de perder tudo é gigantesca.

Jogo dos sete erros

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 29 outubro, 2008

Leia o artigo do Clóvis Rossi, abaixo, e veja se encontra os sete erros do texto:

A Volks e o cassino

Você abre o jornal de manhã e ousa percorrer a coleção sem fim de tragédias que é, hoje, o noticiário econômico. Lá na undécima página, fica sabendo que a Volkswagen vai conceder férias coletivas de dez dias para 1.800 funcionários da unidade de São José dos Pinhais (PR).
Aí, pensa, distraído: “Vixe, essa empresa está indo pro vinagre”.
Que nada, companheiro. É justamente o contrário: pelo menos ontem, a Volks (a mundial) tornou-se a companhia de maior valor de capitalização no planeta (ou seja, o valor de todas as suas ações na Bolsa de Valores superou o de qualquer outra instituição, inclusive a portentosa Exxon).
Como é possível, se a indústria automobilística é a segunda maior vítima da crise global, logo atrás da construção/imóveis? Trata-se apenas de um exemplo “das distorções que se produzem hoje em dia nos mercados”, diz Juan José Ruiz, o economista-chefe do Santander (na Espanha).
Se, em vez de distorções, falasse em cassino, estaria mais perto da realidade. Acontece que “hedge funds”, esses que vão apostando em vários ativos, para defenderem-se de eventuais perdas em um deles, decretaram que as cotações da VW permaneceriam em queda. Aí vem a Porsche e anuncia que quer aumentar a sua fatia na Volks. O pessoal dos “hedge funds” correu desesperado para cobrir suas posições e cada ação da montadora voou dos 210 da sexta-feira para 1.005 em dado ponto de ontem.
Uma coisa, portanto, é a vida real, em que férias coletivas significam queda nas vendas. Outra coisa, bem diferente, é o cassino, em que férias coletivas nada significam. É por isso -entre outras mil razões- que, cada vez que vejo economista fingindo que faz análises lógicas sobre o mercado, levo a mão ao coldre.
Não que tenha um revólver, mas, nessas horas, dá vontade de ter.

Agora, o gabarito:

1)Férias coletivas não tem nada a ver com “empresa indo pro vinagre” (a não ser na cabeça do CR). Trata-se de uma decisão administrativa que pode ser tomada por N fatores, e o fato de alguma empresa conceder férias coletivas não significa nada por si só.

2)”Companhia de maior valor de capitalização”??? De onde vem essa expressão? Ainda bem que o autor a explica entre parêntesis.

3)Desde quando a indústria automobilística é a “segunda maior vítima da crise global”? A crise é FINANCEIRA, ô Clóvis!!! Quem está quebrando são os bancos, os fundos, as companhias de financiamento imobiliário, as seguradoras e demais empresas financeiras. Lógico que todas as demais empresas também estão sendo afetadas, mas falar que o setor automobilístico está no epicentro da crise é uma bobagem sem tamanho.

4)Êita mania de comparar bolsas a cassinos… Não tem nada a ver, até por que a maior parte dos jogos dos cassinos são absolutamente randômicos, enquanto as bolsas sobem e descem simplesmente poir mudanças nos pontos de equilíbrio de oferta e demanda, estes dependentes de expectativas.

5)Hedge funds “decretam” o quê, señor Clóvis??? Tá maluco??? Para começo de conversa, os fundos não pensam todos iguais, pelo contrário. E, como todo player do mercado, os fundos simplesmente compram ou vendem ativos de acordo com o preço de mercado, nada mais que isso…

6)As ações da VW quintuplicaram de preço porque a Porsche anunciou seus planos em aumentar a participação na empresa, certo? (Pelo menos, foi isso o que disse o CR). Logo, isso não tem nada a ver com o “jogo sujo dos hedge funds”, não é óbvio???

7)Voltando ao primeiro erro, agora o CR “decreta” que férias coletivas significam queda nas vendas (embora isso possa ser um dos motivos, não há nada que comprove isso). Depois, ele fecha o raciocínio dizendo que no “cassino”, férias coletivas nada significam, sendo que ele acabou de dizer que o aumento do preço das ações da VW havia sido causada por uma decisão da Porsche… Isso sem entrar no mérito que férias coletivas em uma unidade produtiva absolutamente secundária para uma empresa do porte de uma VW nada tem a ver com o preço das ações na Alemanha.

Assim como o CR, também gostaria de ter um revólver. Só que para atirar em jornalista metido a analista econômico.

Flagrantes do mundo atual

Posted in Atualidades, Just for fun by Raul Marinho on 28 outubro, 2008

O presidente do Federal Reserve, pensando na crise financeira global…

…O Ministro da Fazenda do Brasil, investigando o problema de crédito…

…E um analista financeiro tentendo entender o que está ocorrendo.