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O hoje e o amanhã para o cérebro

Posted in Evolução & comportamento by Raul Marinho on 26 abril, 2010

Excelente artigo sobre economia comportamental publicado na Folha de ontem (reportagem de Ricardo Mioto):

Áreas cerebrais disputam decisão de gastar ou poupar

Sistema pode explicar fé religiosa do esforço em vida para recompensa pós-morte

Experimento mapeou os cérebros de voluntários em um teste no qual deveriam escolher entre consumir ou economizar seus recursos

Um estudo de mapeamento cerebral pode ajudar a entender a diferença entre o cérebro de uma pessoa esbanjadora, que gasta dinheiro como se cada dia fosse o último, e o de um pão-duro crônico, que apenas poupa, sem aproveitar o que juntou. Os mecanismos que interagem quando uma pessoa decide entre consumir ou armazenar o recurso, dizem os cientistas, são os mesmos que embasam a fé religiosa de alguém que se esforça em vida para ter o paraíso após a morte.

O que os neurocientistas da Universidade de Hamburgo, na Alemanha, fizeram foi observar a atividade cerebral de voluntários enquanto tomavam decisões financeiras. Elas envolviam escolher entre receber menos dinheiro imediatamente ou uma quantia maior dentro de alguns meses. Enquanto isso, eram estimulados a pensar em eventos do futuro, como longas viagens de férias ou cursos caros que desejariam fazer.

Os pesquisadores puderam, assim, mapear as áreas do cérebro que trabalham para decidir entre receber uma recompensa agora ou esperar por algo melhor amanhã. Duas são importantes. Grosso modo, uma é mais imediatista, e a outra faz o papel de chata, trazendo a lembrança de que não se pode pensar apenas no presente.

O córtex cingulado anterior é quem responde à recompensa, uma área muito ligada à tomada de decisões. Se ela faz peso para que escolhas impulsivas sejam feitas, o hipocampo, outra parte do cérebro, entra na briga contra isso. Ele é o responsável por criar imagens do futuro na mente humana -é a parte do cérebro que faz com que as pessoas contratem planos de previdência, digamos.

O hipocampo envia, então, esses sinais relacionados à recompensa futura para o córtex cingulado anterior, influenciando a tomada de decisão.

“Imaginar com força o futuro acaba reduzindo a quantidade de escolhas impulsivas que fazemos”, diz Jan Peters, um dos neurocientistas que assinam o trabalho na revista “Neuron”.

Os pesquisadores ainda estão apenas descobrindo quais partes cerebrais atuam avaliando o custo-benefício de esperar o tempo passar e não sabem bem como diferenças individuais entre cérebros podem justificar perfis mais esbanjadores ou econômicos. Mas é possível que um hipocampo mais ativo, por exemplo, faça com que certas pessoas criem mais imagens ligadas ao futuro nas suas mentes, dizem os cientistas.

Apesar de o estudo envolver escolhas relacionadas a dinheiro, acredita-se que os mesmos circuitos do cérebro estejam envolvidos em outras decisões. Um dos exemplos pode envolver a religião. Quando um fiel se flagela expiando seus pecados para escapar do inferno, está tomando uma decisão pensando em vantagens futuras.

A ideia de “renúncia agora, paraíso depois” faz parte das cinco maiores religiões do mundo, lembra o economista Eduardo Giannetti, autor de “O Valor do Amanhã”. “Foi esse raciocínio que levou à condenação, no séc. 4º, do suicídio como “atalho” para o paraíso, prática corrente nos primeiros séculos do cristianismo”, diz.

Humanos têm maior habilidade em trocar o presente pelo futuro do que os animais, que se assemelham mais a crianças pequenas. Elas vivem o momento, sem pensar em guardar papinha para depois. Animais, porém, também sabem adiar recompensas. Roedores, por exemplo, sabem enterrar comida e são poupadores natos.

Negacionismo tropical

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 21 abril, 2010

Leio na Folha de hoje que os “negacionistas” (estou me referindo aos céticos em relação ao aquecimento global, nada a ver com os negadores do holocausto) são maioria absoluta no Brasil: “Mais de 90% dos brasileiros aceitam que o aquecimento é real e, para 75% dos entrevistados, as atividades humanas contribuem “muito” para as mudanças climáticas.”. (Assinante lê a reportagem completa aqui).

Bem… Minha opinião é que pode ser que o planeta esteja efetivamente em aquecimento, e não há dúvidas que devemos diminuir nossas emissões de poluentes, assim como é evidente que, em algum grau, o homem tem impacto sobre o clima. Mas, partindo disto, para chegar à afirmação de que a ação do homem é determinante para o aquecimento global, há uma longa caminhada. Que não foi percorrida, entendo eu.

Um amigo esses dias me disse que esses terremotos que estão a ocorrer nos últimos meses (do Haiti para cá) estariam sendo causados porque o homem, ao extrair grandes quantidades de petróleo e gás, criaria bolsões de ar que desmoronariam, gerando os tremores. Mais ou menos o que diz a comentarista deste blog aqui:

ISSO É SINAL DE QUE NINGUÉM ESTÁ LIVRE DOS ACOMODAMENTOS DA TERRA.
OS GOVERNANTES DEVERIAM PENSAR MELHOR NA EXPLORAÇÃO DO PRÉ SAL, POIS UMA VEZ RETIRADO O PETROLEO ALÍ EXISTENTE, O QUE SERÁ QUE ELES VÃO COLOCAR NO LUGAR PARA PREENCHER A LUCUNA DEIXADA.
SERÁ QUE A NATUREZA ESTÁ AI PARA CERTAS MUDANÇAS ?
SERÁ QUE NÃO EXISTE OUTRAS SAIDAS A NÃO SER DESCOBRIR PETROLEO E EXPLORAR O FUNDO DO MAR PARA QUE AS MONTADORAS POSSAM VENDER MAIS E MAIS VEICULOS ?
PENSE BEM !!!
DEUS PERDOA SEMPRE. OS HOMENS ÀS VEZES.
A NATUREZA NUNCA…………

Comentário por GUILHERMINA — terça-feira, 26 de janeiro de 2010 @ 9:42 am

Esse pensamento da sra/srta Guilhermina muito provavelmente ecoa na população em geral. Se parcela considerável das pessoas acredita em OVNIS, assombrações, magia, etc., por que não em “bolsões de ar”? E porque não em “nuvenzona atrapalhando a temperatura na Terra”?

O verdadeiro problema da escravidão

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 8 abril, 2010

O Elio Gaspari, colunista da Folha, tem por hábito escrever textos que emulam uma certa psicografia cibernética, digamos assim. O texto simula um e-mail enviado por alguém do além – por exemplo: “De juscelino@gov para raul@com”, se fosse uma mensagem do ex-presidente JK para mim. Ontem, o título foi “De Cazemiro@edu para Demóstenes.Torres@gov”, simulando o que o ex-escravo do século XIX Cazemiro teria a dizer para o senador Demóstenes Torres, aquele que disse sobre a escravidão brasileira que “lamentavelmente, não deveriam ter chegado aqui na condição de escravos, mas chegaram…”. O texto é uma esculhambação do senador e seu ponto de vista sobre a origem dos escravos no Brasil. Assinantes da Folha têm acesso ao texto integral aqui.

O que o senador quis dizer é que a ORIGEM da escravidão estava na África, uma vez que os escravos que aqui chegaram já estavam escravizados na localidade original, pelos mais variados motivos: prisioneiros de guerra, endividados, etc. Gaspari, por sua vez, argumenta que, como os navios negreiros não eram africanos, não haveria escravos no Brasil não fossem os traficantes portugueses, ingleses e, após 1822, brasileiros. Vejamos, então, a coisa pelo ponto de vista que interessa: o do escravo.

Imagine-se um cidadão africano do século XVII da tribo X, que é capturado pela tribo Y, rival. Seu destino provável será o de a)acabar morto pelos seus inimigos; ou b)passar o resto dos seus poucos dias como escravo dos vitoriosos (escravidão, neste caso, mais parecida com a imposta aos judeus pelos nazistas do que a dos negros do Brasil colonial). Nesta situação, se você fosse vendido para um traficante português, suas chances de sobrevivência aumentariam, mesmo sendo forçado a atravessar o Atlântico num porão fétido, e mesmo subjugado por feitores sádicos. Então, para você, quem é o vilão da história, os seus inimigos africanos ou os traficantes europeus?

===>Atualização de 12/04 – Publicado0 na Folha de hoje, de autoria do senador Demóstenes Torres: (more…)