Risco EUA?
De acordo com o artigo abaixo, do David Walker (ex controlador-geral das finanças públicas dos EUA) publicado no Financial Times, os títulos do governo estunidense estão em cheque – durante um período, os títulos do McDonald’s teriam sido avaliados como de menor risco que os do Tesouro dos EUA (!!!). Como será o mundo financeiro se os T-Bonds deixarem de ser AAA? Aí sim veremos uma crise complicada.
Classificação dos EUA sob risco
Os gastos com saúde e os desequilíbrios fiscais ameaçam a classificação AAA dada por agências aos EUA
MUITO ANTES da crise, quase dois anos atrás, uma nuvem negra não muito perceptível surgiu no horizonte do governo dos EUA. Foi ignorada. Mas agora aquela sombra, na forma de alerta vindo de uma das grandes agências de classificação de crédito no sentido de que o país corre risco de perder sua classificação AAA caso não comece a colocar as finanças em ordem, voltou para nos assombrar.
O alerta da Moody’s tinha por foco a disparada dos custos da Previdência e da saúde, que ameaçam afundar o governo em dívidas pelas próximas décadas. Os fatos mostram que estamos em forma ainda pior agora, e há sinais de que a confiança na capacidade dos EUA de controlar suas finanças está se abalando.
Os preços dos seguros contra inadimplência para títulos do Tesouro norte-americano subiram, o que significa que os investidores agora arcam com custo maior para proteger seus investimentos em papéis do Tesouro. Aliás, por um breve período, tornou-se mais caro comprar proteção para investimentos em títulos do Tesouro do que em papéis da McDonald’s. Outro sinal de alerta surgiu na China, onde o primeiro-ministro e o presidente do BC expressaram preocupação quanto à situação de crédito em longo prazo dos EUA e o valor do dólar.
A despeito da desaceleração econômica, os EUA dispõem dos recursos, do conhecimento e da resistência necessários a restaurar sua economia e cumprir seus compromissos. Além disso, muitos dos trilhões de dólares recentemente canalizados para o sistema financeiro com sorte resultarão em uma recuperação, o que estimulará a economia.
O governo dos EUA conta com a classificação AAA de crédito para seus títulos desde 1917, mas não se sabe por quanto tempo essa situação vai persistir. Na minha opinião, basta que aconteça uma ou duas coisas para que venhamos a perder nossa classificação de crédito impecável.
Primeiro, embora uma reforma abrangente da saúde seja necessária, ela não deve debilitar ainda mais as condições financeiras do país. Fazê-lo sinalizaria que a prudência fiscal está sendo ignorada, como resultado do esforço de atender às necessidades sociais, o que colocaria o futuro do país sob ameaça ainda maior.
Segundo, se o governo não conseguir desenvolver um processo que permita que escolhas duras quanto a gastos, impostos e controle de Orçamentos sejam tomadas quando superarmos a crise econômica, isso sinalizaria que o nossos sistema político não está à altura da tarefa de enfrentar os grandes desequilíbrios que teremos de encarar, tanto conhecidos quanto desconhecidos.
Como se poderia justificar uma nota AAA para uma entidade com passivo líquido acumulado de mais de US$ 11 trilhões e obrigações adicionais não contabilizadas de US$ 45 trilhões? Uma entidade que deve registrar déficits anuais de ao menos US$ 1 trilhão por ainda muitos anos?
A nação precisa promover uma reforma abrangente na saúde. Mas é importante que não voltemos a nos sabotar. Uma reforma deveria reduzir as imensas promessas de saúde que já temos, bem como os imensos e crescentes déficits estruturais que ameaçam o nosso futuro.
Uma forma de escapar a esses problemas é que o presidente e o Congresso criem uma “comissão do futuro fiscal”, em que tudo isso esteja em debate, incluindo controles de Orçamento, reformas em programas de benefícios e alta de impostos.
Temos de agir antes que venhamos a enfrentar crise econômica muito maior. Não devemos esperar pelo rebaixamento de nossa classificação de crédito. Para Washington, o momento de despertar é agora.
Já temos nosso primeiro Nobel
No final desse ano, teremos uma barbada nas indicações do Prêmio Nobel: nosso estimado presidente Marolinha, que acha que, por ter 84% de aprovação popular, tornou-se automaticamente um gênio. Pelo menos, é o que se espera ao ler essa matéria do Financial Times, publicada no BGrasil pelo UOL/BBC:
Lula diz no ‘FT’ que quer mundo livre de dogmas econômicos
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse esperar um mundo mais “humano” após a eventual recuperação da economia mundial em um artigo exclusivo na página de opinião do jornal “Financial Times” desta terça-feira.
Em artigo exclusivo ao jornal Financial Times, Lula disse esperar um mundo mais “humano” após a eventual recuperação da economia mundial
“Não estou preocupado com o nome que será dado à nova ordem econômica e social que virá depois da crise, desde que seu principal foco seja o ser humano”, diz Lula no jornal.
O texto faz parte de uma série de debates e artigos promovida pelo diário britânico sobre o futuro do capitalismo.
“Hoje ninguém ousa prever qual será o futuro do capitalismo”, afirma Lula. “Como líder de uma grande economia descrita como ‘emergente’, o que posso dizer é que tipo de sociedade espero que apareça depois desta crise… Tenho esperanças de um mundo livre dos dogmas econômicos que invadiram as ideias de muitas pessoas e que foram apresentados como verdades absolutas.”
“Políticas anti-cíclicas não deveriam ser adotadas apenas em épocas de crise. Aplicadas com antecedência – como foi feito no Brasil – elas são a garantia de uma sociedade mais justa e democrática”, escreve o presidente.
Lula ainda descreve outras expectativas que tem para o fim da atual crise econômica global.
“(Espero que surja) uma sociedade que vai valorizar a produção e não a especulação. A função do setor financeiro será de estimular a produtividade – e ele estará sujeito a um controle rigoroso nacional e internacional. O comércio exterior será livre do protecionismo que está mostrando sinais perigosos de estar se intensificando”, diz.
Lula também menciona suas esperanças de uma reforma nas organizações multilaterais e de um novo sistema de governança global.
Em boa parte do artigo, o presidente também relembra sua infância no interior de Pernambuco, o início de sua vida de metalúrgico em São Bernardo do Campo (SP) e sua trajetória política até ser eleito em 2002.
“Para mim o capitalismo nunca foi um conceito abstrato”, escreve.
Fraude de US$50Bi
Você deve estar sabendo da mega-fraude recém descoberta no mercado financeiro estadunidense, não? A seguir, matéria do Financial Times, escrito pela Joanna Chung, e traduzido pelo UOL para você ficar por dentro dos detalhes. No final, um vídeo que reconstitui como o furo foi descoberto e qual o fim que o autor levou.
Caso expõe novo fracasso da fiscalização
O fracasso em detectar o que pode ser a maior fraude da história, supostamente perpetrada pelo veterano assessor de investimentos Bernard Madoff, despertou novas questões sobre a competência da SEC (Securities and Exchange Commission), o órgão que fiscaliza o regulamenta o mercado de valores mobiliários dos EUA.
O caso também é um novo fiasco ao regime regulatório americano, alvo de críticas desde o começo da crise após a exposição de numerosas lacunas e exemplos de fiscalização insuficiente.
A suposta fraude aponta para um “fracasso sistêmico” e suscita “questões fundamentais” sobre a estrutura regulatória dos EUA, diz comunicado do Bramdean Alternatives, um fundo britânico que investia com Madoff.
“É espantoso que essa aparente fraude pareça ter se estendido por tanto tempo, talvez décadas, enquanto os investidores continuavam a investir dinheiro novo nos fundos de Madoff, agindo de boa fé”, afirma o comunicado.
As dimensões da fraude, estimadas por Madoff em cerca de US$ 50 bilhões, não foram confirmadas por cálculos independentes, e os fiscais da SEC estão examinando os arquivos da empresa.
Mas as autoridades regulatórias também podem ter de explicar como um esquema dessas dimensões pode ter passado despercebido durante anos, especialmente porque os retornos consistentemente elevados de Madoff já haviam despertado suspeitas e provocado queixas junto à SEC. Havia outros indícios de potenciais problemas: falta de fiscalização por terceiros; o uso de uma empresa de auditoria muito pequena para uma operação de grande porte; uma operação de corretagem de títulos funcionando em paralelo na mesma empresa.
Parte da explicação pode se relacionar à abordagem utilizada para a fiscalização. Os fiscais da SEC estavam encarregados de regulamentar a corretora de títulos de Madoff. Mas foram as operações de assessoria de investimentos da empresa, registradas na SEC só em 2006, que supostamente ocuparam posição central na fraude.
Além disso, nem todos os assessores de investimentos registrados são fiscalizados pela SEC, em parte porque seu número cresceu demais nos últimos anos -em 50% de 2001 para cá, superando os 11 mil. Só 10% dos assessores registrados na SEC são fiscalizados a cada três anos.
A SEC já disse que seus funcionários conduziram duas investigações sobre a empresa de Madoff, em 2005 e 2007. Em 2005, identificou três violações da regra que exige que os corretores obtenham o melhor preço possível aos pedidos dos clientes. Em 2007, os inspetores não encaminharam o caso para ação judicial.
John Coffee, da Universidade Columbia, disse que a SEC tem de explicar o fracasso do processo. “Quase qualquer inspeção teria revelado uma deficiência de ativos, e a SEC também poderia ter percebido que os auditores eram desconhecidos. Se a SEC não é capaz de apanhar esse tipo de coisa, fica difícil imaginar o que eles apanhariam”.
A suposta fraude, que pode afetar centenas de investidores privados e grandes fundos de investimento em todo o mundo, deve renovar os pedidos por regulamentação mais severa das corretoras e de entidades hoje não regulamentadas, como os fundos de hedge.
Queimem, hereges!!!
Deu no Financial Times (aqui, a tradução publicada no UOL Mídia Global:
Oriente Médio está em júbilo com os infortúnios de Wall Street
Lionel Barber e Roula Khalaf
Em DamascoO “crash” em Wall Street provocou uma alegria indisfarçável entre os inimigos dos Estados Unidos no Oriente Médio, que alegam que a crise financeira global é outro sinal de que os Estados Unidos perderam seu status de superpotência.
De Damasco a Teerã, uma coalizão livre de autoridades públicas e clérigos vê o colapso financeiro como sendo resultado de um castigo divino e da cara política externa do governo Bush na região, principalmente a invasão ao Iraque.
O aiatolá Ahmad Jannati, um influente linha-dura no Irã, descreveu a crise como uma punição.
“Assim como os americanos ficam contentes em ver problemas no Irã, nos estamos felizes em ver a economia americana abalada e os problemas se estendendo à Europa”, ele disse recentemente. “Eles estão vendo os resultados de seus atos odiosos e Deus os está punindo.”
Um alto funcionário sírio disse que os problemas mostram que “os Estados Unidos não são mais uma superpotência. O país é apenas um grande poder.”
Os linhas-duras estão sob a impressão de que a crise não afetará diretamente suas economias, e presumem que o aparente fracasso das políticas liberais confirma a visão deles de que o Estado deve continuar exercendo um papel central.
“Este é um novo capítulo”, disse um alto funcionário sírio que destacou a necessidade de controle do banco central pelo Estado e apoio aos produtores rurais, assim como um salário mínimo para os trabalhadores. “Isto provará que nossa visão das reformas é correta. Nós temos uma economia de mercado social.”
Mas a afirmação do poder do Estado na Síria está minando aqueles que, apesar de não apoiarem os Estados Unidos, estão pressionando por uma transformação de uma economia centralizada para um sistema mais liberal.
Abdullah Dardari, o vice-primeiro-ministro responsável pela economia, disse que o trabalho da equipe econômica no governo se tornará mais difícil.
Falando ao “Financial Times” após ter recebido uma recepção hostil no figurativo Parlamento sírio, ele reconheceu: “Está ainda mais fácil dizer ‘veja aquelas políticas neoliberais e o que fizeram, e para os grupos neoliberais na Síria e o que desejam fazer'”.
Mesmo antes da crise financeira, uma visão popular na região era a de que os Estados Unidos estavam em um declínio terminal. Ela cresceu após a desastrada ocupação do Iraque, o fracasso em conter as ambições nucleares do Irã e em proteger os aliados pró-Ocidente no Líbano diante do Hizbollah, o grupo militante xiita.
O crash em Wall Street levou à teoria questionável de que a turbulência global deriva do custo imenso de financiar a guerra no Iraque, em vez de um fracasso regulatório coletivo em lidar com o excesso de risco assumido pelo setor bancário.
Dardari disse: “Eu não sei qual é a causa, mas o financiamento da guerra e o fardo da dívida pública (americana) tem um papel”.
No geral, a suposição na Síria e em outros países na região é de que o Oriente Médio está relativamente isolado de uma recessão puxada pelos Estados Unidos.
Mas a maioria dos mercados de ações no Oriente Médio sofreu enormemente nas últimas semanas, com a exceção do Irã, onde o mercado, que atrai pouco investimento estrangeiro, apresenta alta de 20% neste ano.
Mesmo se os sistemas bancários em países isolados como o Irã e a Síria escaparem da turbulência financeira, suas economias sofrerão com uma recessão nos mercados mundiais.
Teerã já está cambaleando com a queda nos preços do petróleo. Na Síria, a economia poderia ser afetada pela queda nas remessas de dinheiro dos trabalhadores que atuam nos países do Golfo e com uma queda nos investimentos.
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