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MuCo – IMPERDÍVEL

Posted in Uncategorized by Raul Marinho on 29 maio, 2009

museu da corrupção[7]

Li no Blog da Bárbara Gancia, e repasso: não deixe de visitar o MuCo – Museu da Corrupção, que fica no site do Diário do Comércio da Associação Comercial de São Paulo. Muito bem bolado, imperdível. Tem até a pizzaria Zia Ângela para homenagear a moça da dancinha…

Um psicanalista atravessando a rua

Posted in Uncategorized by Raul Marinho on 28 maio, 2009

atravessando a rua

Muito boa essa crônica do Contardo Calligaris, na Folha de hoje:

Pedestres

Talvez atravessar sem olhar seja um jeito de afirmar que a dignidade importa mais que a vida

HÁ COISAS que a gente só enxerga quando é estrangeiro, ao chegar a um país desconhecido. E há coisas do país onde a gente mora que só nos parecem curiosas por comparação, quando encontramos costumes diferentes.

Foi suficiente estar na Itália nestes dias para me dar conta de um hábito comum entre pedestres paulistanos menos abastados (não sei se a observação vale para todo o Brasil).

O fato é que percebi que pedestres de várias culturas, na hora de atravessar a rua, comportam-se de maneiras diferentes, talvez reveladoras de traços culturais específicos.

Por exemplo, os pedestres de Boston (Massachusetts, EUA), descem da calçada (nas faixas ou fora delas, tanto faz) encarando os carros numa atitude de desafio. Seu olhar e sua cabeça erguida parecem dizer: “Longe de me atropelar, você não ousará sequer me ameaçar, e saiba que não recuarei, pois a Lei (mais do que o Senhor) é meu pastor”. Eles atravessam a rua num ato de fé no valor soberano dos tribunais e das convenções.

Já os pedestres de Nova York descem da calçada apostando só em sua habilidade física. Não contam com a cortesia dos motoristas, nem com a obediência generalizada às regras do trânsito; mas com sua própria destreza. Por isso, se aventuram na rua sem sequer esperar uma interrupção do fluxo dos carros: evitam um, param para deixar passar outro, correm antes que o terceiro chegue e, como corredores olímpicos, pulam para a linha de chegada, que é a calçada oposta. Vistos de longe, se parecem com os toureadores amadores da “Fiesta” de Pamplona, na Espanha, quando todos brincam com uma manada de touros.

Essa diferença entre os pedestres de Boston e os de Nova York é uma apresentação adequada da diferença de espírito entre os cidadãos das duas metrópoles.

Os pedestres europeus são ainda uma terceira categoria. Eles não acreditam nem na lei nem em sua própria destreza: avançam (também dentro ou fora das faixas, tanto faz) desconfiados, tentando adivinhar as intenções dos motoristas e, quando não conseguem adivinhá-las direito, eles param, imóveis no meio do asfalto, supondo que os motoristas saberão evitá-los, na última hora. Há uma relação desse comportamento com a “docilidade transferencial” dos europeus, ou seja, a facilidade com a qual eles parecem reconhecer uma “autoridade”. Essa característica, aliás, faz da Europa o paraíso dos palestrantes: em regra, se alguém pergunta, é sempre com a máxima deferência. Dos anfiteatros às ruas: o pedestre europeu prefere contar com a habilidade dos motoristas do que com a sua própria.

Agora, muitos pedestres paulistanos, sobretudo quando atravessam fora das faixas ou com o sinal vermelho (para eles), exibem um comportamento que lhes é absolutamente próprio: eles não olham. Não digo que eles não olham antes de se aventurar no asfalto, isso vale também para os nova-iorquinos. É durante a travessia que, em vez de se voltar para os carros que se aproximam, eles olham reto para frente. E, caso eles atravessem uma rua de mão única na diagonal (o que já é uma péssima ideia), eles dão as costas para os automóveis que estão chegando.

Duvido que esse comportamento seja a consequência de uma confiança na lei, parecida com a dos bostonianos. Qualquer pedestre no Brasil sabe que os motoristas não se preocupam muito com o Código de Trânsito (quem assistiu a “Happy Hour”, o monólogo de Juca de Oliveira, agora no teatro Jaraguá, em São Paulo, já riu bastante com a vida perigosa do pedestre brasileiro).

O que acontece, então, com os pedestres paulistanos? Será que, fatalistas, deixam o futuro imediato totalmente nas mãos de Deus? Ou desconfiam radicalmente em sua própria habilidade, que lhes permitiria reagir na última hora, esquivando, se for preciso, o carro assassino?

Considerando as compensações irrisórias pagas pelo seguro obrigatório em caso de morte, é de se pensar que talvez o pouco valor atribuído à vida contamine a própria vítima potencial. Algo assim: “Atravesso e nem olho, porque minha vida mal vale o esforço de me precaver”.

Há outra interpretação, mais heroica: talvez, para as vítimas que não valem nada, atravessar sem olhar seja um modo de afirmar que sua dignidade é mais importante que a própria vida: “Acha que sou um escravo? Pois é, sou capaz, como o mestre antigo, de desafiar a morte. Resta saber se você será capaz de me matar”.

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Corujas

Posted in Uncategorized by Raul Marinho on 28 maio, 2009

Screech Owl05.JPG

Para quem gosta de entender um pouco de Filosofia, mas não tem muita paciência para ler longos tratados, a crônica abaixo, do Luís Fernando Veríssimo publicada no Blog do Noblat de hoje:

A coruja do Hegel

Já me recomendaram que começar um texto citando Hegel (Georg Wilhelm Friedrich, século dezenove, alemão, muito alemão) serve dois propósitos:

criar no leitor uma expectativa de profundidade ou espantá-lo logo nas primeiras linhas, pois quem tem tempo para o Hegel hoje em dia? A você que continua a ler devo avisar que a tal profundidade não virá. Recorro a Hegel, ou à coruja do Hegel, para fins estritamente superficiais.

Hegel certa vez comparou a filosofia com a coruja da deusa Minerva, que carrega toda a sabedoria do mundo mas só voa ao anoitecer, quando não há mais luz para aproveitá-la. O que Hegel quis dizer (eu acho) é que qualquer período histórico só pode ser compreendido quando está no fim, e que a filosofia sempre chega tarde para explicá-lo. No fundo estava denegrindo o seu ofício. Ninguém tratou de interpretar a História com mais densidade do que Hegel mas no fim todas as suas teses e todo o seu palavrório não passavam do vôo tardio de uma coruja inútil, no seu próprio conceito.

Quando aquele outro alemão denso, o Marx, escreveu que os filósofos não podiam mais se contentar em interpretar o mundo e deveriam tentar mudá-lo, estava, sem citá-la, reivindicando um vôo mais conseqüente da coruja e um aproveitamento mais prático da sua sabedoria. O que Marx propunha era que a coruja, voando mais cedo, vencesse o vasto abismo que separava a filosofia da política. Um abismo que não começara com Hegel mas existia desde que Platão, desgostoso com a execução de Sócrates, renunciara à atividade política. Marx recrutava a coruja para a sua revolução. Se todo o marxismo pode ser visto, algo simplistamente, como uma crítica de Marx a Hegel, o que mais diferenciava os dois era sua opinião sobre os usos da filosofia, ou sobre a relevância da coruja e suas explicações.

No fim o que Hegel diz com sua metáfora é o óbvio, que a gente vive para frente mas compreende para trás, e que nenhuma filosofia ajuda a percorrer o caminho já percorrido. Na sua crítica Marx sustenta que o caminho percorrido nos mostra para onde ir e que a filosofia é que diz isso para a História. Por mais atrasada que chegue a coruja.

Decisões racionais & livre arbítrio

Posted in Evolução & comportamento by Raul Marinho on 28 maio, 2009

free-will

Quanto mais a ciência avança na compreensão sobre o funcionamento do cérebro e da mente, os conceitos de racionalidade e livre arbítrio ficam mais em cheque. Leia os dois artigos abaixo, respectivamente do Ricardo Mioto e do Hélio Schwartsman, publicados na Folha de hoje, e entenda um pouco mais sobre esse importantíssimo tema.

Leitura do cérebro permite prever escolha financeira

Investidores ousados e cautelosos apresentam atividades cerebrais diferentes

Resultados podem servir para vários outros tipos de ousadia, como a de tentar conquistar a mulher mais bonita da festa, diz grupo

Duas opções diferentes. Uma pessoa precisa escolher entre elas. Cientistas americanos dizem ser possível prever qual será a resposta observando a atividade cerebral do voluntário. A experiência que fizeram envolvia decisões financeiras, mas eles acreditam que funcione até com questões sexuais.

A ideia é que algumas pessoas estão dispostas a arriscar mais para tentar maximizar ganhos. Outras preferem ter a certeza de que ganharão alguma coisa, ainda que pouco.

O que os cientistas fizeram foi recrutar cerca de 200 pessoas e fizeram testes para dividi-las em ousadas ou cautelosas (veja exemplo à direita).

Ao mesmo tempo, eles mapeavam os cérebros dos voluntários para ver quais partes estavam sendo mais utilizadas. Essa técnica é conhecida como fMRI (uma sigla em inglês para Imageamento por Ressonância Magnética Funcional).

As imagens mostraram que pedaços diferentes do cérebro entram em ação quando ousados e cautelosos precisam decidir alguma coisa. O trabalho foi publicado na revista “Neuron”.

Eles não gostam de cassino

Os cientistas mapearam o cérebro das pessoas cautelosas enquanto elas tomavam decisões que envolviam dinheiro. Descobriram que uma parte específica do seu cérebro, o estriado, é muito mais ativa.

O estriado nos faz reagir a perder ou ganhar. Os cautelosos, portanto, não gostavam de perder. Eles não estão interessados em ficar ricos, apenas não querem perder dinheiro.

Ou seja, estão sempre pouco dispostos a arriscar.

“Isso mostra que mesmo decisões complexas que nós fazemos podem resultar, pelo menos em parte, de propensões criadas por partes específicas dos nossos cérebros”, disse Scott Huettel, neurocientista da Universidade Duke, à Folha.

Neurociência na balada

A ideia não se aplica apenas a dinheiro, garantem os pesquisadores. Escolhemos estratégias ousadas ou cautelosas a todo momento. Até em uma festa.

Há um grupo de amigas. Uma delas é muito bonita, visivelmente desejada por todos os homens. Outra é apenas razoavelmente bonita e é, certamente, menos inatingível.

Um sujeito cauteloso apostaria baixo: iria na moça mediana. Seu amigo ousado, com menos medo de voltar para casa sem ninguém, tentaria conhecer a top model. Para os pesquisadores, os rapazes estariam usando áreas diferentes do cérebro.

“Eu penso que esses conceitos podem ser aplicados a qualquer caso em que você tenha uma decisão complexa que possa ser feita com diferentes abordagens”, diz Huettel.

Pesquisas assim tornam o futuro preocupante?

“Mesmo que se consiga conhecimento para “ler” a mente usando essa técnica, as pessoas não vão ficar deitadas num scanner o dia inteiro”, diz Vinod Venkatraman, neurocientista, também autor do estudo.

“Com esses estudos podemos aprender a lidar com situações patológicas”, diz Huettel.

Vícios irracionais

Viciados, por exemplo, podem tomar decisões nitidamente irracionais. Depressivos, ao contrário, “com frequência têm decisões racionais demais”, continua ele.

Além disso, estudar o cérebro para entender como pessoas escolhem estratégias e tomam decisões criou uma nova área de pesquisa, a neuroeconomia.

Ao contrário do que dizem teorias econômicas, nem todas as decisões – incluindo comprar ações ou se endividar no cartão – são racionais.

A neuroeconomia tenta, então, entender o cérebro para explicar as ciências humanas.

“Pessoas diferentes têm cérebros diferentes. Saber mais sobre como eles tomam decisões nos permitirá entender por que as pessoas diferem nas suas escolhas”, diz Huettel.

Estudos põem em xeque noção de livre-arbítrio

A pesquisa de Huettel é mais uma a pôr em xeque a noção de livre-arbítrio. A pergunta fundamental é: somos livres para agir como queremos? As implicações da resposta nada têm de trivial. Se nossas ações são determinadas, seja por interações físico-biológicas, seja por um Deus, como responsabilizar alguém por seus atos? A justiça é possível?

Num experimento seminal dos anos 80, Benjamin Libet, da Universidade da Califórnia, plugou seus alunos a aparelhos de eletroencefalograma e demonstrou que a atividade cerebral que possibilita movimentos voluntários tem início cerca de 300 milissegundos antes da decisão consciente de mexer um braço ou uma perna.

A partir daí, neurocientistas de diversas linhagens desenvolveram testes semelhantes, corroborando os resultados de Libet. Michael Platt e Paul Glimcher, da Universidade de Nova York, mostraram que algo parecido ocorre até com macacos.

Hoje a neurociência é mais ou menos unânime em afirmar que o livre-arbítrio é uma ilusão, a exemplo da consciência, a qual, embora não passe de um efeito colateral de vários sistemas cerebrais ligados em rede, nos leva genuinamente a crer na balela cartesiana de que um “minieu” incorpóreo (uma alma) está no comando.

O livre-arbítrio seria, sob a visão de certos filósofos e neurocientistas, algo como um tique nervoso ou a necessidade que o viciado tem de conseguir droga -processos a meio caminho entre o involuntário e o voluntário.

Boa notícia para advogados, que podem regozijar-se com a perspectiva de novas e mais extravagantes estratégias de defesa. Se nada pode ser qualificado como inapelavelmente voluntário, é a própria noção de crime doloso que cai por terra.

Isso significa que não há justiça possível? Talvez não. Alguns viciados superam sua compulsão. Se, por um lado, o farmacodependente quer a droga (desejo de 1º grau); por outro, ele sabe que o vício lhe faz mal e planeja livrar-se dele (desejo de 2º grau).

O livre-arbítrio pode assim ser descrito como um poder de veto dos desejos de 2º grau sobre os de 1º.

Tentando resgatar a noção de responsabilidade, o filósofo Daniel Dennett propõe uma versão mitigada de livre-arbítrio: nós temos o poder de veto e o poder de veto sobre o veto, além de noções de causalidade que nos permitem projetar o futuro e calcular consequências.

Talvez não baste para salvar uma noção de justiça absoluta, mas serve para que a sociedade siga funcionando.

Fechar Congonhas?

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 27 maio, 2009

aeroporto-de-congonhas

No artigo abaixo, do Freaknomics.com, a sugestão é fechar La Guardia (o aeroporto central de N.York) para melhorar o tráfego aéreo local. Parece ser uma situação idêntica à de Congonhas…

Freakonomics.com: fechar o aeroporto é solução para o tráfego aéreo de Nova York

Quer resolver o excesso de tráfego aéreo de Nova York? Que tal fechar o LaGuardia?

Diante da desaceleração industrial e de ameaças legais, o Departamento de Transportes dos EUA cancelou um plano de leiloar horários de pouso e decolagem nos três aeroportos da Cidade de Nova York como meio de diminuir o excesso de trânsito que aflige o espaço aéreo da cidade.

“Ainda estamos céticos em relação a reduzir o trânsito na aviação na região de Nova York. Durante o verão, vou conversar com as companhias aéreas, aeroportos e consumidores, além das autoridades eleitas sobre as melhores formas de avançar”, diz Ray Lahood, recentemente nomeado secretário de transportes.

Os três principais aeroportos que servem Nova York -Newark-Liberty, JFK e LaGuardia- são infames pela superlotação e atrasos, em segundo, terceiro e quarto lugar em uma lista da revista Forbes de 2008 dos aeroportos que mais fazem perder tempo nos EUA. Como muitos voos internacionais e domésticos fazem conexões em Nova York, os atrasos nesses centros afetam o tráfego aéreo em torno do mundo.

Durante recente espera em terra no LaGuardia, comecei a conversar com um piloto de uma importante linha aérea que parecia saber muito sobre todas as perguntas que eu consegui lembrar em relação à aviação. Sua opinião sobre o intenso tráfego aéreo em Nova York: fechar o LaGuardia.

O problema, explicou, é que o espaço aéreo para cada um dos três aeroportos se estende cilindricamente para o céu acima de sua posição em terra. Por causa de sua proximidade, os três cilindros no espaço aéreo afetam o outro significativamente. A situação cria trânsito por causa do volume e porque os pilotos têm que costurar em rotas de aproximação complexas para cumprir os regulamentos do tráfego aéreo.

Se o cilindro do LaGuardia fosse eliminado, Newark e JFK poderiam operar mais livremente -e, como o LaGuardia lida com menos tráfego do que os outros dois aeroportos, é a escolha óbvia para fechamento. Se fosse fechado, insistiu meu novo amigo piloto, a viagem em Nova York ia passar de pesadelo para sonho.

Há um problema, contudo: o LaGuardia é o aeroporto favorito das pessoas com mais poder político em Nova York, já que fica a uma distância muito curta de Manhattan. Então não deve acontecer, ao menos não em breve. Eu tenho que admitir que o LaGuardia é meu aeroporto favorito por esta razão, já que eu moro em Manhattan e em geral posso chegar lá em cerca de 15 minutos. Em todas as outras categorias, contudo, é menos confortável e agradável do que Newark e JFK.

Isso dito, se a eliminação do LaGuardia tivesse o efeito cascata de agilizar o tráfego aéreo total de Nova York, eu pessoalmente ajudaria a derrubá-lo. Então poderíamos somar todo o tempo em produtividade reconquistado em torno do país -e do mundo- eliminando os inevitáveis atrasos nos aeroportos de Nova York.

Quando ruminei sobre esse assunto no Freakonomics.com, as respostas ao meu texto encheram nossa caixa postal. Elas foram diversas, com leitores chamando a ideia de eliminar o LaGuardia de tudo desde “idiota” até “óbvia”.

Patrick Smith, autor do livro “Ask the Pilot” (pergunte ao piloto) e de uma coluna de viagem aérea do mesmo nome no site salon.com, escreveu uma análise útil: “A causa do excesso de trânsito aéreo não é a falta de pistas ou os aeroportos que não funcionam. São as práticas de horários das companhias aéreas: há mais pessoas voando do que em todos os tempos, mas os aviões são cada vez menores, provocando mais pousos e decolagens. Se as empresas conseguissem consolidar melhor e reduzir sua insana dependência em aviões regionais, o LaGuardia funcionaria melhor -assim como o JFK. Mas as empresas não estão interessadas em consolidar voos. Elas vendem frequência, ou a ilusão da frequência”.

Em notícia relacionada, um estudo da Universidade de Michigan divulgado na semana passada revelou que a satisfação dos passageiros subiu pela primeira vez em um longo tempo. A causa primária, nada surpreendentemente, parece ter sido que, com a queda dos negócios, os aviões estão menos cheios. A menor lotação elimina as fontes da insatisfação dos passageiros: overbooking, atrasos, desconforto a bordo etc.

Smiths fala que a consolidação, de fato, resolveria de muitas dessas reclamações comuns, já que é a superlotação -tanto a bordo quanto nas pistas- nos voos regionais e nos jatos menores que deixa as pessoas loucas.

Um leitor chamado Phillip Rodriguez sugere uma solução interessante para o espaço aéreo congestionado de Nova York, inspirada no Japão: “No longo prazo: acho que temos que pensar com criatividade. Neste ponto, os humanos estão dominando o planeta e se espalhando em um índice alarmante. Talvez seja de fato melhor remover todos os três aeroportos em favor de um aeroporto central. Onde colocaríamos tal aeroporto? Provavelmente, a melhor solução seria aprender com os japoneses e construir no meio da água, como o Kansai. Assim haveria muito espaço para expansão e nenhum vizinho para reclamar do barulho. Talvez até pudéssemos usar o conhecimento de projetos anteriores. Seattle tem pontes flutuantes: são essencialmente embarcações de concreto que flutuam: talvez pudéssemos conectar várias e ancorá-las? Como eu disse, não é uma solução definitiva, apenas uma ideia. Independentemente do que precisamos fazer, precisamos fazer logo”.

Certamente podemos concordar com este último sentimento.

Gatilho anti-incesto

Posted in Evolução & comportamento, teoria da evolução by Raul Marinho on 26 maio, 2009

incesto

Interessante a nota abaixo, publicada na Folha de hoje, sobre pesquisas desenvolvidas no Brasil na área de genética comportamental – no caso, sobre mecanismos biológicos para previnir o incesto ou relacionamentos com indivíduos aparentados. Não que os resultados sejam inéditos, mas o fato deste tipo de pesquisa ser realizada no Brasil é um alento para a Biologia do Comportamento, tão desprezada por estas paragens.

Diferença genética ajuda a eleger parceiro, diz estudo

Segundo cientista do Paraná, casais tendem a ter DNA distinto no sistema imune

Diversidade supostamente beneficia saúde da prole, diz geneticista, cujo trabalho foi apresentado ontem em um congresso em Viena

Na hora do escolher alguém para namorar, os opostos realmente se atraem. Seres humanos tendem a buscar parceiros que sejam geneticamente distintos, diz um estudo da Universidade Federal do Paraná apresentado ontem num congresso na Áustria.

Os pesquisadores descobriram que pessoas casadas têm, em uma certa região do genoma, mais diferenças genéticas entre si do que pares de desconhecidos. A região é responsável pelo sistema imunológico.

Segundo a geneticista Maria da Graça Bicalho, líder da equipe de cientistas, trata-se de uma estratégia evolutiva. Dessa maneira, os filhos terão maior variabilidade genética.

“Pais com genes diferentes podem oferecer aos seus filhos mais chance de evitar infecções porque o sistema imunológico deles será mais diverso.”

Além disso, essa atração pelo diferente evita o incesto ou mesmo relacionamentos dentro da mesma família.

“Embora possa ser tentador pensar que humanos escolhem seus parceiros porque são parecidos com eles, a nossa pesquisa mostrou claramente que o desejo subconsciente de ter crianças saudáveis é importante na hora de escolher alguém”.

E como saber quem é geneticamente diferente? Estudos anteriores diziam que animais podem usar o cheiro como guia para identificar possíveis parceiros como geneticamente parecidos ou diferentes.

Em um deles, dedicadas voluntárias cheiravam camisetas suadas de homens desconhecidos e diziam quais odores eram mais atraentes. Resultado: elas gostavam mais daquelas cujos donos tinham sistemas imunológicos mais distintos dos seus. Mas outros fatores também podem estar envolvidos.

O grupo paranaense publica trabalhos nessa área desde 1998. Desta vez, estudaram 484 pessoas, divididas em 90 casais e 152 pares aleatórios. O trecho do genoma analisado por eles é conhecido como Complexo Principal de Histocompatibilidade (MHC, na sigla em inglês). Ele tem um papel fundamental na saúde da prole e é encontrada na maioria dos vertebrados.

O trabalho foi apresentado numa conferência da Sociedade Europeia de Genética Humana, em Viena.

“Nós queremos continuar com esse trabalho, observando as influências sociais e culturais, assim como as biológicas, na hora da escolha de um parceiro e relacionando isso com a diversidade genética da região do MHC”, diz Bicalho.

Mas, claro, ninguém escolhe seus amores só pelo cheiro. “Não concordamos com a teoria de que se uma pessoa tem um gene em particular isso vai determinar o seu comportamento. Mas achamos que o aspecto evolutivo inconsciente não deve ser ignorado”, afirma.

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Isso não vai dar certo…

Posted in credito by Raul Marinho on 25 maio, 2009

cachorrodorcabeca

Não quero parecer agourento, mas essa política de crédito que o Banco do Brasil está adotando acho que vai dar muita dor de cabeça lá na frente. Veremos…

Organização social é isso

Posted in Evolução & comportamento, teoria da evolução by Raul Marinho on 25 maio, 2009

swarm_behavior

O artigo abaixo, da Adele Conover, publicado hoje no The New York Times, mostra como é dura a vida de um etologista/entomologista. E também como é complexa a organização social de seres tão minúsculos.

Cientista estuda insetos sociais, um a um

Anna Dornhaus espia em um pequeno ninho de papelão uma “família” de cerca de cem formigas das rochas europeias. Conhecidas como temnos, as formigas -pintadas com cores distintas- realizam suas tarefas de carregar, abastecer e alimentar a prole de larvas.

Ao lado de uma temnos colorida, um grão de arroz pareceria um tronco velho. Quando se levanta a tampa de uma colônia de formigas, nota-se uma barata morta -a ração das formigas. Uma rainha maior e tranquila, pintada de marrom, é objeto de estudo. “Ela não é exatamente uma chefe de Estado”, disse Dornhaus. “Parece mais um ovário.”

Ali perto há colmeias de abelhas sob vidro, onde cada abelha exibe um número de 1 a 100 em minúsculas etiquetas coladas a suas costas.

Para compreender o que realmente acontece em uma colônia de formigas ou abelhas, Dornhaus, professora-assistente de ecologia e biologia evolutiva na Universidade do Arizona, EUA, acompanha as pequenas criaturas individualmente -por isso a tinta e os números. As formigas, ela disse, têm “seus próprios cérebros e pernas, assim como reações complexas e flexíveis”. Ela continua: “O comportamento de cada formiga e as regras segundo as quais ela age geram um padrão para a colônia, por isso é crucial descobrir sua técnica cognitiva individual”.

Dornhaus, 34, uma cientista alemã alta e loura, tem muita paciência, requisito básico em seu ramo, e uma ligação com as criaturas que estuda. Quando as pessoas descobrem que “eu estudo formigas, abelhas e outras coisas que se arrastam, a primeira coisa que perguntam é como matá-las”. Ela acrescentou: “Eu não diria mesmo que soubesse”. Os insetos sociais, ela opinou, são “as criaturas mais interessantes que a evolução produziu”.

Dornhaus fez contato com o Departamento de Sociobiologia e Fisiologia Comportamental da Universidade de Wurzburg, na Alemanha, chefiado por Bert Hölldobler, coautor do livro “The Ants” [As formigas] e do recém-publicado “The Superorganism”.

Seu orientador de tese foi Lars Chittka, especialista na ecologia das capacidades sensoriais e cognitivas dos insetos, que estudava abelhas. Chittka -que disse que o grupo das abelhas do gênero Bombu, embora altamente social, era considerado primitivo em hábitos sociais- se perguntou por que uma única abelha, depois de voltar ao ninho, batia as asas e corria como louca em círculos. Logo as outras abelhas se excitavam e saíam do ninho.

Ele pediu que Dornhaus descobrisse o que acontecia. O experimento dela revelou que a abelha maluca estava fabricando e dispersando na colmeia um feromônio que alertava outras abelhas: “Ei, tem comida lá fora!”

Mas, como disse Dornhaus, “as abelhas não precisam se encontrar pessoalmente para se comunicar; elas deixam recados para as outras abelhas, dizendo que podem encontrar comida”. Dornhaus está abrindo terreno com seus estudos sobre se a eficiência da sociedade de formigas, baseada em uma divisão do trabalho entre formigas especialistas, é importante para seu sucesso. Para isso, ela disse, “anestesiei brevemente 1.200 formigas, uma a uma, e as pintei usando tinta e um pincel de um único pêlo”.

Ela analisou 300 horas de vídeo das formigas em ação. Descobriu que as formigas rápidas levavam de 1 a 5 minutos para realizar uma tarefa como coletar um pedaço de comida, enquanto as formigas lentas levavam entre 1 e 2 horas. E ela descobriu que cerca de 50% das outras formigas não faziam qualquer trabalho. Talvez a divisão de trabalho não seja a chave do sucesso das formigas. Possivelmente, disse Dornhaus, “as formigas preguiçosas estejam descansando ou esperando em reserva caso algo dê errado”. Ou, conjecturou, “é possível que não estejam fazendo absolutamente nada”.

Artigo campeão

Posted in Uncategorized by Raul Marinho on 25 maio, 2009

homers_brain

Nem o Clóvis Rossi, num dia inspirado, conseguiria escrever tanta groselha. Nem o Lula, em cima de um palanque depois de uns aperitivos, falaria tanta barbaridade. Não há livro de auto-ajuda que chegue perto, nem os da linha do “Eram os deuses astronautas“. Diria até que nem eu escrevo tanta bobagem quanto esse frei Leonardo Boff. Perto do artigo abaixo, o famoso discurso do Chefe Seattle é alta literatura.

(Na foto acima, um flagrante do frei refletindo sobre seu próximo texto).

Do blog do Noblat:

A quem pertence a Terra?

No Brasil se discute muito a questão da internacionalização da Amazônia ou a quem pertence essa rica porção do planeta Terra. Sem querer entrar nesta discussão que um dia retomarei, percebo que ela remete a outra ainda mais fundamental: a quem pertence a Terra?

Muitas são as respostas possíveis, algumas verdadeiras, outras insuficientes ou até falsas. Com certa naturalidade poderíamos responder: a Terra pertence aos humanos. Apelamos até à palavra das Escrituras que nos dizem: ”entrego-vos tudo…propagai-vos pela Terra e dominai-a”(Gn 9,3.7). Estranhamente, os humanos irromperam no cenário da evolução quando a Terra estava em 99,98% pronta. Eles não assistiram ao seu nascimento nem ela precisou deles para organizar sua complexidade e biodiversidade. Como pode lhes pertencer? Só a ignorância unida à arrogância os faz pretender a posse da Terra.

Poderíamos ainda responder: a Terra pertence aos seres mais numerosos que a habitam. Então ela pertenceria aos microorganismos – bactérias, fungos, vírus – pois constituem 95% de todos os seres vivos. Segundo o conceituado biólogo E. Wilson um grama de terra contem cerca de 10 bilhões de bactérias de 6 mil espécies diferentes. Imaginemos os quintilhões de quintilhões de micro-organismos que habitam a totalidade dos solos terrestres. Todos estes têm mais direito de posse da Terra do que nós, seja por sua ancestralidade, seja pelo número seja pela função de garantir a vitalidade do planeta.

Ou ela pertence à totalidade dos ecossistemas que servem à comunidade de vida, regulando os climas e a composição fiísico-química do planeta. Esta resposta é boa mas insuficiente porque esquece as relações que a Terra entretém com as energias e os elementos do universo.

Assim, a Terra pertence ao sistema solar que, por sua vez, pertence à nossa galáxia, a Via Láctea que, por fim, pertence ao cosmos. Ela é um momento de um processo evolucionário de 13,7 bilhões de anos.

Mas esta resposta não nos satisfaz pois ela remete a uma pergunta ulterior: e o cosmos a quem pertence? Pertence àquela Energia de fundo, ao Vácuo Quântico, ao Abismo alimentador de todos os seres, à Fonte originária de tudo. Esta é a resposta que os astrofísicos e cosmólogos costumam dar. E é correta. Mas não é ainda a última.

Cabe uma derradeira pergunta: a quem pertence a Energia de fundo do universo? Alguém poderia simplesmente responder: ela não pertence a ninguém, pois pertence a si mesma. Esta resposta é simplesmente uma não-resposta porque nos coloca diante de um muro. Ela nos remete à teologia, a Deus.

Mudando de registro e caindo na nossa realidade cotidiana e brutal dos negócios: a quem pertence a Terra? Ela, na verdade, pertence aos que detém poder, aos que controlam os rmercados, aos que vendem e compram seu chão, seus bens e serviços, água, genes, sementes, órgãos humanos, pessoas feitas também mercadorias. Estes pretendem ser os donos da Terra e dispõem dela como bem entendem.

Mas são donos ridículos pois esquecem que não são donos deles mesmos, nem de sua origem nem de sua morte.

A quem pertence à Terra? Fico com a resposta mais sensata e satisfatória das religiões, bem representadas pela judaico-cristã. Nesta Deus diz: “Minha é a Terra e tudo o que ela contem e vocês são meus hóspedes e inquilinos”(Lv 25,23). Só Deus é senhor da Terra e não passou escritura de posse a ninguém. Nós somos hóspedes temporários e simples cuidadores com a missão de torná-la o que um dia foi: o Jardim do Éden.

A desinformação clovisrrossiana de sempre

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 25 maio, 2009

sadia+perdigao-200b

A seguir, a coluna do Clóvis Rossi na Folha de ontem. Meus comentários vêm na sequência.

A bolsa ou a vida

A Bolsa de Valores zerou este ano, até agora, as perdas sofridas a partir de outubro, auge da crise. O emprego nem remotamente. O rendimento dos salários tampouco: além de continuar medíocre como é há séculos, ainda retrocedeu algo mais.

Não obstante, há festa no arraial. Sinal de que estamos de volta ao espírito pré-crise: o que importa é a felicidade do capital. A vida, bom, a vida a gente toca como Deus manda, como diria o caboclo no seu conformismo também secular, afogado nas águas ou torrando ao sol das secas impenitentes.

Não é só no Brasil. Na Espanha, por exemplo, a Bolsa, este ano, está em território positivo. Mas, no ano até abril, o número de postos de trabalho decepados bateu em 1,1 milhão, à base portanto de 100 mil por mês, arredondando.

Não obstante, a ministra da Economia, Elena Salgado, vê uma luz no fim do túnel e é capaz de jurar que não se trata de trem vindo em sentido contrário, frase que já deveria ter caído em desuso.

Com isso, a gritaria a respeito da falência do capitalismo selvagem, a pregação quase missionária em favor de uma nova arquitetura financeira global capaz de mitigar os efeitos perversos da jogatina -está indo tudo para o saco.

Tanto que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chama de “trambique” as apostas em derivativos, que afundaram a Sadia. Mas o BNDES, banco público, põe dinheiro para ajudar na compra da empresa supostamente “trambiqueira” pela Perdigão, compra tratada com o codinome de fusão.

Se é trambique, como diz Lula, deveria ser regulado pelo governo, e não incentivado via BNDES, não?

Menos mal que pelo menos Barack Obama já soltou seu plano para regular justamente os tramb… ops, derivativos. Sei não, mas desse jeito os EUA correm o risco de saírem mais sólidos que outros da crise que criaram.

Comento

O colunista da Folha adora misturar conceitos quando trata de economia, às vezes por ignorância, às vezes por má fé; mas, na maioria das vezes, pelos dois motivos – o que parece ser o caso do texto de hoje.

Em primeiro lugar, é para comemorar, sim, a recuperação das bolsas. E quem deveria soltar mais rojões deveriam ser os trabalhadores, já que os especuladores ganham sempre, tanto na alta quanto na baixa. Quando as bolsas estão em alta, há clara sinalização de recuperação econômica, o que significa que os empregos voltarão, que a renda deverá aumentar, etc. Se a recuperação dos empregos ainda não ocorreu é porque existe um tempo necessário para a economia se reorganizar até chegar às (re)contratações, que certamente ocorrerão se os sinais do mercado se mantiverem positivos. (E mesmo que os empregos não voltassem… Que vantagem teriam os trabalhadores com a queda nas bolsas? Divertir-se com amiséria alheia?).

Em segundo lugar, é preciso entender que os derivativos, no Brasil, são muitíssimo bem regulados (até demais, eu diria), diferente do que ocorreu nos EUA. “Trambique” foi a má utilização desses derivativos, como no caso da Sadia. Se o botequim da esquina se financia com o cheque especial do dono, e quebra por causa disso, o que está errado: a regulamentação das operações de empréstimo via cheque especial, ou a capacidade administrativa do proprietário? O diretor da Sadia cometeu um erro técnico-administrativo no uso dos derivativos, foi simplesmente isso o que aconteceu. Nada a ver com o problema dos derivativos nos EUA, monstrengos incontabilizáveis e ininteligíveis criados para gerar ganhos estúpidos para alguns.

E, finalmente: a entrada do BNDES nessa história não tem nada a ver com derivativos. A Sadia (que quebrou por incompetência gerencial, isso precisa ficar claro) deveria ser jogada no lixo, ou seria melhor para o país que se encontrasse uma outra saída para o caso? Ora, a compra da Sadia pela Perdigão (e nisso o Clóvis Rossi acertou: não é uma fusão) com apoio do BNDES foi a melhor saída dada a situação apresentada.

Juros e pecados

Posted in credito by Raul Marinho on 21 maio, 2009

usura

Está impagável a coluna de hoje do Luís Fernando Veríssimo no blog do Noblat:

Quantos anjos

A Igreja medieval tinha muitas razões para condenar o juro. Ele era produto de uma coisa infecunda, o dinheiro, e portanto contra a Natureza. Era um preço dado ao tempo, que é de Deus, e portanto uma apropriação indébita, além de herética. Era fruto de trabalho improdutivo e ímpio, já que dinheiro gerava dinheiro o tempo todo, sem respeitar os dias santos, e era portanto um péssimo exemplo para os fiéis. Mas desconfia-se que a Igreja combatia o juro, acima de tudo, para proteger sua metafísica da metafísica emergente do mercado.

A Igreja acabou cedendo e hoje não excomunga mais ninguém por usura. Com algumas adaptações – como a invenção do Purgatório, uma alternativa suportável ao Inferno para banqueiros e agiotas – aceitou o juro para não ficar de fora do melhor negócio do mundo, que é o do dinheiro produzido por dinheiro. Mas a grande vitória não foi da realidade do dinheiro, foi da sua irrealidade. A metafísica sem Deus do mercado foi mais forte do que a metafísica da fé, o valor arbitrário dado a abstrações financeiras foi muito mais potente do que qualquer abstração religiosa.

O bom da metafísica é que, como é feita no ar, só tem os limites que ela mesma se dá. Aqueles concílios da Igreja em que discutiam coisas como quantos anjos poderiam dançar na ponta de um alfinete são os antecedentes diretos dos conluios do capital financeiro que geraram as pirâmides de papel desligadas de qualquer lastro real, para o dinheiro produzir cada vez mais dinheiro, cada vez mais abstrato. Na questão dos anjos a discussão era entre os que diziam que o número de anjos que cabiam na ponta de um alfinete era limitado e os que diziam que era infinito. As mesmas especulações etéreas devem ter sido feitas sobre até onde iria a farra do capital especulativo. O número de anjos, descobriu-se com a chegada da Crise, era finito.

Mas o melhor das metafísicas é que elas se auto-regeneram. A Crise tem significado uma espécie de Purgatório para o capital financeiro descontrolado, mas nenhum dos seus beneficiários acabará no Inferno. Wall Street reage e retoma seus maus hábitos. A metafísica medieval pelo menos garantia a remissão dos pobres e dos virtuosos no fim dos tempos. A metafísica do mercado só garante a felicidade para ricos e espertos.

Susana Vieira

Posted in Uncategorized by Raul Marinho on 21 maio, 2009

Com Photoshop…

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…E sem photoshop:

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Escravidão pelo carnê

Posted in credito by Raul Marinho on 20 maio, 2009

escravos

Normalmente, quando republico aqui algum texto do Marcelo Coelho, é para criticar. Mas hoje, excepcionalmente, o farei para elogiar. O texto abaixo, publicado hoje na Folha, é um dos melhores da lavra do mr. Rabbit:

Escravidão pelo carnê

Registro o que vejo: não conheço empregada que não esteja enforcada pelo cartão de crédito

HISTÓRIA DO Brasil? História da civilização ocidental? Esses temas, típicos dos livros que eu tinha de ler no ginásio, passaram de moda. A própria história os engoliu, e hoje temos outro tipo de títulos no mercado.

História da beleza. História do corpo. História da loucura. História da histeria. Como os contêneires mudaram a história do mundo. Uma história natural das sementes. História da paz.

Qualquer livro sobre esses temas pode ser facilmente encontrado pela internet, em português ou inglês. Gostaria de sugerir a eventuais doutorandos um tema de pesquisa interessante no contexto brasileiro: a história do crediário. A meu ver, nunca se inventou um mecanismo tão eficiente de submissão social.

Desde a invenção do crediário, foi-se o tempo em que Marx e Engels podiam gritar ao proletariado que ele nada tinha a perder, exceto os próprios grilhões. O proletariado sempre teve muito a perder, a começar pelo próprio emprego. Mas sua maior preocupação haverá de ser o nome no Serasa. Seu grilhão, como o de qualquer empresário, é hoje em dia o nome na praça.

O Serasa representa, hoje, uma força repressiva equivalente às tropas armadas de sabre do general Cavaignac, massacrando a França insurgente de 1848.

Condena-se muito, hoje em dia, a situação do lavrador pego em escravidão por dívida. O infeliz, no meio do Pará, contrai dívidas impossíveis de pagar e termina trabalhando de graça para o dono da terra. Ai dele se tentar fugir.

Sua fuga será vista como um calote, e alguns capangas irão encarregar-se de lhe ensinar o basilar princípio do direito civil, segundo Kelsen: “Pacta sum servanda”. Contratos existem para serem cumpridos.

Será que nas grandes cidades a situação é diferente? Quem passa pela avenida Paulista vê anúncios colados em todos os postes, prometendo dinheiro na hora. Agiotagem pura e simples.

Mesmo sem recorrer a agiotas, o trabalhador comum está pendurado no seu carnê. Comprou uma geladeira, uma televisão, um carro com prestações a perder de vista. Com isso, o cidadão perdeu de vista muita coisa. Será o último a entrar em greve, por exemplo. Está preso a seu salário, que pagará a prestação. Comprou, junto com a geladeira, o seu futuro. Foi comprado, junto com a geladeira, pelas Lojas Brasilândia.

Nas suas “Teses sobre a Filosofia da História”, o filósofo Walter Benjamin ironizava a ideia de que todo sacrifício no presente haverá de beneficiar as gerações futuras.

O crediário resolveu esse paradoxo. Beneficia agora (sua geladeira chega hoje) o sacrifício que você tem de fazer nos próximos 36 meses. No fundo, é o mesmo sistema vigente entre os escravos do Pará.

Surgem alguns problemas, contudo, nessa fórmula mágica.

Não sou economista, mas registro o que vejo ao redor. Não conheço empregada doméstica que não esteja enforcada pelo cartão de crédito. Mesmo na classe média, o uso do cheque especial se tornou hábito.

Estão todos consumindo além da conta. Como deixariam de fazer isso? Tudo é tão fácil, e todo mundo é tão ruim em matemática…

Danem-se os juros altos, dane-se o velho espírito poupador do puritano pré-capitalista. Mesmo o mais fervoroso evangélico está devendo nas Casas Bahia.

Não quero ser pessimista, mas conheço esse filme. Se aumentar o desemprego no Brasil, todo esse povo não terá como pagar suas prestações. Imagine-se a falência de empresas de cartões de crédito, de financeiras ligadas às lojas de varejo.

Seria uma catástrofe capaz de destruir todas as nossas construções a respeito de uma relativa imunidade brasileira diante da crise financeira internacional.

Os argumentos correntes vão no sentido contrário. Baixando os juros, estimula-se a economia e a produção. Os bancos são criticados pelo fato de não repassarem ao consumidor a baixa dos juros decidida pelo Banco Central.

Fico amedrontado. Crédito barato enterrou a economia norte-americana. No Brasil, o crédito caríssimo não impediu ninguém de se endividar. Baixem os juros ao consumidor, diz a opinião geral por aqui. Mais endividamento? Mais empregadas domésticas pedindo seus vales ao patrão?

A meu ver, estamos montando um castelo de cartas. Todo mundo, no Brasil, está gastando agora para pagar depois. A conta, como em toda operação de crédito, poderá revelar-se alta demais.

Bom selvagem? Tá de sacanagem…

Posted in Uncategorized by Raul Marinho on 19 maio, 2009

chefe seattle

Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa idéia nos parece estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, com é possível comprá-los? Cada pedaço desta terra é sagrado para meu povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra da floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados na memória e experiência de meu povo. A seiva que percorre o corpo das arvores carrega consigo as lembranças do homem vermelho.

O texto acima é o parágrafo inicial do que ficou conhecido como “A carta do chefe Seattle“. Para se ter uma idéia de sua popularidade, clique aqui e veja a quantidade de links sobre a carta no Google – hoje, passa de 104milhões, só em português. Essa carta, onipresente nos textos ambientalistóides, é a reencarnação do conceito do bom selvagem, tão caro às esquerdas. O problema é que, a cada milímetro que se avança no entendimento dos povos “primitivos”, percebe-se que o bom selvagem é tão verdadeiro quanto o Saci Pererê e a Mula Sem Cabeça. A propósito, a tal carta do chefe Seattle foi redigida para um programa de TV estadunidense nos anos 1970,  e o chefe Seattle era um vendido aos brancos e proprietário de escravos.

Tudo isso para introduzir duas reportagens publicadas na Folha de hoje (a primeira do Cláudio Ângelo, e a segunda da própria redação), sobre a poluição gerada pelos povos pré-colombianos no Peru:

Índio poluía o ar há 3.500 anos no Peru

Estudo detectou concentrações de mercúrio até 30 vezes mais altas que o natural em antiga zona de mineração indígena

Contaminação foi causada pela mineração de cinábrio, usado pelos incas e por seus antecessores para fabricar tinta vermelha, diz cientista

Além de terem desenvolvido a agricultura irrigada, a astronomia e a construção de pirâmides, as primeiras civilizações sul-americanas também inventaram algo menos glorioso: a poluição por metais pesados. Há 3.500 anos, no Peru, elas já contaminavam o ar com mercúrio, produto da mineração.

Um estudo realizado por pesquisadores do Canadá, dos EUA e da Alemanha descobriu evidências “incontroversas” de poluição atmosférica por mercúrio milênios antes da conquista espanhola. O metal está acumulado nos sedimentos de três lagos na região de Huancavelica, que abriga a maior jazida de mercúrio das Américas.

Extraindo colunas de sedimento do fundo desses lagos e datando-as, o grupo liderado por Colin Cooke, da Universidade de Alberta, descobriu que a contaminação começou em 1400 a.C. e atingiu valores máximos em 500 a.C. e 1450 d.C.

Estas últimas datas correspondem, respectivamente, ao apogeu da cultura Chavín -considerada o primeiro Estado sul-americano- e da inca.

Essas civilizações exploravam a região de Huancavelica em busca de cinábrio (HgS), um mineral composto de mercúrio e enxofre.

O cinábrio é moído para a produção de vermelhão, corante que compõe as tinhas vermelhas vivas que culturas como a Chavín, a mochica e a inca usavam como pintura corporal ou para cobrir objetos de ouro.

O mercúrio é altamente tóxico, e exposição a seus compostos causa problemas sérios ao sistema nervoso, aos rins e ao sistema endócrino. Os maias usavam pedras de cinábrio em seus sarcófagos, entre outras coisas, para evitar que eles fossem saqueados.

A produção local de vermelhão foi a primeira fonte de poluição por mercúrio em Huancavelica. O pó de cinábrio, emitido na extração e na moagem do minério, fez a concentração de mercúrio nos sedimentos saltar pela primeira vez acima do nível natural. De 7 microgramas por metro quadrado ao ano ela vai para até 28 microgramas por metro quadrado.

Com o estabelecimento da cultura Chavín, o uso de mercúrio -e a contaminação- cresceu exponencialmente. O nível do metal nos sedimentos se multiplicou por dez em relação à quantidade natural.

A partir daí, a poluição começa a declinar novamente, para explodir a partir do ano 1400, com a chegada do império inca às minas de cinábrio.

Os incas também trouxeram uma inovação tecnológica que deve ter causado problemas sérios aos habitantes de Huancavelica: “O tipo de poluição mudou de pó de minério para mercúrio elementar gasoso”, disse Cooke à Folha. O aquecimento do minério separa o enxofre do mercúrio, produzindo o metal prateado. Foram os vapores letais desse elemento que se espalharam pelo ar na região. Nos sedimentos de idade pós-incaica analisados pelo grupo de Cooke, o mercúrio aparece em concentrações 30 vezes superiores à natural.

Cooke diz que é difícil saber qual era o grau de exposição da população ao poluente -que também contaminou a água- e que tipo de impacto a contaminação deve à saúde. “É difícil especular quais eram os riscos”, afirma, “mas qualquer quantidade de mercúrio é potencialmente tóxica”.

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Contaminação pré-hispânica pode ameaçar população atual

O estudo do canadense Colin Cooke e colegas, publicado na edição de hoje do periódico científico “PNAS”, mostra como o acaso pode ajudar os esforçados em ciência.

Ao apontarem suas brocas para o fundo dos lagos nos Andes, os pesquisadores não tinham nem ideia de que os índios usaram tanto cinábrio a ponto de contaminar o ar.

“Nós estávamos procurando traços de poluição de mercúrio relacionada à mineração espanhola em Huancavelica”, afirmou o pesquisador. “Nunca esperaríamos encontrar poluição pré-hispânica, menos ainda 3.500 anos de poluição por mercúrio”, continuou.

E quanta poluição. O grupo encontrou mercúrio até mesmo no fundo de um lago a 225 quilômetros de Huancavelica, onde ficam as minas. Isso indica que, durante o império inca, o mercúrio deixou de ser um problema local para se tornar um problema regional.

Essa herança maldita dos índios pode ser um risco para a população de Huancavelica até hoje. “Não sabemos qual é o nível de risco, no entanto”, disse Cooke. Boa parte do mercúrio está trancafiada nas profundezas da coluna de sedimentos, mas parte dele está no topo dessa coluna. Isso pode facilitar a transformação de mercúrio inorgânico em metilmercúrio, a forma mais tóxica do elemento. “Sem dúvida ele ocorre nos lagos que estudamos perto de Huancavelica. Um desses lagos tem peixes que a comunidade comia regularmente. Eles podem estar contaminados com metilmercúrio”, disse Cooke.

Psicologia evolutiva aplicada ao crédito?

Posted in Atualidades, banco, credito, Evolução & comportamento by Raul Marinho on 18 maio, 2009

bank women

Leia a entrevista abaixo, da Susanne Arnann para o Der Spigel. Nela, a presidente do “Banco Mundial Feminino” (!!!???) faz algumas afirmações perturbadoras, supostamente apoiadas em conhecimento científico (trechos sublinhados em negrito). Gostaria muito de saber quais trabalhos científicos apoiam essas afirmações. Pelo que conheço da Psicologia Evolutiva, o que a sra. Iskenderian disse não passa de especulação e desinformação preconceituosa.

“Os homens são programados para se arriscarem mais”, diz presidente de ONG de microfinanciamento para mulheres

Segundo Mary Iskenderian, a presidente do Women’s World Banking, as instituições de microfinanciamento não estão sendo atingidas com força total pela crise financeira. Nesta entrevista ao “Spiegel Online“, ela explicou por que e falou também sobre as vantagens de contar com clientes mulheres.

Spiegel Online – Os bancos e as instituições financeiras de todo o mundo estão sofrendo com a crise financeira. Mas os bancos que você representa não estão. Por que isso?

Iskenderian – As instituições de microfinanciamento são muito cuidadosas. No passado, as renovações de empréstimos eram muito comuns e fáceis de serem obtidas. Agora estamos nos certificando de que as instituições estão sendo cuidadosas com a renovação do crédito, mas, em sua maioria, a qualidade das carteiras é boa.

Spiegel Online – Então, vocês realmente não sentiram os efeitos da crise?

Iskenderian – Estamos percebendo um impacto na forma de restrições ao crédito e da redução da capacidade das instituições de captar dinheiro e continuar financiando o crescimento. Ainda há fundos denominados em dólares e euros disponíveis. Mas o que secou completamente foi o financiamento em moeda local. A minha organização está tentando fornecer garantias de empréstimos às instituições de forma que elas possam tomar dinheiro emprestado dos bancos locais.

Spiegel Online – Os bancos não possuem reservas de equity para ajudá-los a contornar este tipo de escassez de capital?

Iskenderian – Até o momento a maioria das instituições de microfinanciamento não via de fato a poupança como fonte de financiamento. Isso era um produto que elas ofereciam àqueles clientes ansiosos por encontrar um local seguro para colocar o seu dinheiro, em uma instituição na qual confiassem, mas não como uma fonte de financiamento. Onde estamos sendo bastante ativos com os nossos membros é na elaboração de produtos de poupança. Depósitos muito pequenos que entram e saem no banco várias vezes por mês são muito caros. É necessária uma poupança de longo prazo com balanços crescentes para fazer com que valha a pena para a instituição oferecer esse tipo de produto.

Spiegel Online – No mundo em desenvolvimento, as mulheres estão sendo particularmente atingidas pela crise – mas quem de fato provocou a crise foram os homens. Será que a crise financeira teria ocorrido se um número maior de mulheres trabalhasse nos mercados financeiros?

IskenderianExistem atualmente trabalhos e pesquisas analisando por que motivo melhores decisões são feitas por grupos mais diversificados de pessoas trabalhando em conjunto. Os homens são quase que programados pelos hormônios para se arriscarem mais, o que é ótimo nos ciclos de prosperidade, quando eles obtêm retornos amplificados dos investimentos. Mas as mulheres proporcionam retornos bem mais estáveis no decorrer do tempo. Participei de muitos grupos nos quais, quando existia uma massa crítica de mulheres ou de pessoas de cor, ou qualquer outra coisa diferente da dominante hierarquia masculina branca, havia simplesmente uma outra abordagem dessa questão.

Spiegel Online – A maior parte dos empréstimos que você concede é para as mulheres. Por que isso?

Iskenderian – As mulheres são o ponto de entrada para o resto da família. Quando se fortalece economicamente a mulher, e ela é capaz de investir em um negócio, as maneiras como ela reinveste os rendimentos são as mesmas em qualquer lugar: a educação dos filhos, serviços de saúde para a família e moradia. Esses são os benefícios inter-gerações de longo prazo dos quais o lar inteiro se beneficia.

Spiegel Online – E isso não funcionaria se os empréstimos fossem concedidos aos homens?

IskenderianEu não quero entrar em uma discussão do tipo “os homens são maus e as mulheres são boas”. O que ocorre é uma divisão de trabalho ou prioridades. As mulheres reinvestem na família, no lar e nos filhos, e os homens reinvestem nos negócios, de forma que estes tendem a crescer mais rapidamente. Se todo o rendimento obtido ficasse no lar, isso seria um fato positivo. Infelizmente, o que vemos com frequência é que grande parte do dinheiro gerado pelos homens é desviado do lar. Eu vi uma estimativa não oficial segundo a qual cerca de 20 centavos de cada dólar em uma residência de baixa renda é gasto com jogo, prostituição, álcool e refrigerantes açucarados. E você provavelmente sabe que membro da família está gastando o dinheiro dessa forma.

Spiegel Online – Se o modelo de microcrédito tem tanto sucesso, por que os bancos tradicionais não passam a oferecê-lo? Será que se trata de algo de fato tão diferente do negócio central desses bancos?

Iskenderian – Existe um interesse crescente dos bancos em avaliar como eles poderiam atingir essa parcela da população – em muitos países os segmentos de baixa renda são os únicos que estão crescendo como mercados. Portanto, os bancos estão bem ansiosos. Mas as suas estruturas de custos fazem com que seja muito difícil conceder empréstimos muito pequenos. O valor médio dos nossos empréstimos é um pouco superior a US$ 500, e a melhor prática para uma instituição de microcrédito é contar com 450 clientes por agente de financiamento, algo que não existe nos bancos tradicionais. Os nossos juros variam de 30% a 40% – para cobrir os custos operacionais. Trata-se de um negócio bem caro porque há um grande foco nos clientes e em conhecer a dinâmica domiciliar deles.

Spiegel Online – A crise financeira fez com que ficasse mais difícil obter crédito no mundo desenvolvido. Será que o microfinanciamento poderia ser um modelo útil?

Iskenderian – Estamos sendo inundados por pedidos de crédito. E alguns membros da minha diretoria estão rogando que nos voltemos para os Estados Unidos. Mas neste país ainda existe bastante acesso ao crédito e, até o momento, o microfinanciamento não teve sucesso nos Estados Unidos. Alguns países desenvolvidos tiveram mais sucesso nessa área. A Espanha, por exemplo. E houve também algum sucesso, mesmo nos Estados Unidos, das operações junto a comunidades étnicas. Mas, e não quero parecer pessimista, onde ainda existe acesso ao crédito, é difícil para o microfinanciamento ganhar muito terreno.

Crédito, em resumo, é isso:

Posted in banco, credito by Raul Marinho on 18 maio, 2009

credito

Do sempre ótimo Aqui tem coisa, blog do Fernando Stickel:

O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro.

(A imagem original está aqui).

Risco EUA?

Posted in Atualidades, crise de credito by Raul Marinho on 16 maio, 2009

fundo do poço

De acordo com o artigo abaixo, do David Walker (ex controlador-geral das finanças públicas dos EUA) publicado no Financial Times, os títulos do governo estunidense estão em cheque – durante um período, os títulos do McDonald’s teriam sido avaliados como de menor risco que os do Tesouro dos EUA (!!!). Como será o mundo financeiro se os T-Bonds deixarem de ser AAA? Aí sim veremos uma crise complicada.

Classificação dos EUA sob risco

Os gastos com saúde e os desequilíbrios fiscais ameaçam a classificação AAA dada por agências aos EUA

MUITO ANTES da crise, quase dois anos atrás, uma nuvem negra não muito perceptível surgiu no horizonte do governo dos EUA. Foi ignorada. Mas agora aquela sombra, na forma de alerta vindo de uma das grandes agências de classificação de crédito no sentido de que o país corre risco de perder sua classificação AAA caso não comece a colocar as finanças em ordem, voltou para nos assombrar.

O alerta da Moody’s tinha por foco a disparada dos custos da Previdência e da saúde, que ameaçam afundar o governo em dívidas pelas próximas décadas. Os fatos mostram que estamos em forma ainda pior agora, e há sinais de que a confiança na capacidade dos EUA de controlar suas finanças está se abalando.

Os preços dos seguros contra inadimplência para títulos do Tesouro norte-americano subiram, o que significa que os investidores agora arcam com custo maior para proteger seus investimentos em papéis do Tesouro. Aliás, por um breve período, tornou-se mais caro comprar proteção para investimentos em títulos do Tesouro do que em papéis da McDonald’s. Outro sinal de alerta surgiu na China, onde o primeiro-ministro e o presidente do BC expressaram preocupação quanto à situação de crédito em longo prazo dos EUA e o valor do dólar.

A despeito da desaceleração econômica, os EUA dispõem dos recursos, do conhecimento e da resistência necessários a restaurar sua economia e cumprir seus compromissos. Além disso, muitos dos trilhões de dólares recentemente canalizados para o sistema financeiro com sorte resultarão em uma recuperação, o que estimulará a economia.

O governo dos EUA conta com a classificação AAA de crédito para seus títulos desde 1917, mas não se sabe por quanto tempo essa situação vai persistir. Na minha opinião, basta que aconteça uma ou duas coisas para que venhamos a perder nossa classificação de crédito impecável.

Primeiro, embora uma reforma abrangente da saúde seja necessária, ela não deve debilitar ainda mais as condições financeiras do país. Fazê-lo sinalizaria que a prudência fiscal está sendo ignorada, como resultado do esforço de atender às necessidades sociais, o que colocaria o futuro do país sob ameaça ainda maior.

Segundo, se o governo não conseguir desenvolver um processo que permita que escolhas duras quanto a gastos, impostos e controle de Orçamentos sejam tomadas quando superarmos a crise econômica, isso sinalizaria que o nossos sistema político não está à altura da tarefa de enfrentar os grandes desequilíbrios que teremos de encarar, tanto conhecidos quanto desconhecidos.

Como se poderia justificar uma nota AAA para uma entidade com passivo líquido acumulado de mais de US$ 11 trilhões e obrigações adicionais não contabilizadas de US$ 45 trilhões? Uma entidade que deve registrar déficits anuais de ao menos US$ 1 trilhão por ainda muitos anos?

A nação precisa promover uma reforma abrangente na saúde. Mas é importante que não voltemos a nos sabotar. Uma reforma deveria reduzir as imensas promessas de saúde que já temos, bem como os imensos e crescentes déficits estruturais que ameaçam o nosso futuro.

Uma forma de escapar a esses problemas é que o presidente e o Congresso criem uma “comissão do futuro fiscal”, em que tudo isso esteja em debate, incluindo controles de Orçamento, reformas em programas de benefícios e alta de impostos.

Temos de agir antes que venhamos a enfrentar crise econômica muito maior. Não devemos esperar pelo rebaixamento de nossa classificação de crédito. Para Washington, o momento de despertar é agora.

Já pode ir comprando a pipoca

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 14 maio, 2009

tetro_01

No meu livro “Prática na Teoria”, utilizo o enredo de “O Poderoso Chefão” para ilustrar as relações de altruísmo recíproco. Agora, de acordo com essa nota do UOL, o Coppola está lançando uma espécie de “O Poderoso Chefão” sem tiros: “Tetro“, filmado em Buenos Aires. Já estou comprando a pipoca.

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Mulheres vs Mulheres

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 13 maio, 2009

woman fight

Você tem a impressão de que as mulheres são muito mais agressivas com as outras mulheres do que com os homens? Pois é, não é impressão… Leia o artigo abaixo, do Mickey Mecce publicado no The New York Times do último dia 11/05:

Mulheres preferem puxar o tapete de outras mulheres no trabalho

Gritos, intrigas e sabotagem. São sinais claros de que uma “bully” está em ação, colocando armadilhas para suas colegas de trabalho a cada passo. [“Bully”, em inglês, é aquele que pratica o “bullying”, uma atitude de agressividade física ou psicológica continuada com o objetivo de intimidar ou prejudicar alguém dentro de um grupo.]

Com a crise econômica, à medida que cresce o nível de estresse, pesquisadores do ambiente corporativo dizem que as “bullies” podem ficar mais agressivas e aumentar seus ataques.

Talvez não seja surpresa o fato de que a maioria dos bullies sejam homens, como mostra uma pesquisa do grupo Workplace Bullying Institute. Mas cerca de 40% dos bullies são mulheres. E, pelo menos, os homens que praticam o bullying têm uma abordagem mais igualitária, atacando homens e mulheres na mesma medida. Já as mulheres parecem preferir outras mulheres como alvo em mais de 70% das situações.

Em nome das feministas Betty Friedan e Gloria Steinem, o que está acontecendo?

Só a menção de mulheres tratando mal umas às outras no ambiente de trabalho parece estremecer a base do movimento feminista. É o que Peggy Klaus, treinadora de executivos em Berkeley, Califórnia, chama de “elefante cor-de-rosa” na sala. Como as mulheres podem vencer a discriminação se são obrigadas a evitar dos golpes verbais de outras mulheres nos escritórios, corredores e salas de reunião?

As mulheres não gostam de falar sobre o assunto porque é “muito contraditório em relação ao jeito que em tese deveríamos nos comportar com as outras mulheres”, diz Klaus. “Esperam que sejamos acolhedoras e solícitas.”

Pergunte às mulheres sobre as brigas com outras mulheres no ambiente de trabalho e algumas dirão que ambos os sexos podem se comportar mal.

Outras balançam a cabeça, concordando de imediato, e contam exemplos de como outras mulheres – muito mais do que os homens – as maltrataram.

“Já fui sabotada tantas vezes por outras mulheres no ambiente de trabalho que finalmente saí do mundo corporativo e abri meu próprio negócio”, disse Roxy Westphal, que dirige a companhia de produtos promocionais Roxy Ventures Inc. em Scottsdale, Arizona. Ela ainda se lembra das ferroadas que levou numa entrevista há 30 anos com uma mulher que “se transformou em um pelotão de fuzilamento de uma pessoa” e fez com que ela saísse do prédio aos prantos.

Jean Kondek, que se aposentou recentemente depois de 30 anos de carreira em publicidade, lembra-se de como ficou irritada com a gerente de uma pequena agência que pediu uma reunião para criticá-la em frente aos colegas por ela não ter seguido o procedimento da agência numa emergência com um cliente.

Mas Kondek disse que ela teve a palavra final. “Eu disse: ‘Será que todos podem nos deixar a sós?’ E depois disse a ela: ‘Não é assim que se lida com essa situação'”, contou.

Muitas mulheres que ainda estão no ambiente corporativo não quiseram ter seus nomes divulgados por medo de tornar as coisas piores ou prejudicarem suas carreiras. Uma contadora da Califórnia disse que entrou recentemente numa empresa e recebeu um “tratamento de gelo” por parte de duas mulheres que trabalhavam lá. Uma delas até a empurrou na copa durante uma discussão, disse a contadora. “Como se estivéssemos no colegial”, disse.

Uma executiva sênior disse que tinha “finalmente vencido o preconceito”, até que outra mulher chegou para roubar seu emprego, dizendo para a gerência: “não dá para trabalhar com ela; ela não coopera”.

A estratégia funcionou: a executiva disse que logo perdeu seu emprego para a mulher que a acusou.

Uma das razões pela qual as mulheres escolhem umas às outras como alvos “talvez seja a ideia de que as mulheres não confrontam tanto e têm menos chances de responder agressão com agressão”, diz Gary Namie, diretor de pesquisas para o Workplace Bullying Institute, que coordenou o estudo em 2007.

Mas pode haver outra dinâmica em funcionamento. Depois de cinco décadas de luta por igualdade, as mulheres representam mais de 50% das posições de gerência, vagas profissionais e ocupações relacionadas, diz o grupo de pesquisa sem fins lucrativos Catalyst. Mesmo assim, o censo de 2008 descobriu que as mulheres representavam apenas 15,7% dos 500 altos funcionários corporativos da “Fortune”, e apenas 15,2% dos diretores.

Especialistas em liderança se perguntam: será que as mulheres estão sendo “exageradamente agressivas” porque há muito poucas oportunidades para crescer? Ou isso é um estereótipo e é só impressão que as mulheres estão sendo exageradamente agressivas? Existem um peso e duas medidas no ambiente de trabalho?

A pesquisa sobre os estereótipos de gênero da Catalyst sugere que não importa como as mulheres escolham liderar, os outros nunca acham que elas estão certas. Além disso, o grupo descobriu que as mulheres precisam trabalhar duas vezes mais duramente do que os homens para atingir o mesmo nível de reconhecimento e provar que podem liderar.

“Se as líderes corporativas agem de forma consistente com os estereótipos de gênero, são consideradas muito fracas”, descobriu o grupo num estudo de 2007. “Se elas vão contra os estereótipos de gênero, são consideradas duras demais.”

“As mulheres estão tentando descobrir a chave mágica para o reino”, disse Laura Steck, presidente do Growth and Leadership Center em Sunnyvale, Califórnia, e consultora de liderança executiva. Quando as mulheres sentem que precisam ser agressivas para serem promovidas, diz ela, é o que acabam fazendo. Então, de repente, elas veem a necessidade de agir com mais coleguismo e cooperação, em vez de serem competitivas.

Cleo Lepori-Costello, vice-presidente em uma companhia de software no Vale do Silício, veio para o centro para um treinamento. Ela teve um início conturbado ao assumir sua nova posição “como um elefante numa loja de porcelana”, disse Steck.

Ao reunir informações sobre Lepori-Costello, Steck ouviu comentários como: “Cleo é boa em conseguir que as coisas sejam feitas, mas talvez tenha sido muito dura no começo. Ela não observava as várias regras culturais implícitas.”

Então, junto com Kent Kaufman, outro treinador do centro, Steck começou um programa de treinamento individual de uma vez por semana, durante um ano. Ele incluía a encenação de situações e discussões com outras executivas que reconheciam que também não sabiam bem como serem mais políticas no trabalho. (O grupo recebeu o apelido de Bully Broads [algo como “As Duronas”]).

Quando chegou ao centro, Lepori-Costello achou que as colegas não estavam abertas para suas ideias. Por meio do trabalho de treinamento e a dramatização de conflitos, ela percebeu que seu comportamento talvez fosse “muito agressivo” e que ela nem sempre atendia às pessoas ao redor dela.

Joel H. Neuman, pesquisador da Universidade do Estado de Nova York em New Paltz, diz que o comportamento mais agressivo no trabalho é influenciado por vários fatores que envolvem os bullies, as vítimas e as situações em que trabalham. “Isso incluiria assuntos relacionados à frustração, características pessoais, percepção de tratamento injusto, e uma variedade de estresses associados à ênfase na eficiência nos ambientes de trabalho”, diz ele.

Neuman e sua colega Loraleigh Keashly, da Wayne State University, desenvolveram um questionário para identificar todos os comportamentos que constituem o bullying, o que pode ajudar as companhias a identificar os problemas que na maioria das vezes passam despercebidos.

O bullying envolve diversos tipos de comportamento agressivo verbal ou psicológico, que perdura por um período de no mínimo seis meses. Suas 29 perguntas incluem: “ao longo dos últimos 12 meses, você se sentiu com regularidade: sendo olhada de maneira hostil, recebendo tratamento de silêncio, sendo tratado de maneira rude ou desrespeitosa, ou passou por uma situação em que outras pessoas não negaram fofocas falsas sobre você?”.

O Workplace Bullying Institute diz que 37% dos funcionários já sofreram com o bullying. Mesmo assim, os empregadores ignoram o problema, que influencia a rotatividade de funcionários e os custos com assistência médica e produtividade, diz o instituto. Raramente os casos vão para a Justiça, diz o instituto, porque não há nenhuma lei direta que pode ser aplicada, e os custos são altos.

Dois pesquisadores canadenses começaram a examinar recentemente o tipo de bullying que coloca mulher contra mulher. Eles descobriram que algumas mulheres podem sabotar as outras porque sentem que ajudar as colegas de trabalho poderia prejudicar suas próprias carreiras.

Uma das pesquisadoras, Grace Lau, candidata a Ph.D. na Universidade de Waterloo, diz que o objetivo era incentivar as mulheres a ajudarem umas às outras. “Como?”, diz ela. “Uma forma que imaginamos seria lembrar às mulheres que elas são integrantes da mesma equipe.”

“Acreditamos que um senso de orgulho em relação às conquistas femininas seja importante para fazer com que elas ajudem umas às outras”, disse Lau. “Para ter esse tipo de orgulho, as mulheres precisam se conscientizar de que compartilham uma identidade comum.”

No ambiente de trabalho, entretanto, é pouco provável que as mulheres pensem sobre si mesmas como membros de um grupo, diz ela. É mais provável que elas vejam a si mesmas como indivíduos, uma vez que são julgadas pelo seu rendimento.

“Como resultado, as mulheres não sentem uma necessidade de ajudar umas às outras”, diz. “Elas podem até sentir que, para crescer, precisam sabotar suas colegas de trabalho, escondendo oportunidades de promoção, e também podem achar que as mulheres são alvos mais fáceis do bullying porque são teoricamente mais fracas do que os homens.”

Existe lugar mais propício para o bullying do que a prisão? Mesmo assim, foi exatamente aí que a Televerde, companhia de Phoenix especializada em gerar oportunidades de vendas e “insights” de marketing para companhias de alta tecnologia, estabeleceu suas operações. Há cerca de 13 anos, a empresa criou quatro call centers na prisão estadual de Perryville, no Arizona, empregando 250 das 3.000 detentas.

Por meio de treinamento de imersão, aconselhamento e trabalho com clientes reais, essas mulheres podem superar suas circunstâncias difíceis, disse Donna Kent, vice-presidente sênior da Televerde.

“Normalmente, elas superam o bullying, e vemos tudo se transformar. Isso é o que dá inspiração para nós e nossos clientes.”

Hoje, cerca de metade do escritório corporativo da Televerde é composto de “graduadas” em Perryville, incluindo Michelle Cirocco, diretora de operações de vendas. Ela viu como as mulheres tratam umas às outras em outros ambientes, e acredita que a raiz do problema é que as mulheres são ensinadas a brigar por atenção desde muito cedo.

“Competimos com nossas irmãs pela atenção do nosso pai, ou do nosso irmão”, diz Cirocco. “Depois vamos para a escola, onde competimos pela atenção dos professores. Competimos para entrar nas equipes de esportes ou de torcida.”

A experiência da Televerde, entretanto, não é para todas as presidiárias, e as que participam precisam trabalhar duramente para garantir uma posição altamente cobiçada.

“Quando entramos no mundo corporativo”, acrescentou Cirocco, “somos ensinadas ou levadas a acreditar que não crescemos por causa dos homens. Mas, na verdade, nós não crescemos por causa de nós mesmas. Em vez de promover e valorizar umas às outras, estamos sempre tentando nos colocar para baixo”.

A Televerde reverteu essa atitude em Perryville, diz Cirocco, encorajando as mulheres a trabalhar por uma causa comum, em um ambiente muito parecido com aquele idealizado pelos pesquisadores canadenses.

“É um ambiente bastante acolhedor”, diz Cirocco. “Todas essas mulheres se tornam suas amigas, e você investe pessoalmente no sucesso delas.

Todo mundo quer que todo mundo saia da cadeia, siga em frente e tenha uma vida saudável.”

Se o nível de apoio que existe na Televerde fosse encontrado em todos os lugares, diz Klaus, resolveria muitos problemas.

“Chegou o momento”, afirma ela, “de lidarmos com essa relação que as mulheres têm umas com as outras, porque isso de fato impede que tenhamos sucesso no ambiente de trabalho como gostaríamos e deveríamos ter”.

“Já temos obstáculos suficientes; não precisamos mais nos acotovelar”.

Porque não tem mais graça fumar

Posted in Uncategorized by Raul Marinho on 12 maio, 2009

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Fumei por 25 anos, e já estou há mais de um ano sem fumar. Ainda sinto vontade, mas não é nada torturante, dá para aguentar. Parei não porque estivesse me sentindo mal ou por medo de câncer, parei simplesmente porque estava ficando chato fumar – e olha que eu nem imaginava que a lei anti-fumo de São Paulo iria ser aprovada. Fumar só faz sentido se você puder satisfazer o seu vício sempre que necessário, senão vira tortura. Explico.

A maioria das drogas são “positivas”, você se sente melhor depois de usá-las. Um fumante de crack, por exemplo, sente um enorme prazer depois de aspirar a fumaça do seu cachimbo. Já o cigarro é uma droga “negativa”: ele não te dá nenhum barato, você simplesmente deixa de sentir o desconforto por estar há muito tempo sem fumar. E é aí que está o problema: com tantas restrições ao fumo, está cada vez mais difícil se livrar desse desconforto, e o resultado é que o fumante sofre demais.

Quando comecei a fumar, podia fumar no avião. Na minha época de faculdade, fumava na sala, durante a aula (os professores também). No trabalho, todo mundo podia fumar na própria estação de trabalho (exceção feita aos funcionários das refinarias). Fumava-se em praticamente todo lugar, até nos hospitais (pelos médicos, inclusive). Aí, fumar é bom: sempre que você sentir o organismo reclamando da falta de nicotina, é só acender um cigarro. Genial! Mas aí…

…Ficou proibido fumar no avião, e você faz uma viagem internacional de 14 horas, leva mais umas duas horas até pegar as malas, passar pela imigração, free-shop, e alfândega, e é obrigado a ir acender seu cigarro na rua, fora do aeroporto, embaixo de neve.

…Você passa 5 horas por dia na faculdade sem poder fumar, ou então tem que sair na rua no intervalo, e vai perder o cafezinho com os amigos.

…Inventaram o maldito fumódromo nas empresas, e depois, de uma hora para outra, jogaram os fumantes no meio da rua.

…Aprovaram a lei anti-fumo, o que significa que você só vai poder fumar andando na calçada, dentro do seu carro (desde que você não esteja dirigindo, pois aí é infração de trânsito), ou na sua casa, se seu marido/mulher/filho/pai/avô não implicar.

Portanto, meu caro amigo fumante… Pare, que a coisa ficou sem graça. Uma sugestão: tome Zyban. Comigo funcionou.