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Doenças mentais, inteligência e seleção de grupo

Posted in Evolução & comportamento, teoria da evolução by Raul Marinho on 4 junho, 2009

mad scientist

James Watson, um dos descobridores da estrutura da molécula de DNA e um dos cientistas mais importantes de todos os tempos, é famoso pelas polêmicas em que se envolve – como as declarações racistas que proferiu, em que sugeriu que os negros tendem a ser menos inteligentes que os brancos. Agora, o prêmio Nobel volta às manchetes (vide matéria abaixo, do Cláudio Ângelo para a Folha de ontem), com suas declarações sobre supostas correlações entre autismo, esquizofrenia e inteligência, inclusive com referências pessoais (Watson tem um filho esquizofrênico).

Até aí, tudo bem (embora “inteligência” seja uma coisa complicada até para se definir de maneira inequívoca). O complicado é quando o cientista explica o fato evolutivamente: “As sociedades que têm indivíduos com alta cognição, como Einstein e Darwin, se beneficiam. O processo evitaria o expurgo da inteligência -e da esquizofrenia- do “pool” genético dessas populações”. Essa explicação remete ao velho conceito de seleção de grupo, que já se provou incorreto em termos biológicos. Se a Inglaterra se beneficia com a existência de um Darwin, por que os genes do Darwin seriam privielgiados? Porque os descendentes do velho Charles teriam mais chances de sobrevivência numa sociedade melhorada pelo trabalho do vovô? Ora, convenhamos…

De qualquer maneira, o insight sobre doenças mentais e inteligência parece promissor (será que o estereótipo do cientista louco tem algum fundo de verdade?). Veremos onde esse negócio vai nos levar…

Autismo é o preço da inteligência

Descobridor da estrutura do DNA diz que genes da alta cognição se relacionam com doença mental

James Watson admite que hipótese é “especulativa”, mas um outro grupo de pesquisa propôs mecanismo para explicar possível elo

James Watson, descobridor da estrutura do DNA, pai da biologia molecular e polemista profissional, tem uma nova teoria para explicar a suposta genética da inteligência. Os genes que predisporiam algumas pessoas a habilidades intelectuais elevadas seriam os mesmos que disparam doenças como autismo e esquizofrenia.

Coincidentemente, é essa a hipótese que um grupo de pesquisadores da Universidade do Colorado está desenvolvendo. Os dados foram apresentados na semana passada nos Estados Unidos, logo depois de Watson ter delineado suas ideias.

“Isso é muito especulativo. Não posso provar”, admitiu à Folha o biólogo, de 81 anos. Mas a inteligência, continuou, é rara porque casais inteligentes têm probabilidade mais alta de terem filhos com problemas. “E esses genes tendem a ser eliminados pela seleção natural.”

Watson apresentou sua tese durante o 74º Simpósio de Cold Spring Harbor sobre Biologia Quantitativa, organizado pelo laboratório do qual ele era chanceler -até ser demovido do posto no fim de 2007 por ter feito comentários racistas.

Longe de se retratar pelo episódio, Watson ainda sugeriu, durante sua apresentação, que outro motivo pelo qual a inteligência é rara é que “as pessoas inteligentes pagam por dizerem a verdade. Sei disso por experiência pessoal”.

Autorreferência

O cientista começou a desenvolver sua hipótese depois de ter sido o primeiro ser humano a ter o genoma sequenciado.

“Fiquei assustado, descobri que tinha mutações em três genes ligados ao reparo do DNA”.

Esses genes, como o BRCA 1 e o BRCA2, entram em ação para corrigir danos causados durante a replicação do DNA ou por uma agressão do ambiente, como radiação. Mutações neles estão ligadas ao câncer.

“Pessoas com essas mutações tendem a ter filhos especiais”, disse. Watson tem um filho esquizofrênico.

Os mutantes são mais inteligentes que a média e têm menos filhos -e, de acordo com Watson, têm problemas para se relacionar com as outras pessoas. Veja os cientistas.

Supostamente, os genes da inteligência seriam eliminados pela seleção natural. “Mas por que eles não somem e a humanidade não fica mais estúpida?”

Elementar, afirma Watson. As sociedades que têm indivíduos com alta cognição, como Einstein e Darwin, se beneficiam. O processo evitaria o expurgo da inteligência -e da esquizofrenia- do “pool” genético dessas populações.

Faca de dois gumes

Menos especulativa é a ligação entre cognição e doenças mentais feita pelo grupo de James Sikela (Universidade do Colorado). Ele e seus colegas descobriram uma correlação entre o alto número de cópias de um gene numa certa região do DNA humano e o desenvolvimento do cérebro. Essa região, dizem outros estudos, estaria também implicada com autismo e esquizofrenia.

Os pesquisadores identificaram que uma região instável do genoma chamada 1q21.1 concentrava um número alto de cópias de um gene chamado DUF1220. “A relação de causa e efeito não está provada, mas nós relatamos uma correlação” entre o aumento do número de cópias desse gene na linhagem humana e o aumento do cérebro, disse Sikela à Folha.

Essa instabilidade é “uma faca de dois gumes”. “Ela teria permitido mais cópias do DUF1220 e, portanto, teria sido retida na evolução. Por outro lado, essa instabilidade não é precisa, e pode gerar um embaralhamento deletério de sequências. É por isso que os vários estudos recentes que têm relacionado variação no número de cópias na região 1q21.1 no autismo e na esquizofrenia chamaram nossa atenção: isso se encaixa na ideia de que os indivíduos com essas doenças são o preço que a nossa espécie paga pelo mecanismo que permitiu e permite a geração de mais cópias da DUF1220.”

Sikela disse que Watson não sabia de seus dados e que o mecanismo sugerido por ele é diferente. “Mas, em teoria, outras regiões do genoma poderiam se encaixar no modelo.”

Histeria racial

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 18 fevereiro, 2009

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A charge acima saiu publicada hoje no New York Post. Nela, o policial diz alguma coisa como “Eles terão que achar outra pessoa para redigir o próximo projeto de lei de estímulo econômico”, numa clara referência às dificuldades da equipe Obama para tirar o país do atoleiro. O macaco baleado é o chimpanzé Travis, que acabou morto ontem por atacar uma pessoa nos EUA. A charge está dando a maior confusão nos EUA por seu conteúdo supostamente racista.

Este é um exemplo da histeria racial estadunidense. É óbvio que o chimpanzé não estava na charge por causa da cor da pele do Obama ser negra, mas sim porque os planos de estímulo econômico que o seu governo está escrevendo são dignos de um chimpa, dada sua mediocridade. Acho incrível como os estadunidenses são histéricos em questões raciais, e o problema é que essa histeria já contamina o Brasil. Há algum tempo, publiquei esse post aqui, sobre o dia da consciência negra. Repare no comentário que tem abaixo, de um tal Mimy, e comprovem como essa boçalidade histérica racial já chegou por aqui.

Um belo artigo da “escurinha”

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 21 novembro, 2008

neguinha

Já foi dito aqui, mais de uma vez, que os artigos da Sandra Paulsen (que é tão afrodescendente quanto eu) publicados no Blog do Noblat são sensacionais. Pois hoje tem um melhor que a média, que segue abaixo. Depois, ousarei fazer um poequeno comentário sobre o trecho destacado em itálico.

Racismo, identificação e empoderamento

Recentemente, li na Veja o artigo de Roberto Pompeu de Toledo sobre a eleição de um negro para a presidência dos Estados Unidos e o «black is beautiful fase 2».

Pompeu de Toledo, brilhante como sempre, falava do efeito que ver as filhas de Barack Hussein Obama na televisão pode ter sobre a menina negra brasileira, que «não sentirá, a rebaixá-la, a diferença de cor».

Entendi o sentido e gostei muito do artigo. Só não gostei muito da escolha da palavra. A diferença de cor não tem por que rebaixar ninguém. Se o faz, é justamente por causa da nossa própria educação, cultura e hábitos, nosso sistema de valores.

Mas, sem dúvida, o melhor de Obama, além da esperança que traz, está no efeito demonstração e identificação. O mesmo efeito, aliás, que se busca através das famosas quotas, as quais tendo a aceitar quando se referem a mulheres, e de cuja adoção discordo quando se referem à raça ou cor da pele (devido à dificuldade para definir quem é negro e quem não é).

A presença de negros, pessoas com deficiências físicas, mulheres ou quaisquer outros grupos menos privilegiados no mercado de trabalho, ocupando espaços na política ou nas altas hierarquias das empresas, «chegando lá», contribui para diminuir o preconceito e a segregação.

E eu acho que se identificar com as filhas do presidente dos Estados Unidos tem o efeito de «empoderamento» que nenhuma quota pode ter.

Eu sou mestiça. De tudo. Ou quase. Tenho sangue branco, negro, índio e libanês nas veias. Graças a Deus, sempre senti orgulho de ter a herança de quatro dos cinco continentes do mundo nos meus gens!

Nunca me senti afetada pelo racismo, até os 22 anos de idade. Aí, em uma curta visita à vizinha Argentina, senti pela primeira vez os custos do «ser escurinha», como me disse lá uma senhora italiana de olhos azuis. E voltei a me chocar depois, no Chile, quando uma médica, numa clínica do Bairro Alto, explicou uma erupção na pele da minha filha como «um problema típico da mistura de raças».

Mas, minha pior experiência de racismo não foram esses dois episódios. Nem foi escutar de colegas de trabalho, na volta de umas férias na praia, com os cabelos ao natural e a pele lindamente bronzeada, que eu «tinha um pé na cozinha».

Nem tampouco surpreender uma vendedora, num shopping center chique de Santiago do Chile, ao sacar meu American Express dourado para pagar as peças de roupa que ela achava que eu estava tentando roubar. Afinal, «escurinha» daquele jeito, eu só poderia estar aprontando alguma. (Só como esclarecimento, já não tenho o tal cartão, aquilo foi um tempo passageiro de ilusão de prosperidade.)

Também já estou acostumada ao desconcerto e outras reações menos discretas das pessoas que me conhecem numa estação do ano e não me reconhecem na outra. Como camaleão, eu mudo de cor, dependendo do sol, e de cabelo, dependendo do humor do dia.

Minha pior experiência de racismo foi cair na besteira de recomendar meu costumeiro «bálsamo para cabelos encaracolados» para a filha de um amigo com cabelos «afro» impossíveis de desembaraçar. Fiquei totalmente sem graça ao ouvir dele, como resposta, que a filha não precisava disso, porque os cabelos dela não eram crespos.

Quero dizer que o pior do racismo são os absurdos que nós, negros ou descendentes, às vezes cometemos para não nos identificar, nem sermos identificados, com outros negros e mestiços.

E é isso que eu espero que Barack Hussein Obama possa ajudar a mudar. Nos EUA, no Brasil, na Suécia, e em todo lugar…

Penso que cotas de qualquer tipo são sempre prejuciais. Se alguém é obrigado a engolir uma mulher, um deficiente ou um negro contra a vontade, mais cedo ou mais tarde esse alguém irá dar o troco. Ou com algum tipo de humilhação pública (mais ou menos velada), ou com menos boa vontade nas promoções, ou de alguma outra forma. É da natureza humana, não tem jeito… Há inúmeras outras maneiras de resolver o problema sem apelar para as cotas, principalmente investindo na educação diferenciada para os segmentos discriminados.

Artigo Bárbaro – II

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 21 novembro, 2008

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Pôxa, assim a vida de blogueiro fica complicada… Olha só o artigo que a Bárbara Gancia publicou hoje na Folha. Matou uma meia dúzia de posts meus, e ainda sobrou um montão.

Deixa a vida me levar…

Se o sócio do Paulistano não quer ver Zeca Pagodinho, que não vá ao show. Por que esse medo irracional do sambista?

A MELHOR FRASE que ouvi nos últimos dias veio da comediante Joy Behar, que substituiu a Larry King em seu programa de entrevistas na rede CNN. Falando sobre a derrota do casamento gay no Estado da Califórnia, Behar disse: “Gay is the new black”, ou seja, o homossexual é o novo negro.
Se o negro já pode ocupar o cargo mais importante do planeta, o de presidente dos EUA, ele pode tudo. E a minoria discriminada da vez passa a ser a que engloba os gays, as lésbicas e as outras “colorações” diversas sobre esse mesmo tema.
Além de engraçada, a frase faz todo o sentido do mundo. Quando o presidente eleito Barack Obama nasceu, há 47 anos, o casamento interracial (entre negros e brancos) ainda era considerado crime em 15 Estados norte-americanos.
Hoje, a própria discussão sobre raça tornou-se obsoleta. Sabemos (ao menos, aqueles de nós com dois ou mais neurônios para chamar de seus) que raça não existe.
E que, a não ser que você seja um daqueles tocadores de banjo do filme “Deliverance” (“Amargo Pesadelo”) que ainda sobrevivem em alguns rincões escondidos dos EUA, esse assunto não será de grande relevância para você.
O leitor mais exaltado dirá que, para os norte-americanos, o negro, assim como o latino, serão sempre cidadãos de segunda categoria, Barack Obama na presidência ou não. Nesse caso, serei forçada a apontar o dedo para o nosso próprio cafofo.
Explico: às vésperas do Dia da Consciência Negra, o colega Vinícius Queiroz Galvão assinou reportagem, neste caderno Cotidiano, relatando que a ouvidoria do Club Athletico Paulistano, um dos maiores de SP, está recebendo queixas de sócios que não querem a presença de Zeca Pagodinho em apresentação de fim de ano no clube.
Teve sócio desgostoso chamando Pagodinho de “cachaceiro”, dizendo que ele deveria “se apresentar no Corinthians” e até alertando para que a presença dele no clube abriria as portas para bailes funk.
A mim parece clara a posição desses sócios: pagodeiro e pobre não só não são bem-vindos no círculo deles como constituem uma ameaça. É o mito do negro estuprador sendo vivido em sua plenitude. Pois na minha modestíssima opinião, se o sócio do Paulistano não quer ver a fuça do Pagodinho, que não vá ao show. Por que esse medo irracional do sambista?
Veja: por sua atuação irresponsável como garoto-propaganda de bebida alcoólica, eu não confiaria meu cão a Zeca Pagodinho para dar uma volta no quarteirão. Mas a música dele é divina e uma coisa não tem nada a ver com a outra.
Comentei o causo no meu blog (que, aliás, está esperando a sua visita) e um internauta, também sócio do Paulistano, que escreveu para dizer que há muitos anos, em um jogo de tênis mirim entre o seu clube e a Hebraica, os jogadores do Paulistano receberam os adversários “vestindo camisetas estampadas com suásticas”.
Pois quer saber? Se dependesse de mim, o sócio do Paulistano que não quer a presença de Zeca Pagodinho deveria ganhar dois presentes no Natal: um saco de carvão e entradas para a família toda, com presença obrigatória, em show musical do Roberto Justus. Deixa a vida me levar!

Preconceito à brasileira

Posted in Atualidades, Ensaios de minha lavra by Raul Marinho on 19 novembro, 2008

negro-smiling

Ontem, o sambista brasileiro Dudu Nobre e sua esposa teriam sido agredidos e insultados num vôo da American Airlines de Nova York para São Paulo. O contratempo, de acordo com os artistas, teria ocorrido por causa de posturas preconceituosas de comissários de bordo simplesmente porque a pele do casal era escura. De acordo com os relatos, nada teria ocorrido se ambos fossem loiros de olhos azuis. A se confirmar esta história (que, acredito, seja verídica), trata-se de uma clara demonstração de preconceito racial, como é comum ocorrer nos Estados Unidos – um evento cada vez mais raro, mas ainda hoje frequente. (Para mais detalhes, leia essa matéria do G1).

Apesar de a modalidade de preconceito acima descrita também ocorrer no Brasil, nosso maior problema é a discriminação ao pobre, ao favelado, ao miserável. Um branco banguela, mal vestido e falando errado sofrerá tanto preconceito quanto um negro. O fato do sujeito ser negro, por si só, não chega a ser um problema, o drama são os sinais de pobreza – e a pele negra é apenas um deles. Exploraremos esse assunto mais a fundo amanhã, dia da consciência negra. Por ora, iremos nos focar à seguinte matéria, publicada hoje na Folha, e sua interpretação equivocada do problema:

Renda do negro é metade da do não-negro

Segundo pesquisa Seade/Dieese, negro tem rendimento médio de R$ 4,36 por hora em SP; não-negro recebe R$ 7,98

Causas da diferença são o menor acesso à educação e o preconceito, que impede o negro de subir na carreira, segundo os especialistas

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

O trabalhador negro (preto e pardo) ganha apenas cerca da metade do que o não-negro (branco e amarelo) recebe na Grande São Paulo. São R$ 4,36 por hora, em média, contra R$ 7,98, segundo pesquisa realizada pela Fundação Seade e pelo Dieese.
Quanto maior o nível escolar, maiores as disparidades. O rendimento real do indivíduo negro que não concluiu o ensino fundamental é de R$ 3,44 por hora, e o do não-negro, R$ 4,10 -uma diferença de 19,2%.
Já na comparação entre duas pessoas que terminaram a universidade o abismo atinge 40%: o negro recebe R$ 13,86 por hora e o não-negro, R$ 19,49. O levantamento foi realizado em 2007, mas os valores tiveram correção monetária até julho.
“Considerando a média de R$ 4,36 por hora e o fato de que o negro escravo do Brasil Imperial contava com a renda indireta da comida e da moradia, pode-se falar que nada mudou”, argumenta o presidente da ONG Afrobras e reitor da Unipalmares (Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares), José Vicente.
No que diz respeito ao desemprego, a situação apresentou pequena melhora nos últimos dez anos. Em 1999, a porcentagem de negros desempregados era de 24,3% ante 16,8% dos não-negros. No ano passado, as taxas estavam em 17,6% e 13,3%. O Dieese diz que a tendência é semelhante no resto do país, porém os números mudam segundo a composição étnica da população local.
“O crescimento da economia do país desde 2004 criou vagas para os negros. Algumas diferenças, entretanto, não se desfazem ao longo do tempo”, diz Patrícia Lino Costa, coordenadora da pesquisa.
O indicador “mais preocupante”, aponta, é o que mostra a distância entre os ganhos dos negros e dos não-negros que fizeram faculdade. O restrito acesso à escola é uma das principais causas da desigualdade no mercado de trabalho, mas, para quem conseguiu superá-la, o preconceito acaba sendo o pior obstáculo, afirma. Uma vez contratado por uma empresa, o trabalhador negro não consegue galgar posições e subir na carreira, daí a sua renda ser inferior à dos brancos que sobem na hierarquia, diz ela.
“Os negros não conseguem sequer entrar em um cargo mais elevado. Entre um engenheiro negro e um branco, certamente prefere-se contratar o branco, achando que o negro não é capaz”, afirma Vicente.
“Na minha opinião, trata-se da dificuldade em lidar com o diferente”, resume Costa. “Existe um perfil de trabalhador que o mercado recebe melhor: homem branco, entre 25 e 39 anos. Ou seja, negros são discriminados, mulheres, homens muito novos ou mais velhos.”
Por isso, de acordo com os especialistas, a redução das disparidades começa na educação fundamental, para que as crianças aprendam desde cedo a lidar com as diferenças. Para Vicente, as cotas em escolas técnicas e nas universidades ajudam, porém deveriam ser uma “verdadeira política de Estado, e não fruto apenas da boa vontade de um grupo de reitores”. As empresas, por sua vez, estão aumentando os seus programas de inclusão, diz Costa.
“O problema é a velocidade do avanço. No Brasil, que se orgulha da sua miscigenação, números como esses de renda e emprego são chocantes. Os EUA, onde até 50 anos atrás um negro não podia beber água no mesmo bebedouro de um branco, acabaram de eleger um negro presidente. Falta seriedade ao nosso governo”, diz Vicente.

Os indivíduos de pele escura podem ganhar menos que os de pele clara, mas isso não significa discriminação racial, por mais que estejamos acostumados a esta interpretação. Como disse acima, aqui no Brasil o problema não é o sujeito ser negro, mas ele ser pobre. Ter “cara de pobre”, de acordo com a nossa cultura, é ser desdentado, ter traços de nordestino, falar errado, vestir-se mal, cheirar a perfume barato, não ter “bons modos”, não falar uma língua estrangeira, desconhecer “coisas chiques” (ex.: outros países, marcas famosas, bairros nobres, etc.), e… ter a pele escura. Repare que a cor da pele é somente um dos fatores de discriminação, não o único e, nem de longe, o mais importante.

Um negro poliglota, hábil no manejo de talheres, vestido de Armani, residindo no Morumbi e andando de Mercedes não seria discriminado aqui tanto quanto seria nos EUA. Sim, há exceções, especialmente entre alguns grupos (p.ex.: famílias vindas de determinados países europeus em épocas recentes), mas o nosso preconceito é, majoritariamente, contra o pobre. É por isso que o engenheiro negro (para usar o exemplo do texto) deverá se aposentar como técnico, enquento o engenheiro branco deverá encerrar a carreira como diretor: porque o negro se parece com pobre, e a firma sabe que não pegará bem para ela mandar um diretor negro para uma reunião com um fornecedor (que se presume igualmente racista). Se esse engenheiro fosse branco, mas banguela, o efeito seria o mesmo – todavia, não há estatísticas de discriminação aos banguelas, nem “dia da consciência desdentada”. O magnífico reitor que me desculpe, mas ele é que está sendo preconceituoso ao achar que as pessoas presumem que “o negro não é capaz”: não se trata de capacidade, mas de “ter cara de pobre” (o que é ainda pior, aliás).

“Dificuldade em lidar com o diferente” é papo de “””cientista””” social que não tem mais o que fazer (ou seja, todos): a questão é muito mais simples de entender, e ao mesmo tempo muito mais complicada de resolver. Eu, apesar de afrodescendente, tenho a pele clara, o nariz fino, e o cabelo liso – tenho “cara de rico”, enfim. E sou discriminado positivamente por negros com muita frequência, que costumam me tratar melhor que a um outro negro; logo, não tem nada de “dificuldade em lidar com o diferente”, mas a pressuposição de que eu seja rico e que o negão ao lado é pobre, nada mais do que isso. Se o negro chegar de Mercedes (e não houver dúvidas de que é ele o dono do carro, e não o motorista), e eu de Monza, ele é que será mais bem tratado. Alguma dúvida?

Objetivos & missão

Posted in Ensaios de minha lavra, Just for fun by Raul Marinho on 6 outubro, 2008

O conselho de administração deste honrado blog tem o prazer de enunciar nossos objetivos e nossa missão. Que rufem os tambores!

Nossos objetivos:

1)Ser um worstseller. Esse blog não é para ser lido pelas massas. Se, porventura, este blog se tornar popular, ele será sumariamente deletado.

2)Jamais repetir o óbvio. Quer saber das novidades? Tem zilhões de lugares, você está na web. Aqui, as “análises de conjuntura” estão banidas.

3)Lutar contra a mediocridade. Você conhece o termo FEBEAPÁ? Significa FEstival de BEsteiras que Assola o País, e foi cunhado pelo Stanislaw Ponte Preta (vulgo Sérgio Porto – ou seria o contrário?). Bem, o fato é que aqui a gente quer combater o FEBEAPÁ.

4)Fugir dos lugares comuns (ex.: redigir uma declaração de missão) e, em especial, combater o “politicamente correto”. Afrodescendente pode ser, por exemplo, um neto do J.J.Fouché (ex-presidente sul-africano, defensor do apartheid – evidentemente, branco). O Pelé, por sua vez, é negro (ou preto).

5)Ter a liberdade de mudar de opinião. Ninguém aqui é comprometido com ideais. Este é um blog popperiano, e se alguma idéia se comprovar falsa, será sumariamente substituída (inclusive a filosofia de Popper).

Nossa missão:

N/A (vide item 4, acima).

P.S.: Esse post deveria ser uma página, não foi por descuido. Mas agora já era.