Toca Raul!!! Blog do Raul Marinho

Bob Trivers no Brasil

Posted in Evolução & comportamento, teoria da evolução by Raul Marinho on 10 agosto, 2010

Na semana passada, Robert Trivers, o biólogo estadunidense que propôs a teoria do altruísmo recíproco (tema base do meu livro, “Prática na teoria”), esteve no país, num evento na USP. Como lá não estive, segue abaixo matéria da Folha (repórter Ricardo Mioto), que o cobriu:

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Chatice alimentar evolutiva

Posted in Evolução & comportamento, teoria da evolução by Raul Marinho on 20 julho, 2010

Do UOL Ciência e Saúde de hoje:

Fato de crianças serem chatas para comer tem explicação evolutiva

O fato de as crianças serem mais chatas para comer tem uma explicação evolutiva, aponta estudo da pesquisadora Lucy Cooke, do Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública da Universidade College London. “Onívoros (que se alimentam de animais e vegetais) têm a vantagem de possuir uma variedade de opções de comida, mas enfrentam o desafio de identificar quais são saudáveis. Naturalmente, as crianças demonstram aversão ao novo, preferindo os alimentos familiares, com sabores mais simples e doces. No passado, isso promovia a sobrevivência, mas, no mundo moderno, pode ter efeitos adversos na qualidade da dieta”, diz ela em um artigo. O grande problema é quando o medo do novo persiste na idade adulta.

Adultos com paladar de criança intrigam cientistas

Antigamente se achava que apenas as crianças implicavam com determinados alimentos e preferiam comidas como pizza, batata frita e chocolate. Mas, nos últimos anos, pesquisadores perceberam que muitos adultos mantêm hábitos considerados infantis na hora que se sentam à mesa. E, agora, a antipatia a certos grupos de alimentos tem sido tratada por estudiosos de universidades americanas e canadenses como um distúrbio alimentar similar à bulimia e anorexia.

A nutricionista Hellen Coelho, que desenvolveu na Faculdade de Saúde Pública da USP um estudo para descobrir como funciona o paladar infantil, explica que, quanto mais nova a criança, mais sensível ela é aos sabores azedo e amargo. “Com o tempo, essa sensibilidade vai diminuindo, por isso as pessoas passam a gostar de café e de cerveja, por exemplo. Mas os hábitos alimentares têm forte influência.”

Virgínia Weffort, presidente do Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), conta que até os 12 meses de idade a preferência pelos sabores doce e salgado predomina. “Se a criança não for estimulada a experimentar alimentos variados, não aprende a gostar de outros sabores”, explica a médica.

Segundo as recomendações da SBP, é preciso oferecer pelo menos dez vezes um alimento para a criança, em diferentes situações e apresentações, antes de ter certeza de que ela não gosta. “Com insistência e oferecendo o alimento de formas diferentes é possível vencer a aversão inicial. Após os 3 anos, esse processo se torna cada vez mais difícil.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A origem do cachorro

Posted in Evolução & comportamento, teoria da evolução by Raul Marinho on 18 março, 2010

De acordo com essa matéria da Folha de hoje (repórter Ricardo Mioto), os cães vieram do Oriente Médio. Falta esclarecer se eles são judeus ou muçumanos…

Cachorro surgiu no Oriente Médio, diz análise de DNA

Pesquisa com 900 cães de 85 raças monta álbum de família completo da espécie e descarta leste asiático como sua origem

Diferenças genéticas entre as raças são ainda menores do que se imaginava e são controladas por um número mínimo de genes, diz grupo

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Pondé, o darwinista

Posted in Atualidades, Evolução & comportamento, teoria da evolução by Raul Marinho on 8 dezembro, 2009

Luiz Felipe Pondé, colunista da Folha, publicou um corajoso artigo ontem, que segue abaixo. Raras vezes vi alguém se lixar tanto para o politicamente correto… Vamos ver qual será a repercussão.

As feias e os covardes

AS PESSOAS não são todas iguais, umas são melhores do que outras, mais inteligentes, mais bonitas, mais generosas. Sinto muito se isso é duro de ouvir. O hábito de matar o mensageiro é antigo como a roda. Normalmente as menos dotadas odeiam as mais dotadas.

Nenhuma sociedade pode mudar isso, e as que tentaram apenas multiplicaram o número das pessoas mais feias e menos inteligentes e mais pobres e menos generosas e mais miseráveis e menos capazes.

Mulheres feias detestam mulheres bonitas (lembremos do maravilhoso filme “Malena” de Tornatore: as mulheres a odiavam porque todos os homens a queriam), homens com menos sucesso invejam homens de grande sucesso (inclusive porque as mulheres não resistem a homens de sucesso, e fracassados não pegam ninguém ou só pegam as feias).

E mais: a acusação de que toda mulher bonita seja burra é a esperança das feias, sua pequena vingança contra a beleza que não têm. Não é apenas o homem inseguro que teme a inteligência numa mulher bonita, as feias também temem. Elas, as feias, ficam, à noite ou pelos cantos do escritório, tramando como jogar sobre a bela e inteligente colega a suspeita de que a inteligência reconhecida no trabalho se deve à cama.

Vale notar que, ao contrário do que as mulheres supõem, nem todo homem suporta muito tempo uma mulher burra, mesmo que bonita. Se for por uns 30 minutos, aí tudo bem.

Ela é feia e sozinha e invejosa e raivosa? Ela desejará destruir sua colega bonita e inteligente e doce e cheia de namorados. Ele é pobre e sozinho e azedo e medroso? Ele desejará destruir seu colega bem sucedido e charmoso e bem humorado e cheio de namoradas. Se o fantasma da mulher é a falta de beleza, o do homem é a falta de coragem. Banal assim.

Existe uma série de códigos para homens e mulheres, e esses códigos sempre determinam o sucesso da relação entre sexos. Existem exceções? Claro que sim. São os famosos milagres, e eu acredito neles, mas nunca serão produzidos em massa através de políticas públicas. Uma das causas da raiva dos ateus contra Deus é porque Ele não é mais democrático na distribuição de milagres.

Esse ódio não é causado pela miséria social (que apenas cria condições para que ele se desenvolva mais ainda). Ele é causado pela insegurança estrutural do ser humano e pelo fato de que a beleza (como signo do que desperta a inveja) é sempre minoria no mundo, e todo mundo quer destruí-la por que não a tem. O ódio pela beleza é um fato científico. Isso não é ideologia, é ciência.

Uma mentira comum cresceu nos últimos anos. Qual? A de que dizer esse tipo de coisa que estou dizendo significa que “não respeito as pessoas feias e bobas”. É claro que as pessoas podem ser o que quiserem ser, inclusive bobas. Ninguém tem obrigação de entender que o mundo não é o que ele gostaria que fosse em sua cabecinha. O problema é o risco que elas dominem o mundo…

A afirmação dos mentirosos é que quando se dizem coisas assim, se peca contra a humildade. É claro que estou levantando o nível do debate e o afastando dessa tagarelice sobre “direitos de sermos bobos e iguais”. Mas a mentira está no fato de que a preocupação dos mentirosos não é com a humildade, mas sim com a repressão da diferença que faz diferença, ou seja, a diferença que cria hierarquias entre as pessoas.

Pensemos no caso da beleza das mulheres ou do sucesso profissional entre os homens, ambos objetos claros de inveja: um dia desses, os mentirosos inventarão uma lei que proibirá as mulheres de serem bonitas em nome da autoestima das feias e proibirão os homens bem-sucedidos de terem carros caros em defesa da dignidade do metrô.

Duvida? Basta algum mentiroso inventar que isso é “necessário para um justo convívio democrático”.

A ditadura “dos ofendidos” é um dos maiores instrumentos contra a inteligência pública e livre em nossos dias.

Humildade é como coragem, só se mede coragem diante da morte ou de algo parecido. A mesma coisa com a humildade: só se mede humildade quando você tem razões objetivas para não ter humildade. Assim como a coragem não brota entre covardes, a humildade é uma agonia apenas para quem tem razões de ser orgulhoso.

Fazendo um giro teológico no argumento (em nome do espírito natalino): Cristo não é grandioso em sua humildade porque era um pobre miserável filho de carpinteiro (isso seria fácil, logo não seria virtude nenhuma), mas porque era Deus, o “Cara”.

Ele, o elo

Posted in Atualidades, teoria da evolução by Raul Marinho on 1 julho, 2009

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Encontrou-se o elo perdido entre homens e macacos. Pelo menos é o que diz a Folha, em reportagem do The Independent.

Novo fóssil pode ganhar título de elo perdido de primatas

Espécime achado em Mianmar é mais próximo de humanos do que “rival” achado na Alemanha

Um fóssil apresentado ontem por cientistas americanos pode destronar o atual animal considerado o elo perdido entre humanos e macacos. Batizado de Ganlea megacanina, o novo espécime é descrito em um estudo de pesquisadores do Museu Carnegie de História Natural, de Pittsburgh (EUA).

Com 38 milhões de anos, o primata -achado em Mianmar, no Sudeste Asiático- está mais próximo do que se imaginaria de um ancestral comum recente entre homens e macacos, dizem os pesquisadores.

O fóssil que clamava o título de elo perdido até agora era o de Ida, um primata de 47 milhões de anos de idade extremamente bem preservado, mas sem tantas semelhanças com os macacos ou com espécies mais próximas dos humanos.

Segundo o paleontólogo Chris Beard, do Museu Carnegie, apesar de o fóssil do Ganlea não estar completo, é possível afirmar que ele é um candidato mais forte ao posto de elo perdido. Em um estudo na revista científica “Proceedings of the Royal Society”, Beard e seus colegas defendem sua posição com base numa análise dos dentes do animal e de um fragmento de sua mandíbula -tudo aquilo que restou do Ganlea.

Segundo Beard, o fóssil achado em Mianmar guarda mais semelhança com os chamados primatas antropoides (homens e macacos), enquanto Ida, achado na Alemanha, está um pouco mais próxima dos lêmures -primatas mais distantes dos humanos evolutivamente, com arcada dentária diferente.

“Pelo que podemos ver, Ganlea não só é um antropoide, como é um antropoide bastante avançado, o que não se pode dizer de Ida”, afirma o cientista.

Empregabilidade & altruísmo recíproco

Posted in Evolução & comportamento, teoria da evolução, teoria dos jogos by Raul Marinho on 26 junho, 2009

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Leia este artigo, publicado no Blog do Kanitz, sobre desemprego. Repare, especificamente, neste trecho do texto:

Em vez de mais medidas econômicas, os desempregados, uma parte deles pelo menos, precisa de “coaching”, terapia psicológica, aprendizado de técnicas sociais, e assim por diante.

O problema é que ele, o desempregado, não se coloca disponível para ser contratado; ele conhece menos pessoas do que a maioria da sociedade.

Sentiu o drama? O que o Kanitz quer dizer é, na minha linguagem, mais ou menos o seguinte:

A diferença entre estar empregado ou não é a habilidade do indivíduo na gestão de relacionamentos reciprocamente altruístas

Quer saber mais? Compre meu livro “Prática na Teoria” ou meu áudio-livro “Teoria dos Jogos Aplicada aos Relacionamentos”, aí do lado.

O enigma gay

Posted in Evolução & comportamento, teoria da evolução by Raul Marinho on 17 junho, 2009

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A Folha de hoje traz uma matéria interessante sobre evolução & homossexualidade, de autoria do Ricardo Mioto:

Homossexualismo ajuda a moldar evolução, diz estudo

Pesquisadores dos EUA dizem que há milhares de exemplos desse comportamento

Um dos casos é o de fêmeas de espécie de albatroz do Havaí, que formam casais lésbicos que lhes conferem vantagem para criar filhotes

Entre os albatrozes-de-laysan, até um terço dos casais são formados por fêmeas

Relações homossexuais são quase universais no reino animal e podem ser agentes importantes de mudança evolutiva, afirma uma dupla de pesquisadores dos EUA. No entanto, eles alertam que os zoólogos podem estar rotulando de “homossexualismo” uma série de comportamentos diferentes.

O estudo, publicado hoje no periódico “Trends in Ecology and Evolution”, é uma revisão das pesquisas já feitas sobre relações homossexuais animais.

Essa área ganhou grande atenção do público após 1999, quando o zoólogo Bruce Baghemil publicou o livro “Biological Exuberance”, documentando homossexualismo em mais de 400 espécies. Há milhares de exemplos na literatura.

Que machos gostem de fazer sexo com machos e fêmeas com fêmeas é um enigma evolutivo. Afinal, um gene gay (ou vários genes) seria eliminado, pois à primeira vista ele não ajuda a espécie a se perpetuar.

“A grande questão é como explicar qual é o sentido evolutivo”, diz César Ades, etólogo (especialista em comportamento animal) da USP (Universidade de São Paulo).

Qual é, então, a vantagem da homossexualidade para os animais? Os autores do novo estudo, Nathan Bailey e Marlene Zuk, da Universidade da Califórnia em Riverside, dão um exemplo. Veja as fêmeas do albatroz-de-laysan (Phoebastria immutabilis), do Havaí.

Essas aves se unem em casais lésbicos que às vezes duram a vida inteira para criar os filhotes, especialmente quando há escassez de machos. Até um terço dos casais da espécie são formados por fêmeas. O resultado é que elas têm mais sucesso do que fêmeas “solteiras” na criação dos filhotes. O comportamento homossexual, portanto, muda a dinâmica da população -e pode ter consequências evolutivas importantes.

A conclusão do estudo é que não existe apenas uma vantagem universal. Ao contrário, a homossexualidade ajudou as espécies de diferentes formas ao longo da evolução. O nome designa, então, vários fenômenos diferentes, com motivações distintas.

Humanos

Por isso, é complicado transpor essas conclusões para humanos. “Existe homossexualidade numa variedade grande de animais: moscas, lagartos, golfinhos. Qual animal tomar como medida para comparar conosco?”, diz Ades.

Entre os animais, os mais próximos de nós são os bonobos. As fêmeas dessa espécie de chimpanzé são vistas frequentemente se relacionando sexualmente – e não raro atingem o orgasmo dessa maneira. Alguns machos se beijam e praticam sexo oral uns nos outros.

É mais difícil entender as causas do homossexualismo em primatas, especialmente em humanos. A quantidade de fatores envolvidos é muito maior. Ao contrário do que acontece com os peixes-mexerica, por exemplo, não se trata de algo simples como não saber diferenciar machos e fêmeas.

Algumas coisas, entretanto, se sabe. Estudos com gêmeos mostram que existe uma tendência hereditária a ser gay ou lésbica. Mas esses trabalhos não conseguem mostrar quais os mecanismos por trás disso.

Além disso, comportamento homossexual é diferente de orientação sexual. Foram encontradas boas explicações para o primeiro item no reino animal, mas ainda é complicado entender quais as vantagens evolutivas que se pode ter simplesmente nunca se relacionando com seres do outro sexo.

Animais diferentes têm motivos diferentes para a comportamento homossexual

>> Para fazer as pazes

Nada melhor do que o sexo para criar um ambiente de intereção que facilite reconciliações

É visto no macaco japonês

>> Por engano

Algumas espécies não possuem maneiras boas de saber quem é macho e quem é fêmea

É visto no peixe mexirica

>> Para formar alianças

Relações entre indivíduos do mesmo sexo permitem a formação de fortes laços, prevenindo conflitos

É visto nos golfinhos-nariz-de-garrafa

>> Para praticar

Indívíduos com pouca experiência sexual aprendem a cortejar com animais do mesmo sexo

É visto na mosca-das-frutas

>> Para reforçar a hierarquia

Para mostrar quem manda em que quem, os bichos estabelecem relações de poder através do sexo homossexual

É visto nos bisões.

>> Para criar os filhos

Fêmeas podem se unir depois de a prole nascer, tendo mais sucesso do que as não-lésbicas

É visto nas albatrozes-de-laysan

Acrescento:

No caso humano, acredito que a “hipótese do tiozinho” tem grande poder para explicar a existência do comportamento homossexual. Essa hipótese, sugerida pelo Antonio Maia na sua dissertação de mestrado sobre o avunculado (2006-IB/USP), tem a ver com a organização familiar. Em sociedades matrilineares, os homossexuais ajudariam a criar a prole de suas irmãs. Sob determinadas condições, famílias com alguns membros homossexuais poderiam, então, ter mais sucesso reprodutivo que famílias compostas somente por heterossexuais. Voltaremos a esse assunto em breve.

Guerras & altruísmo

Posted in Evolução & comportamento, teoria da evolução by Raul Marinho on 5 junho, 2009

altruismo

A matéria abaixo, do Ricardo Bonalume Neto publicada na Folha de hoje, fala sobre altruísmo em tempos de guerras ancestrais (dezenas de milhares de anos atrás), com informações obtidas da arqueologia. O interessante desta história é que o Trivers, com o seu paper sobre altruísmo recíproco de 1971, já dizia que as guerras deveriam ter facilitado a ocorrência do altruísmo humano. Só que o Trivers não duspunha dessas informações, o que faz do trabalho dele ainda mais espetacular.

Guerras modelaram altruísmo humano

Sacrifício individual ajuda sobrevivência de grupos, diz estudo; tamanho de população também revolucionou a cultura

Certos comportamentos artísticos surgiram na África 90 mil anos atrás, sumiram, e voltaram na Europa há 45 mil anos, afirmam cientistas

A guerra na Pré-História era frequente e altamente letal, mas essa luta constante está ligada ao surgimento de comportamentos altruístas na espécie humana. E quando os grupos humanos atingiram determinado tamanho, criava-se o potencial para uma revolução no comportamento e na cultura.

É o que indicam dois estudos publicados na edição de hoje da revista científica “Science”.

Samuel Bowles, do Instituto Santa Fé (EUA) e da Universidade de Siena (Itália), usou dados arqueológicos e etnográficos sobre populações de caçadores-coletores e mostrou que a mortalidade produzida pelos conflitos poderia ter promovido a predisposição para ajudar membros de grupos não diretamente aparentados.

O guerreiro “altruísta” é aquele que está disposto a sacrificar a vida em prol da sobrevivência do grupo.

Mas quão precisas são as estimativas de populações pré-históricas, ou da mortalidade das guerras mais remotas?

“É surpreendente -e um pouco reconfortante- que os conjuntos de dados etnográficos e arqueológicos resultam em quase a mesma estimativa -14% de mortalidade”, disse Bowles à Folha.

Revoluções

Já os pesquisadores Adam Powell; Stephen Shennan e Mark Thomas, do University College, de Londres, afirmam que o tamanho das populações explicaria o motivo de comportamentos socioculturais modernos terem surgido na África há 90 mil anos, desaparecido há 65 mil anos e ressurgindo na Europa 45 mil anos atrás.

“Por comportamento moderno, nós queremos dizer um salto radical em complexidade cultural e tecnológica, que torna nossa espécie única. Isso inclui comportamento simbólico, como arte abstrata e realista, decoração corporal usando contas, ocre ou kits de tatuagem; instrumentos musicais, artefatos de osso, chifre e marfim; lâminas de pedra e tecnologia de caça mais sofisticada, como arcos, bumerangues e redes”, afirma Powell.

Em geral, os pesquisadores especulavam que essa revolução cultural tivesse surgido por conta do aumento do cérebro humano. Mas os autores lembram que esse comportamento só surgiu cerca de 100 mil anos depois de ter aparecido o ser humano anatomicamente moderno, e que em alguns casos as inovações foram perdidas.

Eles argumentam com cálculos sobre o tamanho das antigas populações, que mostram que só quando elas atingem uma determinada massa crítica é que as inovações podem surgir e ser transmitidas.

Ruth Mace, também do University College, de Londres, discutiu as duas pesquisas em artigo também na edição de hoje da “Science”. “Os dois estudos sugerem que a estrutura demográfica das nossas populações ancestrais determinava como a evolução social procederia”, diz Mace.

Ela lembra que os biólogos tendem a achar que a seleção natural darwiniana, o motor da evolução, age principalmente em indivíduos e em genes. Mas novos estudos têm procurado mostrar que a seleção também age no grupo social.

“Definir altruísmo também é sempre problemático. Aqui ele é definido como um comportamento que ajuda o grupo, mas que pode ser custoso ao indivíduo”, disse Mace à Folha.

Bowles diz que procurou usar dados apenas sobre populações de caçadores-coletores que não faziam grande uso de animais ou plantas domesticados, pois ele queria manter o foco sobre as condições que existiam há 100 mil anos, e não há 10 mil, quando a agricultura e a pecuária já existiam. Ficaram de fora, assim, dados sobre a guerra entre os índios Yanomami da fronteira Brasil-Venezuela, “o povo feroz”.

“O outro artigo é consistente com o meu trabalho. Mas a questão é muito diferente. Uma população mais densa não apenas cria oportunidades para troca, mas também para conflitos”, comenta Bowles.

Doenças mentais, inteligência e seleção de grupo

Posted in Evolução & comportamento, teoria da evolução by Raul Marinho on 4 junho, 2009

mad scientist

James Watson, um dos descobridores da estrutura da molécula de DNA e um dos cientistas mais importantes de todos os tempos, é famoso pelas polêmicas em que se envolve – como as declarações racistas que proferiu, em que sugeriu que os negros tendem a ser menos inteligentes que os brancos. Agora, o prêmio Nobel volta às manchetes (vide matéria abaixo, do Cláudio Ângelo para a Folha de ontem), com suas declarações sobre supostas correlações entre autismo, esquizofrenia e inteligência, inclusive com referências pessoais (Watson tem um filho esquizofrênico).

Até aí, tudo bem (embora “inteligência” seja uma coisa complicada até para se definir de maneira inequívoca). O complicado é quando o cientista explica o fato evolutivamente: “As sociedades que têm indivíduos com alta cognição, como Einstein e Darwin, se beneficiam. O processo evitaria o expurgo da inteligência -e da esquizofrenia- do “pool” genético dessas populações”. Essa explicação remete ao velho conceito de seleção de grupo, que já se provou incorreto em termos biológicos. Se a Inglaterra se beneficia com a existência de um Darwin, por que os genes do Darwin seriam privielgiados? Porque os descendentes do velho Charles teriam mais chances de sobrevivência numa sociedade melhorada pelo trabalho do vovô? Ora, convenhamos…

De qualquer maneira, o insight sobre doenças mentais e inteligência parece promissor (será que o estereótipo do cientista louco tem algum fundo de verdade?). Veremos onde esse negócio vai nos levar…

Autismo é o preço da inteligência

Descobridor da estrutura do DNA diz que genes da alta cognição se relacionam com doença mental

James Watson admite que hipótese é “especulativa”, mas um outro grupo de pesquisa propôs mecanismo para explicar possível elo

James Watson, descobridor da estrutura do DNA, pai da biologia molecular e polemista profissional, tem uma nova teoria para explicar a suposta genética da inteligência. Os genes que predisporiam algumas pessoas a habilidades intelectuais elevadas seriam os mesmos que disparam doenças como autismo e esquizofrenia.

Coincidentemente, é essa a hipótese que um grupo de pesquisadores da Universidade do Colorado está desenvolvendo. Os dados foram apresentados na semana passada nos Estados Unidos, logo depois de Watson ter delineado suas ideias.

“Isso é muito especulativo. Não posso provar”, admitiu à Folha o biólogo, de 81 anos. Mas a inteligência, continuou, é rara porque casais inteligentes têm probabilidade mais alta de terem filhos com problemas. “E esses genes tendem a ser eliminados pela seleção natural.”

Watson apresentou sua tese durante o 74º Simpósio de Cold Spring Harbor sobre Biologia Quantitativa, organizado pelo laboratório do qual ele era chanceler -até ser demovido do posto no fim de 2007 por ter feito comentários racistas.

Longe de se retratar pelo episódio, Watson ainda sugeriu, durante sua apresentação, que outro motivo pelo qual a inteligência é rara é que “as pessoas inteligentes pagam por dizerem a verdade. Sei disso por experiência pessoal”.

Autorreferência

O cientista começou a desenvolver sua hipótese depois de ter sido o primeiro ser humano a ter o genoma sequenciado.

“Fiquei assustado, descobri que tinha mutações em três genes ligados ao reparo do DNA”.

Esses genes, como o BRCA 1 e o BRCA2, entram em ação para corrigir danos causados durante a replicação do DNA ou por uma agressão do ambiente, como radiação. Mutações neles estão ligadas ao câncer.

“Pessoas com essas mutações tendem a ter filhos especiais”, disse. Watson tem um filho esquizofrênico.

Os mutantes são mais inteligentes que a média e têm menos filhos -e, de acordo com Watson, têm problemas para se relacionar com as outras pessoas. Veja os cientistas.

Supostamente, os genes da inteligência seriam eliminados pela seleção natural. “Mas por que eles não somem e a humanidade não fica mais estúpida?”

Elementar, afirma Watson. As sociedades que têm indivíduos com alta cognição, como Einstein e Darwin, se beneficiam. O processo evitaria o expurgo da inteligência -e da esquizofrenia- do “pool” genético dessas populações.

Faca de dois gumes

Menos especulativa é a ligação entre cognição e doenças mentais feita pelo grupo de James Sikela (Universidade do Colorado). Ele e seus colegas descobriram uma correlação entre o alto número de cópias de um gene numa certa região do DNA humano e o desenvolvimento do cérebro. Essa região, dizem outros estudos, estaria também implicada com autismo e esquizofrenia.

Os pesquisadores identificaram que uma região instável do genoma chamada 1q21.1 concentrava um número alto de cópias de um gene chamado DUF1220. “A relação de causa e efeito não está provada, mas nós relatamos uma correlação” entre o aumento do número de cópias desse gene na linhagem humana e o aumento do cérebro, disse Sikela à Folha.

Essa instabilidade é “uma faca de dois gumes”. “Ela teria permitido mais cópias do DUF1220 e, portanto, teria sido retida na evolução. Por outro lado, essa instabilidade não é precisa, e pode gerar um embaralhamento deletério de sequências. É por isso que os vários estudos recentes que têm relacionado variação no número de cópias na região 1q21.1 no autismo e na esquizofrenia chamaram nossa atenção: isso se encaixa na ideia de que os indivíduos com essas doenças são o preço que a nossa espécie paga pelo mecanismo que permitiu e permite a geração de mais cópias da DUF1220.”

Sikela disse que Watson não sabia de seus dados e que o mecanismo sugerido por ele é diferente. “Mas, em teoria, outras regiões do genoma poderiam se encaixar no modelo.”

Crise econômica e seleção natural

Posted in Atualidades, crise financeira, Evolução & comportamento, teoria da evolução by Raul Marinho on 1 junho, 2009

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Nova Granada, no interior de São Paulo, é uma cidade interessante. Conheço cerca de uma dúzia de granadenses, nenhum deles pessoas “normais”. Fábio Gandour é um desses “pontos fora da curva”: para se ter uma idéia do quão incomum é o sujeito, o Fábio é, ao mesmo tempo, médico (pediatra, se não me engano) e cientista-chefe da IBM(!!!). Conheci o Fábio no lançamento do meu livro “Prática na teoria”, e infelizmente nunca mais falei com ele.

Ao ler a última edição da revista Galileu, deparei com um artigo do Fábio, sobre crise econômica e seleção natural. Googlei “fabio gandour” de todo jeito, e não consegui encontrar nem o e-mail do Fábio, nem uma versão eletrônica do artigo (no site da revista, não está disponível). Por isso, escaneei o texto (vide abaixo) para poder comentá-lo, e fica aqui o convite para o Fábio responder aos meus comentários, se ele chegar a trombar com esse post. (Se algum conhecido do Fábio estiver lendo, peço a gentileza de encaminhar o link do post para ele).

A solução para a crise econômica? Seleção natural

No ano em que comemoramos os 200 anos do nascimento de Charles Daarwin e 150 da publicação do livro A Origem das Espécies, talvez também seja a hora de discutirmos uma questão bastante incômoda a ponto de ser constantemente evitada. Se em sua obra-prima Darwin construiu a teoria da evolução dos seres vivos, por que não analisar os obstáculos causados pelo progresso da ciência ao pleno exercício da seleção natural?

Antes de embarcarmos nessa direção, é recomendável que o leitor se desfaça, temporariamente, de qualquer influência de princípios éticos, morais e, principalmente, religiosos, para poder se concentrar apenas em aspectos técnicos e científicos. Sob o ponto de vista essencialmente científico, o homem, quando se empenha em tratar doenças e evitar a morte, impede a ação da seleção natural. Sim, visto pelo ângulo técnico da dinâmica populacional, o progresso da medicina atrapalha a seleção natural.

Ao impedir ou mesmo adiar a morte de indivíduos que apresentam alguma inaptidão para sobreviver e que morreriam naturalmente, evitamos ou prorrogamos a ação da seleção natural. O prolongamento da vida de um ser vivo frágil também aumenta suas chances de se reproduzir e transmitir essa fragilidade a seus descendentes.

A seleção natural sepultaria essa fragilidade e, por isso, tem o notório efeito de melhorar a competitividade, eliminando falhas e abrindo espaço para a sobrevivência dos indivíduos mais resistentes e bem adaptados.

Ao tolher a sua ação, evitamos que aquela população evolua para um novo patamar, mais competitivo. Essa verdade, um tanto inconveniente, vale tanto para a medicina quanto para qualquer outra ciência destinada a prolongar a vida de um ser vivo que se encontre enfermo por uma determinada razão. Trata-se de uma verdade cruel, mas incontestável.

E já que viemos até aqui, podemos ir mais longe na mesma direção. No caso do homem, a atitude de proteger a vida e impedir a seleção natural dos inaptos ao ecossistema do momento já se transformou em um valor social incorporado ao comportamento das populações. Um valor às vezes questionável, mas que, mesmo assim, se manifesta com frequência.

Um exemplo disso pode ser visto na atual crise econômica. O cenário globalizado em que ela acontece pode, com alguma poesia, ser chamado de ecossistema financeiro mundial. De repente, alguns “indivíduos” dessa população começaram a apresentar sintomas de grave enfermidade, que logo se alastrou por quase todo o ecossistema. Se deixássemos a seleção natural atuar, esses bancos adoecidos por dívidas impagáveis, créditos de origem duvidosa, pagamentos de bônus de mérito discutível e outras fragilidades estruturais, deveriam ser naturalmente selecionados para morrer.

Assim, levariam para o túmulo seus atributos genéticos representados por uma administração ineficiente e que bordeja a ilegalidade. Seria a seleção natural atuando com liberdade, eliminando uma espécie frágil e deficiente para abrir espaço no ecossistema para o surgimento de outra espécie mais bem adaptada e, portanto, mais forte.

Mas não é isso que vem acontecendo – e que seria extremamente saudável nesses casos. Como já incorporamos um valor social que combate a seleção natural, internamos os bancos enfermos em UTls de hospitais com nomes incomuns, como Federal Reserve Bank, sistematicamente mantidos por governos. Nessas UTIs, bilhões de dólares são injetados nas veias dos “pacientes”, e eles não morrerão. Ao sobreviver, terão novas chances para reproduzir e transmitir a seus descendentes todas as falhas atuais de seus organismos. Mais uma vez, a seleção natural não ocorreu. Na verdade, o ecossistema involuiu.

Charles Darwin nunca foi banqueiro – nem bancário -, mas até no ecossistema financeiro globalizado sua teoria da evolução teria sido útil se acontecesse com liberdade e naturalidade.

Comento:

Tudo o que comentar a seguir não terá, como recomenda o autor, qualquer viés moral (aliás, é a mesma recomendação que faço no meu livro). O problema é que, focando no aspecto exclusivamente material, deixar a seleção natural agir livremente não leva, necessariamente, aos melhores resultados. “Evolução”, no sentido darwinista, nada tem a ver com “melhoria” ou “progresso”, mas sim com “sobrevivência diferencial de populações”. Vejamos, como exemplo, o que está ocorrendo em relação à resistência à malária – uma das poucas frentes de evolução humana atualmente em curso.

Em determinadas regiões do planeta, existem populações portadoras de uma mutação que produz hemácias ligeiramente deformadas, o que gera uma doença hereditária chamada anemia falciforme. Essa doença gera diversos problemas mais ou menos similares à anemia comum: hemorragias, descolamento de retina, acidente vascular cerebral, enfarte, calcificações em ossos, e insuficiência renal e pulmonar. Mas, por outro lado, imuniza a pessoa contra a malária (ou atenua as crises). Em regiões muito afetadas pela malária, a seleção natural favorece a sobrevivência de populações portadoras da mutação porque a malária mata mais que as conseqüências da anemia falciforme. Essas populações, mais evoluídas no sentido darwinista, serão, de fato, melhores que as populações sem anemia falciforme? De jeito nenhum, tanto é que em regiões em que a malária está sob controle, a anemia falciforme acaba selecionada para desaparecer.

Por isso, é sempre muito temerário fazer qualquer afirmação como a da primeira parte do artigo, de que a seleção natural “tem o notório efeito de melhorar a competitividade, eliminando falhas e abrindo espaço para a sobrevivência dos indivíduos mais resistentes e bem adaptados”. Mas este não é o problema mais grave do artigo. Quando o autor sugere que se deixe as empresas afetadas pelos erros que levaram à crise econômica mundial à sorte da “seleção natural”, está cometendo um erro já testado em várias crises anteriores, em especial a crise de 1929. Trata-se da aplicação do liberalismo clássico, que Keynes mostrou não resolver em situações de grave crise.

Internar empresas como o Citibank e a GM em UTIs financeiras, por outro lado, não significa “involução” – pelo contrário: o Citi e a GM do futuro deverão ser empresas muito melhoradas. Empresas não são organismos, embora se pareçam com eles em alguns aspectos. O Citibank de 2012 não deverá carregar os “genes ruins” que o levaram à insolvência em 2008/09 justamente porque passou por uma situação que quase o matou. Empresas, ao contrário de organismos, podem alterar seus genes.

Gatilho anti-incesto

Posted in Evolução & comportamento, teoria da evolução by Raul Marinho on 26 maio, 2009

incesto

Interessante a nota abaixo, publicada na Folha de hoje, sobre pesquisas desenvolvidas no Brasil na área de genética comportamental – no caso, sobre mecanismos biológicos para previnir o incesto ou relacionamentos com indivíduos aparentados. Não que os resultados sejam inéditos, mas o fato deste tipo de pesquisa ser realizada no Brasil é um alento para a Biologia do Comportamento, tão desprezada por estas paragens.

Diferença genética ajuda a eleger parceiro, diz estudo

Segundo cientista do Paraná, casais tendem a ter DNA distinto no sistema imune

Diversidade supostamente beneficia saúde da prole, diz geneticista, cujo trabalho foi apresentado ontem em um congresso em Viena

Na hora do escolher alguém para namorar, os opostos realmente se atraem. Seres humanos tendem a buscar parceiros que sejam geneticamente distintos, diz um estudo da Universidade Federal do Paraná apresentado ontem num congresso na Áustria.

Os pesquisadores descobriram que pessoas casadas têm, em uma certa região do genoma, mais diferenças genéticas entre si do que pares de desconhecidos. A região é responsável pelo sistema imunológico.

Segundo a geneticista Maria da Graça Bicalho, líder da equipe de cientistas, trata-se de uma estratégia evolutiva. Dessa maneira, os filhos terão maior variabilidade genética.

“Pais com genes diferentes podem oferecer aos seus filhos mais chance de evitar infecções porque o sistema imunológico deles será mais diverso.”

Além disso, essa atração pelo diferente evita o incesto ou mesmo relacionamentos dentro da mesma família.

“Embora possa ser tentador pensar que humanos escolhem seus parceiros porque são parecidos com eles, a nossa pesquisa mostrou claramente que o desejo subconsciente de ter crianças saudáveis é importante na hora de escolher alguém”.

E como saber quem é geneticamente diferente? Estudos anteriores diziam que animais podem usar o cheiro como guia para identificar possíveis parceiros como geneticamente parecidos ou diferentes.

Em um deles, dedicadas voluntárias cheiravam camisetas suadas de homens desconhecidos e diziam quais odores eram mais atraentes. Resultado: elas gostavam mais daquelas cujos donos tinham sistemas imunológicos mais distintos dos seus. Mas outros fatores também podem estar envolvidos.

O grupo paranaense publica trabalhos nessa área desde 1998. Desta vez, estudaram 484 pessoas, divididas em 90 casais e 152 pares aleatórios. O trecho do genoma analisado por eles é conhecido como Complexo Principal de Histocompatibilidade (MHC, na sigla em inglês). Ele tem um papel fundamental na saúde da prole e é encontrada na maioria dos vertebrados.

O trabalho foi apresentado numa conferência da Sociedade Europeia de Genética Humana, em Viena.

“Nós queremos continuar com esse trabalho, observando as influências sociais e culturais, assim como as biológicas, na hora da escolha de um parceiro e relacionando isso com a diversidade genética da região do MHC”, diz Bicalho.

Mas, claro, ninguém escolhe seus amores só pelo cheiro. “Não concordamos com a teoria de que se uma pessoa tem um gene em particular isso vai determinar o seu comportamento. Mas achamos que o aspecto evolutivo inconsciente não deve ser ignorado”, afirma.

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Organização social é isso

Posted in Evolução & comportamento, teoria da evolução by Raul Marinho on 25 maio, 2009

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O artigo abaixo, da Adele Conover, publicado hoje no The New York Times, mostra como é dura a vida de um etologista/entomologista. E também como é complexa a organização social de seres tão minúsculos.

Cientista estuda insetos sociais, um a um

Anna Dornhaus espia em um pequeno ninho de papelão uma “família” de cerca de cem formigas das rochas europeias. Conhecidas como temnos, as formigas -pintadas com cores distintas- realizam suas tarefas de carregar, abastecer e alimentar a prole de larvas.

Ao lado de uma temnos colorida, um grão de arroz pareceria um tronco velho. Quando se levanta a tampa de uma colônia de formigas, nota-se uma barata morta -a ração das formigas. Uma rainha maior e tranquila, pintada de marrom, é objeto de estudo. “Ela não é exatamente uma chefe de Estado”, disse Dornhaus. “Parece mais um ovário.”

Ali perto há colmeias de abelhas sob vidro, onde cada abelha exibe um número de 1 a 100 em minúsculas etiquetas coladas a suas costas.

Para compreender o que realmente acontece em uma colônia de formigas ou abelhas, Dornhaus, professora-assistente de ecologia e biologia evolutiva na Universidade do Arizona, EUA, acompanha as pequenas criaturas individualmente -por isso a tinta e os números. As formigas, ela disse, têm “seus próprios cérebros e pernas, assim como reações complexas e flexíveis”. Ela continua: “O comportamento de cada formiga e as regras segundo as quais ela age geram um padrão para a colônia, por isso é crucial descobrir sua técnica cognitiva individual”.

Dornhaus, 34, uma cientista alemã alta e loura, tem muita paciência, requisito básico em seu ramo, e uma ligação com as criaturas que estuda. Quando as pessoas descobrem que “eu estudo formigas, abelhas e outras coisas que se arrastam, a primeira coisa que perguntam é como matá-las”. Ela acrescentou: “Eu não diria mesmo que soubesse”. Os insetos sociais, ela opinou, são “as criaturas mais interessantes que a evolução produziu”.

Dornhaus fez contato com o Departamento de Sociobiologia e Fisiologia Comportamental da Universidade de Wurzburg, na Alemanha, chefiado por Bert Hölldobler, coautor do livro “The Ants” [As formigas] e do recém-publicado “The Superorganism”.

Seu orientador de tese foi Lars Chittka, especialista na ecologia das capacidades sensoriais e cognitivas dos insetos, que estudava abelhas. Chittka -que disse que o grupo das abelhas do gênero Bombu, embora altamente social, era considerado primitivo em hábitos sociais- se perguntou por que uma única abelha, depois de voltar ao ninho, batia as asas e corria como louca em círculos. Logo as outras abelhas se excitavam e saíam do ninho.

Ele pediu que Dornhaus descobrisse o que acontecia. O experimento dela revelou que a abelha maluca estava fabricando e dispersando na colmeia um feromônio que alertava outras abelhas: “Ei, tem comida lá fora!”

Mas, como disse Dornhaus, “as abelhas não precisam se encontrar pessoalmente para se comunicar; elas deixam recados para as outras abelhas, dizendo que podem encontrar comida”. Dornhaus está abrindo terreno com seus estudos sobre se a eficiência da sociedade de formigas, baseada em uma divisão do trabalho entre formigas especialistas, é importante para seu sucesso. Para isso, ela disse, “anestesiei brevemente 1.200 formigas, uma a uma, e as pintei usando tinta e um pincel de um único pêlo”.

Ela analisou 300 horas de vídeo das formigas em ação. Descobriu que as formigas rápidas levavam de 1 a 5 minutos para realizar uma tarefa como coletar um pedaço de comida, enquanto as formigas lentas levavam entre 1 e 2 horas. E ela descobriu que cerca de 50% das outras formigas não faziam qualquer trabalho. Talvez a divisão de trabalho não seja a chave do sucesso das formigas. Possivelmente, disse Dornhaus, “as formigas preguiçosas estejam descansando ou esperando em reserva caso algo dê errado”. Ou, conjecturou, “é possível que não estejam fazendo absolutamente nada”.

Somos todos afrodescendentes

Posted in Evolução & comportamento, teoria da evolução by Raul Marinho on 1 maio, 2009

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A ditadura do politicamente correto decretou que os negros não são mais negros, são afrodescendentes – ou seja: descendentes de africanos. Mas, veja que coisa, todo ser humano é afrodescendente, como se pode ver pela matéria abaixo, do Ricardo Bonalume Neto, da Folha de hoje:

Atlas genético da África mostra origem do homem

Estudo de 121 populações africanas sugere que todas descendem de 14 grupos. Varredura também indica que humanos modernos surgiram entre Angola e Namíbia há 200 mil anos e depois colonizaram o globo. Diversidade genética entre africanos é a mais alta do planeta.

Levou uma década, mas uma equipe internacional de pesquisadores coletou amostras de material genético de 2.432 africanos de 113 populações (outras oito já haviam sido estudadas), muitas delas em locais de difícil acesso. O resultado é o mais completo atlas da diversidade genética no continente onde surgiu a humanidade.

O estudo confirma muito do que se sabe sobre migrações e distribuição de idiomas, embora traga algumas surpresas. Apesar de existirem mais de 2.000 grupos etnolinguísticos diferentes na África, representando um terço das línguas faladas na Terra, elas podem ser divididas em quatro grandes famílias. São a Níger-Cordofão (Sudão), Nilo-Saariana, Afro-asiática e Khoisan.

Mas, principalmente, a pesquisa é uma ferramenta com potencial de esclarecer os fatores de risco genéticos para várias doenças, além de servir para planejar ensaios clínicos mais representativos.

Variação genética significa também diferenças na resistência a doenças como câncer, Aids ou malária.

Os cientistas compararam os padrões de variação de 1.327 trechos do código genético de 3.000 africanos. A pesquisa está publicada hoje no periódico científico “Science”. Foram estudadas 121 populações africanas, 4 de afroamericanos e 60 de outras partes do mundo.

Apesar de hoje existirem grupos de caçadores-coletores espalhados pelo continente, a pesquisa mostrou que todos têm ancestrais comuns. De acordo com a coordenadora da pesquisa, Sarah Tishkoff, da Universidade da Pensilvânia, essa foi uma das maiores surpresas do estudo.

Estes grupos teriam uma população ancestral que começou a divergir 35 mil anos atrás.

Os dados indicam que os africanos de hoje têm origem em 14 grupos populacionais no passado. O ser humano moderno surgiu na África há 200 mil anos e migrou para o resto do globo nos últimos 100 mil anos.

Por estarem mais tempo em um continente, com populações de relativamente grandes tamanhos e adaptadas a diferentes nichos ecológicos, os africanos possuem uma maior variabilidade genética.

“Nosso objetivo era coletar DNA de uma gama significativa de populações etnicamente e geograficamente variadas na África para que pudéssemos estudar a variação genética para beneficiar os africanos, ao permitir que eles conheçam a história da suas populações e servir de base para pesquisa biomédica”, afirmou Tishkoff em entrevista coletiva.

A dificuldade de acesso e de preservação do material era um dos motivos pelos quais a África era pouco representada nos estudos genéticos. “Muitas vezes pode ser um desafio conseguir amostras de DNA de pessoas vivendo em lugares geograficamente remotos e às vezes perigosos”, disse Tishkoff.

A pesquisa envolveu muitas vezes viagens de vários dias em veículos com tração 4 X 4. “Tínhamos de trazer todo nosso equipamento, incluindo centrífugas portáteis que precisávamos ligar na bateria do carro, pois frequentemente não havia eletricidade”, disse ela.

Os dados da variação genética confirmam ainda que o “berço” da espécie humana está no sul do continente. A análise indicou também que a migração do homem moderno se originou no sudoeste africano, perto da fronteira na costa entre Namíbia e Angola.

Já o local de “saída” da África teria sido próximo do centro do mar Vermelho.

“A história de todo mundo é parte da história africana, porque todos vieram da África”, disse outro autor do estudo, Muntaser Ibrahim, da Universidade de Cartum, Sudão.

Profissão antiga MESMO

Posted in Atualidades, Evolução & comportamento, teoria da evolução by Raul Marinho on 8 abril, 2009

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De acordo com o artigo abaixo do Independent, reproduzido hoje pela Folha, chimpanzés fêmeas se prostituem em troca de carne, o que seria uma pista de onde surgiu a prostituição humana (que, embora seja uma explicação sedutora, não acredito que haja como prová-la). De qualquer maneira, acho uma boa idéia você levar sua próxima candidata a namorada numa churrascaria no primeiro encontro, vai que o consumo de carne desperte seus instintos mais primitivos? – obviamente, certificando-se antes de que ela não seja vegetariana.

Chimpanzé fêmea troca carne por sexo

Cientistas descobriram que trocar carne por sexo faz parte da vida social de um grupo de chimpanzés selvagens na floresta Taï, na Costa do Marfim.
A venezuelana Cristina Gomes, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, em Leipzig, Alemanha, explica que as fêmeas de chimpanzé, com dificuldades para conseguir carne sem ajuda, recorrem a essa forma primitiva de prostituição para aumentar a sua ingestão de calorias sem o risco associado à caça.
No estudo, publicado na revista “PLoS One”, os cientistas explicam que, apesar de a promiscuidade ser uma característica tanto dos machos quanto das fêmeas de chimpanzé, eles conseguem copular mais se aceitarem compartilhar a carne com o sexo oposto.
A descoberta favorece a hipótese de que essa tendência também existia em sociedades humanas primitivas. Segundo os antropólogos, a troca de carne por sexo fazia com que os melhores caçadores tivessem mais parceiras.

Mulheres velhas e homens novos

Posted in Evolução & comportamento, teoria da evolução by Raul Marinho on 29 março, 2009

Desaversão a perdas?

Posted in Atualidades, Evolução & comportamento, teoria da evolução by Raul Marinho on 29 março, 2009

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A Folha de hoje publica uma reportagem enigmática sobre um estudo que propõe controlar a aversão às perdas, “dogma central” da Economia Comportamental:

Estudo sugere forma de controlar aversão à perda

Tendência de humano a ser mau perdedor é inata, mas pode ser mudada, diz grupo

Experimento conduzido por grupo da Universidade de Nova York reproduz reação de operadores da Bolsa para mudar percepção

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

O ser humano é um mau perdedor nato, que tende a dar mais peso a uma derrota do que a uma vitória. Mas uma pesquisa combinando psicologia com economia comportamental mostrou que é possível regular essa “aversão à perda”. O truque é tentar agir como se você fosse um operador da Bolsa ou um jogador profissional.
O conceito de “aversão à perda” foi proposto em 1979 pelos psicólogos Amos Tversky e Daniel Kahneman. Trata-se da preferência das pessoas a evitar perdas do que obter ganhos. O israelense Kahneman ganhou o Nobel de Economia de 2002 pelos seus trabalhos na área.
A aversão à perda é uma questão de percepção. Por exemplo, uma decisão poderá levar à perda de R$ 300,00. Há duas escolhas de investimento para diminuir o prejuízo. No primeiro caso, você perde R$ 150,00; no segundo, você não perde nada com 1/3 de probabilidade ou perde tudo com 2/3 de probabilidade. A maioria das pessoas escolhe a segunda opção, pois a certeza de perder R$ 150,00 é considerada pior do que a chance provável de perder todo o dinheiro.
“Nós podemos mudar a maneira como decidimos, e embora ainda possamos ser sensíveis a perdas, nós podemos nos tornar menos sensíveis”, concluíram os autores do novo estudo, liderado pela psicóloga Elizabeth A. Phelps, da Universidade de Nova York, e publicado na revista “PNAS”.
Phelps e colegas lembram que a emoção desempenha um papel no processo de tomada de decisões. Por exemplo, um estudo sobe consumo de bebidas mostrou que a apresentação subliminar de carinhas sorridentes alterou a avaliação das pessoas sobre as bebidas, mas também a quantidade que elas ingeriam e mesmo o total de dinheiro que elas estavam dispostas a pagar pelo drinque.
O grupo de Phelps usou voluntários num experimento no qual os participantes tinham que fazer escolhas monetárias entre uma aposta binária -com chance de ganho ou perda- e um valor garantido. Eles recebiam no começo US$ 30,00 e tinham que tomar decisões de investimento que poderiam ou fazê-los perder todo o dinheiro, ou chegar a ganhar até US$ 572,00. Em parte dos experimentos eles tiveram a condutividade elétrica da pele medida, indicando atividade do sistema nervoso como prova de excitação emotiva.
Os voluntários foram instruídos a usar duas estratégias. Eles deviam enfatizar cada escolha “como se fosse a única”; e depois foram instruídos a usar uma estratégia de regulação, enfatizando as escolhas como parte de um contexto maior.
No primeiro caso, entre 30 participantes, 14 demonstraram aversão à perda, 9 procuravam ganhos, e 7 tiveram um comportamento neutro. A condutividade da pele era maior no caso das perdas.
Mas, ao começarem a agir como investidores reais, colocando as perdas em um contexto de um portfólio de investimentos, a aversão à perda diminuiu em 26 dos 30 participantes.
A “aversão a perdas” não seria um mero fenômeno cultural, mas teria uma base neurobiológica. Um estudo em 2005 demonstrou que não só os macacos-prego entendiam o conceito de comércio como demonstravam a aversão.
“Nós demonstramos que a teoria-padrão dos preços faz um bom trabalho em descrever o comportamento de compra dos macacos-prego”, escreveram então os pesquisadores liderados por M. Keith Chen, da Universidade Yale. Mas os macacos foram ainda mais “humanos” quando tinham de enfrentar uma situação de aposta. Reagiram demonstrando aversão a perder. “Esses resultados sugerem que a aversão à perda se estende além do ser humano e pode ser inata”, dizem eles.

Evolução peculiar

Posted in Evolução & comportamento, teoria da evolução by Raul Marinho on 18 março, 2009

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A nota abaixo, publicada hoje na Folha (uma excelente reportagem do Ricardo Mioto), fala do caso peculiar ocorrido em Santa Catarina, de preás que ficaram separados em uma ilha e evoluíram diferente dos que permaneceram no continente. Chama a atenção o tamanho da população (cerca de 40 indivíduos), o espaço físico que ela ocupa (a área de um campo de futebol), e a “rapidez” com que ela ocorreu – 8mil anos é um átimo para a evolução. Mas o que merece destaque mesmo é o seguinte:

Consanguinidade/incesto

De acordo com Lévi-Strauss,  o tabu do incesto é, antes de prejudicial em termos biológicos, um absurdo social. Já dizia o antropólogo que os problemas biológicos da consanguinidades se resolveriam em algumas gerações, e os genes deletérios seriam expulsos da população pela seleção natural com razoável rapidez. É exatamente o que aconteceu com os preás, que não apresentam mais nenhum problema decorrente do cruzamento entre parentes. (E nem social, aliás, já que a organização deles é bem mais simples que a nossa).

Vulnerabilidade a predadores

Apesar de ser contra-intuitivo, o fato é que os predadores são fundamentais para a saúde de uma população de predadores. Sem eles, os predadores ficam extremamente vulneráveis e podem ser extintos com muita facilidade, exatamente a situação dos preás de Santa Catarina.

Agora, a reportagem:

Espécie sobrevive sem variedade genética

Preás isolados em ilha catarinense contrariam teorias ao evoluir por 8.000 anos em população de apenas 40 indivíduos

Espécie inteira forma uma grande família, onde incesto é comum e não provoca defeitos na prole; um único gato pode causar extinção

Pesquisadores brasileiros descobriram uma espécie que, após 8.000 anos isolada mantendo uma população de cerca de 40 indivíduos, praticamente não apresenta mais diversidade genética. Os animais são tão parecidos entre si que um teste de paternidade através do DNA, como o utilizado em humanos, não seria viável entre eles.
Os preás da ilha catarinense vivem muito bem, obrigado, em uma área equivalente à de um campo de futebol -menos de um hectare. Pelas teorias genéticas tradicionais, ela deveria estar extinta há tempos.
“Parece claramente ser o caso mais extremo conhecido de uma espécie vivendo tanto tempo com uma população tão pequena”, diz o geneticista Sandro Bonatto, da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio Grande do Sul.
“Pelos padrões clássicos, ela não poderia estar viva. Esses animais podem mudar nossa compreensão da biologia das pequenas populações.”
Os pesquisadores encontraram os animais em uma das ilhas do arquipélago de Moleques do Sul, a 8 km da ponta sul da ilha de Florianópolis.
A espécie, a Cavia intermedia, é prima do preá que fica no litoral do continente, a Cavia magna. Uma possibilidade é que, após o término da última era do gelo, há cerca de 8.000 anos, quando o nível do mar subiu, elas tenham se separado.
Os poucos indivíduos ilhados deram, então, origem a uma nova espécie, que com o tempo se adaptou às condições da ilha: pouco espaço, vegetação baixa e nenhum predador.
O pouco espaço resultou numa população pequena. A ilha tem cerca de dez hectares, mas boa parte do terreno é rochoso. Sobra para os preás um décimo disso, em uma área com grama. Essa vegetação baixa fez com que eles ficassem menores do que os seus primos, que têm acesso a mais comida.
Os preás são os únicos mamíferos da ilha. A ausência de predadores, aliada à estabilidade climática do local -aparentemente nenhuma catástrofe natural aconteceu nos últimos tempos por lá-, permitiu milênios de sossego.
Os cientistas sabem que a população nunca foi grande porque todos são geneticamente parecidos, como se toda a espécie fosse uma grande família.
Para verificar a proximidade genética entre os preás, o grupo de Bonatto recorreu ao mesmo tipo de exame de DNA usado em testes de paternidade.
“É uma das menores diversidades genéticas observadas no reino animal”, diz Ricardo Kanitz, também da PUCRS.
O incesto, portanto, é comum. Em humanos, filhos de parentes podem nascer com alguns tipos de deformação. Não é o caso desses animais: como a população é muito pequena, os cruzamentos que poderiam gerar filhotes defeituosos já aconteceram e os alelos (versões de um mesmo gene) que poderiam causar problemas já foram eliminados pela seleção natural. É normal, portanto, que um filhote seja filho de irmãos.
Essas deformações não são frequentes o suficiente para extinguir uma espécie, mas a inexistência delas é sinal de que os preás se adaptaram à sobrevivência em um pequeno grupo.

Ameaças
Como qualquer grupo pequeno e isolado, entretanto, os bichos correm riscos. A ilha está dentro do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, o que deveria limitar o acesso a ela. Mas, na prática, não é assim.
“Alguns pescadores vão lá, usam como base para trabalhar. O perigo é soltar um gato, um cachorro ou algo assim sem querer e ele acabar com os preás”, diz Bonatto.
Além de gatos fujões, eventuais catástrofes naturais também oferecem perigo aos preás. “Um furacão, por exemplo, poderia matar todos”, diz Bonatto. E um já aconteceu, em 2004.
Além de Bonatto e Kanitz, participou do trabalho Carlos Salvador, então na Universidade Federal de Santa Catarina.
Ao contrário dos preás, todas as espécies com poucos indivíduos vistas até hoje estavam no rumo da morte, fosse natural, fosse por ação humana.
“Alguns trabalhos afirmam que uma espécie, para sobreviver a longo prazo, deveria ter no mínimo 500 indivíduos”, diz Kanitz. “Talvez os preás proporcionem lições importantes de estratégias de conservação”, concorda Bonatto.

Game over

Posted in Atualidades, Evolução & comportamento, teoria da evolução by Raul Marinho on 16 março, 2009

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Para quem gosta de Evolução, o artigo abaixo – uma contribuição do Antonio Maia, do The Prospect – é imperdível:

Evolução humana “chegou ao fim”, afirma biólogo darwinista

John Cornwell

Quando “A Origem das Espécies” de Darwin foi publicado em 1859, não demorou para que teólogos sensíveis, como o cardeal John Henry Newman, aceitassem a evolução como parte da providência divina. Mas até hoje o mundo cristão continua dividido entre os criacionistas que leem o Gênesis literalmente, e os que o veem de forma não literal, como um mito ou um poema. Enquanto os criacionistas leem a Bíblia como um texto cosmológico, outros tratam a evolução como uma teoria para tudo.

O darwinista Steve Jones, eminente biólogo e escritor talentoso, é professor de genética e chefe do departamento de biologia do University College, em Londres. Conversei com ele recentemente em sua sala no Laboratório Galton, atrás da estação Euston, para falar sobre o darwinismo.

Para celebrar o bicentenário de Darwin, Jones publicou um novo livro, “Darwin’s Island” [“A Ilha de Darwin”], que examina as pesquisas pouco conhecidas de Darwin sobre a flora e a fauna britânicas. Jones declarou recentemente, de forma provocativa, que a evolução humana “chegou ao fim”. E agora, nessa entrevista, volta a afirmá-lo.

“É sério isso?”, perguntei.

“Veja, no mundo desenvolvido, os homens em média têm filhos mais cedo do que antigamente. Isso significa que há menos chance de que o esperma sofra mutações que poderiam levar a uma mudança evolucionária”.

Não me convenci. Afinal, há apenas 50 anos, a média de expectativa de vida era bem menor, então é claro que em média os homens tinham filhos mais cedo. Mas acho que o que John quer dizer é que o homem de hoje tem um período de procriação curto, que vai apenas do final dos 20 anos até antes dos 40. No passado, entretanto, a maioria dos homens (principalmente os mais bem sucedidos) teriam filhos ininterruptamente, desde a adolescência até os 50 ou 60 anos. Então, apesar de ter aumentado a média de idade com a qual o homem tem o seu primeiro filho, a média da faixa etária em que eles têm filhos é menor.

Ele acrescenta: “a evolução também requer que populações isoladas possam acumular adaptações, como nas ilhas Galápagos. O mundo moderno, com suas viagens de avião, remédios e proteção contra as intempéries, faz com que seja muito pouco provável encontrar mutações significativas prosperando num habitat isolado”.

“A força motriz da evolução humana é o homem”, continua Jones. “Os óvulos das mulheres são produzidos antes do nascimento, e na vida adulta o número de divisões celulares que podem desencadear uma mutação bem sucedida está em torno de 20, desde o óvulo que lhe deu origem até o óvulo que produzirá seus filhos. Mas o esperma de um pai de 28 anos de idade passa por 300 divisões celulares desde o esperma que lhe deu origem até o esperma que ele passa adiante. Em um homem de 50 anos, são 2 mil divisões celulares. Assim, são os pais mais velhos que levam a evolução humana adiante através das mutações genéticas. Mas nos países desenvolvidos, a maioria dos homens não se reproduz mais a partir dos trinta e poucos anos.”

E quanto às mutações resultantes de testes nucleares e Chernobyl?

“Claro, o DNA pode ser afetado por influências do ambiente. Mas apenas 0,2% da exposição à radiação é produzida pelo homem; a maior parte vem do radônio no solo e nas rochas”.

Jones, entretanto, concorda que ainda é possível uma espécie de microevolução – por exemplo, na disseminação de genes resistentes ao HIV/Aids. “Eventualmente os sobreviventes passarão seus genes resistentes para a próxima geração, criando uma população em geral resistente. Mas isso não assinala uma mudança significativa na espécie humana”.

E quanto à ideia de que os humanos podem se tornar mais ou menos inteligentes?

“Foi Francis Galton, um dos primeiros geneticistas”, disse Jones, “que veio com a ideia de que os seres humanos estavam destinados a emburrecer porque as pessoas inteligentes têm menos filhos, enquanto as burras e irresponsáveis se reproduzem com mais rapidez”. Contra Galton, Jones cita o “efeito Flynn” – o aumento do QI médio no mundo desenvolvido durante os últimos 50 anos, que recebe esse nome por causa do cientista político James R. Flynn.

Flynn argumentou que esse “efeito” não demonstra um aumento genético na inteligência – mas que se deve a um desvio nos testes de QI, que privilegiam o um tipo de raciocínio abstrato que melhorou durante o século 20 por causa da educação e da tecnologia. Antigamente, as pessoas tinham o mesmo poder cerebral, mas menos experiência com o raciocínio abstrato.

Jones também não se impressiona com a possibilidade de a engenharia genética deixar uma marca na evolução humana. Ele admite que poderão haver algumas melhorias superficiais na capacidade humana, com drogas como a ritalina para a concentração, ou provigil para combater a fatiga. Mas segundo ele essas são mudanças superficiais e não-genéticas.

Jones também insiste que os habitats isolados não continuarão suficientemente isolados para permitir mutações. Ele chama isso de “a grande coalescência global”, a forma pela qual os seres humanos escaparam das “leis impiedosas de vida e morte” da evolução. E continua: “diferenças herdadas na capacidade de superar resfriados, fome, deficiência de vitaminas ou doenças não movem mais a máquina da evolução. As pessoas morrem por causa disso, mas quando estão velhas e a evolução não as percebe mais”.

Então essas melhoras não indicam um avanço evolucionário?

“Darwin argumentava que a evolução não tem uma tendência inerente para melhorar ou piorar as coisas. De fato, é mais provável ter alguma surpresa ruim virando a esquina. Um dia poderemos simplesmente falhar em nossa luta pela sobrevivência”.

Jones explica que uma das grandes divisões na compreensão da evolução é entre as noções de propósito e não-propósito. Um exemplo do problema, continua, é encontrado na ideia de uma asa ou um olho pela metade – normalmente discutida pelos defensores do “desenho inteligente” [ou criacionistas]. Segundo eles, como alguma coisa pela metade não tem nenhuma vantagem evolutiva, ela deve de certa forma ter sua função final codificada dentro de si antes de começar sua jornada. A resposta de Jones para essas anomalias admite o mistério da falta de fósseis que evidenciem transições graduais, por exemplo, de uma situação sem asas, para meia asa (sem nenhuma vantagem evolucionária), para uma asa totalmente operacional.

Essa aparente falha na teoria evolucionária encorajou a hipótese do “desenho inteligente” de propensões inerentes para um desenho mais complexo. “Há muitas pessoas que estão felizes em acreditar em parte da história da evolução”, diz Jones, “mas argumentam que Deus fornece um ímpeto de propósito por trás de tudo”.

“Eu não consigo entender a ideia de que tudo tem um ‘significado’ na evolução”, diz Jones. Ainda assim é difícil, senão impossível, acredito, até mesmo para os biólogos mais reducionistas escreverem de forma acessível sobre evolução sem usarem em certo grau o discurso do propósito antropomórfico – até mesmo em termos que parecem neutros como “vantagens”, ou “sobrevivência do mais forte”, “adaptação”.

Enquanto cientista altamente literário, Jones se diz consciente, e talvez até culpado, da justaposição entre a metáfora e a ciência. O próprio Darwin, ele admite, era dado a metáforas imaginativas; seu companheiro constante no Beagle foi uma cópia de “Paraíso Perdido”
[obra poética do escritor John Milton], e um dos aspectos mais excepcionais de “A Origem das Espécies” é sua capacidade de misturar metáfora e ciência, criando um efeito belíssimo.

Além do simples deleite com a descrição natural, o entusiasmo de Jones com os estudos de Darwin sobre os crustáceos e outras minúcias britânicas parte de sua especialização acadêmica, a genética.

“O DNA, assim como os corpos que ele constrói”, diz Jones, com os olhos iluminados, “é baseado numa série de variações numa estrutura. Conforme um óvulo amadurece, órgãos complexos – olhos, ouvidos, mãos e cérebros – são formados a partir de elementos que só poderão ser distinguidos no embrião”. Em momentos como esse, trazendo a biologia do desenvolvimento para a vida, a conversa com Jones se parece mais com as passagens líricas de seus livros – hinos à beleza, sutileza, e o potencial das criações vivas em seu progresso “da fertilização ao túmulo”.

A ligação entre a seleção natural e o DNA estava esperando para acontecer; nesse sentido Jones e seus colegas biólogos são os herdeiros diretos de Darwin. “A seleção natural”, diz Jones, “deixa suas pegadas na dupla hélice de muitas formas. Grandes trechos de DNA homogêneo de ambos os lados dos genes europeus para cabelo loiro e digestão de leite mostram que as variações benéficas arrastaram junto suas vizinhas à medida que passaram pela população durante os últimos milhares de anos”.

Darwin aparentemente queria acrescentar um capítulo sobre seres humanos em seu trabalho sobre a origem dos animais de fazenda. Esse capítulo está sendo escrito agora com a ajuda dos geneticistas modernos. Muitas das mudanças físicas na linha humana desde que ela surgiu lembram as que aconteceram nos animais domésticos, admite Jones.

E quanto à inteligência humana, que nos permite dar continuidade à visão de Darwin no campo da genética, Jones diz: “nossos cérebros, sozinhos, não diminuíram”.

John Cornwell é diretor do Projeto de Ciência e Dimensão Humana no Jesus College, Cambridge

Tradução: Eloise De Vylder

Choro manipulador

Posted in Evolução & comportamento, teoria da evolução by Raul Marinho on 11 março, 2009

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Por que crianças choram em volume tão alto, se a razão de ser do choro é somente alertar à mãe de que algo está errado? A resposta, mais uma vez, parece estar na primatologia, de acordo com o artigo abaixo, da BBC:

Macacas cedem a choro de filhotes por medo, diz estudo

Cientistas britânicos e porto-riquenhos afirmam ter descoberto porque as macacas cedem ao chilique de seus filhotes. Um estudo realizado com macacos resos na ilha Cayo Santiago, na costa de Porto Rico, sugere que as fêmeas são mais propensas a alimentar os filhos e a ceder aos chiliques dos pequenos quando o choro irrita estranhos ao redor.

Segundo a pesquisa, publicada na edição desta semana da revista científica Proceedings of the Royal Society B., a ameaça de violência desses estranhos provoca a reação das macacas.

Assim como bebês humanos, os filhotes de macacos resos possuem um choro agudo que serve para chamar a atenção das mães, especialmente quando estão com fome.

Quando o choro é ignorado, o filhote muitas vezes faz cena, tem um “chilique” que acaba, muitas vezes, irritando estranhos que estejam por perto.

“O choro dos bebês macacos é agudo e irritante, não apenas para a mãe, mas para outros animais em volta”, disse o primatologista Stuart Semple, da Universidade de Roehampton, em Londres, responsável pelo estudo.

“Nós descobrimos que a resposta da mãe a esse choro é motivado pela reação de quem está presente no momento da cena”, disse Semple. Segundo os resultados, as fêmeas são duas vezes mais propensas a ceder ao chilique e alimentar os bebês na presença de machos agressivos ou fêmeas dominantes do que quando há apenas animais menos dominantes ou mais conhecidos ao redor.

O estudo indica ainda que, apesar da pouca freqüência de ataques, as macacas correm um risco 30 vezes maior de serem atacados por outros primatas irritados quando o filhote está chorando, do que quando os filhotes estão mais calmos.

“As mães são relutantes em ceder aos bebês, mas quando há animais dominadores por perto, que ameaçam tanto elas quanto os filhos, elas se sentem forçadas a ceder ao choro”, explica Semple.

Os pesquisadores afirmam que apesar de não terem realizado estudos comparativos em humanos, relatos sugerem que mães humanas também são mais propensas a ceder ao choro das crianças quando há estranhos irritados por perto.

“Quando eu falo com pais de crianças pequenas sobre essa pesquisa, eles entendem imediatamente e afirmam que já sentiram esse tipo de pressão externa quando os filhos estavam tendo um chilique em público”, disse Semple à BBC.

Novo mercado para a previdência privada

Posted in Evolução & comportamento, teoria da evolução by Raul Marinho on 10 março, 2009

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Da BBC/Último Segundo (IG):

Chimpanzé consegue planejar futuro, diz estudo

Um chimpanzé teria planejado ataques a visitantes do zoológico onde é mantido, em uma das evidências mais fortes já coletadas até hoje de comportamento cognitivo, ou racional, em animais. Provar que animais têm a capacidade de antecipar estados mentais futuros sempre foi tarefa difícil de comprovar, de acordo com Mathias Osvath, um dos responsáveis pelo estudo publicado nesta segunda-feira na revista científica Current Biology .
A pesquisa teve início depois que, em meados dos anos 1990, funcionários do zoológico de Furuyik, na Suécia, descobriram que o chimpanzé coletava e guardava pedras que seriam, posteriormente, arremessadas contra o público.

O macaco Santino guardava as pedras enquanto estava calmo, antes da abertura do zoológico.

Os arremessos aconteciam horas depois, durante demonstrações de dominância, quando o primata já se encontrava em um estado mais agitado.

Santino havia, inclusive, desenvolvido uma técnica para detectar pedaços mais vulneráveis do concreto de sua jaula, que poderiam ser mais facilmente retirados.

Quando a água entrava por dentro de frestas no concreto e se congelava, o pedaço de concreto se tornava mais frágil e produzia um som diferente ao toque.

Santino foi observado dando tapas no concreto para descobrir os pontos mais fracos, destacando pequenos pedaços e os armazenando em estoques para munição.

“Estou pessoalmente convencido de que pelo menos os chipanzés planejam para necessidades futuras”, disse o professor Osvath.

“Não me surpreenderia se descobríssemos esse tipo de comportamento em golfinhos e outras espécies”, disse ele.