Origens do estresse
Imagine a vida de nossos antepassados há 100mil anos, nas savanas africanas. Era predador para todo lado, outros grupos humanos agressivos armando emboscadas, dificuldades dentro do próprio grupo social, escassez de alimentos, nada em termos de medicina… Enfim, um ambiente ultra-estressante. Comparando o dia-a-dia do pleistoceno com o atual, não deveríamos ter estresse algum, especialmente entre os que vivem nas camadas mais abastadas do primeiro mundo. Mas, de acordo com este artigo publicado no blog do Noblat, da co-musa deste blog, Sandra Paulsen, as pessoas na Suécia estão ultra-estressadas. Uma boa pista para entender o estresse sueco é a do “descompasso entre ambição e capacidade”, que é a aposta do Aleksander Perski, pesquisador da Universidade de Estocolmo – que, sinceramente, não me convenceu por completo. Na verdade, acho que o “não poder errar” que a Sandra sugere no final do artigo é que gera a maior parte do estresse. Em sociedades modernas, como a sueca, isso se traduz no descompasso ambição-capacidade; e nas sociedades mais simples, como a de nossos antepassados das savanas, significa o risco de não sobreviver ao próximo leão das redondezas, ou à próxima estiagem. Mas, em qualquer uma das situações, o comprometimento absoluto com o sucesso é que realmente nos estressa.
Uma sobre o estresse
Outro dia, falei da palestra na igreja, sobre o ser humano e o estresse. Aleksander Perski é um pesquisador da Universidade de Estocolmo, que além de pesquisar, também atende pacientes na conhecida Clínica do Estresse. Achei muito interessante o que ouvi e decidi contar um pouco, aqui.
Perski explicou o que acontece com a gente que vive sob constante estresse e como nosso corpo reage à pressão permanente. Para ele, o estresse nada mais é do que o resultado de um desequilíbrio entre a ambição e a capacidade. Se entendi bem, nós queremos muito e tanto, que desrespeitamos nossa capacidade de alcançar o que queremos. Em suma, queremos acima das nossas possibilidades. Ao não conseguir o que queremos, nos estressamos e lutamos, mais e mais, para atingir o inalcançável.
Como era de se esperar, 70% daqueles que procuram ajuda na Clínica do Estresse são mulheres. Há algum tempo, eram mulheres na meia idade. Hoje em dia, mais e mais jovens adolescentes procuram ajuda médica, para os distúrbios provocados pela tensão diária.
Você perguntará: qual a razão de tanto estresse, numa sociedade afluente, onde as pessoas se sentem protegidas, pelo Estado de Bem Estar Social?
É, eu também não sei explicar não. Mas eu nunca havia visto tanta gente tão estressada como a gente vê por aqui.
Segundo Perski, o estresse das mulheres se deve à dupla jornada: trabalho e casa. Mesmo nesta sociedade moderna e igualitária, ainda são as mulheres que arcam com a maior parte do trabalho doméstico. E, ao contrário do Brasil, onde as que trabalham fora de casa contam com as que trabalham dentro de casa, para que as tarefas sejam cumpridas, aqui não tem disso. A faxina, a cozinha, a lavagem de roupas, a limpeza das janelas, a retirada do lixo e o cuidado das plantas, tudo tem que ser administrado e executado pela dona ou pelo dono de casa, ou pelos dois. Isso sem contar com o cuidado dos filhos pequenos. Aliás, uma das recomendações do especialista para reduzir o estresse das mulheres é, exatamente, exigir igualdade de deveres na esfera doméstica.
Outra fonte de estresse é o que Perski chama de “armadilha da capacidade”. Quanto mais capaz você é, mais você dá importância ao seu desempenho e à sua performance, e mais você exige de si mesmo. As chamadas “princesas do alto rendimento”, aqueles homens e mulheres que são exigentes consigo mesmos e compensam sua baixa autoestima com os bons resultados na carreira, são as maiores vítimas do estresse moderno.
Enfim, segundo Aleksander Perski, a explicação para tudo está na autoestima e em como a gente compensa sua falta: via drogas, distúrbios da alimentação, através das relações que a gente estabelece, ou através do trabalho.
O palestrante contou que o primeiro sinal de estresse costuma ser a dificuldade para dormir. A partir daí, a pessoa fica cansada durante o dia, tem dificuldade para se concentrar no trabalho, está sempre apressada, fica ansiosa. No final das contas, a pessoa acaba afetada em sua psique, sofre de irritação, agressividade, angústia e pânico.
Os conselhos para quem já está estressado são simples, mas nem sempre fáceis de seguir: cuidar de si mesmo; não pensar, ao deitar-se, nos problemas de amanhã; dormir um bom número de horas; aprender a dizer não; exigir menos de si mesmo; fazer coisas que dão prazer e compartilhar o trabalho doméstico.
Saí da palestra pensativa. E achando que aqui, em uma sociedade onde todo mundo tem de fazer tudo certinho, tudo direito, tudo perfeito, o estresse deve ser o preço a pagar… Há algo mais estressante do que nunca poder errar?
Como se locomover em São Paulo
Numa cidade como São Paulo, há de ser criativo para se locomover, e não ha mágicas a serem feitas. A opção “ganhar na mega-sena e comprar um helicóptero”, por exemplo, parece boa, mas é impraticável. Ao contrário do que todo mundo pensa, você não pega o seu helicóptero e vai no shopping, depois na manicure, e no caminho para casa pega o Júnior na escolinha e dá uma passada no supermercado. Helicóptero leva o banqueiro, da sede do banco, na av. Paulista, para uma reunião com um cliente em Diadema, e, depois para um almoço em Campinas. Tudo planejado antecipadamente, e devidamente autorizado pelo controle aéreo. Em resumo: na prática, o helicóptero não resolve o problema de transporte de uma pessoa normal em 99% dos casos – sem contar que ganhar na mega-sena para comprá-lo também não é tarefa das mais fáceis.
Condenado a rastejar pelas ruas superlotadas, o motorista paulistano soferá com 1)a morosidade absurda do trânsito; 2)o custo, não só de gasolina, mas principalmente do desgaste prematuro que o carro irá sofrer; e 3)o risco de ser abordado por um trombadinha no semáforo. Blindagem ajuda, mas não resolve: conheço histórias de assaltantes que pegam um transeunte de refém (quem teria coragem de deixar o outro levar um tiro na cabeça?) e roubam o motorista do mesmo jeito. Transmissão automática, iPhone, som de última geração e DVD a bordo deixam o trajeto menos cansativo, mas não economizam tempo. Só há uma solução: apelar para uma combinação de metrô e táxi, mas… E o conforto, onde fica? No táxi, até que tudo bem, a maioria tem ar-condicionado e a frota de S.Paulo é relativamente nova e bem conservada. Mas andar de metrô com conforto exige técnica, como veremos.
Embora novos e limpos, é certo que você não vai encontrar vagão de metrô com carpete alto e banco de couro (nem ar-condicionado), mas dá para viajar com bastante diversão. Primeiro: tente evitar os horários de rush. Mude seu horário de trabalho, encaixe tarefas que podem ser feitas a qualquer hora (ex.: responder e-mails sem urgência) nos horários de pico, e procure entrar no metrô fora dos seguintes horários a)8:00-10:00h; e b)17:00-19:00h. Segundo: leve diversão para o metrô, como um livro ou uma revista, joguinhos de celular e, preferencialmente, um iPod equipado com headphone anti-ruído (vide esse post aqui). Ultimamente, eu tenho usado o iPod para ouvir áudio-livros, mas você pode ouvir música e até rádio (nos trechos acima da terra, óbvio), além de uma cadernetinha para anotações. (Eu falo mais sobre esse assunto nesse post aqui).
Uma outra opção é não levar nenhum gadget, e enfrentar os horários de pico com galhardia. A vantagem? Ouvir a conversa dos outros e ficar reparando nos tipos que habitam o subterrâneo. Que é o que sugere a Sandra Paulsen, no artigo abaixo, publicado hoje no blog no Noblat (tudo bem, ela fala da Suécia, mas é a mesma coisa em S.Paulo)):
Lata de sardinha «cultural»
Esta semana, os jornais locais touxeram notícias sobre a idéia de reduzir os assentos no metrô de Estocolmo, a fim de abrir mais espaço para as pessoas em pé. É que o congestionamento nos meios de transporte público está a pedir soluçöes urgentes.
Apertada feito sardinha em lata, no percurso pro trabalho, eu ia pensando na rodovia projetada para passar a oeste de Estocolmo, a tal da Förbifart, meu assunto favorito nos últimos tempos. Aquela mesma que, aliás, além de tema das Cartas de Estocolmo, foi motivo de programa televisivo recente, em que se apontaram todas as falhas na análise que levaram à falsa conclusão de rentabilidade positiva para o projeto.
Enquanto eu sofria com as agruras do transporte coletivo que tanto defendo, eis que entra no vagão em que eu viajava uma senhora loura e elegante, com um livro na mão.
Eu não podia entender o que ela fazia com aquele livro, apertada e tentando achar um lugar para colocar os pés no chão. Mas ela instalou-se na minha frente e, de pé e comprimida entre todos os corpos e bolsas, continuou calmamente sua leitura.
Não pude evitar estalar numa gargalhada. A senhora levantou o olhar questionador e eu, meio envergonhada pela minha reação espontânea, tive de explicar.
Disse-lhe então que, para mim, só na Suécia as pessoas liam no transporte coletivo daquela forma, apertados, tentando equilibrar-se entre curvas e freadas. A quantidade de livros de bolso que a população sueca lê a cada ano é inusitada. Todo mundo anda com um livrinho na mão e lê no ônibus, no metrô, no bonde e no barco.
E a senhora me respondeu, numa elegância ímpar, aparentemente sem dar bola às chacoalhadas ou a um cotovelo que teimava em ameaçar-lhe a leitura:
– Esta é uma forma de aproveitar o transporte, fazendo algo útil, dando um sentido ao tempo gasto na locomoção. Mas, na verdade, estou pensando em comprar livros em áudio, para ir escutando no mp3 no caminho para o trabalho…
Não há dúvida de que ela tem um bom argumento.
Eu também tenho outro argumento, só que para não ler nem andar com os fones de ouvido. É que, na linha do metrô e no transporte público, a gente tem muito a aprender. Mas, em lugar de ler livros, eu vou «lendo» as pessoas, observando seu comportamento, suas estratégias de sobrevivência, escutando as conversas.
De um jeito ou de outro, lata de sardinha sim, mas sempre aprendendo!
PS: Não resisti. A curiosidade foi grande: comprei meu primeiro livro em mp3. Chama-se «A arte de ser bonzinho», de Stefan Einhorn. Depois conto mais.
O in(f)verno
Taí um negócio que eu sempre pensei: por que, raios!, alguém haveria de cismar de morar num lugar tão inóspito como a Suécia, enquanto sobra terra nos trópicos? A Sandra Paulsen, minha colunista predileta do blog do Noblat também tem a mesma dúvida… Não perca o artigo dela de hoje, abaixo:
Natureza zangada?
Nos jornais suecos de hoje, a chuva e as mortes em Santa Catarina estão nas manchetes : «Catástrofe natural no sul do Brasil», dizia o Svenska Dagbladet, destacando o grande número de pessoas que morreram ou perderam suas casas.
Aqui, 75% dos velhinhos que moram sozinhos e dependem do serviço de assistência doméstica tiveram de se virar sozinhos. Acostumados a receber a visita de alguém que lhes dá os remédios ou cuida para que possam se alimentar, por exemplo, muitos ficaram sem a visita diária. E alguns que conseguiram ser atendidos só o foram devido à ajuda militar ou dos bombeiros, para abrir caminho e transportar os atendentes.
É que a neve começou a cair e, como sempre, ela é mais poderosa que toda a nossa tecnologia. E vêm mais tempestades de neve por aí, segundo a meteorologia.
O fato é que, quando começa a nevar pra valer, não há limpeza de rua que seja suficiente e o caos é quase inevitável. As ruas, sem a devida manutenção com areia, sal, etc., viram uma pista de sabão. Trens se atrasam ou não partem, carros deslizam, pessoas escorregam e ciclistas desistem das peripécias sobre duas rodas.
Os aviões não puderam decolar ou aterrizar dentro dos horários previstos em Arlanda e cerca de 50 mil passageiros foram afetados pelos atrasos.
Milhares de casas ficaram sem eletricidade, enquanto o tráfego de ônibus para Norrtälje, a cerca de 100 km ao norte de Estocolmo, foi totalmente suspenso. Nos arredores da capital, principalmente na área norte, a tempestade quase parou a população. Carros presos na neve (com pelo menos um caso fatal de morte por congelamento) e muitos acidentes foram a tônica. Em alguns lugares, como em Gotland, as escolas tiveram de fechar.
Uma colega me explicava que, há um par de anos, ficou para dormir no trabalho, já que não havia possibilidade de chegar em casa, a quarenta minutos do centro, e voltar no dia seguinte.
De vez em quando, principalmente em dias como o de hoje, eu me pergunto como é que nós viemos parar aqui. Um lugar onde o clima é tão duro e tão hostil que, mesmo com toda a tecnologia moderna (ou será por culpa dela?), as pessoas ainda são tão vulneráveis!
É uma sensação de impotência terrível, ao mesmo tempo que a pergunta fica no ar: será que a natureza está querendo nos dizer alguma coisa com tudo isso? De quem terá sido a idéia de estabelecer assentamentos humanos em latitudes tão longínquas, hein?
E o inverno está só começando…
Diferenças
Como é a viver num lugar praticamente sem luz do dia? Se você se interessa por esse tipo de coisa, não deixe de ler o artigo abaixo, da Sandra Paulsen (um dos poucos nomes que a Alta Direção deste blog não fala mal), colunista do Blog do Noblat:
Reflexos no escuro
No Brasil, temos a idéia de que, «em condições normais de temperatura e pressão», criança não fica na rua sozinha quando a noite cai, não é mesmo? Em novembro e dezembro, se a regra fosse aplicada à Suécia, criança ficaria em casa o dia inteiro! Ou quase!
É que, nesta época do ano, a escuridão é tal que a iluminação pública automática às vezes permanece acesa dia e noite, ou dia e dia, ou noite e noite, já que é tudo quase a mesma coisa.
É claro que estou exagerando nas tintas, mas a verdade é que, na típica escuridão do outono e do inverno suecos, é importante que as pessoas, principalmente as crianças brincando ou andando nas ruas, usem reflexos nas roupas. Imagino que vocês não sabiam disso.
Lembrei de falar dos reflexos porque li hoje no Brassar um artigo a respeito. O http://www.brassar.se é um portal de grande interesse para os brasileiros perdidos aqui no polo norte. Apresenta informações indispensáveis, notícias, curiosidades sobre a Suécia, para brasileiros radicados neste país ou para interessados em saber como é a vida aqui.
No artigo que li, a vibrante brasileira Joana Öberg, que idealizou e mantém o «site», fala justamente disso: da necessidade de comprar plaquinhas refletoras para as crianças andarem nas ruas.
Jo apresenta a questão, corretamente, como de vida ou morte, e conta sua experiência de «quase atropelamento» de uma pessoa adulta, que andava na beira do caminho sem os devidos reflexos.
Os reflexos estão presentes em sapatos, jaquetas, bicicletas e até na coleira dos cães que saem a passear com seus donos, também devidamente equipados com plaquinhas refletoras.
Pode parecer bobagem, mas não é não. Os reflexos são realmente um importante assunto no cotidiano daqui e dão margem a outras discussões ainda mais espinhosas. Como por exemplo, sobre a conveniência ou não de as crianças dos jardins infantis municipais usarem coletes ou jaquetas refletoras contendo publicidade e propaganda.
É isso mesmo. Diversas empresas deram-se conta de que os famosos coletinhos amarelos – usados por todas as crianças nas creches e escolinhas de Estocolmo no outono e no inverno – são fantásticos «postes de propaganda» móveis.
As empresas, então, doam coletes e jaquetas refletoras, com seu logotipo incluído, às escolas municipais. O supermercado Ica também fez sua campanha, no começo do outono, doando coletes a seus clientes-freqüentes. E as crianças saem portando logotipos «incandescentes» pelos jardins e parquinhos da cidade.
Uma importante companhia de seguros, por exemplo, defende o uso dos coletes infantis para propaganda, com a justificativa de que «para nós o que é importante é proteger as crianças e prevenir acidentes».
E os reflexos viraram tema político, em calorosas discussões entre oposição e situação no governo local.
Política e propaganda à parte, o fato é que não adianta querer ser chique. Por uma questão de segurança, a gente tem mesmo é que andar feito árvore de natal por aqui, nesta época do ano.
O que se leva dessa vida é a vida que se leva
Morte, eutanásia/ortotanásia, suicídio… Talvez os assuntos mais complicado com que somos obrigados a lidar. Ainda mais para uma menininha de 13 anos. Leia o artigo da Sandra Paulsen, abaixo, vale a pena (como todos os dessa autora):
A menina que quer morrer
A notícia também deve ter saído aí. Depois de passar uma boa parte da vida em hospitais, a menina Hannah Jones, uma inglesinha de 13 anos, recusa-se a passar por mais uma cirurgia e prefere morrer. Aqui, o assunto está provocando discussões. E a história é triste.
O caso é que a adolescente sofre de uma forma incurável de leucemia e, ainda por cima, tem problemas sérios de coração e precisa de um transplante. Como ela se recusava a continuar sendo tratada, os médicos do sistema de saúde inglês pensavam obrigá-la ao tratamento.
Agora, ficou claro que a menina pode relaxar. Ela já não vai precisar passar pela operação que prolongaria sua vida. As autoridades desistiram da ação judicial que a obrigaria a aceitar o tratamento médico recomendado. O que quer dizer que ela pode morrer em casa, com sua família, sem mais cirurgias.
Sim, porque Hanna já passou por, pelo menos, três cirurgias para implantação de marca-passos. E seu coração, ainda assim, só funciona a dez por cento da capacidade. Sem a nova cirurgia, os médicos deram-lhe pouco tempo mais de vida.
Segundo os jornais, ela está cansada de viver em hospitais e seus pais, em um primeiro momento reticentes, agora aceitam sua decisão.
Na Suécia, o tratamento médico no sistema de saúde pública é uma escolha do paciente. Ninguém pode ser obrigado, nem mesmo doentes mentais, pacientes muito idosos ou que estejam perdendo suas plenas faculdades de raciocínio.
Mas daí a permitir que uma pessoinha de 13 anos decida que está preparada para morrer e que prefere fazê-lo sem mais intervenções médicas…
A livre escolha do paciente, aqui, vale também para um menor, desde que o médico responsável o julgue apto a tomar esse tipo de decisão. Já pensou a pressão para o médico, que fez o juramento de Hipócrates e tudo?
Sem dúvida, o assunto vai dar pano para mangas. Me pergunto o que dirá o Vaticano. Na verdade, me pergunto o que é «respeito à vida», neste caso.
E peço a Deus pelos pais e irmãos da criaturinha e por todos os envolvidos na decisão.
Obs. em relação à foto que ilustra esse post: Ela foi encontrada na web (como quase todas as que uso neste blog, a propósito), e achei-a interessante por dois motivos. Primeiro, porque é pró-blogueiros, e eu sou um cara corporativista. Depois, porque tem um tremendo erro de português (não é “jás”, mas “jaz”), uma característica das novas mídias (blogs, principalmente).
Burocracia de 1o. mundo é assim
Dificuldades com seu RG, CPF, número do título de eleitor, essepecesdossics & afins? Se fosse na Suécia, poderia ser pior, acredite. Saiba tudo sobre RGs suecos nenste excelente artigo da Sandra Paulsen, já rasgadamente elogiada neste prestigioso informativo internético:
Morto-vivo
Há coisas que a gente pensa que só poderiam acontecer em um país menos desenvolvido, carente de recursos e tecnologia. Mas, não. Essas coisas acontecem aqui também.
Conto a história…
Toda pessoa legalmente estabelecida na Suécia conta com um número pessoal. Esse é uma combinação entre a data de nascimento da pessoa e quatro dígitos que, além de fazerem daquela pessoa a única a contar com aquele número de identificação, também indica o sexo do dono ou da dona.
São dez dígitos não muito fáceis de decifrar, mas, por exemplo, se você é uma mulher nascida no dia 29 de fevereiro de 1984, então seu número pessoal será 840229-XXXX, onde o terceiro X será um número par, porque você é mulher (seria ímpar, caso estivéssemos falando de um homem nascido na mesma data).
Para quem mora aqui há muito tempo, o famoso «número pessoal» é a chave para ser atendido no serviço público, nos hospitais, nos consultórios médicos, na universidade, ou seja, praticamente em qualquer lugar. Você só não precisa do seu número pessoal se for tomar uma cervejinha no bar da esquina e pagar à vista. Se quiser pagar com cartão, no entanto, pode precisar se identificar e, aí, o famoso número entrará em cena.
Acontece que, a cada ano, há alguns casos de suecos ou residentes na Suécia erroneamente declarados mortos, seja por algum erro dos médicos nos hospitais, ou algum escorregão de alguém em uma repartição pública qualquer.
No ano passado, foram treze os casos e, neste ano, já são dez as pessoas erroneamente registradas como mortas.
O que acontece, então ? Quase sempre, advêm problemas econômicos, como subsídios governamentais que deixam de ser pagos, aposentadorias que não se recebem mais, etc. Mas o pior é quando acontece como na semana passada.
Um cidadão de 66 anos chega, passando mal, a um centro de assistência médica e, ao se apresentar, recebe o seguinte comentário de volta:
– Desculpe-me, mas o senhor já está morto.
Imaginem a cara do cavalheiro ao tentar, primeiro, de forma gentil, depois, já menos educadamente, é claro, explicar que estava vivo e necessitando de cuidados médicos urgentes!
O fato é que o cavalheiro foi-se embora sem ver o médico. E, como não podia deixar de ser, entrou com ação de perdas e danos morais contra o Estado.
E eu pensando que era só no Brasil que pessoas tinham seus CPFs clonados e ficavam com nome sujo na praça, sem ter nenhuma culpa no cartório… Não reclamo mais! Posso estar com o CPF sujo na praça, mas pelo menos ninguém me declarou morta, ainda…
Truques de marketing que você não conhece
Você sabe como é o dia-a-dia na Suécia? Se você fosse um dos leitores dos posts da Sandra Paulsen, regularmente publicados no blog do Noblat, saberia. O de hoje fala dos truques que algumas lojas e supermercados de lá utilizam que ninguém conhece em Pindorama. Vale a pena ser lido:
Ética da sociedade de consumo
Além da publicidade e da propaganda, normalmente utilizadas, são conhecidas outras táticas menos explícitas das quais o comércio, algumas vezes, lança mão para atrair clientes: a famosa «boa aparência» exigida na contratação de vendedores, por exemplo, é um clássico. Meninas e meninos bonitos atrás do balcão ajudariam a aumentar as vendas.
Só que algumas recentes chamadas em jornais locais, sobre as estratégias de certas empresas para atrair consumidores, vêm-me deixando de cabelos em pé. Parece que a baixa conjuntura e as ameaças de recessão econômica estão fazendo o comércio varejista de Estocolmo se desesperar.
Primeiro, uma notícia de que os portadores do cartão da rede de supermercados Ica recebem ofertas especialmente para eles, preparadas de acordo com as compras feitas com o cartão. Ou seja, aqueles que compram batatas fritas, sabão em pó e comida para gatos recebem ofertas pessoais específicas relacionadas a esses produtos. As compras feitas pelos consumidores são registradas e estudadas, para dar origem a ofertas sob medida. A repercussão da notícia ainda não é clara. Enquanto uns sentem que, por fim, receberão ofertas interessantes que poderão ser aproveitadas, outros acham que esse tipo de propaganda constitui invasão de privacidade.
Depois, uma nota a respeito de lojas que empregam pessoas especialmente para fingir que compram e para circular com suas sacolas cheias de produtos, como forma de propaganda. São clientes de mentirinha, que se comportam como consumidores vorazes, para provocar o interesse de outros compradores e aumentar as vendas. Estabelecimentos do comércio de Estocolmo recrutam atores para esse papel de falsos clientes, os quais, entre outras atribuições, também distribuem elogios a clientes de verdade que experimentam peças nos provadores das lojas.
Agora, a última das novidades vem também dos supermercados Ica. A cadeia ficou com uma fama negativa no ano passado, por vários casos de adulteração das datas de validade da carne moída à venda. Houve punições, mudanças nos procedimentos, e a história está praticamente esquecida. Só que agora o Ica estaria testando um novo método para aumentar seus ganhos: «perfumar» artificialmente as áreas onde se vendem frutas e verduras. Com o cheirinho artificial de manga, banana ou pêssego fresco, «fabricado» sinteticamente e devidamente espalhado por um ventilador que fica embaixo da prateleira de frutas de uma das suas lojas em Malmö, o Ica espera atiçar os fregueses a comprar mais.
Eu me pergunto se sou só eu a ficar de queixo caído. Até que ponto o comércio pode chegar para aumentar suas vendas? Não bastam as táticas para estimular a compra por impulso, os chocolates no caixa, os produtos mais necessários estrategicamente colocados para que as pessoas tenham que passear a loja inteira até encontrá-los, e outras coisas assim?
Quando me assusto muito com o consumismo e as técnicas para estimulá-lo, tento pensar no argumento freqüentemente utilizado pelos admiradores incondicionais do Estado de Bem Estar sueco: aqui as coisas ruins se sabem; em outros lugares, se escondem.
Tomara que seja assim mesmo.
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