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Crianças

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 21 julho, 2009

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O João Pereira Coutinho escreve na Folha de hoje “Três reflexões sobre as crianças” (abaixo reproduzidas). Eu acrescento uma quarta:

No Brasil, temos um tal de ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente que, na prática, diz que as pessoas com até 17 anos, 11 meses e 29 dias de idade são espécies de anjos. Se uma pessoa destas matar, roubar, estuprar, traficar, o máximo que lhe pode acontecer é passar alguns anos no reformatório, ao contrário de um adulto, que poderia ser condenado a até 30 anos de cadeia. Não sou especialista em psicologia forense ou algo que o valha, mas possuo uma experiência pessoal curiosa. No início dos anos 1980, estudei na Escola de Cadetes do Exército. Isso significa que, aos 15 anos de idade, o Estado me entregou um fuzil FAL 7.62mm e me deu instruções para atirar para matar em determinadas situações. Eu, particularmente, nunca atirei em ninguém, mas um colega de turma, que estava de serviço numa noite em que arruaceiros invadiram a área da escola, chegou a atirar no carro dos invasores. Não matou ninguém por sorte (ou azar, depende do prisma).

Naquela época, um aluno da Escola de Cadetes de 15 anos era tido pelo Estado como maduro o suficiente para portar e usar armas de fogo , e eventualmente ser punido pelos seus excessos. Hoje, um marmanjão de 17,99 anos é julgado como uma criancinha de colo se matar alguém. Tem lógica isso?

Três reflexões sobre as crianças

1 Existem adultos que sentem atração problemática por crianças. Pedófilos, eis o termo. Pessoalmente, a minha tara é a inversa. Eu sinto medo delas. Vejo uma criança por perto e sinto um impulso imediato de saltar pela janela. Não sei se existe termo clínico apropriado para descrever a minha condição. Pedofobia serve?

Se não serve, desconfio que vai servir em breve. Sobretudo se o governo de Gordon Brown, no Reino Unido, não repensar a sua última insanidade.

A questão é a seguinte: a pedofilia existe no país em números alarmantes? Então a solução que o governo trabalhista arranjou foi obrigar todos os adultos que trabalham com crianças a passar por exame criminal prévio. Professores, técnicos de saúde e até escritores de literatura infantil que regularmente visitam escolas terão de pagar 64 libras para serem checados com precisão policial. Uma vez aprovados pelo Big Brother da pedofilia, terão direito a documento onde será expressamente declarado que eles não sonham com a Shirley Temple.

Uma inovação, sem dúvida. A “presunção de inocência”, figura jurídica que estrutura os Estados de Direito ocidentais, determina que todos os indivíduos são inocentes, até prova em contrário.

O Reino Unido, pátria imortal das liberdades individuais, pretende reverter o princípio. Todos serão pedófilos, até prova em contrário. Eu avisei. Saltar pela janela é a solução.

2. Testes de paternidade para uso doméstico? Precisamente. Cientistas norte-americanos desenvolveram teste fácil e indolor que permite a pais ou maridos desconfiados saber se o filho, ou alegado filho, é mesmo deles. O teste é feito com saliva (do “pai” e do “filho”). Depois, é só enviar a amostra para o laboratório e esperar pelo resultado.

Contam os cientistas que, nos Estados Unidos, metade dos testes dão resultado fatal. Na Europa, espera-se agora que o cenário não seja muito diferente.

O caso é curioso do ponto de vista estritamente filosófico. A civilização ocidental assenta na velha crença platônica de que só o conhecimento verdadeiro traz felicidade duradoura. “Conhece-te a ti próprio”; “só uma vida examinada vale a pena ser vivida”; “penso, logo existo” -seria possível construir uma história da filosofia com máximas e provérbios que sublinham a mesma tese: sabedoria é virtude; virtude é felicidade.

Nunca comprei essa simplória versão das coisas. Prefiro acreditar, como dizia um velho professor inglês, que o fato de descobrirmos a verdade não implica necessariamente que a verdade será interessante. Basta olhar para nossas privadíssimas existências: uma pessoa que sabe padecer de câncer será necessariamente mais feliz por isso?

Arrisco nova tese: a mentira é, muitas vezes, um mecanismo insubstituível de sobrevivência. Curiosamente, Jeremy Campbell escreveu um livro notável sobre o assunto, uns anos atrás: “The Liar’s Tale: a History of Falsehood”. Recomendo. Mas divago.

Por isso imagino as consequências imediatas desses testes de paternidade na Europa: milhares de famílias que viviam as suas vidas protegidas pelo doce manto da ignorância; milhares de famílias que, no curto prazo, serão simplesmente desfeitas pela luz radiosa da verdade. Valerá a pena?

3. Uma amiga tenciona abrir restaurante em Lisboa. Espaço para fumantes, onde animais ou crianças não entram. As autoridades públicas autorizam a exclusividade para fumantes e concordam com a interdição de animais. Mas, estranhamente, dizem que a proibição de crianças é ilegal e até inconstitucional.

Nunca tinha pensado sobre o tema, exceto quando janto fora de casa e existe uma criança no espaço a berrar, a correr por entre as mesas ou a importunar os presentes. De preferência sob o olhar compassivo e maravilhado dos progenitores.

Por vezes, lavro um tímido protesto aos ouvidos do garçom. O garçom comunica o meu desagrado aos ouvidos dos pais. Os pais esquecem os meus ouvidos e verbalizam insultos como se eu fosse obrigado a partilhar o amor parental deles. Por pouco não me pedem para eu adotar a família inteira.

Um restaurante só para adultos resolveria a situação de forma democrática: as regras seriam conhecidas e a clientela que decidisse. Quem quisesse um restaurante, que viesse ao restaurante. Quem quisesse um parque infantil, que fosse a outro restaurante.

Infelizmente, o meu país não respeita os seus proprietários. E não respeita o direito deles de escolher o seu tipo de clientela. Para início de conversa, haverá coisa mais ilegal e até inconstitucional?

O irresistível charme das orientais

Posted in Atualidades, Evolução & comportamento by Raul Marinho on 17 julho, 2009

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De acordo com o artigo abaixo, da Sylvie Kauffmann para o Le Monde, as orientais atraem muito mais os ocidentais do que o contrário por questões meramente culturais. Eu concordo parcialmente. Acredito que também existam questões ligadas à neotenia (pele delicada, cabelos muito finos, etc.) que também sejam responsáveis pela beleza feminina das orientais. Pelo mesmo motivo, os orientais não fazem tanto sucesso entre as ocidentais (e nem entre as próprias orientais, como o artigo aponta).

…Ou seria uma confirmação do conhecido esterótipo sobre os japoneses tão difundido no Brasil?

Por que as mulheres orientais atraem mais os ocidentais do que o contrário?

Para o ignorante vindo do Ocidente, o Oriente encerra mistérios insondáveis. Na família Polo, Nicolau, Matteo e Marco gastaram muita energia tentando desvendá-los, mas, sete séculos depois, a Ásia, em muitos sentidos, continua fascinando os aventureiros da globalização.

Um dos enigmas mais preocupantes, na verdade, inquieta mais às ignorantes do que aos ignorantes: por que, na época do grande caldeirão de raças mundial, os casais mistos ocidental-asiáticos se formam apenas em um sentido? Dito de outra forma, por que os homens vindos do Ocidente se sentem tão irresistivelmente atraídos pelas mulheres da Ásia, enquanto os asiáticos e as ocidentais não se juntam?

A questão é séria, principalmente para os batalhões cada vez maiores de jovens mulheres que vão viver lá, não mais de braços dados com seus maridos, como na época das colônicas, mas sim armadas de diplomas, e atraídas, tanto quanto seus colegas masculinos, pelo dinamismo das economias emergentes. Apesar de o aspecto econômico costumar cumprir suas promessas, pelo lado amoroso, entretanto, uma grande decepção as espera. Nesse sentido não surge nada além da perspectiva de inumeráveis “noites entre amigas”.

O que acontece é que seus amigos ocidentais são tão solicitados que já não têm tempo para elas. “É muito simples”, resume uma alta executiva francesa de 35 anos de idade e solteira. “Os chineses nem me dirigem o olhar, e os ocidentais não têm olhos a não ser para as chinesas… ou para os chineses, se forem gays.”

O escritor e jornalista norte-americano Richard Bernstein se interessou por este fenômeno, com mais profundidade, e escreveu um livro que acabou de ser publicado em Nova York com o título “O Leste, o Oeste e o sexo”. Nele, Bernstein descreve a atração erótica exercita pelo Oriente sobre os conquistadores vindos do Ocidente, desde a fascinação exercida pelo harém otomano até o sórdido turismo sexual da Tailândia e do Camboja. A busca sexual da Europa no Oriente, escreve, é “um aspecto do dinamismo ocidental, do espírito de aventura europeu, comparado com a relativa passividade dos asiáticos. O Ocidente é animado por um vivo desejo de conhecer o Oriente, enquanto o Oriente tem muito pouco interesse no Ocidente”. Para o ocidental que vai para a Ásia, acrescenta, “a relação com uma oriental faz parte da aventura”.

Ele mesmo ri ao recordar sua chegada a Hong Kong, como um jovem jornalista, onde um amigo lhe propôs conhecer uma mulher chamada Diana Li. Sentado à mesa do Clube de Correspondentes Estrangeiros no dia combinado, ele esperava com impaciência sua primeira conhecida chinesa, quando escutou alguém dizer: “Você é Richard? Eu sou Diana Lee”.

“Não pude esconder minha decepção”, confessa o jornalista. “Ela era loira e de olhos azuis”. Muitos anos depois, Richard se consolou casando-se com uma verdadeira chinesa.

Isso não resolve o problema de Diana Lee e de todas as loiras estrangeiras que vivem na Ásia. Não tenhamos medo de generalizar: aos olhos dos asiáticos, as ocidentais são inquietantes incendiárias, muito grandes e com muita carne, obcecadas por seu aspecto físico e pelos exercícios de Pilates, educadas numa atmosfera perigosa de igualdade entre os sexos. Poderíamos citar, como um anti-exemplo, Marguerite Duras e seu “Amante” da Indochina, mas isso aconteceu há muito tempo e ela tinha 15 anos. A ópera, a literatura e o cinema popularizaram “Madame Butterfly”, “Miss Saigon”, “Shogun” e as gueixas. O estereótipo da mulher asiática submissa à vida dura “é um fantasma desgastado, sem dúvida, mas mesmo assim incrivelmente influente”, observa Sheridan Prasso, autor de “A mística asiática”, obra lançada em 2006.

Essa vida é tão dura que as mulheres asiáticas não vacilam ao entrar no jogo, se for preciso, para bajular o ocidental crédulo. Na gíria das ruas de Xangai, relata Bernstein, o estrangeiro é chamado de “passagem de avião”, enquanto que na Tailândia é conhecido como “caixa automático”.

Há outra explicação possível. “Os homens asiáticos já têm medo das mulheres asiáticas; como poderão se sentir atraídos pelas norte-americanas?”, ironiza um intelectual chinês. A indiferença dos homens da Ásia pelas mulheres do Ocidente, portanto, é um problema cultural: o macho, tanto oriental como ocidental, detesta ter a impressão de ser dominado, sobretudo se a mulher é da mesma cultura que a sua. Em Cingapura, por exemplo, cada vez há menos casamentos entre cingapurianos. Os homens acham as mulheres de seu país muito diplomadas, muito exigentes, muito sofisticadas, e preferem as vietnamitas e as nativas da China continental.

A brecha não se abre apenas em Cingapura. Anita Jain, nascida nos Estados Unidos, para onde seus pais emigraram desde a Índia, formada em Harvard, relata num livro hilariante, “O casamento de Anita”, que foi morar em Nova Déli para procurar o marido que, desesperada, não encontrava em Nova York. E que até hoje continua procurando.

Post-scriptum

O país da moda, nesse momento, é a Indonésia. Não só o arquipélago, primeira economia do sudeste asiático, resiste notavelmente à crise mundial; não só sua tradição de um Islã aberto e tolerante resiste notavelmente às pressões fundamentalistas; não só 18% dos deputados são mulheres; mas também a eleição presidencial que se desenrolou em 8 de julho reconduziu ao poder, segundo os resultados oficiais, o presidente reformista Susilo Bambang Yudhoyono e consolidou essa jovem democracia de 248 milhões de habitantes. Há, portanto, lugares onde as coisas funcionam.

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Instinto para bisbilhotar as celebridades?

Posted in Evolução & comportamento by Raul Marinho on 6 julho, 2009

Celebridade

Essa vem do blog da Bárbara Gancia, e prometo que vou explorar mais a fundo assim que possível. É sobre o trabalho do “neurobiólogo Michael Platt, do Centro Médico da Duke University, na Carolina do Norte”:

O Dr. Platt conduziu um experimento em que deu a um grupo de 12 primatas sedentos uma escolha entre ingerir a bebida preferida deles, um suco adocicado de cereja, ou ter a oportunidade de admirar fotos de macacos dominantes do grupo deles.

Embora os macacos estivessem com sede, conhecessem a bebida e gostassem muito dela, eles preferiram olhar para as fotos.

Assim como acontece com o nosso sofisticado cérebro, aparentemente parte da mente dos primatas também responde especificamente ao frisson da “celebridade”.

Ou seja, nos fomos configurados para gostar de conhecer detalhes da vida íntima do casal Angelina Jolie e Brad Pitt, fomos programados para procurar saber detalhes sobre o que matou Michael Jackson e com quem os filhos dele vão ficar.

Pronto.

Na próxima vez que estiver na sala de espera do dentista, você já pode olhar sem culpa para a revista de fofocas…

O inferno dos caloteiros

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 3 julho, 2009

padre cobrador

Na Rússia, estão recorrendo aos padres para cobrar dívidas! Leia a reportagem abaixo, de Marie Jégo para o Le Monde, e entenda como isso funciona.

Oficiais de Justiça na Rússia descobrem um jeito de combater os maus pagadores

Como combater os maus pagadores? A Federação Russa dos Oficiais de Justiça conta com a Igreja. Fim das famílias endividadas, dos motoristas desobedientes, das pessoas relutantes em pagar pensão alimentar. Eles serão “repreendidos” e “culpados” por padres ortodoxos, transformados em auxiliares dos oficiais de justiça. (more…)

Beleza feminina, contexto masculino

Posted in Atualidades, Evolução & comportamento by Raul Marinho on 2 julho, 2009

homem-feio-mulher-bonita

A pesquisa relatada nesta matéria do UOL Ciência & Saúde revela o que o senso comum há muito já sabe: os homens gostam de mulheres bonitas e ponto; já as mulheres gostam de… bem…, de “uma imagem masculina que esteja num contexto que lhes estimule”. Por mais que as Susanas Vieiras da vida esperneiem alegando o contrário, o fato é que as mulheres não elegem os homens mais atraentes pelos mesmos critérios que os homens.

Mas interessante mesmo é ler os comentários sobre a matéria, com pérolas  do tipo

Inconcientemente o homem cria o estereotipo, baseado no que a midia impõe como sendo o mais bonito, evidentemente as melhores mulheres são aquelas fora desse padrão, descompromissadas com esse tipo de atrelamento, e, é claro, são as mais gostosas e sempre teem um ótimo papo depois da transa. (Oswaldo Cibella – Campina Grande-PB)

Idéia* genial!!!

Posted in Atualidades by Raul Marinho on 2 julho, 2009

*[Antes que me corrijam: eu sei que idéia perdeu o acento. Mas acho horrível escrever ideia; então, até 2012 (pelo menos), sigo com minhas idéias e vôos]

ultrassom 3D

De acordo com essa matéria do G1, já é possível “imprimir” imagens de ultrassom em 3D de fetos. Em outras palavras: dá para fabricar bonequinhos do nenê que está na barriga da mãe. Alguma dúvida de que isso vai virar febre entre futuros papais e mamães tão cedo a tecnologia esteja disponível à população em geral? Atenção vendedores de Ferrari e corretores de imóveis de Búzios, anotem esse nome: Jorge Roberto Lopes dos Santos (esse é o sujeito que está à frente do projeto).

Altruísmo recíproco & corrupção

Posted in Atualidades, Evolução & comportamento by Raul Marinho on 1 julho, 2009

Melhor que escrever sobre o mecanismo de altruísmo recíproco humano e seu relacionamento com esquemas de corrupção é publicar esta charge que encontrei no blog do Fernando Stickel, o Aqui tem coisa:

altruismo reciproco e corrupção

Ele, o elo

Posted in Atualidades, teoria da evolução by Raul Marinho on 1 julho, 2009

eloperdido

Encontrou-se o elo perdido entre homens e macacos. Pelo menos é o que diz a Folha, em reportagem do The Independent.

Novo fóssil pode ganhar título de elo perdido de primatas

Espécime achado em Mianmar é mais próximo de humanos do que “rival” achado na Alemanha

Um fóssil apresentado ontem por cientistas americanos pode destronar o atual animal considerado o elo perdido entre humanos e macacos. Batizado de Ganlea megacanina, o novo espécime é descrito em um estudo de pesquisadores do Museu Carnegie de História Natural, de Pittsburgh (EUA).

Com 38 milhões de anos, o primata -achado em Mianmar, no Sudeste Asiático- está mais próximo do que se imaginaria de um ancestral comum recente entre homens e macacos, dizem os pesquisadores.

O fóssil que clamava o título de elo perdido até agora era o de Ida, um primata de 47 milhões de anos de idade extremamente bem preservado, mas sem tantas semelhanças com os macacos ou com espécies mais próximas dos humanos.

Segundo o paleontólogo Chris Beard, do Museu Carnegie, apesar de o fóssil do Ganlea não estar completo, é possível afirmar que ele é um candidato mais forte ao posto de elo perdido. Em um estudo na revista científica “Proceedings of the Royal Society”, Beard e seus colegas defendem sua posição com base numa análise dos dentes do animal e de um fragmento de sua mandíbula -tudo aquilo que restou do Ganlea.

Segundo Beard, o fóssil achado em Mianmar guarda mais semelhança com os chamados primatas antropoides (homens e macacos), enquanto Ida, achado na Alemanha, está um pouco mais próxima dos lêmures -primatas mais distantes dos humanos evolutivamente, com arcada dentária diferente.

“Pelo que podemos ver, Ganlea não só é um antropoide, como é um antropoide bastante avançado, o que não se pode dizer de Ida”, afirma o cientista.