Toca Raul!!! Blog do Raul Marinho

I’m not dog no

Posted in Atualidades, Evolução & comportamento, teoria da evolução, teoria dos jogos by Raul Marinho on 9 dezembro, 2008

waldick

Deu na Folha de hoje:

Cães entendem injustiça e sentem inveja, diz estudo

Experimento atribui aos cães habilidade que só tinha sido vista em primatas

Austríacos descrevem em revista científica teste que comparou 29 animais que haviam sido treinados para “dar a patinha” a estranhos

Friederike Range

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem tem mais de um cachorro sabe o óbvio: que na hora de dar um biscoito ou um osso, todos têm que ter o seu próprio. Mas o “óbvio” do dono de um animal doméstico não é o mesmo da ciência. Foi preciso uma equipe de pesquisadores na Áustria testar se existe “inveja” entre cães para deixar claro que isso não só existe, como faz parte de um mecanismo biológico vinculado à evolução da cooperação em indivíduos de uma mesma espécie.
Testados, os cães deixaram claro que possuem uma natural “aversão à iniqüidade”, e que fazem “greve” se não forem tratados do mesmo modo como seus semelhantes, algo já descoberto em macacos.
O estudo, liderado por Friederike Range, da Universidade de Viena (Áustria), está na edição de hoje da revista “PNAS”.
Os experimentos parecem mais adestramento canino doméstico do que algo associado a um laboratório universitário. Foram testados 29 cães capazes de “dar a patinha”. Os cachorros selecionados eram já adestrados nesse comando com seus donos, mas o teste envolvia “dar a patinha” para um experimentador desconhecido, acompanhados pelo dono e por um outro cachorro logo ao lado.
Leve-se em conta que são cachorros austríacos, acostumados à dieta local. Ao obedecer ao comando, o cachorro poderia receber uma recompensa boa -um pedaço de salsicha-, ou uma nem tanto -um pedaço de pão preto. Pior, poderiam não receber nada pelo “trabalho” de dar a pata.
Os testes foram planejados de modo a excluir interpretações alternativas. Os cães foram testados, por exemplo, sem receber recompensa; ou sem o cão parceiro; ou com ambos recebendo o prêmio.
“Cães têm uma forma de ciúme, e todo dono de mais de um cão sabe que se faz carinho em um, o outro vem pedir”, diz Cesar Ades, especialista em comportamento animal do Instituto de Psicologia da USP, que elogia o experimento. “É um trabalho cuidadoso, eles mostram a recompensa ao cachorro, feita com vários controles. Se um recebe e o outro não, ele pára de dar a pata até antes daquele que não recebe recompensa sem contato social.”
Ao contrário dos experimentos com chimpanzés, os cães não davam importância à qualidade da recompensa (salsicha ou pão preto). Já os macacos eram mais discriminantes quanto ao tipo de recompensas que ganhavam. Os cães também sempre comiam o que recebiam; os macacos podiam rejeitar a comida se achavam que estavam sendo injustamente tratados. Só não há explicação clara no estudo para o fato de um cão não fazer distinção entre salsicha e pão, diz Ades.
Experimentos anteriores mostraram que os cães cansam da brincadeira e param de dar a pata depois de 15 a 20 vezes sem receber nenhuma recompensa. O resultado do novo teste foi o que os donos de cães poderiam prever: animais sem prêmio pelo mesmo “trabalho” do colega ao lado logo pararam de “cumprimentar” o experimentador, e mostravam sinais de “indignação” – ficavam se coçando, bocejando, lambendo a boca ou desviando o olhar.

(Na foto acima, uma homenagem póstuma ao precursor da etologia canina comparada – por mais que ele nunca tenha sabido o significado do termo.)

Toca Lobão!!!

Posted in Atualidades, Just for fun by Raul Marinho on 6 novembro, 2008

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Já fui fãzaço do Chico Buarque. Na verdade, ainda acho “Construção” uma obra-prima da poesia, porém não suporto mais ver a figura do sr. Francisco B. de Holanda depois que o cara começou a falar atrocidades na imprensa (fato semelhante ocorreu com o Caetano). Também já gostei muito de bossa nova, até ouvir Garota de Ipanema tocando no elevador numa das cenas finais de Blues Brothers (foi quando saquei que a bossa nova é música de elevador MESMO). Por outro lado, sempre simpatizei com o Lobão, figura que sempre esbarrava quando morei no Rio e, talvez pela sua feiúra (muito mais evidente ao vivo), fiquei ainda mais simpático. Depois que passei a (não) receber direitos autorais, simpatizei mais ainda com o sujeito pela sua postura política quanto ao tema, que inclusive abordo no meu livro “Prática na Teoria”. Tudo isso para falar do excelente post do Máquina de Escrever (do não menos excelente blog do Luciano Trigo) de hoje, sobre o debate do Lobão com o Nelsinho Motta na FLOP. Como não dá para apartar somente o texto, copio-o abaixo, para comodidade do estimado leitor:

‘Chico Buarque é um chato’

“Eu acho o Chico Buarque um horror, um equívoco, um chato, um parnasiano. O Olavo Bilac é muito mais moderno que ele. Ele faz uma música anêmica, sem energia, sem vivacidade, parece que precisa tomar soro. A Bossa Nova é a mesma coisa, uma música easy listening, que toca em loja de departamento quando a gente vai comprar uma meia.”

Esta é apenas uma pequena amostra do que foi a participação de Lobão na mesa de abertura do Fórum das Letras de Ouro Preto (Flop). Acelerados, ele e Nelson Motta mal pararam para respirar: foram duas horas de uma conversa intensa, à qual não faltaram declarações polêmicas, mesmo da parte do geralmente conciliador Nelsinho, que nessa hora concordou:

“Tirando Tom, Vinicius e João Gilberto, tudo que veio depois na Bossa Nova foi diluição. A gente sabe que Roberto Menescal, Carlos Lyra etc são músicos de segundo time.”

Lobão contou então que, quando João Gilberto gravou sua música “Me chama”, pediram uma declaração sua:

“Todo mundo daria a ***** para ter uma música gravada pelo João Gilberto, mas eu respondi: ‘Quero que ele se ****, acho ele um chato de galocha’. Depois eu soube que ele ficou ofendidíssimo, mas odeio essa sacralização da Bossa Nova, acho isso uma *****, uma coisa jeca, sem tesão.”

Os dois voltaram a criticar a “culpa católica”, que faz os brasileiros odiarem o sucesso e o dinheiro.

“No Brasil quem faz sucesso fica deprimido porque não é pobre”, disparou Lobão. “O Tom Jobim foi chamado de lacaio do capitalismo porque fez sucesso nos Estados Unidos. No Brasil se cultua o voto de pobreza.”

Nelson Motta foi além:

“É uma mentalidade pobrista. Ninguém assume responsabilidade por nada. Se um cara mata, a culpa é da sociedade. Ora, existem fracassos e escolhas individuais. Temos que mudar essa atitude e passar a celebrar a vitória.”

Nelson falou também sobre sua experiência como escritor, atribuindo parte do sucesso de seus livros – especialmente Noites tropicais e a biografia de Tim Maia, Vale tudo – às sugestões de sua editora de texto, que interferiu diretamente no conteúdo das obras:

“Se eu não aceitasse as sugestões seria burro. Um dos problemas do brasileiro é o excesso de não-me-toques: ‘No meu texto ninguém mexe!’ Para mim, o que interessa é o resultado.”

Mas logo voltou para a música, agora para exaltar os músicos bregas dos anos 70:

“As pessoas acham que quem fazia sucesso na década de 70 era Chico Buarque e Caetano Veloso. Errado, eles só eram ouvidos pela classe média alta. Quem vendia e fazia shows eram Waldick Soriano, Odair José, Antonio Marcos… E eram músicos muito corajosos. Em plena ditadura, o Agnaldo Timóteo teve a coragem de gravar uma música chamada Galeria do amor, sobre a Galeria Alaska, em Copacabana, um ponto de encontro gay.

[intervenção de Lobão: “Uma tremenda bichona…”]

“Isso foi mais subversivo que 10 discos de Geraldo Vandré”, continuou Nelson. “E Odair José foi censurado porque lançou a música Pare de tomar a pílula em plena campanha de controle da natalidade.”

O primeiro contato entre os dois palestrantes foi em 1976, quando Nelson foi tutor legal de Lobão – para ele poder, aos 16 anos, participar como baterista de um show musical produzido por Marilia Pera, então mulher de Nelsinho. A sintonia entre os dois continua: ambos reclamam da falta de ambição de muitos músicos jovens e independentes:

“Hoje um laptop dentro de um banheiro tem mais recursos de gravação do que o estúdio de 1 milhão de dólares em que eu produzi um disco da Elis Regina nos anos 70. Ficou muito fácil gravar, então as pessoas têm obrigaação de apresentar um trabalho bom. Por outro lado, divulgar o trabalho ficou mais difícil. É por isso que as apresentações ao vivo ficaram mais caras, enquanto a música gravada está se desvalorizando.”