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Uma crise conveniente

Posted in Atualidades, Ensaios de minha lavra by Raul Marinho on 15 outubro, 2008

No início de 2007, os noticiários e a internet só falavarm de uma coisa: crise. Mas, diferente da crise financeira atual, aquela era muito mais grave: a crise de então estaria no meio-ambiente e redundaria na extinção de nossa espécie. Al Gore estava arrebentando os servidores do Youtube com sua “verdade inconveniente“, e o dia do juízo final aconteceria em poucas décadas, se nada fosse feito. Agora, só o que se ouve são os trilhões de dólares que a crise dos subprimes deverá trazer em prejuízos, e o aquecimento global entrou em segundo – ou melhor, em enésimo – plano, e “esse negócio de ecologia que espere para depois”.

O que ninguém está dizendo (pelo menos, ninguém que a numerosa e multi-milionária equipe editorial do portentoso conglomerado de mídia a que esse blog pertence tenha notado) é que, se o Al Gore estiver certo, a crise dos subprimes é o melhor que poderia nos acontecer. Perceba que:

  • O petróleo saiu do patamar de US$150/barril nos tempos de vacas gordas, para cerca de US$70/barril agora, uma redução de mais de 50%. Isso por causa da diminuição na demanda, o que significa que a emissão de CO2 diminuiu sensivelmente.
  • A construção de casas, prédios e demais imóveis nos EUA declinou e tende a ficar num nível bem mais baixo que antes da crise, levando a um consumo de cimento, aço, tinta etc. muito menor, sem contar que muitas milhas quadradas de vegetação também serão poupadas do asfalto.
  • As economias de uma forma geral deverão girar a uma velocidade muito menor, reduzindo também o consumo de automóveis, eletrodomésticos, energia elétrica, móveis, sapatos, lápis de cera etc., principalmente nos países mais ricos, justamente os que mais consomem (e mais poluem).
  • Os multimilionários, indivíduos que consomem recursos naturais a taxas absurdas, diminuirão em número, e os que restarem deverão apresentar padrões de consumo bem menos ostensivos, o que significa menos jatinhos particulares, carrões com motor V-12, iates de 150 pés, etc. Digamos que cada banqueiro que deixar de existir seja equivalente a menos 10mil cidadãos de classe média, em termos de consumo.
  • Itens de luxo particularmente nocivos ao meio ambiente, como carnes exóticas, peles de animais raros, viagens a santuários ecológicos (ex. Antártida) etc. deverão diminuir mais ainda, com impactos ambientais significativos (não necessariamente em emissão de carbono, mas em termos ecológicos mais amplos).

Haverá, por outro lado, alguma perda ambiental com a interrupção no desenvolvimento de tecnologias mais limpas, ou com a menor propensão ao “desperdício” de dinheiro com projetos ecológicos. Mas, em termos líquidos, a balança deverá pesar favoravelmente ao meio-ambiente. Ninguém fala disso, mas talvez estejamos assistindo à nossa salvação como espécie neste exato momento. Deu para entender por que um dos principais responsáveis pela lambança em Wall Street se chama Greenspan?